Muitos leitores associam os reed switches aos alarmes, pensando que talvez esta seja sua única aplicação possível. No entanto, os reed switches ou interruptores de lâminas encontram uma infinidade de outras aplicações eletrônicas e que não podem de forma alguma ser desprezas. Saber usar reed switches pode significar muito para o projetista, para o montador de aparelhos eletrônicos e para muitos outros profissionais da eletrônica. Neste artigo não só focalizamos de uma maneira mais ampla os reed switches no que se refere ao seu princípio de funcionamento como também damos muitas aplicações que a maioria dos técnicos certamente não conhece.
O reed switch ou interruptor de lâminas, como o nome sugere é um interruptor ou chave que pode ser acionado pelo campo magnético de uma bobina ou de um imã.
O tipo mais comum, que é o interruptor simples de lâminas, tem sua estrutura mostrada na figura 1.
Este componente consiste numa ampola de vidro no interior da qual existem duas lâminas flexíveis com contactos especiais em suas extremidades. A ampola, para evitar a oxidação dos contactos, é cheia com um gás inerte.
Para o tipo normalmente aberto (NA) que funciona como um interruptor simples, em condições normais, as lâminas ficam separadas e portanto. Em outras palavras, em condições normais, este interruptor se mantém aberto.
No entanto, as lâminas são feitas com um material ferroso, o que significa que a presença de um campo magnético, como o de um imã, por exemplo, faz com que elas se fechem o circuito magnético atraindo-se conforme mostra a figura 2.
A atração faz com que essas lâminas encostem uma na outra fechando assim o circuito. O interruptor estará fechado nestas condições.
Variações em torno desta estrutura básica podem levar a diversos outros tipos de reed-switches como, por exemplo, o mostrado na figura 3.
Neste tipo, o que temos é uma chave de 1 pólo x 2 posições, ou seja, uma chave comutadora em que encontramos três terminais de ligação.
Na condição normal, a lâmina interna encosta no contacto NF permitindo, portanto a circulação de uma corrente entre este terminal e o terminal comum.
Com a aplicação de um campo magnético externo, a lâmina se magnetiza e curva-se de modo a encostar no contacto NA. A corrente pode então circular entre estes dois terminais.
Evidentemente, para que um reed switch seja útil, reunindo confiabilidade nos contactos, capacidade de conduzir boas intensidades de corrente, prontidão de ação e durabilidade, sua construção deve seguir determinados parâmetros que passamos a analisar a seguir.
AS LÂMINAS
Evidentemente, o material usado na fabricação das lâminas deve ter propriedades ferromagnéticas de modo a manifestarem a magnetização diante de um campo magnético externo. O material mais utilizado na fabricação dos reed switches é uma liga de ferro-níquel de alta permeabilidade de modo a concentrar ao máximo o fluxo magnético.
A retenção magnética, que a propriedade do material permanecer magnetizado mesmo depois que o campo externo desapareça, deve ser a mínima possível. Isso é necessário para se obter o desligamento ou rearme rápido do dispositivo quando o campo que o aciona é retirado.
Uma retenção maior também teria um efeito indesejável adicional além da demora dos contactos voltarem à posição normal: eles poderiam "grudar" mantendo o dispositivo acionado mesmo depois de retirado o campo externo de acionamento.
As lâminas devem ainda ter um coeficiente de dilatação equivalente ao do vidro usado no encapsulamento, de modo a serem evitados problemas no processo de soldagem. Uma dilatação desigual com o aquecimento do dispositivo poderia resultar em micro-trincas capazes de deixar escapar o gás interno. A função do gás interno, conforme veremos é muito importante, tanto para seu desempenho elétrico, como para a determinação de sua vida útil.
As lâminas devem ainda ter sua superfície completamente limpa, isenta de gases que possam causar problemas de funcionamento.
Outro fator importante na escolha do material é a dureza da liga e sua flexibilidade que devem ser rigorosamente controladas.
O VIDRO
As características dos vidros empregados na construção dos reed switches também devem ser especiais.
A primeira característica a ser considerada é a resistividade que deve ser a mais alta possível. O invólucro de vidro do reed switch também serve de isolamento entre os fios terminais, por isso a resistência entre eles deve ser a maior possível.
Para os reed switches do tipo reversível em que temos dois fios terminais muito próximos de um lado do invólucro, uma lâmina de quartzo é colocada entre eles de modo a aumentar a isolação, conforme mostramos na figura 3.
