Qual ‚ a maior prova de coragem para um jovem de 14 anos? Se o leitor disser que é entrar sozinho numa casa "mal assombrada" tarde da noite estará bem próximo do que pensam os alunos da Escola Técnica de Brederópolis, incluindo Beto e Cleto. No entanto, quando o Professor Ventura entra na brincadeira, "produzindo" alguns efeitos especiais de alta tecnologia na casa escolhida para a prova, as coisas podem complicar. Esta é a aventura que contamos para nossos leitores desta vez.

 

 

- Ninguém ‚ mais corajoso do que eu! - exclamava Teobaldo.

 

- Nada disso! Eu sou mais corajoso! - dizia o Célio, um rapaz mais novo, mas que também estava na Escola Técnica há pouco tempo.

 

Os dois se gabavam, diante dos companheiros da escola e das meninas que os admiravam, mesmo sendo ainda "membros" novos na comunidade da Escola Técnica de  de Brederópolis.

 

Beto e Cleto só observavam a certa distância, sem muito interesse, e até chegaram a comentar baixinho entre sí:

 

- Sujeitos presunçosos!

 

No entanto um dos rapazes do grupo que ouvia tudo sem falar nada, propôs que eles provassem que realmente eram corajosos, passando pela "Prova do Casarão".

 

- Isso mesmo! Você tocou no ponto! Nem me lembrei disso, eles são novos e não fizeram ainda "Prova do Casarão"! - exclamou Cido, apontando para os dois novatos.

 

Mas, o que era a Prova do Casarão? Explicamos:

 

No alto da colina, bem em frente ao cemitério, no caminho da Vila Nova havia uma casa

abandonada, um casarão antigo que diziam ser "mal assombrado".

 

Corriam muitas lendas sobre aquela velha construção, meio de madeira meio de alvenaria, com dezenas de quartos e salões.

 

A mais aceita era realmente tenebrosa!

 

Conta a história que vivia um velho "Barão do Limão" um fazendeiro com centenas de alqueires de limões muito rico,  portanto, com sua família.

 

Mas um dia, por fazer mal a um colono, foi alvo uma "praga" segundo a qual ele acabaria seus dias sozinho naquela casa.

 

Depois disso, um a um os parentes do velho barão, mesmo mais novos foram morrendo de forma misteriosa até que só restou ele!...

 

Dizem que o velho Barão, enlouquecido, andava pela casa falando com as paredes e com os retratos pendurados dos parentes mortos como se todos ainda estivessem lá até que um dia, misteriosamente ele simplesmente desapareceu!

 

Depois disso, a justiça não tendo quem nomear como herdeiro e não podendo declará-lo morto porque o corpo nunca foi encontrado, simplesmente se viu diante de um problema; saber quais das pessoas que se habilitaram a assumir a propriedade realmente tinham esse direito.

 

O tempo passou e o velho casarão abandonado adquiriu uma fama sinistra. Dizem que vozes estranhas, fantasmas dos antigos moradores e até do próprio barão eram ouvidas nas noites escuras, fora as "assombrações" criadas pela imaginação do povo.

 

A partir das lendas, a imaginação dos estudantes foi responsável pela criação da "Prova do Casarão", consistindo em se testar a coragem dos novos membros do "grupo".

 

Na prova, o "testado" deveria entrar no velho casarão à  noite e sozinho deveria subir ao segundo andar onde deveria aparecer e acenar na sacada dianteira.

 

Isso significava percorrer dois longos corredores, praticamente sem iluminação.

 

A única "ferramenta" permitida nessa entrada era uma simples vela para iluminar o caminho!

 

Depois dessa rápida explicação, voltamos ao momento em que Beto e Cleto ouviam os rapazes novos contar "vantagens".

 

Os dois resolveram ficar "de fora", mas acompanhando o que se passava!

 

Cido foi então mais incisivo com os colegas:

 

- Pelo que vimos, nossos amigos são realmente muito corajosos! Poderiam perfeitamente passar pela "Prova do Casarão" sem muitos problemas!

 

Todos olharam para e Teobaldo e Célio com um sorriso!

 

Os rapazes apenas ficaram embaraçados, pois não sabiam do que se tratava. Eram novos na escola!

 

- "Prova do Casarão"! O que é isso? - perguntou um deles meio preocupado pela maneira como os outros o olharam.

 

Dada uma breve explicaçcão, Teobaldo e Célio não tiveram como escapar, pois tinham contado tantas "vantagens" sobre sua coragem, que não era possível negar sua participação.

