Você gosta de "curtir" um som pessoal na hora da novela utilizando para isso fones de ouvido, mas não fica muito satisfeito com a ideia em vista, da diferença que se obtém na qualidade de áudio? Você gostaria de poder monitorar suas gravações de uma maneira perfeita utilizando seus fones com controles locais de graves e agudos? Você gostaria de poder, de sua poltrona predileta, sem precisar levantar para modificar os graves e agudos do seu equipamento, ter um controle total da audição em seus fones. 

 

Marco Antonio Mantovani trabalhou na redação da Revista Saber Eletrônica tendo escrito diversos artigos interessantes que estamos recuperando. Este é da edição 75 de 1978.

 

Se para qualquer uma das perguntas acima sua resposta for sim então é sinal de que você deve imediatamente montar esta CENTRAL INDIVIDUAL DE SOM, que apesar da simplicidade o desempenho é realmente um "espanto".

A Central Individual de Som descrita neste artigo além de corrigir a resposta de frequência dos fones de ouvido comuns, tornando-a muito mais rica, principalmente nos agudos, permite que a tonalidade seja controlada à distância sem a necessidade de se ter de levantar-se para ajustar o som sempre que quisermos.

Com a correção para a curva de resposta introduzida por esta central o leitor se surpreenderá pois observará que o som obtido em seus fones deixará de ser típico de fones mas sim passará a ter a mesma riqueza do som obtidos com caixas acústicas.

Todos que possuem um fone de ouvido, seja ele nacional ou importado, sabem qual é a sensação que sentimos ao ouvi-los. Os ruídos exteriores desaparecem quase que completamente, e para estar este bem junto ao nosso ouvido nos dá uma percepção estereofônica muito melhor e uma qualidade de som boa, pois não existem obstáculos capazes de desviar ou refletir as ondas sonoras o que seria causa de reverberações ou interferências.

 

Figura 1
Figura 1

 

 

Não resta dúvida que a audição com fones pode ser considerada ideal pois além da excelente qualidade de som que se pode obter tem-se a vantagem de se poder colocar o volume que se desejar sem o perigo de incomodar nenhum vizinho ou o pessoal que fica vendo sua novela...

Tudo isso seria muito bom se não fosse um pequeno senão. Os fones de ouvidos nem sempre são usados convenientemente e por isso nem sempre a qualidade de som obtida é a esperada. Em suma, muitos que estão acostumados a ouvir seu som exclusivamente de caixas acústicas podem não se sentir impressionados ao experimentarem um fone.

O que ocorre é que, com fones indevidamente usados não se tem uma sensação de presença tão boa quanto no caso de caixas acústicas. É importante notar que isso não é um defeito do fone nem do aparelho de som, mas sim uma característica que pode ser facilmente corrigida.

Uma das finalidades desta Central Individual de Som é justamente esta: corrigir a curva de resposta obtida adaptando-a as características do fone e ao gosto de cada ouvinte. Para que o leitor entenda isso é preciso saber porquê.

Isso é muito fácil de explicar e ainda muito mais simples de entender. Propriedades físicas do som — os alto-falantes e os fones.

Os alto-falantes são transdutores eletroacústicos, ou seja, transformam vibrações elétricas que são aplicadas em sua bobina móvel em vibrações mecânicas do seu cone as quais se-transferem ao ar sob a forma de energia acústica. O cone movendo-se para frente e para trás pressiona e distende uma massa de ar produzindo uma perturbação que se propaga podendo chegar até os nossos ouvidos.

O deslocamento da massa de ar produzida pelo cone do alto-falante chegando ao nosso ouvido provocará um deslocamento equivalente de uma membrana denominada tímpano que, por sua vez, transmite essas vibrações a um osso chamado "martelo", e este à bigorna, etc. até chegar às terminações nervosas e finalmente ao cérebro.

Mas, isso é um assunto para medicina.... Quando o ar ambiente é comprimido e rarefeito pelo cone do alto-falante, em maior ou menor intensidade, nosso tímpano é excitado em maior ou menor intensidade dando-nos a sensação de volume e presença.

Pode-se fazer uma analogia de funcionamento de nosso ouvido com um microfone: quando você fala perto de um microfone, o ar deslocado movimenta a membrana do microfone provocando um deslocamento em sua bobina móvel que por sua vez irá induzir na bobina uma tensão cuja forma de onda corresponde ao som original. Quando falamos baixo a intensidade das vibrações da membrana é pequena de modo que o sinal obtido é mais fraco. Quando falamos alto, a intensidade, em ambos os casos, a forma de onda do sinal deve ser mantida assim como sua frequência.

