A estrutura básica de todos os equipamentos de som é a mesma. Isso significa que, independentemente da complexidade, potência e número de funções, os defeitos apresentados em geral são os mesmos, assim como as possíveis origens. Desta forma, o técnico com um bom conhecimento dos defeitos básicos pode localizar a origem facilmente, mesmo sem dispor do esquema original. Neste artigo falaremos de alguns defeitos comuns em equipamentos de som, especificamente amplificadores de potência, dando sua provável origem e o que deve ser feito.
Obs. O artigo é do ano 2000, mas muitos dos procedimentos abordados e defeitos são comuns em equipamentos atuais.
a) Não Funciona
Quando o aparelho se encontra totalmente mudo, existem os seguintes pontos a serem verificados:
* Fonte de alimentação - verifique se o fusível de entrada está queimado. Se com a troca ele voltar a queimar, é sinal que existe curto interno.
* Verifique os transistores de saída de som que normalmente, por operarem com alta potência, são os elementos sobrecarregados que se queimam com mais facilidade. Se o amplificador usar módulos híbridos ou circuitos integrados, verifique se não são eles os responsáveis pelo problema.
Na figura 1 temos um diagrama de etapa de potência típica, com transistores em simetria complementar. A entrada em curto destes transistores causa problemas de queima do fusível de entrada. (figura 1)
* Verifique o cabo de conexão dos alto-falantes ou caixas acústicas. Um curto-circuito num cabo pode ser o responsável pela queima dos transistores de saída ou do circuito integrado.
b) O som para depois de algum tempo de funcionamento
O que pode ocorrer neste caso é que o aquecimento e aumento da corrente com o funcionamento depois de algum tempo, faz com que o fusível de entrada queime ou ainda entre em ação o sistema de proteção.
* Verifique se os transistores de saída estão muito quentes ou se aquecem de forma diferente (um mais que o outro). Se forem usados circuitos integrados, veja se existe um aquecimento excessivo dos mesmos.
Na figura 2 mostramos uma configuração de proteção térmica comum em amplificadores com transistores.
Um transistor comum colado com epóxi ao dissipador de calor funciona como sensor de temperatura, regulando a corrente da etapa de saída protegendo-a contra sobrecarga. Se este transistor apresentar defeito ou descolar-se do dissipador, o sistema de proteção térmica não funcionará.
* Verifique se existe problema de ligação das caixas acústicas. Duas caixas acústicas de 4 Ω em paralelo, conforme mostra a figura 3, resultam numa impedância de 2 Ω. Se a saída do amplificador admitir como impedância mínima 4 Ω, a ligação desta forma pode causa sobrecarga, com o consequente aquecimento ou atuação do sistema de proteção.
* Verifique também a fonte de alimentação. Uma sobrecarga anterior que afete as características dos componentes da fonte, pode fazer com que ela se predisponha à sobrecarga desligando depois de certo tempo, mesmo em funcionamento normal. Algum componente pode ter sido alterado.
c) Ronco
O ronco de 60 Hz, como o que surge quando colocamos o dedo num cabo de entrada, pode ter diversas origens internas, quando nenhuma fonte de sinal estiver ligada ao amplificador.
* Verifique em primeiro lugar se a tensão da fonte está devidamente filtrada. A presença de ripple, constatada pelo osciloscópio, veja a figura 4, indica problemas com as etapas de filtragem.
Podem existir capacitores abertos ou com valor reduzido, ou ainda problemas com componentes reguladores que estão afetando as tensões aplicadas a determinadas etapas.
* Verifique os circuitos pré-amplificadores que são mais sensíveis à captação de roncos. Capacitores na filtragem da alimentação destes circuitos, quando abertos ou com capacitância reduzida, podem aumentar o nível de ruído de forma acentuada.
d) O volume se altera
Se o volume não se mantém constante e ainda ocorrem sinais de distorção, as causas podem estar em alguns pontos do amplificador de potência que devem ser verificados.
* Verifique a fonte de alimentação - flutuações na tensão de alimentação de certas etapas devidas a problemas com a regulagem podem acabar influindo no volume do som. Monitore com um multímetro a tensão na alimentação da etapa de potência, cujo volume se altera. Isso pode ajudar a detectar se o problema é da fonte.
* Verifique também os transistores de potência e o excitador (driver). Um problema intermitente nestes componentes que podem estar prestes a queimar pode ser o responsável por flutuações de volume.
e) Distorções
Para a verificação de distorções, o melhor procedimento é o que faz uso de um osciloscópio, uma carga resistiva no lugar dos alto-falantes e um gerador de sinais, de acordo com a figura 5.
Uma vez constatado que o sinal distorce, pode-se partir para uma verificação das causas. São as seguintes as verificações que devem ser feitas:
* Verifique inicialmente na etapa de saída, se as tensões estão corretas. Se um transistor, por defeito, modificar seu ganho, o sinal amplificado pode ser deformado. Uma sobrecarga que leve um transistor da saída a apresentar fugas pode ser a causa de distorções importantes num amplificador de áudio.
* Verifique a etapa excitadora (driver). Se os transistores desta etapa apresentarem problemas como, por exemplo, redução de ganho ou fuga, o desequilíbrio na aplicação do sinal na etapa de saída poderá resultar em distorções do sinal semelhantes à mostrada na figura 6.
Observe que um semiciclo do sinal tem uma amplitude diferente do outro, o que resulta numa reprodução desagradável do som original.
* Verifique também a fonte de alimentação - os amplificadores têm o pico de corrente quando os picos de áudio devem ser reproduzidos.
Se a fonte apresentar um problema que limite sua corrente ou ainda a impeça de fornecer corrente de maneira constante às etapas de saída, nos picos de som pode ocorrer uma queda de tensão suficiente para afetar a forma de onda do sinal aplicado ao alto-falante.
O resultado disso é uma forte distorção no som.
Um capacitor de filtro com valor reduzido pode causar este problema, pois ele atua como um reservatório devendo fornecer a energia que a etapa de saída precisa nos picos de áudio, conforme ilustra a figura 7.
f) Chiados
Os chiados são diferentes dos roncos. O chiado é o ruído de raspar ou crepitar, que pode ocorrer tanto quando atuamos sobre um controle como de forma natural, sem que nenhum controle seja tocado.
* Verifique em primeiro lugar se estes chiados acontecem quando os potenciômetros são ajustados. Se isso ocorrer, a origem pode estar nestes componentes, que estão raspando. O uso de um solvente pode ajudar na limpeza (limpa contatos).
No entanto, se o problema for de desgaste, o melhor é fazer a troca do componente.
* Verifique a seção do equalizador que, por usar muitos potenciômetros, é mais sensível ao problema.
* Procure por maus contatos em componentes da placa ou ainda acúmulo de sujeira, principalmente nas etapas mais sensíveis, que são as do pré-amplificador.
CONCLUSÃO
Estes são apenas os problemas mais comuns com suas possíveis causas.
Alertamos, entretanto, que a Eletrônica não é uma ciência tão exata quando falamos em termos de reparação, e existem causas para os mesmo problemas, que não podem ser facilmente previstas.
Já soubemos até do caso de uma lagartixa que morreu dentro do alto-falante de um equipamento de som, provocando forte distorção. Antes que o próprio alto-falante fosse retirado, o técnico examinou diversas outras possíveis causas, totalmente previstas no que seria um diagnóstico normal.
A própria propaganda de um analgésico que fala de um pedaço de pizza encontrado dentro de um videocassete mostra que o técnico reparador deve estar preparado para tudo, inclusive ter dores de cabeça que o próprio analgésico anunciado dificilmente vai curar.