O modelismo ferroviário conta com recursos eletrônicos avançados que os modelistas devem conhecer. Partindo do antigo trem miniatura que tinha apenas uma fonte de alimentação controlada por um reostato o modelismo ferroviário evoluiu a ponto de utilizar técnicas digitais e dentre elas a mais conhecida é o DCC ou Digital Command Control. Neste artigo explicaremos como ele funciona.

Nas ferrovias em miniatura tradicionais em que havia um único trem sendo controlado, o processo era simples. Bastava usar os trilhos para a alimentação e controlar diretamente a tensão aplicada através de uma caixa de controle.

Essa caixa podia ser um transformador com diversas tomadas ou ainda um reostato. Nas versões mais modernas, o reostato poderia ser do tipo eletrônico, utilizando um transistor de potência, conforme mostra a figura 1.

 

Figura 1 – Controle eletrônico com transistor
Figura 1 – Controle eletrônico com transistor

 

 

No entanto, este tipo de controle tem um inconveniente. Somente um trem pode ser controlado quando trafegando por uma mesma linha.

Como o modelismo ferroviário evoluiu e era comum termos mais de um trem trafegando num sistema de linhas, como resolver o problema de se controlar as composições de forma independente.

Diversos sistemas foram desenvolvidos ao longo do tempo como o controle em cada locomotiva que receberia uma tensão única e teria um sistema de controle remoto, mas a solução melhor surgiu com o DCC.

 

O DCC

A ideia de se sobrepor sinais digitais que levem informações a uma linha de alimentação é antiga. Já se fez isso com a linha de fornecimento de energia no passado, quando se estou um sistema de aviso de catástrofes usando a linha de energia e um pequeno modem que ficaria na casa das pessoas.

Em nossos dias, a ideia de se sobrepor à tensão da rede de energia a Internet (Internet over power line) ainda está sendo alvo de estudos. O ambiente ruidoso é o principal obstáculo a sua adoção.

Para o modelismo, já nos anos 40 se utilizava um sistema que permitia o comando de dois trens na mesma linha usando uma tensão alternada nos trilhos. Conforme mostra a figura 2, nas locomotivas havia diodos de modo que uma delas operava com os semiciclos positivos da alimentação e a outra com os negativos.

 

Figura 2 – Comando para duas locomotivas por AC
Figura 2 – Comando para duas locomotivas por AC

 

 

Assim, controlando a intensidade dos semiciclos positivos era possível alterar a velocidade de uma locomotiva e dos negativos, a velocidade da outra. Bastava usar um diodo em cada locomotiva para reconhecer os sinais do canal A ou B. O sistema evoluiu a partir de então e nos anos 70 já era possível o controle de até 16 trens, mas cada fabricante tinha o seu sistema.

Foi então que a NMRA (National Model Railroad Association – Associação Americana de Ferreomodelista dos Estados Unidos) propôs a criação de um padrão que fosse adotado por todos, o DCC.

A ideia seria a de se sobrepor um sinal digital a alimentação dos trilhos, de modo que a alimentação não seria influenciada mantendo, por exemplo, luzes das composições acesas e outros recursos ativados, e tudo feito de forma compatível com sistemas anteriores.

E o controle poderia ir além da velocidade. Cancelas, sinais, desvios também poderiam ser controlados através da alimentação fornecida pelos trilhos. Isso, sem dúvida era um passo enorme para o desenvolvimento de matrizes inteligentes.

Para o controle, bastaria incluir num vagão ou na própria locomotiva o circuito decodificador, conforme mostra a figura 3.

 

Figura 3 – Circuito decodificador – Imagem de anúncio na internet
Figura 3 – Circuito decodificador – Imagem de anúncio na internet

 

Com o DCC até 9999 locomotivas podem ser controladas.

 

O padrão NMRA para DCC

A finalidade do padrão é definir um protocolo de comunicações entre a estação de comando (que também fornece energia para os trilhos) e cada estação receptora que pode estar na composição ou ao longo dos trilhos recebendo através deles o comando.

O transmissor (estação de comando) gera pulsos que são aplicados à linha tendo entre 56 e 59 microssegundos e os bits 0 tem duração entre 97 e 98 microssegundos, conforme mostra a figura 4.

 

Figura 4 – Os tempos dos pulsos
Figura 4 – Os tempos dos pulsos

 

 

Na figura 5 temos um trem de pulsos típico.

 

Figura 5 – Os pulsos gerados
Figura 5 – Os pulsos gerados

 

 

Na figura 6 temos a estrutura completa de um pacote de dados.

 

Figura 6 – O pacote de dados
Figura 6 – O pacote de dados | Clique na imagem para ampliar |

 

 

O sinal de comando deve ter uma amplitude entre 8V e 22V. Isso significa que a estação de comando deve ser capaz de fornecer os pulsos com uma amplitude de pelo menos 8V numa carga de 1k ohms (resistiva), conforme mostra a figura 7.

 

Figura 7 – O sinal de comando
Figura 7 – O sinal de comando

 

 

Nas condições indicadas, neste circuito de teste, a corrente medida deve ser de pelo menos 2 mA e a tensão deve estar entre 8 e 22 volts. Diversas estações de comando podem ser ligadas a uma mesma linha.

No link dado a seguir o padrão NMRA completo em inglês pode ser consultado: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/viewer.html?pdfurl=https%3A%2F%2Fwww.nmra.org%2Fsites%2Fdefault%2Ffiles%2Fstandards%2Fsandrp%2Fpdf%2FS-9.1.2_2012_07.pdf&clen=33931&chunk=true

No receptor temos um decodificador que fornece o sinal ao tipo de carga que se pretende acionar, por exemplo, um simples comando liga/desliga ou a velocidade do motor.

Na figura 8 temos o layout básico de um sistema usando o DCC.

 

Figura 8 -  Sistema típico sugerido por fabricante que pode ser acessado em: http://www.sumidacrossing.org/LayoutControl/DCC/DCCLayoutPower/
Figura 8 - Sistema típico sugerido por fabricante que pode ser acessado em: http://www.sumidacrossing.org/LayoutControl/DCC/DCCLayoutPower/

 

 

Nesse sistema temos a divisão da ferrovia em setores que são comandados de forma independente através de “gaps” e sensores de ocupação.

O importante para o modelista é que diversos fabricantes oferecem seus produtos como módulos de comando, módulos receptores que podem ser usados nas mais diversas funções na linha ou na maquete possibilitando assim a elaboração de projetos inteligentes.

Os fabricantes fornecem ainda ampla literatura disponível pela internet sobre o modo de seu uso e o que é mais importante. A adoção de padrão único faz com que não importe de quem você adquira seu módulo, pois estando dentro dos padrões DCC da NMRA ele certamente funcionará.