Neste artigo, baseado no nosso livro Instrumentação Eletrônica – Volume 2, ensinamos como utilizar o multímetro para a medida de tensões nos circuitos valvulados.
As fontes típicas de aparelhos valvulados possuem dois setores: um de alta tensão para polarização das válvulas, com uma ou mais tensões contínuas variando entre 80 e 1000 volts, e um setor de baixa tensão alternada para alimentação dos filamentos das válvulas, com uma ou duas tensões geralmente de 5 a 6 V ou para os casos de filamentos em série, de 5 a 50 V, conforme mostra a figura 1.
Figura 1 – Fontes típicas de alimentação de aparelhos valvulados. No primeiro caso, com transformador e no segundo caso, com filamentos em série.
Daremos então o procedimento para análise nos dois tipos de fonte conforme se segue.
Procedimento 1
a)Coloque o multímetro numa escala de tensão contínua que permita ler o valor esperado - se tiver dúvidas, comece com a mais alta - volts DC;
b)Ligue o aparelho, depois de verificar se o fusível de proteção e o próprio transformador estão em ordem;
c)Meça a tensão contínua após o retificador e o filtro (figura 2).
Figura 2 – Verificando tensões contínuas depois do retificador e filtro.
Interpretação
Tensões normais - a fonte está em boas condições.
Há tensão após o retificador, mas não após o filtro - verifique os elementos do filtro - indutor ou resistor abertos.
Não há tensão após o retificador - verifique o retificador (diodo ou válvula) e depois se existe tensão alternada após o transformador (secundário).
Leitura - Condição
Tensão normal - Bom
Não há tensão após o filtro - Problemas no filtro
Não há tensão após o retificador - Problemas no retificador
Observação
Se o problema estiver no retificador queimado, verifique também os capacitores de filtro, retirando-os do circuito e testando. Capacitores entrando em curto levam o retificador e até mesmo o transformador à queima. Assim, antes de fazer a troca do retificador por um novo, é conveniente eliminar a causa de sua queima.
Procedimento 2
a)Coloque o multímetro numa escala de tensão alternada que permita ler a tensão de secundário do transformador (entre 80 V AC e 1000 V AC);
b)Ligue o aparelho e meça a tensão no secundário ou secundários de alta tensão (se for duplo), conforme mostra a figura 3.
Figura 3 – Verificando o enrolamento secundário do transformador – medindo tensões alternadas.
Interpretação
Não há tensão - desligue o transformador e verifique a continuidade todos os enrolamentos, pois podem haver interrupções.
Tensão normal - transformador bom - o problema é com o retificador ao após ele.
Tensão anormal - pode haver problema de curto entre espiras - se o transformador tender ao aquecimento ou fizer barulho de "fritura" estará caracterizado problema de curto.
Observações
A prova estática do transformador é feita com a medida da continuidade dos enrolamentos ( veja na seção de prova de componentes como proceder). Também deve ser verificada a possibilidade de curto entre algum enrolamento e a carcaça.
Observamos ainda que a tensão retificada tem um valor, sem carga, maior que o valor RMS medido na escala de tensão alternada. Se o retificador for do tipo semicondutor, uma prova estática é simples, bastando para isso que um dos terminais seja dessoldado. Meça então a resistência no sentido direto e depois no inverso. Se for válvula, a prova não pode ser feita desta maneira. Verifique então se o filamento acende. Uma válvula fraca tende a fornecer uma tensão anormalmente baixa com carga.
Procedimento 3
Este procedimento é indicado para retificadores "diretos", ou seja, em fontes de alta tensão sem transformador.
a)Coloque o multímetro numa escala de tensão contínua que permita leitura da tensão esperada - volts DC entre 150 e 1000 V DC;
b)Ligue a fonte e meça a tensão logo após o retificador e depois do filtro (figura 4).
Figura 4 – Medindo tensões em aparelhos com fontes sem transformador.
Interpretação
Tensão normal - fonte boa - faça o teste com carga.
Tensão ausente após o filtro mas presente antes dele - verifique o resistor ou indutor, que podem estar abertos, ou ainda o capacitor após o filtro, que pode estar em curto.
Tensão ausente após o retificador - verifique o capacitor de filtro que pode estar em curto e o diodo retificador.
Observação
Todos estes testes supõem que a válvula retificadora, caso seja usada, esteja com o filamento aceso.
Leitura - Condição
Tensão normal - Boa
Tensão nula depois do filtro - Problema de filtro
Tensão nula depois do retificador - Problema de retificador
Observação
É claro que estes testes supõem que haja tensão alternada na entrada do circuito, o que pode ser medido conforme o seguinte procedimento.
Procedimento 4
a)Coloque o multímetro numa escala de tensão alternada que permita leitura de 110 V AC ou 220 V AC;
b)Meça a tensão na entrada do circuito retificador, conforme mostra a figura 5.
Figura 5 – Testes no circuito retificador
Interpretação
Tensão presente no valor correto - o problema, se existir, é após a retificação.
Tensão ausente - verifique o cabo de alimentação e o fusível.
Leitura - Condição
Tensão Correta - Normal
Sem tensão - Problemas
Observação
Veja que numa fonte deste tipo, o pólo de referência onde deve ser ligada a ponta de prova preta é o chassi. Todas as tensões da fonte são referidas em relação ao chassi (massa). Os circuitos deste tipo, por estarem conectados com o chassi diretamente à rede (havendo portanto perigo de choques) são denominados popularmente de "rabo quente" (*). Para os casos em que as fontes utilizam válvulas com filamentos em série, a verificação dos filamentos é simples. Podemos fazer simplesmente a medida da continuidade geral e depois a medida da continuidade de cada um, conforme o procedimento que damos a seguir.
(*) O nome “rabo quente” vem do fato de que estes receptores têm uma resistência redutora no próprio cabo de alimentação. Em funcionamento esta resistência se aquecia, daí o nome.
Procedimento 5
a)Coloque o multímetro na escala mais baixa de resistência: OHMS x1 ou OHMS x10 se for analógico. Se for digital use as escalas de 200 ou 2000 ohms.
b)Zere o multímetro se for analógico.
c)Meça a continuidade geral dos filamentos em série e depois a continuidade de cada um se a indicação na primeira medida for infinita.
A figura 6 mostra como deve ser feita esta prova.
Figura 6 – Medindo a continuidade dos filamentos.
Interpretação
Leitura infinita na primeira medida - há um ou mais filamentos abertos - válvulas queimadas.
Leitura infinita num filamento na prova individual - válvula queimada.
Leitura de baixa resistência na primeira medida - todas as válvulas com os filamentos em ordem.
Leitura - Condição
Baixa resistência - Bom
Infinito - Aberto
Observação
Uma válvula não funciona com o filamento aberto. Deve ser feita sua substituição, não sem antes fazer a verificação da causa de sua queima.