Em relação às caixas acústicas e aos fones o que ocorre pode ser explicado da seguinte maneira, levando em conta o que foi dito:

Os fones de ouvido, por estarem muito próximos de nossos ouvidos necessitam de uma potência muito menor para excitá-lo convenientemente. A potência admissível para os fones de ouvido varia entre 300 e 500 mW sendo que a potência que podemos aguentar sem ganhar uma "senhora" dor de cabeça não ultrapassa os 100 mW.

Com a potência fornecida pelos amplificadores em que são ligadas caixas acústicas é muito maior, para a ligação dos fones é preciso fazer uma redução da mesma. Para esta finalidade, na maioria dos amplificadores nacionais ou importados a ligação dos fones é feita na saída do circuito por meio de dois resistores de 330 ohms x 1/2 W, conforme mostra a figura 2, levando-os assim a receber uma potência correta que não os danifique e muito menos nossos ouvidos.

 

Figura 2
Figura 2

 

 

É aqui neste resistor justamente que começam os problemas; pois além de reduzir a potência para um nível compatível com a operação dos fones ele também provoca uma redução dos agudos em muito maior intensidade do que seria desejável o que acarreta um aparecimento excessivo dos graves os quais se apresentam então muito mais acentuados do que deveriam.

É claro que muitos "audiocratas" dirão: — Basta retirar um pouco de graves no controle correspondente do amplificador e pronto. Sim, nós diremos, mas e os agudos, foram aumentados?

É óbvio que não foram, pois agudos e graves são funções completamente diferentes. Quando diminuímos os graves, somente diminuímos os graves e não aumentamos os agudos, ao' contrário do que muitos pensam. (figura 3)

 

Figura 3
Figura 3

 

 

O importante é que a maioria dos fones de ouvido não oferecem nenhum recurso de modo que o ouvinte tem que depender totalmente dos controles existentes no amplificador. Alguns fones incorporam um controle de volume e tonalidade do amplificador, tendo como consequência uma atenuação na faixa das altas frequências. Vejam que este controle se torna fictício pois somente atenua os agudos e nada mais.

De modo a tornar melhor a qualidade de som que pode ser obtida de um fone corrigindo os defeitos que possam advir de sua ligação de maneira incorreta ao amplificador e ainda, pensando em facilitar ao máximo o controle dessa qualidade de som pelo ouvinte, projetamos esta Central Individual de Som a qual permite não só o controle individual dos graves, médios e agudos, de modo que o leitor tenha o som desejado de acordo com o fone usado, como ainda incorporamos ao circuito um controle de volume, balanço, saída para dois fones e ainda mais: um indicador de nível ideal para o funcionamento que evita distorções e protege tanto seus fones como seus ouvidos.

Tudo isso com a facilidade de poder ser levado aonde você estiver com seus fones sem a necessidade de ficar levantando para mexer nos controles do amplificador ou outra coisa.

 

 

Figura 4
Figura 4 | Clique na imagem para ampliar |

 

 

Em suma, as características desta Central Individual de. Som que justificam plenamente sua montagem são:

— Controle de graves

— Controle de médios

— Controle de agudos

— Controle de volume

— Balanço

— Saída para dois fones

— Indicador de nível

— Funcionamento remoto

 

O circuito

Os circuitos de tonalidade são formados por filtros RC passivos que permitem acentuar ou atenuar faixas completamente distintas de frequências sem que uma interfira no funcionamento da outra o que proporciona uma grande faixa de ações. Temos então o circuito completo mostrado na figura 4.

Para que cada faixa de frequências de operação segundo o desejado seja obtida o máximo de cuidado foi tomado na determinação ideal dos valores dos capacitores e dos resistores.

Os controles são formados por potenciômetros de carvão comuns não havendo necessidade de se utilizar potenciômetros de fio, em vista da pequena potência com que os mesmos devem trabalhar, da ordem de 2W. É claro que se o leitor estiver disposto a pagar muito mais por potenciômetros de fio de mesmo valor o problema não é nosso, principalmente depois que tiveram a coragem de nos cobrar Cr$ 150,00 por um potenciômetro duplo de fio! (Realmente, um e-s-p-a-n-t-o!).