 

Ainda mais que as garotas da escola já estavam começando a admirá-los!

 

A única reação de Teobaldo e Célio quando lhes informaram que indicariam a "data mais apropriada do teste" foi engolir em sêco:

 

- Gulp!

 

Desfeita a conversa, com Teobaldo e Célio se afastando com algumas garotas, Beto e Cleto aproveitaram para trocar algumas idéias:

 

- Sabe o que eu acho: este teste tem sido muito simples: apenas "entrar" no casarão e subir até o segundo andar, de preferência numa noite sem lua! Não é chegado o momento de acrescentar um pouco de "coreografia" ao teste usando nossa velha tecnologia eletrônica?

 

- Você quer dizer, criando alguns "efeitos especiais"? - perguntou Cleto.

 

- Isso mesmo!

 

- Taí! Eu sempre desejei fazer algo nesse campo! Alguma coisa como "assombrações de alta tecnologia"! Seria muito interessante! Não é o que poderíamos chamar de uma Multimídia Fantasmagórica?... - completou Cleto.

 

Beto foi além e explicou melhor sua idéia:

 

- Sim, é isso mesmo! Poderímos montar alguns "truques" de assustar, no velho casarão e aí sim, o teste seria "prá valer", e valeria para os outros, também, pois nós não contaríamos nada, não é?

 

- Legal! Transformar o Velho Casarão numa verdadeira casa mal-assombrada, com recursos de alta tecnologia, com  eletrônica e mecatrônica de "arrepiar o cabelo" e fazer uma prova com essa turma vai ser muito interessante!

 

- Sim, mas que truques seriam estes? - interferiu finalmente Cleto. Beto tinha a solução:

 

- Ninguém melhor do que o Professor Ventura para criar coisas de "arrepiar" usando a eletrônica!

 

Beto e Cleto procuraram então o Professor Ventura que, como sempre, se mostrou muito cooperativo quando soube da idéia.

 

Na verdade, ele também gostava desse tipo de coisa e lembrou-se até que na sua época de estudante passou por teste semelhante!...

 

- Sempre pensei em "assombrar" uma casa "mal-assombrada" usando recursos de alta tecnologia e o velho casarão há muito tempo me faz "cócegas" nesse sentido! Surge agora a oportunidade de darmos um belo susto naquela turma!

 

Beto, com muito humor completou:

 

- "Assombrar uma assombração"! Taí um trabalho que nunca fizemos!

 

O ponto de partida do projeto foi uma planta do velho casarão que obtiveram com um amigo.

 

Os três puseram-se a imaginar que tipos de aparelhos poderiam instalar na velha casa para assustar os outros.

 

O Professor Ventura dava as informações mais importantes:

 

- Bem, o casarão não tem energia disponível, portanto os aparelhos devem ser todos alimentados por pilhas ou baterias.

 

- Isso limita bem o que podemos fazer! - comentou Beto.

 

- Mas que diabo de assombrações podemos instalar lá?

 

O Professor Ventura foi então ao quadro negro e começou a escrever uma relação de coisas "de assombrar" que poderiam usar. A relação era a seguinte:

  • Passos fantasmas
  • Risada fantasmagórica
  • Projetor de sombras e vultos
  • Movimento de objetos
  • Queda de objetos
  • Vozes fantasmas

 

- Brrr!... - comentou Cleto fazendo uma cara de mêdo. O Professor Ventura antes de explicações mais detalhadas ainda comentou:

 

- Lembrem-se de que para que os aparelhos tenham efeito é preciso levar em conta que ninguém sabe que eles existem, e portanto o fator "desconhecido" unido ao fator "surpresa" é que devem prevalecer!

 

- Sim, é isso mesmo! - comentou Beto.

 

- Vejam por exemplo os passos fantasmas. Batidinhas ritmadas no chão não assustam ninguém quando você as produz por meio de um dispositivo eletrônico qualquer, mas transporte isso para um casarão abandonado, numa noite escura e ainda leve em conta o que vai na cabeça de dois rapazes "apavorados" e aí temos a diferença!

 

- O que vai valer é então a cenografia e não o recurso técnico! - completou orgulhosamente Cleto, que havia compreendido o "espírito da coisa"!

 

- Isso mesmo! Mas, vamos ao que interessa: nossos projetos!

 

O professor Ventura passou às explicações técnicas.

 

- Os passos podem ser produzidos por um circuito muito simples, mas bastante realista.

