Uma rendosa atividade para o profissional é a instalação de sistemas de TV via satélite, mais conhecida como instalação de antenas parabólicas, seja de forma autônoma nas cidades afastadas dos grandes centros, ou trabalhando para empresas de "TV por assinatura" como instalador credenciado e vendedor de assinaturas. A venda, seguida da instalação do sistema, pode render bastante dinheiro para o profissional e não exige equipamento caro ou difícil de usar e, além disso, não requer um conhecimento técnico muito profundo. Neste artigo, explicaremos como instalar uma antena parabólica comum com especial atenção ao processo de orientação.
Nota: Artigo publicado na revista Eletrônica Total 98 de 2004
Existem dois sistemas de TV em operação atualmente: os que se destinam exclusivamente aos canais abertos, operando em frequência mais baixa e exigindo antenas de maior diâmetro (entre 3 e 5 metros), e aqueles que são usados para os "sistemas por assinatura" que, por trabalharem em frequência mais alta, podem empregar antenas menores (40 cm). Tomaremos como base para os procedimentos descritos neste artigo uma antena do sistema de recepção dos canais abertos, portanto, antenas de maior diâmetro e que podem ser adquiridas em formato de kits até mesmo em supermercados. Evidentemente, os mesmos procedimentos também são válidos, com pequenas variações, para os sistemas por assinatura, bastando levar em conta a posição do satélite.
Os satélites utilizados nos serviços de telecomunicações para a transmissão dos sinais de TV ficam numa órbita geoestacionária, conforme mostra a figura 1. Isso significa que eles giram em torno da Terra na mesma velocidade de sua rotação, o quer significa que eles sempre ficam sobre a mesma posição em relação à Terra.

Para que a antena capte os sinais de um satélite, ela deve ficar apontada diretamente para o local onde ele se encontra aparentemente parado, e isso com grande precisão. Isso quer dizer que sua orientação (ou posição em relação ao horizonte ou mesmo norte/sul) dependerá do local em que ela for instalada.
Uma antena que fique próxima do equador, por exemplo em Belém do Pará, ficará praticamente apontada para cima, enquanto outra que esteja longe do equador, por exemplo em Porto Alegre, ficará apontada para um ângulo mais baixo, veja a figura 2.

O profissional de instalação de antenas deve, portanto, saber para onde apontar a antena na localidade em que se encontra ou nas localidades próximas.
Se as localidades onde ele trabalha estiverem num raio não maior do que uns 50 km, a diferença de ângulo para a orientação será muito pequena, não devendo preocupá-lo.
A maioria dos kits envia informações sobre os ângulos de orientação para as diversas localidades do país, o que facilita bastante o trabalho do instalador. Mas, para o ajuste final da antena na posição certa é preciso conhecer alguns procedimentos básicos.


As antenas parabólicas são dotadas de suportes que permitem sua movimentação de duas formas: no sentido horizontal (denominado "azimute") e no sentido vertical (chamado "elevação"), conforme ilustra a figura 3. Os ajustes são feitos a partir da indicação de ângulos que devem ter como referência alguma linha em relação à qual possam ser medidos.
Para o azimute, a referência é a linha que aponta no sentido norte/sul, observe a figura 4, tendo ponto O coincidente com o Norte geográfico.
Se for indicado que em determinada localidade a antena tenha um azimute de 30 graus, isso significa que ela deve ser apontada para um ponto a 30 graus à direita da linha que aponta para o norte, conforme mostra a figura 5.
Observe que os ângulos são medidos no sentido horário de modo que a partir do Norte para a direita (nordeste) temos valores crescentes desde 0, e a partir da mesma linha para a esquerda (noroeste) temos valores decrescentes desde 360 graus. Note que é fundamental para o ajuste da antena saber onde é o norte de sua localidade.
