Este artigo é de um antigo livro que escrevemos sobre TV e vídeo. O livro dos anos 80 ainda tem por base a TV analógica, mas pode servir de referência para muitos leitores. O livro está disponível no site assim como o curso.
Para os leitores que sabem como usar instrumentos básicos tais como o Multímetro e que tenham conhecimento dos circuitos e componentes eletrônicos, a descoberta de problemas num televisor em cores, ou mesmo em aparelhos de vídeo não é tão complicada quanto parece,
Evidentemente, o conhecimento básico é fundamental, daí sugerirmos que os leitores vejam os dois outros Cursos publicados pelo autor (Curso Básico de Eletrônica e Curso de Reparação para Iniciantes), que podem ser de grande ajuda na formação de uma base necessária ao quê' vamos ver a seguir.
Com base em sintomas de televisores é possível isolar as etapas que apresentam defeitos, e testando os componentes pode-se chegar àqueles responsáveis pelos problemas.
No entanto, para isso o técnico precisa de três elementos importantes:
a) Saber a que etapa ou etapas do televisor associar um problema, pelos sintomas que causa ao som e imagem;
b) Saber reconhecer a etapa suspeita tanto a partir do diagrama do aparelho como visualmente, inspecionando a placa de circuito impresso;
c) Conhecer os componentes e saber como fazer os testes de funcionamento.
Os dois últimos itens são justamente o assunto dos cursos que citamos: Prático/Básico e de Reparação. Assim, neste curso vamos nos limitar a analisar o primeiro item, com "dicas" importantes para os que desejarem um aprimoramento.
REPARAÇÃO POR SINTOMAS
Evidentemente qualquer problema com qualquer componente de um televisor afeta a qualidade da imagem ou do som. É claro que existem os problemas que levam o televisor à inoperância total. É justamente por estes defeitos que começaremos:
a) Não funciona
Se quando ligamos um televisor ele não dá sinal algum, o primeiro passo é verificar se os circuitos estão recebendo alimentação.
Normalmente os aparelhos são protegidos por um fusível de entrada. O teste- do fusível pode ser feito conforme mostra a figura 1, com a ajuda de um multímetro nas escalas mais baixas de resistência ou mesmo um simples provador de continuidade.
Se o fusível queimou pode-se tentar colocar um outro de mesmo valor (mesma corrente), pois a queima pode ter sido por um surto de corrente na rede (uma elevação momentânea da tensão). No entanto, se o novo fusível também queimar é porque o problema é do televisor (ou aparelho em teste), e não adianta tentar repor o fusível sem antes sanar a causa do problema.
Um recurso interessante no teste para evitar que um novo fusível queime, e que permite detectar algumas falhas, é a. lâmpada em série mostrada na figura 2. Uma lâmpada de 60 W em série com o aparelho limita sua corrente e permite que pelo menos a fonte de alimentação funcione.
Assim, constatando que o fusível está queimado e que nada funciona, procure identificar as etapas que são alimentadas pela fonte em seus pontos principais e observe se não existem sinais de componentes queimados ou que tenham sofrido sobreaquecimento.
Se encontrar na fonte componentes com sinais de problemas, verifique as etapas que este setor da fonte alimenta. É comum que uma fonte alimente diversas etapas de um televisor, mas separadamente, conforme mostra a figura 3.
Se uma dessas etapas tiver um problema, somente um setor da fonte é sobrecarregado, mas o fusível queima. Podemos descobrir qual é o setor com problemas desligando as etapas e depois ligando uma a uma até que o fusível queime novamente, ou ainda que a lâmpada em série indique a anormalidade pelo súbito aumento de brilho.
O passo seguinte, descobrindo qual é a etapa, é analisar seus componentes. Se mesmo com nenhuma etapa sendo alimentada ainda assim não tivermos tensões na fonte e o fusível queimar, então estará caracterizado que o problema é da fonte e seus componentes é que devem ser analisados.
Será muito importante ter em mãos um diagrama com as tensões normais da fonte e das etapas alimentadas para que possamos ter mais facilidade na localização dos problemas.
b) Funciona, mas de modo deficiente
* Há som, mas não há imagem.
Muitos televisores possuem etapas comuns da fonte que alimentam setores de som e imagem, mas também têm setores separados. Isso significa que existem problemas que afetam tanto som e imagem como somente um deles.
Se não há imagem, mas há som, podemos começar pela verificação do setor da fonte de alimentação que alimenta etapas que processam os dois tipos de sinais. A própria fonte deve ser verificada, com a medida de tensões.
Na figura 4 mostramos como usar um multímetro na medida de tensões de uma fonte.