Os potenciômetros usados são de valores comuns, podendo, portanto, ser encontrados com certa facilidade nas casas de material eletrônico. Entretanto, se o leitor tiver dificuldades com o potenciômetro de 470 ohms duplo, existe uma opção para sua obtenção.

Adquirir-se 8 potenciômetros simples de 470 ohms que são muito mais comuns, e 4 potenciômetros duplos de 1 eixo, sem chave de QUALQUER VALOR. Os potenciômetros simples de 470 ohms são desmontados sendo retiradas com cuidado suas pistas de grafite as quais serão "transplantadas" para os potenciômetros duplos. Cada duas pistas de 470 ohms de dois potenciômetros simples permitem-nos obter um potenciômetro duplo de 470 ohms.

Na figura 5 temos em vista explodida um potenciômetro duplo por onde o leitor deve se orientar para fazer o "transplante" de grafites, se houver necessidade.

 

Figura 5
Figura 5 | Clique na imagem para ampliar |

 

 

Siga rigorosamente nossas instruções, pois este componente é bastante delicado em seu manuseio.

a) Com uma, faca de ponta fina ou um canivete levante as quatro presilhas inferiores do potenciômetro (figura 6) retirando a caneca inferior de proteção.

 

 

Figura 6
Figura 6

 

b) Levante as presilhas superiores e retire a peça onde está a porca de fixação. (figura 7).

 

 

Figura 7
Figura 7

 

 

c) Retire a pista de grafite superior. Apoiando o eixo plástico em uma base firme empurre-o com força para dentro. Os cursores superiores que estão presos em uma peça circular de plástico sairão. Cuidado para não os danificar. Retire o eixo plástico e a pista superior estará livre.

d) Observe que a pista superior do potenciômetro duplo apresenta o furo central um pouco maior que a inferior por isso é preciso aumentar um pouco os furos das 4 pistas superiores a serem introduzidas. Use para isso uma lima redonda pequena, e tome muito cuidado para não danificar os cursores (figura 8)

 

 

Figura 8
Figura 8

 

 

e) Efetue a montagem invertendo a ordem das operações descritas acima. Como os dois cursores devem deslocar-se igualmente nas duas pistas faz-se necessário um pequeno ajuste dos mesmos.

Gire o eixo totalmente para a direita e com o auxílio de um multímetro na escala de resistência R x 1, verifique se a resistência entre o terminal central e o terminal esquerdo é igual a zero; faça o mesmo para o lado esquerdo. Caso não se tenha essa leitura, basta introduzir uma chave de fenda fina no orifício lateral do potenciômetro e segurar o cursor superior girando o eixo até que ambas as leituras sejam zero. (figura 9 ).

 

 

Figura 9
Figura 9

 

 

Para os que desejarem maior precisão no ajuste recomendamos efetuar medidas em diversos pontos das pistas de grafite. Com os potenciômetros usados são iguais não deve haver uma diferença maior do que 5% na leitura numa mesma posição de uma pista para outra.

A figura 10 mostra a placa de circuito impresso pelo lado cobreado e a figura 11, pelo lado dos componentes. Para os que não possuírem recursos para confecção da placa sugerimos que a montagem seja feita numa placa de circuitos impresso universal. Por ser um circuito que opera na faixa de baixas frequências, não existem perigos de realimentação nem oscilações causadas por ligações um pouco mais compridas.

 

Figura 10
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Figura 11
Figura 11 | Clique na imagem para ampliar |

 

 

O painel frontal foi confeccionado com uma chapa de alumínio de 0,5 mm de espessura, não sendo obrigatório o uso desta medida.

De posse da chapa de alumínio, faça os furos para os potenciômetros, jaques e leds. Depois de completamente furado e livre de rebarbas passe as operações de acabamento. Com uma lixa d'água número 320 molhada, lixe a parte frontal do painel até que fique bem lisa. Depois também usando uma lixa 220 molhada, lixe novamente o painel. Repita esta operação até que o mesmo fique livre de manchas e uniformemente lixado. Não se esqueça de manter a lixa sempre molhada e de lixar sempre no mesmo sentido, pois caso contrário você nunca chegará a um resultado satisfatório.

Terminada esta operação, lave o painel com sabão ou detergente, usando uma esponja de nylon e deixe-o secar naturalmente, não usando toalhas nem panos para isso.

