Como se concentrar com todo o barulho da cidade ou a conversa de uma sala adjacente? Como praticar meditação ou outras atividades mentais que exigem muito silêncio, sem a mínima possibilidade de desvio de atenção em locais de muito barulho e movimento? A solução, que á primeira vista pode parecer utópica, é 0 escudo mental. Mas como? Isso realmente existe? Sim, e é realmente muito simples de montar, conforme explicamos neste artigo.

Obs. Este artigo é de 1984, mas atual pela teoria que aplica e pelos componentes usados.

 

Que maravilha seria se pudéssemos nos isolar do mundo quando um ruído forte de ferramentas, o barulho de uma grande cidade, ou a conversa alta em uma sala adjacente nos incomodasse.

A meditação, a concentração e mesmo o sono seriam muito mais fáceis, sem a necessidade de um esforço muito grande.

Na verdade, isso é possível através de algo que denominamos “escudo mental" e que nada mais é do que algo que pode, de certo modo, cancelar os efeitos do ruído excessivo e ajudar na concentração, na meditação e mesmo no sono.

A ideia é simples: se os ruídos ambientes podem dificultar a concentração, existe um tipo de sinal que pode ser sobreposto a este ruído, ou seja, uma nova forma de ruído, que o cancela e que ao mesmo tempo, por não trazer informação alguma, não impede a concentração da pessoa.

Este é o ruído branco, que pode ser descrito como o ruído do mar, que é semelhante a um chiado contínuo, mas que realmente possui propriedades importantes, já comprovadas em muitas pesquisas.

De fato, todos os leitores devem concordar que o ruído do mar, ou o ruído da chuva, tem um “quê" repousante. E, se o leitor observar bem, verá que este ruído pode até cancelar os efeitos de um local barulhento, com a redução dos efeitos de sons irritantes, tais como batidas, conversas, motores, etc.

O ruído branco não precisa ser necessariamente conseguido a partir de fontes naturais, como o mar, o vento forte ou a chuva. O leitor pode perfeitamente ter um gerador para este ruído e utilizá-lo como uma espécie de escudo mental quando precisar de um grau de concentração maior e os ruídos ambientes não permitirem

Bastará ligar seu gerador de ruído branco, que aqui denominamos propriamente de escudo mental, a um bom amplificador e ajustar seu nível para que aquilo que lhe perturba seja cancelado.

Desta forma, nada lhe desviará a atenção, sendo facilmente conseguido o estado de concentração total, sono ou “desligamento" desejados.

A montagem do aparelho é muito simples e ele pode ser ligado a qualquer amplificador de áudio a partir de 1 W. (figura 1)

 

Figura 1 – Modo de usar
Figura 1 – Modo de usar

 

A potência do amplificador não é importante no caso, sendo apenas necessário um nível maior se o leitor precisar cancelar ruídos de uma sala grande. Para o uso pessoal basta ficar perto do alto-falante!

 

COMO FUNCIONA

A principal característica de um ruído branco, como o da chuva ou do mar, é não ter característica, ou seja, não possui uma forma de onda definida, conforme sugere a figura 2.

 

Figura 2 – O ruído branco
Figura 2 – O ruído branco

 

Esta falta de padrão, ou seja, a não existência de periodicidade, é que faz com que não haja uma interpretação por parte de nosso cérebro, daí suas propriedades relaxantes.

Para produzir tal ruído não precisamos de algo que oscile, nem de nenhum dispositivo que possua um padrão definido de funcionamento, muito pelo contrário.

Precisamos de algo que tenha um comportamento aleatório em que nenhum padrão possa ser definido.

Isso é conseguido facilmente pelo choque ou vibração das partículas de um material que esteja em qualquer temperatura acima do zero absoluto.

Acima de 273°C negativos todas as partículas de um material vibram, pelo que chamamos de vibração térmica, e chocam-se de modo totalmente aleatório.

Num material semicondutor, estas vibrações podem resultar em correntes com o mesmo padrão e que depois de amplificadas resultam em ruídos brancos.

O leitor pode constatar este fenômeno ao ligar um amplificador sem sinal e abrir seu volume. O chiado que aparece é uma consequência da própria vibração térmica dos elementos dos circuitos, a qual é amplificada e reproduzida. (figura 3)

 

Figura 3 – O ruído do circuito de um amplificador
Figura 3 – O ruído do circuito de um amplificador

 

Para o nosso circuito podemos aproveitar um simples transistor como fonte do ruído branco, sendo ele ligado do modo indicado na figura 4.

 

Figura 4 – O gerador de ruído branco
Figura 4 – O gerador de ruído branco

 

Aproveita-se no caso a corrente produzida pelos choques dos portadores de carga entre as junções do emissor e da base de um transistor comum.

O coletor é ligado junto com a base, pois não precisamos, neste caso, da amplificação.

O ruído obtido tem, entretanto, uma intensidade muito pequena, precisando de amplificação.

Retirado do emissor do transistor, este sinal branco é levado a duas etapas amplificadoras, agora com transistores comuns, conforme mostra o diagrama final.

Na última etapa, o ruído branco já aparece com grande intensidade, podendo então ser jogado num amplificador convencional para se obter potência suficiente para excitar um alto-falante.

A alimentação do circuito é feita com uma tensão de 9 V, que pode vir de uma bateria comum ou então de 6 pilhas. O consumo de corrente do circuito é muito baixo, garantindo grande durabilidade para as pilhas.