Observe, entretanto, que se o setor da fonte que alimenta as etapas que operam com som e imagem (áudio e vídeo) não estiver com a tensão normal, o problema não está obrigatoriamente na fonte.
Um curto num transistor ou ainda um problema com um capacitor pode elevar o consumo de uma etapa e com isso afetar a tensão da fonte, deixando inoperante todas as etapas que ela alimenta. Assim, a verificação deve ser feita nestas etapas alimentadas, com testes de componentes ou inspeção visual.
A ausência de imagem na tela de um televisor tecnicamente pode ser descrita de diversas maneiras:
* Sem trama
Dizemos que não há trama quando a tela permanece completamente escura, ou seja, não há sinal algum de que o feixe de elétrons esteja sendo produzido.
A ausência de trama normalmente tem como causa a falta de alta tensão, que corresponde ao não funcionamento dos circuitos horizontais responsáveis por este setor.
* Com trama, mas sem vídeo
Neste caso, a tela permanece completamente clara, ou seja, as linhas de varredura são geradas, o que caracteriza a presença da alta tensão, mas o sinal de vídeo não modula o feixe de elétrons, e, portanto, nada aparece.
Evidentemente, este defeito indica que as etapas de deflexão estão em bom estado e que, portanto, o sinal de vídeo não está passando em algum ponto do circuito. Na figura 5 temos os blocos do televisor que devem ser analisados e que correspondem ao percurso do sinal de vídeo.
Além desses dois problemas básicos temos os seguintes outros que correspondem a deformações da imagem:
* Um traço horizontal muito claro no centro da tela, conforme mostra a figura 6.
Evidentemente, se existe o traço luminoso é porque a alta tensão está sendo gerada e, portanto, as etapas de deflexão horizontal estão funcionando. No entanto, não existe deflexão vertical, pois a imagem se encontra "fechada".
Nos televisores e mesmo monitores de vídeo este defeito é muito comum e se deve a problemas com os transistores de potência responsáveis pela deflexão e que normalmente trabalham como numa etapa de saída de um amplificador, em simetria complementar, conforme mostra a figura 7.
Como o sinal é de boa potência, os transistores normalmente trabalham com correntes elevadas e qualquer sobrecarga causa sua queima. Se um deles queimar, normalmente o desequilíbrio da etapa provoca a queima de outro, e consequentemente o fechamento total da tela.
Identifique os transistores de saída vertical e teste-os. Verifique também componentes próximos, pois não é raro que a entrada de um capacitor em curto seja a causa da queima dos transistores. Se apenas um dos transistores queimar, pode haver a deflexão parcial, com o que teremos uma imagem "pela metade", conforme mostra a figura 8.
Dependendo do transistor avariado ou do tipo de avaria da etapa, a imagem pode ficar metade para cima ou metade para baixo. Quando temos apenas um traço horizontal, pode ocorrer que o usuário da TV a mantenha ligada por muito tempo, por exemplo, para não perder o "áudio" de sua novela antes de enviar o aparelho para a oficina.
O resultado é que, concentrando o feixe de elétrons com maior intensidade numa fina faixa central, pode ocorrer a queima dos elementos, e o resultado será uma marca permanente sendo gravada na tela.
Se este problema ocorrer com seu televisor e você não quiser perder sua novela, pode usar o aparelho com apenas o som, mas reduza ao mínimo o brilho de modo que não fique a linha brilhante na tela, o que pode marcar o cinescópio.
* Falta de sincronismo vertical
Este problema ocorre com a instabilidade da imagem, que "roda" constantemente, não sendo possível fazer o ajuste pelo controle externo.
Na figura 9 temos o que ocorre. Evidentemente, este sintoma nos mostra que existe trama, e que, portanto, as etapas de deflexão e de alta tensão estão funcionando perfeitamente. Também nos mostra que existe o sinal de vídeo, pois a cena roda com a presença de uma imagem.
Assim, devemos suspeitar de algo no processamento do sinal de sincronismo vertical. As etapas que devem ser analisadas começam então com o separador de sincronismo, o oscilador vertical e finalmente o amplificador vertical.
* Falta de sincronismo horizontal
Neste caso a imagem não para no sentido horizontal, inclinando ou mesmo apresentando uma faixa vertical como mostra a figura 10.
Mesmo atuando sobre o controle não é possível obter uma imagem estável. Também neste caso sabemos que existe trama e deflexão, e que o sinal de vídeo está presente, portanto partimos do separador de sincronismo e analisamos o oscilador horizontal e os circuitos de sincronismo deste sinal.