O primeiro modo para determinar o norte é pela observação do movimento do Sol, que se realiza no sentido leste/oeste. Ficando de frente para o poente e abrindo os braços, a nossa mão direita vai apontar para o norte, atente para a figura 6.
O segundo modo é pela a observação da constelação do Cruzeiro do Sul: prolongando de forma imaginária o braço maior da cruz, teremos a posição do polo sul celeste. Evidentemente, na direção oposta teremos o Norte, de acordo com a figura 7.
O terceiro modo, mais simples e até mais preciso, pois funciona a qualquer hora do dia e da noite, é o que faz uso da bússola. Esse instrumento consiste de uma agulha magnetizada que pode girar sobre um eixo. Ela se orienta segundo as linhas de força do campo magnético da Terra que, na maior parte das localidades, estão mais ou menos no sentido norte/sul, observe a figura 8.
Dizemos mais ou menos, pois ocorrem pequenas variações de local para local, mas os fabricantes de antenas fornecem tabelas que permitem corrigir as indicações das bússolas para se obter a posição correta do polo Norte.
Para usar a bússola, basta colocá-la na palma da mão e observar que a agulha apontará para o norte, após estabilizar qualquer movimento. Fazendo com que a posição norte da escala coincida com o norte apontado pela agulha, teremos com precisão todos os ângulos que precisarmos para a orientação de uma antena. Mas, atenção! O uso da bússola deve ser feito longe de objetos de metal magnetizados ou de grande porte.
Obtido o "azimute" do local e colocada a antena na posição correta, passamos ao ajuste "elevação", que toma por referência a linha do horizonte ou a linha horizontal do local. Para esse ajuste podemos tomar como referência uma linha que define o plano horizontal do local, conforme mostra a figura 9.
Usamos um fio de prumo que é uma "ferramenta" muito utilizada por construtores e pedreiros e que pode ser adquirida em casas de materiais de construção ou ferramentas. Assim, se a elevação de uma antena for de 40 graus em relação ao horizonte, isso significa que teremos um valor complementar em relação à vertical de 50 graus, ou seja, um ângulo obtido tirando-se 40 de 90 graus.
Esse ângulo pode ser facilmente medido com um transferidor. Trata-se de uma espécie de régua em forma de meia lua graduada em ângulos, veja a figura 10.
O transferidor é usado colocando-se sua parte central no ponto de confluência das linhas que formam o ângulo. O zero deve ficar coincidente com a linha que serve de referência para a medida do ângulo. A outra linha que delimita o ângulo irá, então, passar pelo valor correspondente da escala do transferidor.
Na figura 11 indicamos como usar o transferidor para medir a elevação de 45 graus exigida para a antena que tomamos como exemplo.
Feita a orientação, conforme os procedimentos indicados, o sinal já poderá ser captado com certa intensidade. Em seguida, o profissional deverá fazer pequenos retoques no ajuste de modo a obter a maior intensidade de sinal. Esses retoques são feitos movimentando-se suavemente a antena para os lados, para cima e para baixo, acompanhando-se a qualidade da imagem obtida em um receptor que sirva de prova ou no definitivo.
É interessante que o profissional instalador disponha de um modo prático de fazer a verificação da imagem, empregando, por exemplo, um ajudante com um intercomunicador sem" fio (Walkie-talkie), principalmente se a antena ficar muito longe do receptor.
Se o volume de serviço de instalação for grande, pode-se adquirir um instrumento de grande utilidade neste trabalho, um "medidor de intensidade de campo". Ele é ligado na antena para medir a intensidade do sinal que está chegando. Assim, movimentando-se a antena, pela indicação desse instrumento pode-se chegar a posição que, com certeza, é a que proporciona melhor sinal para a recepção.
O local em que a antena irá ficar também, precisa ser escolhido cuidadosamente. Não pode haver nenhum obstáculo entre a antena e o local onde se encontra 6satélite. Será impossível captar os sinais, se a antena estiver por trás de uma árvore, morro ou um edifício, observe a figura 12.


COMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA
A fixação e orientação da antena é apenas uma parte do serviço que deve ser realizado na instalação do sistema de TV via satélite.
Na figura 13 vemos o restante do circuito a ser instalado, que consta ainda dos cabos e o receptor de satélite propriamente dito, o qual deve ficar junto ao televisor. Este sistema é o básico, usado para alimentar apenas um televisor, uma vez que, conforme dissemos, existe a possibilidade de se usar uma única antena para mais de um televisor, em um sistema comunitário (condomínio, por exemplo), ou mesmo numa residência com diversos televisores. Em muitos condomínios, o que vemos é uma grande combinação de sistemas de recepção que, além da antena parabólica, ainda incorporam antenas para a recepção dos canais normais, inclusive estações de FM locais.
Assim, devemos passar o cabo de sinal até próximo do televisor usando para isso o menor percurso possível, e evitando a proximidade de fontes de interferências.
Uma fonte de interferências é a linha de transmissão de energia elétrica. Por este motivo, os canos por onde passam os fios da rede de energia não devem ser utilizados para enfiar os cabos de sinal da TV.
Lembramos que esses sinais operam com frequências bastante altas (950 a 1450 MHz), o que determina que os cabos sejam de excelente qualidade e tratados com muito cuidado.
Não devem ser feitas curvas acentuadas que, além de forçar mecanicamente o cabo, também podem ser responsáveis por indutâncias parasitas que afetam a propagação do sinal. As curvas deverão ser feitas conforme mostra a figura 14.
Os fixadores dos cabos devem ser de tipos apropriados que não causem danos.
Um deslocamento da posição da malha de um cabo de alta frequência numa curva acentuada (num esforço maior ao ser esticado) poderá modificar sua impedância, causando com isso reflexões de sinais capazes de provocar distúrbios como, por exemplo, fantasmas.
Se o profissional tiver a possibilidade de experimentar a recepção junto à antena com um televisor portátil, no final da linha de transmissão será fácil detectar qualquer anormalidade devida à instalação imperfeita do cabo.
O receptor de satélite deve ficar junto ao televisor, independentemente do fato de ter ou não controle remoto. Isso é importante porque os cabos de saída de RF ou vídeo/áudio do receptor devem ser os mais curtos quanto seja possível.
Lembramos que a maioria dos televisores modernos possui entradas de áudio e vídeo, sendo por isso também chamados de monitores de vídeo.
Os cabos de áudio e vídeo são diferentes, e se for feito o uso indevido, podem acontecer problemas de propagação do sinal com perdas de definição da imagem e até alterações nas cores.
É importante ademais, que o receptor de satélite e o televisor não tenham suas ventilações afetadas pela instalação do sistema, segundo indica a figura 15.


Veja que o sol incidindo diretamente sobre esses aparelhos também pode ser causa de problemas graves.
ORIENTANDO O USUÁRIO
Nos receptores com controle remoto, a escolha dos canais é feita pelo transmissor desse controle, enquanto a sintonia pode ser feita de modo digital ou linear no painel.
Nos equipamentos de sintonia contínua pode haver a necessidade da comutação manual da polaridade, ou seja, quando passamos de um canal H para um V, devemos acionar a chave correspondente existente no painel.
Para estes receptores mais antigos e mais simples, como nos televisores comuns onde temos sintonia contínua, deve-se girar vagarosamente o seletor de modo a obter a posição de melhor recepção, aquela em que entram o som e imagem sem distorções (figura 16). Os receptores de sintonia contínua são os das primeiras gerações e, portanto, mais simples. Precisamos falar deles, pois o profissional não apenas irá trabalhar com sua instalação, como eventualmente poderá receber tipos de todas as gerações para reparos em sua oficina.