Basta ligar um sequencial lento com o circuito integrado 4017, por exemplo e que tenha em cada saída um transistor de média potência e um pequeno alto-falante. Acionando-o remotamente, a cada pulso do clock uma das saidas ser energizada e com a condução do transistor equivalente ‚ produzido um estalo no alto-falante.

 

Beto pegou bem a idéia:

 

- Basta então espalhar os alto-falantes em sequência num corredor, e os estalos em sequência dão a impressão de alguém “invisível” caminhando!

 

- Genial! - completou Cleto.

 

- Sim, usando alto-falantes suficientemente pequenos e junto ao chão podemos obter realismo. Basta ajustar o clock para que os pulsos lembrem o rítmo dos passos de uma pessoa! Podemos até inverter a contagem, simulando assim o "retorno" do fantasma!

 

- Toc! Toc! Toc! - Beto imitou um "fantasma" caminhando.

 

O professor continuou:

 

- Para este, a alimentação pode vir até de pilhas comuns!

 

- O próximo! Estou ansioso! - Beto estava gostando do que ouvia.

 

- O próximo circuito seria um simulador de risada. Vocês lembram de um que vimos numa revista  técnica e que era muito simples com base em transistores unijunção! Ele produzia uma oscilação amortecida que era modulada por uma baixa frequência e que, de longe, lembrava uma gargalhada de bruxa!

 

Beto tinha o circuito na sua cabeça!

 

- Sim! Eu até montei este circuito e o apresentei na feira da escola como "caixa de risadas", lembram-se!

 

- Podemos usar alguns destes circuitos colocados em pontos diferentes do casarção e disparados por controle remoto ou à distância. Risadas fantasmagóricas vindas de locais diversos assustam qualquer um!

 

- Essa vai ser boa! - exclamou Cleto, entusiasmado com mais um circuito.

 

- O próximo seria um "projetor de fantasmas"! - continuou o Professor.

 

- Essa eu quero ver!

 

O professor detalhou então o que pretendia:

 

- Colocamos em local apropriado uma pequena lanterna e usamos um pequeno motor com uma caixa de redução para movimentar uma pequena silhueta de papelão, alguma coisa como o vulto de um homem encapado segurando uma faca!

 

- Brr! Bem terrificante! - interrompeu Beto.

 

- E usando mecatrônica: motor e eletrônica! – completou Cleto.

 

O professor continuou:

 

- Quando acionamos o circuito por alguns segundos, aparece na parede do lado oposto, um vulto se movimentando por alguns segundos com uma faca na mão! Fazendo a coisa rapidamente, não haverá  possibilidade de se descobrir de onde vem o foco de luz, principalmente se ao mesmo tempo tivermos um ruído para complementar os efeitos!

 

- A risada!

 

- Por exemplo! - completou o Professor!

 

- Mais um!

 

- Movimento de objetos! Este é fácil. Basta posicionar em alguns lugares alguns motorzinhos e acioná-los por controle remoto. Amarramos nos seus eixos de redução linhas bem finas que prendemos em alguns objetos, por exemplo um candelabro, uma janela, uma porta, uma velha cortina! Imaginem o efeito!

 

- Uau! - Exclamou mais uma vez Beto.

 

- A queda de objetos pode ser conseguida da mesma forma!

 

Beto, olhando para o quadro negro pediu então informações sobre o último item: vozes fantasmagóricas! O professor não teve dificuldades em explicar como pretendia obtê-las.

 

- Basta usar um gravador e conectá-lo a alguns alto-falantes espalhados!

 

- Fantástico! - completou Cleto.

 

- Terrificante! Mas tem um problema!... - Beto não estava bem certo do sucesso da brincadeira - Como instalar tudo isso no casarão?

 

- Aí que está! - segredou o professor - Conheço o curador que está com a guarda daquela propriedade, e com uma boa conversa ele me permite instalar o equipamento! Posso argumentar que o "susto" que pretendo aplicar no pessoal vai manter os intrusos bem longe dali por um bom tempo!

 

No dia seguinte à tarde, o Professor Ventura voltou entusiasmado para o laboratório onde estavam Beto e Cleto:

 

- Mãos à obra! Consegui permissão para instalar o "equipamento"! Desta forma nossa "assomobração" se torna "legal"! Só preciso agora que vocês descubram quando é que vão "testar a coragem" dos rapazes!

 

Beto e Cleto, entusiasmados responderam ao mesmo tempo:

 

- Pode deixar!

