Com o crescente interesse pelos toca-discos de vinil e recuperação de equipamentos valvulados, os leitores me escreveram para que eu preparasse um artigo específico para se verificar se uma válvula está boa ou não através de testes simples. Pois bem, neste artigo estamos dando algumas dicas interessantes (*).

(*) O leitor pode encontrar mais na nossa seção de válvulas (V) e de instrumentação (como testar válvulas).

 

Evidentemente, o teste mais simples que podemos fazer é o da continuidade do filamento, para o qual usamos um multímetro ou um provador de continuidade ou ainda o de curtos entre elementos com os mesmos instrumentos.

Mas, as válvulas são diferentes dos transistores e circuitos integrados, pois elas enfraquecem perdendo a emissão ou ainda suas características levando-as à queima quando entra ar.

A emissão das válvulas exige o emprego de aparelhos especiais, como o mostrado na figura 1, que além de não muitos comuns atualmente, eventualmente custam caro. É claro que sempre se pode encontrar uma barganha como o da foto que está sendo vendido por US$ 9,99 quando escrevemos este artigo.

 

Figura 1 – Um teste de válvulas – encontrado à venda na Internet
Figura 1 – Um teste de válvulas – encontrado à venda na Internet

 

Mas existem algumas dicas interessantes que podem ser aproveitadas por quem não tem muitos recursos de instrumentação e que permite saber se uma válvula está ou não boa através da aparência.

 

Sinais de que a válvula não está boa

Filamento

O primeiro sinal mais evidente é de que ela deve acender quando o aparelho está ligado. O filamento deve estar aquecido e com isso brilhar com luz avermelhada. Se o filamento permanecer apagado e a válvula fria é sinal de que ela está queimada.

Mas, cuidado, alguns aparelhos tem os filamentos das válvulas ligados em série de modo que se uma delas queima as outras também apagam, assim devemos verificar uma por uma e aí entra em ação o multímetro. Quando as retirar do soquete para teste tome cuidado de colocar cada uma em seu lugar, pois elas são diferentes. Uma troca impede o funcionamento do aparelho e o que é pior, por causar sua queima.

Nos casos em que não é possível ver o filamento, pois ele esta escondido dentro de um catodo, podemos saber que ele está funcionando, pois a válvula estará quente. Cuidado para não queimar os dedos. As válvulas funcionam em temperaturas que facilmente superam os 100º C.

 

Getter

O getter é um revestimento interno da válvula cuja função é absorver o oxigênio residual que fica em seu interior quando ela é fabricada. A válvula funciona com vácuo em seu interior e se houver resíduo de oxigênio na sua fabricação, seu funcionamento é afetado.

O getter fica normalmente na parte superior da válvula ou nas partes laterais, dependendo do tipo. Numa válvula boa o getter tem uma cor que vai do púrpura, escura brilhante ou mesmo prateada conforme mostra a figura 2.

 

Figura 2 – O getter numa válvula boa
Figura 2 – O getter numa válvula boa

 

Se entrar ar, por exemplo, por uma rachadura no vidro ou defeito de vedação a cor do getter vai mudar e ele se torna branco, como mostra a válvula da figura 3. Esta válvula não pode ser mais usada.

 

Figura 3 – Válvula com ar
Figura 3 – Válvula com ar

 

 

Fugas

Um tipo de fuga ocorre quando notamos um brilho purpura em torno de elementos da válvula. Isso pode ocorrer numa válvula com defeito.

 

Avermelhamento de placa

Muitos amplificadores de alta potência possuem válvulas que operam com tensões muito altas e correntes igualmente elevadas. As válvulas de saída nestes amplificadores, quando sobrecarregadas apresenta um avermelhamento de suas placas, ou seja, os eletrodos de placa ou anodo aquecem de tal maneira que brilham com luz avermelhada (figura 4).

 

Figura 4 – Avermelhamento de placa - sobreaquecimento
Figura 4 – Avermelhamento de placa - sobreaquecimento

 

 

Além de diminuir a vida útil da válvula temos a sobrecarga dos circuitos. O avermelhamento da placa indica problemas da polarização da válvula, o que deve ser verificado com a análise do circuito.

 

Testes dinâmicos

Uma válvula pode apresentar um enfraquecimento sem sinais visuais como os indicados acima. Neste caso, se ela estiver num amplificador podemos notar perda de potência, distorções, etc.

De fato, o que diferencia as válvulas dos semicondutores é que elas são amplificadores lineares de tensão, mas na verdade não são tão lineares como poderíamos esperar.

Fenômenos como a emissão secundária, o enfraquecimento podem leva-las a distorção e isso deve ser levado em conta por quem deseja recuperar um bom amplificador antigo ou mesmo um rádio.

Muitos amplificadores e rádios apresentam em seus diagramas valores das tensões que devem ser encontradas nas válvulas. Essas tensões também podem ser encontradas nos manuais de válvulas.

Assim, se os componentes de polarização de uma válvula num circuito estiverem bons e eles podem ser testados, pois são resistores. Se as tensões de alimentação (+B) estiverem corretas, uma medida anormal pode indicar um problema com a válvula.

Por exemplo, se válvula estiver polarizada para conduzir uma pequena corrente em funcionamento (Classe B) por exemplo, em série com o resistor de anodo (placa) ele forma um divisor de tensão. Assim, uma variação da tensão de anodo, por exemplo, para mais, pode significar uma diminuição da condução da válvula. Isso pode ser sintoma de que esta válvula está enfraquecida (figura 5)

 

Figura 5 – tensão de placa alterada
Figura 5 – tensão de placa alterada

 

 

É claro que, neste caso a análise precisa implica na posse do diagrama. No entanto, se o recuperador ou reparador desconfiar da válvula, teste antes os componentes à sua volta e meça as tensões de alimentação da etapa.

Se tudo estiver em ordem e o circuito apresentar baixo ganho, distorções ou ainda falta de oscilação há uma grande possibilidade de que a válvula seja a responsável, mesmo que não apresente sinais visíveis de que tem algum problema. Voltaremos a tratar do assunto em novos artigos.