Por isso e também por questões de ruídos, não recomendamos a alimentação por fonte.

 

MATERIAL

Todo o material usado na montagem é comum e, além disso, de baixo custo.

Começamos pela caixinha que deve ser preferivelmente de metal, para servir de blindagem e evitar a captação do ronco da rede local que se sobreporia ao ruído branco, prejudicando assim o funcionamento do aparelho.

A malha do fio blindado ou negativo da fonte será ligada à caixa.

Os transistores originais são os BC548, mas equivalentes, como os BC237, BC238 ou BC547, podem ser usados.

Os resistores são todos de 1/8 W ou maiores com qualquer tolerância e os capacitores são todos cerâmicos ou de poliéster.

S1 é um interruptor simples de qualquer tipo, para ligar e desligar o aparelho.

O leitor precisará ainda de um conector para a bateria, se a usar, ou suporte para 6 pilhas. Fios blindados, fios comuns, uma ponte de terminais ou placa de circuito impresso completam o material da montagem.

Como complemento para a operação será ainda preciso de um cabo blindado, tendo num extremo um pIugue RCA e no outro um pIugue de acordo com a entrada AUX do amplificador que será usado.

 

MONTAGEM

Na figura 5 temos o diagrama completo do aparelho, sendo necessárias para sua montagem as ferramentas comuns. Use um soldador de pequena potência.

 

Figura 5 – Diagrama do aparelho
Figura 5 – Diagrama do aparelho

 

A versão em ponte de terminais é mostrada na figura 6. Nesta versão deve-se tomar cuidado com sua fixação na caixa, devendo a mesma ficar isolada.

 

Figura 6 – Montagem em ponte de terminais
Figura 6 – Montagem em ponte de terminais

 

Somente o terminal extremo da esquerda é que deve fazer contacto por um parafuso à caixa.

A versão em placa de circuito impresso é mostrada na figura 7.

 

Figura 7 – Placa para a montagem
Figura 7 – Placa para a montagem

 

A fixação da placa pode ser feita por meio de separadores.

Na montagem siga a seguinte sequência:

a) Solde em primeiro lugar os transistores. Veja que todos têm posição certa, dada pela parte chata e também que Q1 tem os terminais de base e coletor interligados. Seja rápido nesta operação.

b) Solde depois os resistores. Estes componentes têm os valores dados pelas faixas coloridas de acordo com a lista de material. Na versão em ponte dobre e corte os terminais nos comprimentos apropriados.

c) Solde os capacitores com rapidez, pois são sensíveis ao calor. Veja com cuidado os valores. Para 1oonF pode aparecer o código 0,1 ou então 104 e para 47 nF pode aparecer a marcação 0,05 ou então 473.

d) Faça as três interligações na ponte com pedaços de fio, se esta for sua versão. Estas interligações devem ser curtas.

Passaremos agora a trabalhar com os componentes externos.

e) Faça a ligação ao jaque J1. Se ele estiver muito longe da ponte ou placa, em vista do tamanho da caixa, use fio blindado. A mama fica no emissor de Q3.

f) Ligue o suporte de pilhas ou conector, observando sua polaridade. O fio preto vai à placa ou ponte e o vermelho (+) ao interruptor geral S1. Depois fixe o jaque J1 de saída e também o suporte ou conector de pilhas na caixa. Com isso o aparelho estará pronto para a prova e uso.

 

PROVA E USO

Faça a ligação do aparelho a um amplificador, conforme mostra a figura 8.

 

Figura 8 – Conexões para teste
Figura 8 – Conexões para teste

 

Ligue o amplificador a médio volume e depois acione S1.

O amplificador deve reproduzir um forte chiado, semelhante ao barulho do mar ou da chuva.

Se houver ronco, verifique a blindagem dos fios, ou então a ligação à caixa do fio terra. Se preciso, troque os fios de saída de J1 internos por fio blindado.

Para usar o aparelho basta ajustar o nível de ruído branco ao ponto em que os ruídos ambientes, que impedem sua concentração, sejam “apagados".

Depois é só concentrar, meditar ou mesmo dormir!

Obs.: para os que pretendem usar o aparelho para dormir, nossa sugestão é o uso de um timer, como os muitos que já publicamos, para que o amplificador seja desligado depois de certo tempo.

 

Q1, Q2, Q3 - BC548 ou equivalente - transistores de Silício NPN

C1, C3, C4 - 100 nF - capacitores cerâmicos

C2 – 4,7 nF - capacitor cerâmico

R1 – 470 k x 1/8 W - resistor (amarelo, violeta, amarelo)

R2 - 1k2 x 1/8 W - resistor (marrom, vermelho, vermelho)

R3 – 390 k x 1/8 W - resistor (laranja, branco, amarelo)

R4, R7 – 10 k x 1/8 W - resistores (marrom, preto, laranja)

R5 – 68 k x 1/8 W - resistor (azul, cinza, laranja)

R6 - 330k x 1/8 W - resistor (laranja, laranja, amarelo)

J1 - jaque RCA

S1 - interruptor simples

B1 – 9 V - bateria ou 6 pilhas pequenas

Diversos: placa de circuito impresso ou ponte de terminais, caixa para montagem, fio blindado, fio comum, conector para bateria ou suporte para

6 pilhas, etc.

 

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