 

A instalação do equipamento foi feita da maneira mais discreta possível. Deixando o carro bem longe do casarão, o Professor Ventura, Beto e Cleto carregavam todo o material na mão e só entravam na construção antiga depois de certificarem-se de que ninguém estava olhando.

 

Rolos de fios foram estendidos bem escondidos por toda a casa e com muito cuidado, pois as tábuas do velho assoalho e do forro estavam em mau estado podendo causar acidentes.

 

Todos os fios terminavam num galpão nos fundos da casa onde ficaria a "central de controle".

 

Alto-falantes, lâmpadas, solenoides, sensores e tudo mais que seria necessário aos efeitos foram pouco a pouco sendo sendo posicionados e testados.

 

O máximo de cuidado era tomado em relação ao realismo e também contra a possibilidade de serem descobertos, estragando a brincadeira.

 

Tudo ficou pronto em pouco mais de três dias.

 

Os rapazes e o Professor Ventura não estavam muito preocupados, pois o "teste de coragem" só iria ocorrer depois que terminaram a instalação, segundo foi descoberto.

 

No galpão, o Professor Ventura, Beto e Cleto instalaram um pequeno centro de controle com baterias, lâmpadas, e até um receptor de escuta para a faixa de FM.

 

Eles colocaram na sala de entrada um transmissor espião que captava todos os sons. Desta forma eles poderiam ouvir da central de controle tudo que os rapazes falariam ao entrar no casarão!

 

Por sorte, ninguém tinha notado as entradas e saídas frequentes dos três na velha construção.

 

Isso era facilitado pela sua localização.

 

Na subida do morro a caminho da Vila Nova, em frente e ao lado não haviam habitações e a curva da estrada não permitia maior visibilidade a quem estava a mais de 100 metros.

 

Na noite do teste os rapazes e o professor Ventura se encontraram no local combinado e foram para o casarão.

 

Era pouco mais de 9 horas e o pessoal da escola havia combinado que o teste seria às 10 da noite.

 

Usando faroletes, o Professor Ventura, Beto e Cleto chegaram até o galpão no fundo do casarão onde se instalaram.

 

- Agora é só esperar! - comentou o Professor.

 

- E torcer para que nenhuma assombração nos descubra antes deles! - completou Cleto que não se sentia muito confortével naquele local, principalmente à noite.

 

Pouco antes das dez horas eles perceberam a aproximação de um grupo de pessoas que parou diante do casarão.

 

Eram os estudantes.

 

Teobaldo e Célio estavam no grupo, e não pareciam muito à vontade.

 

Depois de algum tempo parados no portão de ferro do velho casarão, ao que parece para dar instruções aos desafiados, o grupo entrou e parou diante da porta dianteira do casarão.

 

Célio e Teobaldo receberam então suas velas e foram "convidados" a entrar na frente.

 

O professor Ventura, Beto e Cleto com fones no ouvido ouviam tudo que se passava e se preparavam para os efeitos.

 

- Muito bem, vocês devem agora subir até o andar de cima e na sacada devem acenar para que vejamos que vocês conseguiram! - foi a ordem dada por Hélio, que comandava o grupo.

Isso significava caminhar por um longo corredor que fazia um "s" e depois subir pelas escadas do fundo, pois a da frente se encontrava destruída pelo tempo, e depois voltar por novo corredor no andar de cima.

 

- Está bem! - responderam os desafiados.

 

- Nós esperamos aqui!

 

O Professor Ventura que ouvia tudo, monitorava também a posição dos testados a cada instante por meio de um sistema muito engenhoso: ele espalhou 20 LDRs (foto-sensores) pelo trajeto que os desafiados deviam percorrer e ligando-os a um painel, tinha a indicação do ponto exato em que eles se encontravam.

 

A luz da vela atuava sobre cada LDR acendendo um led indicador de posição no painel de controle!

 

Esse painel era uma planta do casarão com as chaves de acionamento dos efeitos.

 

O professor chamou a atenção dos rapazes quando o primeiro LED acendeu indicando que eles haviam avançado uns 5 metros no corredor de baixo.

 

- Agora! O número 1! - ordenou o professor Ventura.

 

Beto acionou uma chave e o que Teobaldo e Célio, meio receosos, viram deixou-os preocupados: no fundo do corredor, por um breve instante uma luz se projetou na parede e uma sombra de alguém passou...

 

- Você viu isso? - perguntou Célio.