Um outro ponto importante a ser considerado é a capacidade de dissipação de calor do vidro.
Conforme sabemos, o vidro comum é um mau condutor de calor, e portanto existiriam problemas num reed switch que precisasse operar com correntes elevadas. Para aumentar a capacidade de dissipação de vidro ele é misturado com óxido de ferro. Essa mistura dá ao vidro uma coloração azul, que caracteriza o reed switch comum.
CONTATOS
Como qualquer interruptor ou chave comutadora, os contactos dos reed switches devem ter uma resistência mínima, da ordem de milésimos de ?.
Para se conseguir essa característica elétrica importante os contactos passam por banhos eletrolíticos rigorosamente controlados. Nesses banhos é depositada uma liga de Ródio/Rutênio que tem um ponto de fusão da ordem de 2 000 graus centígrados.
Com este material, a resistência inicial de contacto pode variar entre 50 e 200 milésimos de ohm ou mili?, dependendo do tipo de dispositivo considerado.
Reed switches com contactos NA de ródio/rutênio podem comutar potências entre 10 e 15 watts, dependendo de seu tamanho.
Para a comutação de potências mais altas, de até 100 watts, com contactos NA, existem ampolas que possuem contactos de tungstênio, que é um metal cujo ponto de fusão é muito mais alto. De fato, o tungstênio funde a 3 387 graus centígrados, mas a resistência de contacto é consideravelmente maior ficando em torno de 500 mili?.
O GÁS
Evidentemente, o interior da ampola não pode ser preenchido com ar comum, contendo oxigênio. Com o faiscamento normal entre os contactos, principalmente na comutação de cargas indutivas, o oxigênio reagiria com o metal provocando sua deterioração.
Da mesma forma, o vácuo também não é interessante por criar uma forte pressão não contrabalança de fora para dentro que tornaria o dispositivo frágil.
Desta forma, os reed switches têm suas ampolas cheias com gases nobres.
UTILIZAÇÃO
Para que um reed switch seja acionado precisamos fazer com que um campo magnético externo atue sobre suas lâminas, fechando o percurso das linhas de força. As lâminas atraem-se e então se vergam, ocorrendo então os contactos das formas desejadas.
O campo magnético para acionamento do reed switch pode ser obtido basicamente de duas maneiras: a partir de um imã permanente ou a partir de uma bobina, conforme mostra a figura 4.
Para o acionamento pelo imã permanente é a intensidade do campo que ele produz que determina o ponto de acionamento ou a distância em que ocorre o fechamento dos contactos. Para o acionamento pela bobina é a intensidade da corrente e o número de espiras, além de sua geometria, responsáveis pela intensidade do campo, que determinam o modo de acionamento.
De qualquer forma, entretanto, para utilizar um reed switch é preciso conhecer sua sensibilidade, ou seja, a intensidade do campo magnético que é necessário para acionar
o dispositivo. Esta sensibilidade normalmente é referida em AT (Ampère-turn ou em português Ampère-espira) já que as aplicações mais comuns levam em conta as espiras de uma bobina e a corrente em sua volta.
A sensibilidade de um reed switch é definida durante o processo de fabricação e depois de conferida é classificadas em grupos.
Usando uma bobina padrão, os fabricantes conseguem determinar a sensibilidade de um reed switch, conforme mostra a figura 5.
Quanto mais baixo for o valor de AT de um reed switch, mais sensível ele será.
É importante notar que as lâminas e os terminais de um reed switch formam um circuito magnético que deve ser "percorrido" pelas linhas de força do campo de acionamento. Assim, o corte dos terminais de um reed switch para sua montagem, tornando-os mais curtos pode afetar a sua sensibilidade.
Para o caso em que o acionamento é feito por um imã permanente, quanto maior for a sensibilidade do reed switch, maior poderá ser a distância entre os dois no acionamento.
APLICAÇÕES
Para a utilização correta do reed switch, obtendo-se seu acionamento não basta aproximar um imã permanente de qualquer maneira ou usar uma bobina com qualquer formato. O campo magnético usado no acionamento de um reed switch deve ter uma determinada orientação. Isso é importante para que seja obtida a máxima força de aproximação das lâminas.
Uma mudança de posição do imã permanente em relação ao reed switch, provocando uma ação imprópria do campo sobre as lâminas causa uma perda de sensibilidade. O resultado é a exigência de maior aproximação do imã para o acionamento ou a utilização de um imã mais forte.
