Encontrei na minha coleção de revistas antigas uma The Electrical Experimenter do nosso já conhecido amigo do passado Hugo Gernsback. Folheando essa revista, o que mais nos chamou a atenção foi a série muito interessante de anúncios de produtos da época. Isso nos levou a planejar mais uma viagem no tempo, para verificarmos o que encontraríamos numa loja de componentes e produtos da época. O que vimos foi muito interessante, levando ao nosso relato neste artigo.
Começamos por mostrar a capa da revista que nos chamou a atenção, tendo sido publicada em julho de 1917.
Como já explicamos em outros artigos de nossa seção e mesmo de um em que tratamos do famoso Hugo Gernsback, naquela época não havia uma separação entre a eletricidade, eletrônica e mesmo outras ciências. Assim, encontramos nesta revista artigos sobre química, física, radioatividade, astronomia e muito mais.
Me surpreendeu também o fato de que algumas empresas que vendem componentes pela internet já existiam naquela época, como a Allied.
Mas, vamos à viagem propriamente dita. Desci furtivamente de meu veículo temporal, deixando-o estacionado em local que não despertasse muito a atenção, justamente na Radio Row de Nova Iorque.
Naquela época, com a chegada da tecnologia, assim como em São Paulo e Rio, com suas Ruas Santa Ifigênia e Marechal Deodoro, em Nova Iorque criou-se pouco antes dos anos 20, uma “Rua da Eletrônica”, a Radio Row na Cortland Street. Consegui uma foto de 1920, pouco depois da minha estada lá.
Quando voltei a Nova Iorque em junho de 2016 passei justamente por essa rua, pois dá acesso ao memorial das Torres Gêmeas que visitei, e até entrei na Century 21 onde, como turista, comprei algumas coisas interessantes para trazer (principalmente meus chocolates Lindt – fica a sugestão).
Não havia mais as lojas que tinha visitado no passado. Caminhando do Word Trade Center Memorial até a Broadway onde termina essa rua, não ví nenhuma loja de eletrônicos.
Mas, lá em 1917, entrei justamente numa dessas lojas para ver o que havia de interessante e agora conto para vocês e até tirei algumas fotos para mostrar. Antes faço uma observação em relação aos preços, pois 1 dólar daquela época era muito dinheiro! Um dólar de 1917 valia 20,33 dólares de hoje! (Conforme tabela do Google)
Na loja me despertou a atenção de algo que hoje seria muito menor, usando LEDs e baterias compactas além de um Arduino certamente. Um Wearable piscante com a bandeira dos Rstados Unidos, por apenas $.60.
Mas, aí começaram os nomes estranhos dos quais os leitores vão gostar e novamente faço um desafio.
Peguei na mão inicialmente um Electro Radiotone e fiquei pensando para o que serviria aquilo. Você saberia dizer?
Percorrendo o mostruário da loja, cheguei a uma vitrine onde estava exposta mais uma novidade da Electro, uma empresa especializada em dispositivos interessantes. Era um Codophone.
Na época, a telegrafia era muito usada pelos radioamadores e qualquer coisa relacionada com esta modalidade de aplicação era sempre uma atração.
Seguindo minha exploração, ao me deparar com um Spinthariscope (Spintariscópio numa tradução livre), me lembrei que naquela época, a radioatividade era ainda uma novidade, e não era considerada perigosa, como hoje sabemos que é.
Assim, era comum encontrarmos nas lojas especializadas dispositivos relacionados com a energia nuclear, vendidos livremente. Este era um deles. Você sabe o que é um Spinthariscope?
Mas, parei realmente para admirar o que seria uma valiosa peça de museu em nossos dias. Uma Grafonola Columbia. Você sabe o que uma Grafonola?
Mas e a eletrônica propriamente dita?
Evidentemente, apenas as válvulas tríodo eram encontradas nas lojas. O Audion de Fleming que foi inventado bem antes. Mas, já havia, alguns componentes interessantes como o Capacitor Vernier que vi no estoque.
Você sabe o que é um capacitor Vernier?
Bem, é hora de voltar. Sai da loja, olhando a Nova Iorque dos anos 20 com seus carros antigos, muito movimento e pessoas usando ternos e chapéus, indo até meu veículo. Voltei ao presente.
Respostas:
O Electro Radiotone nada mais é do que um buzzer, um oscilador de aviso, que segundo apregoado na época, produzia o tom mais suave que já se tinha notícia.
Codophone - Este é um dispositivo muito interessante vendido na época (anos 20). Trata-se de um oscilador para prática de telegrafia incluindo o manipulador.
Na figura 4 temos o seu aspecto e o preço colocado junto ao produto.
Um Spinthariscope nada mais é do que um cintilador que permite visualizar as partículas alfa e raios X emitidos por um pedaço de substância radioativa colocada no seu interior. Criado por Willian Crookes este dispositivo, vendido em lojas nos anos 20, tinha uma tela de sulfeto de zinco que produzia flashes de luz visível ao receber a radiação do material. Intressante que, vendido apenas 1 dólar, garantia-se que usando radio no interior, ele funcionaria por 2 500 anos. É claro que você já estaria morto bem antes.
Grafonola – é um toca-discos ou Gramofone da época. Montado num móvel com excelente acabamento custava muito caro. Na loja, os preços variavam entre 135 e 240 dólares, o que daria muito se levássemos em conta o valor do dólar da época.
Capacitor Vernier – É um tipo de capacitor variável com um sistema de redução e uma escala de precisão. Na figura 7 temos o modelo que ví na loja.