 

- Sim! Deve ser alguma coisa "preparada" pelo pessoal. Querem nos assustar! Vamos em frente.

 

- Vamos com cautela! Pode ter mais.

 

Os dois continuaram cautelosamente.

 

Mais um LED acendeu no painel do Professor Ventura, indicando que eles estavam chegando no "S" do corredor. Foi acionada a chave número 2.

 

Um novo "engenho" entrou em ação e uma risada ecoou no fundo do corredor! Os dois rapazes ficaram preocupados.

 

O professor Ventura que monitorava os movimentos pelos sensores alertou Beto e Cleto:

 

- Vejam, os LEDs estão piscando! Isso significa que as velas que eles carregam estão tremendo! Beto e Cleto ameaçaram rir.

De fato, os rapazes tremiam, e as velas também! Mas, mesmo assim eles continuaram avançando:

 

- Vamos em frente! Deve ser mais um truque do pessoal! - disse Célio

 

- E se não for?

 

Teobaldo enguliu em sêco:

 

- Gulp!

 

Pouco depois acendia mais um LED no painel do Professor Ventura, indicando que eles estavam na curva do corredor.

 

Novo botão no painel de controle foi acionado e uma porta, logo atrás dos dois rapazes, se movimentou com um rangido tenebroso!

 

Nheeeeeeeec!....

 

Os dois rapazes deram um pequeno grito de susto, mas não desistiram!

 

Permaneceram imóveis em seus lugares.

 

Também não poderiam correr mesmo, pois suas pernas tremiam como varas verdes!

 

- N-N-Não se apavore! Deve ser truque deles!

 

Retomando o controle de suas pernas os dois rapazes continuaram.

 

Mais um LED acendeu, e novos efeitos entraram em ação: ruídos, luzes, movimentos, mas mesmo apavorados, Célio e Teobaldo não desistiram, e subindo a escada chegaram ao corredor superior.

 

O LED que indicava isso acendeu no painel da mesma de controle do professor.

 

Novos efeitos foram acionados, e os rapazes já estavam no meio do corredor superior quando o professor acionou os passos fantasmas.

 

- Vem alguém aí! - alertou Célio.

 

- Deve ser um "dos nossos"!

 

Toc! Toc! Toc!

 

Mas não era! Os olhos dos dois foram arregalando à medida que os passos se aproximavam pelo corredor escuro e eles não viam nada!

 

Apavorados os dois correram os últimos metros até a sacada.

 

Era a única saída!

 

Meio aliviados eles acenaram e a resposta foi um sinal de "positivo".

 

Metade do teste tinha sido completada! Era a hora de voltar.

 

- Gulp!

 

O Professor Ventura comentou então com Beto e Cleto:

 

- Ainda não estão suficientemente assustados! Por que será? Tem de ser agora na volta ou nunca mais!

 

- Vamos usar todos os efeitos! - completou Cleto com a mão em alguns controles do painel. Beto resolveu então "dar uma olhada" mais de perto, indo até uma janela no fundo do casarão e que dava para o corredor.

 

- Cuidado! Não deixe que eles te vejam! - recomendou o Professor.

 

No casarão, neste momento Célio teve uma idéia para voltar mais depressa: correr!

 

Teobaldo não esperou, e correu junto! · medida que os LEDs íam acendendo no painel do professor Ventura, indicando agora que eles corriam, o professor acionou novos efeitos: barulhos, movimentos de portas e janelas, luzes, passos, etc.

 

Teobaldo e Célio chegaram ofegantes mais vitoriosos no saguão onde foram cumprimentados:

 

- Parabéns! Vocês conseguiram!

 

- Sim! Apesar de todos os barulhos e truques idiotas que vocês prepararam! - comentou bravo Célio.

 

- Que barulhos e truques? Pensamos que vocês estivessem fazendo aquilo! - comentou Cido.

 

- Ora, deixe disso! Vocês ‚ que preparam aquelas luzes, passos e rangidos para nos assustar, não é verdade?

 

Dois ou três rapazes do grupo engoliram então em sêco:

 

- Tem certeza de que não foram vocês que fizeram aqueles barulhos?

 

Nesse momento, o professor ouvindo a conversa pelo transmissor espião aproveitou a oportunidade e acionou a risada, um ou dois motores que movimentavam portas produzindo rangidos e os passos do andar de baixo que íam em direção ao saguão!

 

- Tem alguém dos nossos lá? - perguntou um dos rapazes.

 

- N-N-Não! Estamos todos aqui! - respondeu uma voz embargada no grupo.