Na figura 6 mostramos o posicionamento correto de um imã para se obter o acionamento do reed switch e também o posicionamento incorreto, com as linhas de força que atuam sobre as lâminas.
O modo de acionamento de forma dinâmica também é importante para se obter o melhor desempenho. O movimento de aproximação e afastamento de um imã pode ser feito de duas formas para acionamento de um reed switch.
Levando em consideração que o imã utilizado tem a forma de uma barra, temos na figura 7 a ilustração do primeiro modo de acionamento.
Nesta modalidade de atuação o imã é aproximado perpendicularmente à ampola do reed switch, caso em que os pólos desses imãs devem ficar em posição paralela às lâminas.
O campo magnético, que tem as linhas de força saindo do pólo norte do imã e chegando ao pólo sul, fecha o seu percurso passando pelas lâminas.
A segunda maneira de se obter o acionamento do reed switch é a mostrada na figura 8 e corresponde ao acionamento pelo deslocamento paralelo.
Observe que neste caso, a atuação é feita por apenas um dos pólos do imã. Nesta modalidade, ao aproximar o imã o reed liga, para depois, ao chegar no ponto mais próximo desligar, e finalmente ao afastar, ligar por um breve instante novamente.
Temos então duas posições de acionamento no deslocamento do imã, produzindo dois pulsos de corrente no circuito do reed switch.
É importante observar que esta disposição é justamente a que encontramos nos alarmes de automóvel com sistema de ativação e desarme magnético por meio de um imã num chaveiro.
O pequeno imã normalmente é aplicado ao reed switch para se obter o acionamento o desarme do alarme conforme mostra a figura 9.
Ou passamos o imã num movimento lateral com os pólos posicionados numa linha vertical em relação ao reed switch ou então o aproximamos do reed numa linha paralela.
Outras possibilidades importantes podem ser conseguidas quando modificamos o formato do imã ou ainda quando o acoplamos a dispositivos que podem realizar movimentos mais complexos.
A ação rápida do reed permite que ele seja usado como sensor, gerando pulsos de contagem em máquinas, automatismos industriais, robôs, elementos de fim de curso, contadores de objetos e em muitas outras aplicações semelhantes.
Na figura 10 mostramos um exemplo de aplicação em que temos um imã toroidal ou em forma de anel que se desloca em torno do reed switch.
O acionamento ocorre quando o anel passa mais próximo das lâminas, momento em que o circuito magnético é fechado.
Outra maneira de se obter o acionamento de um reed switch é mostrada na figura 11.
Nesta aplicação, o acionamento é obtido por um imã em forma de barra que gira rapidamente em torno de um eixo entre seus pólos. Desta forma, a cada volta do imã obtemos duas posições de acionamento o que permite fazer utilização como um sensor tacométrico.
Na figura 12 temos um circuito que pode ser usado com esta configuração e que aciona diretamente um instrumento analógico.
Neste circuito temos um monoestável que produz pulsos de duração constante determinada pelo resistor e pelo capacitor ligados aos pinos 6 e 7.
A separação entre os pulsos e portanto o ciclo ativo do circuito dependem da quantidade de impulsos gerada por X1 e que dispara o monoestável.
Os pulsos obtidos na saída são integrados pelo resistor e pelo capacitor de modo a se obter uma tensão proporcional à frequência de acionamento, ou seja, aos pulsos gerados pelo sensor.
Para acionamento de um circuito digital de contagem podemos obter os pulsos diretamente da saída do monoestável 555 conforme mostra a figura 13.
A duração dos pulsos depende de R e de C segundo a fórmula junto ao diagrama. Veja que este circuito tem suas saída compatível com tecnologia CMOS e TTL dependendo apenas de sua tensão de alimentação.
Observe que neste circuito temos a produção de dos pulsos a cada volta do imã, mas existem outras formas de se obter um pulso por volta.
Para os casos em que a velocidade de rotação do imã é algo elevada e, portanto um formato em forma de barra pode causar problemas de vibrações, pode ser empregado um imã em forma de anel, conforme mostra a figura 14.
Neste caso também, a cada volta do imã temos o fechamento e abertura dos contactos duas vezes, ou seja, a produção de dois impulsos.
O emprego de um imã em forma de anel ou cilindro mas com quatro pólos, conforme mostra a figura 15, permite a produção de 4 pulsos por volta.