Depois de seco a próxima operação consiste na colocação das indicações com letras autoadesivas. Para sua orientação, e para evitar que as inscrições saiam desalinhadas faça com um lápis, de ponta fina, bem de leve, uma marcação para apoio das folhas de letras autoadesivas.

No painel usado para o protótipo foram empregadas as letras ALFAC PF 16.8.0 sendo explicado seu uso pela facilidade com que podem ser transferidas estas letras além de não se soltarem depois.

É claro que o leitor não precisa necessariamente acompanhar o nosso padrão de marcação podendo fazer suas variações.

Depois de feitas as inscrições, lave novamente o painel usando desta vez só e somente sabão de coco e uma esponja, esfregando bem de leve para que as linhas feitas a lápis sejam retiradas. Não use outro tipo de sabão ou detergente pois estes contêm soda que danificaria totalmente a inscrição.

Deixe novamente o painel secar naturalmente. Para plastificarão procure utilizar verniz em spray. Nas papelarias podem ser encontradas folhas de papel plastificante MAGIPLAST que se usadas são muito mais práticas e eficientes.

Na colocação destas folhas tome cuidado para não deixar rugas ou bolhas de ar pois depois de colocada não mais poderá ser retirada sem danificar a inscrição.

Para a colocação segure a folha a uma distância de 10 cm do painel e encoste somente sua ponta na extremidade do mesmo, mantendo o restante suspenso. Com um pedaço de pano vá alisando toda sua extensão com cuidado e baixando de leve a outra extremidade. Só assim você conseguirá uma plastificação perfeita.

Depois de completada a confecção do painel coloque os potenciômetros e jaques utilizando por baixo das porcas arruelas lisas para não enrugar ou rasgar a plastificação. Cole os leds em seus lugares utilizando para esta finalidade uma cola forte como Super Bonder.

Completada a montagem confira com cuidado as ligações internas, principalmente a polaridade dos diodos e leds, e se tudo estiver em ordem, você já poderá fazer uma prova de funcionamento.

 

Prova e Uso

Ligue os terminais de entrada de sua Central Individual de Som aos terminais de saída do amplificador, observando para esta finalidade cuidadosamente as polaridades.

Ligue o seu amplificador e inicialmente sem conectar a saída o fone de ouvido aumente o volume do amplificador até que o led vermelho acenda. Ajuste o volume para que o led verde permaneça apagado piscando de vez em quando. Não deixe que o led fique completamente aceso pois se isso acontecer você poderá sobrecarregar a bobina móvel de seu fone, chegando mesmo a queimá-la.

A condição do led piscando indica a obtenção de um nível de som correto de modo a não haver saturação ou distorção na audição.

Agora você pode ligar a saída de sua central de som o seu fone de ouvido. Gire então o controle de volume até encontrar a intensidade sonora que lhe agradar. Observamos que o controle que agora você mexerá será sempre o da central. Os controles de amplificador não mais serão tocados.

Como a Central Individual de Som é ligada na saída das caixas acústicas e não na saída de fone, quando o aparelho estiver sendo usado exclusivamente com caixas acústicas a central deverá ficar desligada sob pena de haver queima de seus componentes devido a sobre carga. Para que o leitor não precise ficar ligando-a e desligando-a com frequência, sugerimos a coutilização de uma chave H-H que será ligada conforme mostra a figura 12.

 

Figura 12
Figura 12

 

 

Numa das posições esta chave desligará seu sistema de caixas acústicas e ligará a Central Individual de Som e na outra posição ligará as caixas acústicas desligando sua Central Individual de Som.

Comprovado o funcionamento você poderá usar a sua central como quiser.

Para gravações você monitorará a qualidade de som gravado por meio de seus fones, podendo a seu gosto reforçar ou atenuar a resposta de frequência.

Quando quiser ouvir sozinho suas músicas prediletas você levará sua Central para onde quiser ligando-a por meio de um fio cujo comprimento não deve superar os 10 metros ao amplificador de som.

Depois de verificar pessoalmente a qualidade de som que seus fones passarão a ter você se perguntará como pode ter ficado tanto tempo sem experimentar as maravilhas que a audição com fone pode proporcionar e mais ainda quanto tempo pode ficar sem usar este tipo de acessório tão importante em alta fidelidade, e acima de tudo se sentirá plenamente recompensado pelo pouco de trabalho que teve na elaboração deste projeto.

 


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