 

- Então, "Sebo nas canelas"!

 

Numa gritaria geral o grupo de uns 10 rapazes "debandou" saindo desesperadamente pela porta da frente do casarão e "sumindo" na escuridão do caminho que ía em direção ao portão da rua.

 

Como não podia deixar de ocorrer em Brederópolis, bastava haver qualquer "ameaça" de confusão, que a presença de Epaminondas Portentoso era obrigatória.

 

Tarde da noite, terminando sua apresentação como músico da Corporação Musical de Brederópolis, eis que o "tubista" vinha assobiando alegremente uma marcha de Sousa, ladeira acima rumo a sua casa na Vila Nova.

 

Mas, como sempre, ao passar nesse trecho com uma casa assombrada de um lado e o cemitério do outro, ele parava de assobiar e, agarrando fortemente sua tuba, apressava os passos!

 

Ele caminhava na calçada do casarão, evitando a do cemitério, já que nela, em outra ocasião, tinha sido vítima das "reinações do professor Ventura", como diria Monteiro Lobato.

 

Mas, foi justamente no momento em que ele passava pelo pesado portão de ferro do casarão que estava entreaberto que ocorreu a "debandada" dos rapazes assustados.

 

Epaminondas diante da correria inesperada, arrepiou-se e gritou de susto:

 

- Uaaiiii!

 

Assustados, sem sequer dar importância ao músico, os rapazes se dividiram em dois grupos.

 

Um grupo correu em direção a cidade e outro em direção à Vila Nova.

 

Neste último, correu junto, sem saber muito o porquê, o baixinho e sua tuba!

 

E como correu!... Ele até que chegou a pensar em perguntar por que estava correndo, mas isso implicava em parar!

 

E, se parasse, conforme chegou a pensar, aquilo (o que quer que fosse) de que estavam fugindo poderia alcançá-lo!... E "pernas prá-que-te-quero!"

 

Os rapazes se dispersaram numa correria geral e com eles Epaminondas que mais uma vez quase atravessa duas portas de sua casa: de entrada e do dormitório, mergulhando apavorado, com tuba e tudo, debaixo da cama!

 

Dona Pafúncia que já tinha visto esta cena antes, se "armou" de uma vassoura e só conseguiu "dominar" a situação depois de duas vassouradas na tuba e uma na cabeça do Epaminondas que tremia e se debatia!

 

Ela ainda parou por um instante pensativa:

 

"- Não está faltando algo?" - e acalmou o marido ofegante, e mais calmo com enorme "galo" que crescia na cabeça!

 

Voltando ao casarão, vejamos o que aconteceu com o Professor Ventura, Beto e Cleto.

 

Cleto que tinha visto tudo da janela voltou ofegante:

 

- Sucesso! Debandaram apavorados quando descobriram que as "assombrações" não eram truques deles mesmos!

 

- Ótimo! Funcionou! - comentou o professor Ventura - Chegou a ver os truques na prática? Quero dizer, de perto?

 

Beto que tinha chegado até o corredor comentou entusiasmado:

 

- Muito bom o efeito dos passos, e também a sombra! Os gritos e as risadas parecem ainda mais tenebrosos e reais no escuro! Mas, o mais interessante foram aqueles dois olhos brilhantes projetados no "espaço"! Não me lembro de ter visto o senhor instalá-los? É holografia com laser?

 

O professor olhou sério para Beto ainda na luz da pequena lanterna que mantinham acesa e estranhou:

 

- Que olhos? Não instalei nenhum par de olhos "holográficos"! Foi você Cleto?

 

- Gulp! - foi a resposta do assustado Cleto.

 

Um ruído estranho nesse momento chamou a atenção dos três que, se voltando vagarosamente para a janela do galpão, tiveram uma visão aterradora: dois olhos brilhantes suspensos no espaço encarando-os!

 

Numa gritaria descontrolada os três, apavorados, debandaram em direção à cidade saindo também pelo portão do casarão em alta velocidade!

 

Mas, quem mais se assustou nessa estória toda, depois do pobre Epaminondas é claro, foi a coruja que teve a infelicidade de escolher o casarão como "residência" e, depois de ser espantada pela algazarra dos rapazes, foi pousar justamente no galho junto à  janela do galpão onde Professor Ventura, Beto e Cleto tinham instalado toda sua parafernália tecnológica!

 

 

 

Escrita na década de 80 esta estória não chegou a ser puiblicada.