Veja, entretanto, que mais pulsos por volta significam a necessidade do reed switch ser capaz de responder a frequências mais elevadas de acionamento, o que deve ser considerado em qualquer projeto.
Um recurso muito interessante é o mostrado na figura 16 e consiste na conversão de um reed switch do tipo NA (normalmente aberto) num reed switch do tipo NF (normalmente fechado). Para esta finalidade são usados dois imãs permanentes.
Com o afastamento do imã de acionamento, o imã fixo fecha o circuito magnético através das lâminas mantendo-as unidas e com isso os contactos fechados.
Com a aproximação do imã de acionamento, na posição de cancelamento dos pólos, o campo magnético é neutralizado com a abertura do circuito magnético e consequentemente dos contactos.
Mais um processo interessante de acionamento é mostrado na figura 17.
Trata-se de uma modalidade de acionamento através de uma blindagem magnética. Um material magnético que coloque "em curto" as linhas de força do campo magnético do imã de acionamento, ao ser interposto entre este imã e o reed switch abre o circuito magnético de acionamento e com isso os contactos das lâminas.
ACIONAMENTO POR BOBINAS
O acionamento dos reed switches por meio de bobinas leva a elaboração de sensíveis relés, ou como também são chamados "reed relés".
A principal vantagem de sua utilização está na possibilidade de improvisarmos relés muito sensíveis a partir de reed switches que são componentes que podem ser obtidos com facilidade. As bobinas podem ser enroladas pelo montador exatamente com as características que ele precisa para o acionamento.
Mas, existe uma vantagem adicional a ser considerada: a não existência de muitas partes limitada pelo simples movimento das lâminas, a operação em ambiente vedado, e pequeníssima inércia permite a elaboração de relés com características que dificilmente seriam conseguidas com os relés convencionais.
Para obtermos um reed relé do tipo NA, com uma ampola simples NA, basta enrolarmos em sua volta uma bobina com as características de acionamento desejadas, conforme sugere a figura 18.
Para termos um relé do tipo NF a partir de um reed switch NA basta usarmos a configuração mostrada na figura 19.
O pequeno imã permanente montado junto ao reed switch tem por função manter o circuito magnético fechado e portanto as lâminas em contacto (circuito fechado).
A corrente na bobina deve ter sentido tal que crie um campo magnético que se oponha ao campo do imã permanente, cancelando-o parcialmente, ou o suficiente para abrir o circuito magnético pelas lâminas. Nestas condições, as lâminas do reed switch se separam abrindo o circuito externo.
Outra possibilidade é mostrada na figura 20 e consiste na substituição do imã permanente por uma bobina de polarização.
O trimpot P1 funciona como um ajuste de polarização determinando a sensibilidade do relé. A desvantagem desta configuração é que fica circulando permanentemente uma corrente pela bobina polarizadora.
MANUSEIO
Os reed switches são componentes delicados devendo, por isso, ser manuseados com muito cuidado. Uma quebra da ampola de vidro ou problemas de vedação junto aos terminais pode causar a perda do gás inerte do interior do dispositivo, ficando assim reduzida sua vida útil. A tensão de isolamento máxima também pode ser afetada nestas condições, com uma considerável redução.
O corte dos terminais muito curtos, de forma a modificar as características do circuito magnético, afeta a sensibilidade do reed switch. Os terminais não só têm por finalidade fornecer a sustentação mecânica e a conexão elétrica como também formar o circuito magnético de acionamento.
Não devemos nunca cortar os terminais de um reed diretamente com um alicate ou outra ferramenta. O reed deve ser seguro pelo terminal com um alicate de ponta e o corte deve ser feito depois conforme mostra a figura 21.
O mesmo procedimento deve ser seguido se os terminais do componente forem dobrados.
Os fabricantes de reed switches costumam indicar o comprimento mínimo dos terminais admitido para um funcionamento normal. Estes limites devem ser observados pelos montadores.
Se as correntes controladas forem pouco intensas e as tensões igualmente baixas, um reed switch pode abrir e fechar seus contactos milhões de vezes.
No entanto, à medida que cargas de maiores correntes são controladas, a vida útil do reed switch vai sendo proporcionalmente reduzida.
Cuidados adicionais devem ser tomados se as cargas controladas forem indutivas.
Obs: este artigo foi redigido a partir de material da Gentech International fabricante de reed switches que tem como representante para o Brasil e América do Sul a Metaltex (www.metaltex.com.br)