Outro fato que deve ser comentado: utilizando um receptor via satélite para os canais abertos, o usuário passa a captar o sinal gerado diretamente pela estação mestre que comanda a rede. Esta estação normalmente corta os anúncios nos intervalos dos programas, para que sejam inseridos anúncios de TVs locais que transmitem os sinais. Isso significa que, em determinados momentos, a transmissão fica "em branco", ou seja, apenas temos o sinal correspondente a uma tela limpa. O usuário também deve ser orientado de que os sinais captados de forma "embaralhada" correspondem aos canais por assinatura, dos quais já tratamos.
PROBLEMAS DE RECEPÇÃO
O principal problema que pode afetar a recepção de sinais via satélite é a interferência dos links terrestres.
Os sistemas de telecomunicações de micro-ondas empregam estações retransmissoras de distância em distância, de modo a levar sinais por longos percursos. Ocorre que estes sinais estão numa faixa de frequências muito próxima das usadas pelos sistemas de TV via satélite. Como os receptores de satélites são extremamente sensíveis, dada a pequena intensidade do sinal que devem captar, qualquer pequeno sinal de outra origem poderá facilmente se sobrepor ao sinal desejado, causando problemas.
Bastará um pequeno "escape" do sistema de micro-ondas local para que o sinal entre lateralmente pela antena parabólica com intensidade suficiente para causar problemas de recepção, tais como faixas na imagem, ondulações, instabilidades, etc., veja a figura 17.


A resolução desse problema pode estar na escolha de uma posição mais favorável da antena, que coloque um obstáculo natural ao sinal interferente, observe a figura 18.
Até mesmo a instalação de uma antena em um vale poderá ser mais vantajosa do que num local alto (onde ela poderá ficar sujeita à entrada de sinais interferentes "pelos lados" de uma forma mais acentuada).
A proximidade da antena de linhas de transmissão ou ainda de equipamentos elétricos e eletrônicos que possam causar emissões indesejáveis, poderá ser outra fonte de interferências e ruídos.
Uma antena muito próxima de uma parede poderá ter problemas, se sinais indesejáveis refletirem nela chegando à antena.
A topografia do local, a presença de construções e de vegetação também devem ser estudadas para poder ajudar na recepção, evitando interferências e ruídos e não os provocando. Evidentemente, considerando os problemas mecânicos que podem ocorrer na instalação como, entre eles, a dificuldade de se encontrar em um telhado um local que possa sustentar o peso da antena. Diferentemente das antenas comuns de TV, as antenas da faixa C pesam muito, o que exige um método de fixação bastante forte.
Para a instalação das antenas de menores dimensões dos "sistemas por assinatura", as quais não têm mais do que uns 40 cm de diâmetro e são muito leves, não se exigem os mesmos cuidados. Até mesmo o parapeito de uma janela serve como ponto de fixação.
No telhado deve ser previsto um sistema que fixe a antena na própria estrutura que o sustenta. O vento lateral, batendo na antena, multiplica o esforço na sua base por um efeito de alavanca e isso pode causar sérios estragos, não só derrubando a antena como até causando danos ao telhado da casa em que ela estiver instalada.
Com relação aos problemas que podem ocorrer devido aos cabos, fantasmas e perdas em determinadas faixas de frequências são os mais comuns.
Conectores mal colocados podem, inclusive, ser a origem de diversos tipos de problemas.
No Brasil não temos queda de neve (salvo em poucas localidades do Sul), mas isso não significa que o clima deva ser desprezado.
A fixação da antena deverá ser feita de modo que, mesmo com ventos mais fortes, não venha a sofrer oscilações muito grandes (que podem instabilizar a recepção) ou mesmo cair. Para o leitor que pretenda se especializar na instalação de antenas parabólicas sugerimos que adquirida obras complementares sobre o assunto, as quais são muito completas em relação à enorme quantidade de sistemas que podem ser elaborados, à grande quantidade de técnicas de orientação e principalmente em relação ao service dos equipamentos específicos. o que exige um preparo muito especial.















