A eletrônica não se faz presente apenas nos dispositivos dos carros modernos, mas também em diversos tipos de analisadores de funcionamento e de diagnóstico de falhas. Um dos dispositivos mais tradicionais usado na regulagem de motores, mesmo os tipos mais antigos e simples é a chamada "luz de ponto" ou "luz de sincronização". Veja neste artigo como ela funciona e sua importância para obter-se o melhor desempenho de um motor. (2000)
Produzir a faísca no instante certo dentro do cilindro de um motor é fundamental para obter-se o máximo rendimento. Se a faísca for produzida antes ou depois do tempo ideal, teremos problemas como a combustão incompleta ou ainda com os contragolpes que fazem com que o rendimento do motor caia enormemente.
A faísca deve ser produzida quando a compressão atingir um ponto considerado ideal e as válvulas estiverem fechadas.
Para ajustar o instante em que isso ocorre, baseia-se na posição da árvore de manivelas que justamente controla as válvulas.
Existe então na árvore de manivelas um rolamento com diversas marcas, conforme mostra a figura 1.
![Marcas para ajuste de ponto. Marcas para ajuste de ponto.](/images/stories/artigos10/art1030_01.jpg)
Ao rodar, se este rotor for iluminado por uma fonte de luz pulsante de frequência conhecida e comandada pelo próprio circuito de ignição, ocorre o chamado efeito estroboscópico.
Por este efeito, a imagem de um corpo que gira parece "congelada" quando iluminada por uma fonte pulsante de luz.
O leitor tem uma amostra deste efeito na própria TV quando o sincronismo da imagem funciona como uma fonte pulsante de luz congelando o movimento de objetos que se movem ou que se giram.
É por este motivo que observando a hélice de um ventilador diante de um televisor ligado, de acordo com a figura 2, temos instantes em que ela parece girar para trás, e até mesmo parar.
![O efeito estroboscópico observado com uma hélice de ventilador. O efeito estroboscópico observado com uma hélice de ventilador.](/images/stories/artigos10/art1030_02.jpg)
Ela parecerá parada justamente quando a frequência da produção dos campos da imagem de TV coincidir com um múltiplo ou submúltiplo da sua velocidade de rotação.
No caso do carro, aproveita-se este efeito para "paralisar" a imagem do rotor com marcas, utilizando-se uma fonte de luz pulsante de referência.
Com este procedimento pode-se ajustar o sistema de ignição, ou seja, a posição do distribuidor para que as marcas de referência fiquem justamente no ponto em que se obtém o melhor rendimento do motor.
O CIRCUITO DA LUZ DE PONTO
Na figura 3 temos uma luz de ponto comum usada pela maioria dos eletricistas e mecânicos de automóvel.
![Uma luz de ponto comum Uma luz de ponto comum](/images/stories/artigos10/art1030_03.jpg)
Pelo seu diagrama de blocos, ilustrado na figura 4, observamos que ela é alimentada pela própria tensão de 12 V do carro que está sendo ajustado.
![Diagrama de blocos da Luz de Ponto. Diagrama de blocos da Luz de Ponto.](/images/stories/artigos10/art1030_04.jpg)
Um circuito inversor gera uma alta tensão da ordem de 400 a 800 volts que alimenta uma lâmpada de xenônio, semelhante às encontradas em flashes fotográficos, sistemas de alerta de viatura de polícia e bombeiros, e usadas também na sinalização de torres e edifícios.
Para disparar esta lâmpada utiliza-se o próprio pulso que produz a faísca na vela.
Para isso uma sonda é colocada no próprio cabo da vela, conforme mostra a figura 5.
![Ligando a sonda Ligando a sonda](/images/stories/artigos10/art1030_05.jpg)
Veja que a alta tensão aplicada à vela (que pode superar os 30 000 volts num carro comum) faz com que o contato com o circuito seja desnecessário. Basta colocar o clipe da sonda no cabo que, por indução, temos a tensão que aplicada à lâmpada dispara o circuito provocando o flash de curta duração.
A luz deste flash é aplicada diretamente no rotor com as marcas.
Com o motor em movimento, a lâmpada pulsará rapidamente (em função de sua rotação) paralisando a imagem das marcas em certos pontos.
Na figura 6 temos um circuito típico de uma "luz de ponto" que pode até ser montada pelo leitor.
![Diagrama de uma luz de ponto. Diagrama de uma luz de ponto.](/images/stories/artigos10/art1030_06.jpg)
Os transistores de potência devem ser dotados de radiadores de calor e, eventualmente, os resistores de base alterados no sentido de se obter a tensão ideal para o disparo da lâmpada. Valores entre 470 ? e 4,7 k ? devem ser experimentados de acordo com o transformador.
O capacitor C3 também deve ser experimentado de acordo com a indutância do enrolamento primário do transformador usado para obter-se melhor rendimento. Valores entre 22 nF e 100 nF são os recomendados.
O transformador pode ser de qualquer tipo com 12+12 V de secundário e correntes entre 300 e 800 mA. O enrolamento primário que serve de enrolamento de alta tensão é de 220 V.
O capacitor C4 que alimenta a lâmpada de xenônio deve ter de 100 nF a 470 nF com uma tensão de isolamento de pelo menos 800 V.
Testes devem ser feitos com este capacitor e o transformador, conforme a lâmpada usada. Em princípio pequenas lâmpadas de xenônio aproveitadas de flashes fotográficos podem ser experimentadas com bons resultados.
Na figura 7 damos uma sugestão de placa de circuito impresso para montar este aparelho.
![Sugestão de placa de circuito impresso da luz de ponto. Sugestão de placa de circuito impresso da luz de ponto.](/images/stories/artigos10/art1030_07.jpg)
O cabo de conexão à vela deve ser flexível com bom isolamento, dada a sua alta tensão. Os cabos de alimentação devem ter clipes para ligar na bateria do carro e serem identificados por cores diferentes (vermelho para o positivo e preto para o negativo).
USANDO A LUZ DE PONTO
O ajuste com a "luz de ponto" é feito tomando-se como referência as marcas de referência e a marca da polia que está acoplada ao motor.
Iluminando o conjunto, a marca móvel vai mudar de posição em relação às marcas de referência, conforme o motor esteja com o sistema de ignição "atrasado" ou "adiantado" em relação ao ponto ideal.
Atua-se então sobre a posição de ajuste do distribuidor de modo que a marca coincida com o ponto recomendado, o que é feito com o motor em ponto morto (PMS ou Ponto Morto Superior).
O ponto ideal de ajuste da faísca ocorre segundo um ângulo de 8 a 10 graus, mas este ângulo varia de modo automático de acordo com a rotação.
Nos motores modernos, o ajuste do ponto é feito de modo automático por meios eletrônicos. O próprio microprocessador, a partir de um sensor verifica o instante em que ocorrem as faíscas, ajustando-o conforme as necessidades de potência do motor.
Na verdade, nos motores modernos, o microprocessador determina o instante em que ocorre a faísca em função de diversos parâmetros como, por exemplo, a pressão barométrica, a temperatura do motor e ambiente, a rotação e a própria aceleração impressa pelo motorista.
Para estes, o ajuste de ponto pelo método tradicional usando a luz de ponto não se aplica, já que isso é feito pelos sistemas de diagnósticos inteligentes que empregam microprocessadores já programados com todos os parâmetros que devem ser levados em consideração num ajuste ou detecção de problemas.