O campo magnético da Terra pode ter influências na fabricação e no ajuste de cinescópios, tanto de TV como de monitores de vídeo. Como isso acontece e como proceder diante de problemas causados pelo campo terrestre é o que veremos neste artigo.
A Terra possui um campo magnético relativamente fraco, mas que é suficiente para atuar sobre agulhas magnetizadas como as das bússolas. Este campo magnético, que tem seus poios quase coincidentes com os polos geográficos da Terra, não teria maior importância para os técnicos eletrônicos, principalmente os que trabalham com televisores e monitores de vídeo se não fosse um pequeno detalhe: os cinescópios também trabalham com campos magnéticos.
De fato, mesmo sendo muito fraco, da ordem de 0,1 gauss a 0,5 gauss dependendo do lugar, o campo magnético da Terra pode movimentar a agulha de uma bússola orientando-a no sentido norte-sul ou das linhas do campo do local em que elas se encontram.
Mais que isso, a componente vertical deste campo pode atuar sobre o feixe de elétrons no interior de um cinescópio causando mudanças na sua trajetória, que precisam ser levadas em conta quando de seu funcionamento. Veja figura 1.
Na figura 2 mostramos como a componente vertical do campo magnético da Terra pode mudar com a latitude e também de acordo com o hemisfério considerado. Se bem que estas mudanças sejam muito pequenas, elas são suficientes para afetar o ponto em que o feixe de elétrons incide na tela e, com isso, a imagem final.
Nos cinescópios maiores o efeito é mais acentuado podendo em certos casos acontecer de maneira visível. Os fabricantes dos cinescópios sabem disso, da mesma forma que os fabricantes dos televisores e dos monitores de vídeos, fazendo sua compensação, daí a pouca ou nenhuma preocupação da maioria dos usuários e técnicos.
No entanto, o que poucos sabem é que, como o campo magnético da Terra muda de local para local, também mudam seus efeitos sobre um cinescópio, e aí começam os problemas.
HEMISFÉRIO NORTE OU SUL
Se analisarmos o campo magnético da Terra veremos que as suas linhas de força orientadas no sentido norte-sul como mostrou a figura 2, indicam que a sua polaridade no hemisfério norte é diferente do hemisfério sul.
Isso significa que um feixe de elétrons no interior de um cinescópio será afetado de forma diferente pelo campo magnético da Terra quando ele estiver funcionando no hemisfério norte e quando estiver no sul. Um aparelho de TV ou monitor de vídeo que tenha sido ajustado para funcionar hemisfério norte, e isso é feito com a colocação de imãs em posições estratégicas pelo fabricante, não fará a mesma compensação quando funcionar no hemisfério sul, apresentando problemas de pureza na imagem, conforme ilustra a figura 3.
Este problema se torna mais acentuado nos cinescópios em que o percurso dos elétrons é maior, ou seja, nos cinescópios de maior tamanho.
Os fabricantes de cinescópios como a Philips, por exemplo, utilizam um anel magnetizado em torno do tubo de modo a criar um campo corretivo para impedir que o campo da Terra afete o funcionamento, que deve ser controlado apenas pelo Yoke. Outros fabricantes, como os orientais, utilizam imãs que são colocados em pontos diferentes de modo a fazer esta compensação.
Em televisores de teia grande existem bobinas compensadoras que são ligadas a circuitos dotados de sensores. Os sensores enviam os sinais para os circuitos que controlam estas bobinas, e correntes são aplicadas de modo a compensar os efeitos. Nestes televisores, o problema de se levar o aparelho de um local a outro da Terra, mesmo mudando de hemisfério, pode ser facilmente compensado pelos próprios circuitos.
O importante é que a polaridade desse campo dependerá do local em que se pretender enviar o aparelho de que ele vai fazer parte. Um cinescópio projetado para um televisor ou monitor de vídeo que deva funcionar no hemisfério norte tem uma polarização diferente de outro que vai funcionar no hemisfério sul, e mesmo de um que vá para uma região perto do Equador.
A Philips, por exemplo, possui uma "gaiola magnética" para fazer o ajuste dos cinescópios que devem ir para as diferentes partes do mundo, segundo informa o engenheiro Jeroen Stessen numa interessante FAQ na Enternet. Nela, são criados artificialmente os campos de acordo com a região para onde vai o cinescópio e, então, feitos os "ajustes" dos anéis magnéticos.
Esta "gaiola" nada mais é do que urna caixa de aproximadamente 2 metros de comprimento com bobinas em volta, que são energizadas de modo a criar os campos correspondentes às diversas regiões. Um detalhe interessante que este engenheiro revela é que por questão de estética, a Bang & Olufsen, da Dinamarca, tem um aparelho em que o cinescópio é montado de "cabeça para baixo".
Por causa disso, os cinescópios usados são do tipo recomendado para o hemisfério sul apesar dos aparelhos serem vendidos no hemisfério norte! Cuidado ao comprar um televisor em sua próxima viagem a um país do hemisfério norte! Não é apenas em relação ao padrão que se deve ficar atento!
CONCLUSÃO
Se o campo magnético da Terra é capaz de afetar o funcionamento de um cinescópio dessa forma, o técnico deve estar atento para fontes artificiais de campos que podem ser muito mais fortes.
É por este motivo que uma das recomendações que fazemos sempre é a de se evitar qualquer tipo de objeto ou aparelho que gere campos magnéticos nas proximidades de um monitor de vídeo, ou mesmo de um televisor. Os pequenos porta-clipes de papei ou ainda certos objetos de decoração que grudam em armários de aço e geladeiras são um perigo para a imagem de um cinescópio, e mais que isso: podem magnetizá-lo de forma definitiva.
A aproximação desses objetos poderá fazer com que sérios problemas de pureza apareçam nas imagens, o que só poderá ser eliminado com uma bobina desmagnetizadora.