Este artigo é de 1979, mas descreve um projeto que pode ser montado ainda hoje com certa facilidade. Trata-se de uma potente luz estroboscópica com lâmpada de xenônio que pode ser usada em festas, decoração e sinalização.
As lâmpadas usadas nos sistemas estroboscópicos de discotecas, semelhantes as encontradas nos flashes de máquinas fotográficas são lâmpadas de xenônio, um gás nobre que permite a obtenção de pulsos luminosos de grande intensidade e curta duração.
Até há pouco tempo em vista dos custo elevado dessas lâmpadas e mesmo da dificuldade em ser encontrada, a montagem da luz estroboscópica de xenônio não estava ao alcance de qualquer um. Agora as coisas mudam: as lâmpadas de xenônio podem ser encontradas com certa facilidade nas casas de material eletrônico e a um custo relativamente baixo (1979), (fig. 1).
Um dos pontos visados neste projeto, além de seu baixo custo, é a sua simplicidade e não necessidade de qualquer ajuste o que torna-o acessível a todas as categorias de montadores.
A instalação dessa luz estroboscópica em sua casa é também das mais simples, pois basta ligá-la a qualquer tomada, havendo inclusive duas versões possíveis: uma para 110 V e outra para 220 V.
O leitor poderá usar esta luz estroboscópica com diversas finalidades:
- Animação de festas e bailes quando os pulsos produzidos serão de frequência entre 1 e 10 Hz (1 à 10 pulsos por segundo), conseguindo com isso o efeito do movimento aparente das pessoas ser interrompido.
- Decoração de vitrines de lojas ou decoração de presépios quando os flashes devem ser ajustados para um intervalo mais longo como por exemplo um cada dois segundos ou mesmo um a cada 5 segundos.
- Sinalização quando os flashes luminosos poderão ser vistos a grandes distâncias.
A montagem deste aparelho, conforme o leitor verá é bastante simples não apresentando qualquer tipo de problema, Basta seguir as instruções e o funcionamento será perfeito.
O CIRCUITO
Como sempre fazemos, de modo que os leitores que procuram sempre saber o que estão fazendo, e com isso melhorar sempre seus conhecimentos de eletrônica, damos explicações pormenorizadas do princípio de funcionamento deste aparelho.
A base do projeto é uma lâmpada de xenônio.
“Xenos" é uma palavra que vem do grego significando “estranho". De fato, xenônio foi o nome dado a um estranho gás nobre que é usado para fabricar esta lâmpada.
Quando submetido a uma diferença de potencial elevada no interior de um tubo de vidro, o xenônio se ioniza passando a conduzir intensamente a corrente e ao mesmo tempo produzindo um pulso de luz de grande intensidade. (figura 2).
Normalmente nos projetos comuns de luzes estroboscópicas com lâmpadas de xenônio, um capacitor de valor relativamente alto se descarrega através da lâmpada quando esta é disparada por um pulso de alta tensão. A intensidade da corrente de descarga pela lâmpada no momento de disparo atinge valores muito altos, da ordem de até mais de 200 ampères, se bem que a intensidade do pulso luminoso esteja limitada pela sua duração.
A carga do capacitor determinará a duração do pulso e portanto a intensidade do pulso luminoso o qual pode variar de alguns milijoules (mj) até algumas centenas de milijoules. No projeto deve-se tomar o máximo cuidado para não se superar os limites de potência da lâmpada em relação a este pulso pois pelo contrário ela pode danificar-se permanentemente.
Para obter-se um perfeito funcionamento do circuito temos duas preocupações que são representadas no diagrama de blocos da figura 3.
Temos de nos preocupar com o circuito de potência em que um capacitor deve ser carregado com uma tensão da ordem de 200 V ou mais o qual se descarregará através da lâmpada produzindo o pulso luminoso,e temos o circuito de disparo que deve produzir um pulso de tensão muito alta necessária ao disparo da lâmpada.
Esse pulso de tensão deve ser de pelo menos 1 000 V para que a lâmpada possa operar normalmente.
Vejamos então como isso pode ser feito na prática:
O circuito de carga do capacitor usado neste circuito e bastante simples.
Para a versão de 110 V usamos um transformador comum como autotransformador de modo a termos uma tensão de. 220 V em um de seus terminais, a qual uma vez retificada por um diodo e limitada em sua intensidade por um resistor pode carregar o capacitor. (figura 4)
Uma outra opção que elimina a necessidade de se usar o transformador está na utilização de um dobrador de tensão que aparece na figura 5.
Em funcionamento a tensão no capacitor variará de 200 V à 400 V conforme a frequência de operação.
No caso da rede de 220 V como na retificação já se obtém uma tensão de valor suficiente para carga do capacitor, não é necessário usar o transformador. Este componente pode ser então eliminado sendo feita a retificação direta, conforme mostra a figura 6.
O circuito seguinte a ser analisado é o correspondente ao disparo da lâmpada.
Para esta finalidade é usado um oscilador de relaxação com lâmpada neon o qual dispara por sua vez um SCR (diodo controlado de silício).
Na figura 7 temos o diagrama básico do circuito de disparo por onde podemos analisar o seu funcionamento.
Neste circuito o capacitor C2 se carrega lentamente através do resistor R3 e do resistor R2 de modo que a tensão entre suas armaduras cresce lentamente a partir do momento em que o mesmo é ligado.
A lâmpada neon é ligada em paralelo com o capacitor, já que no caso a presença do transformador em série com o capacitor não representa obstáculo para a corrente.
A lâmpada neon ioniza quando a tensão no capacitor chega a um valor em torno de 80 V. Neste momento, com a sua ionização um pulso de disparo é produzido, aparecendo na comporta do SCR que até então se encontrava no seu estado de não condução.
Com o disparo do SCR este praticamente curtocircuita o capacitor através do enrolamento primário do transformador T2, ocorrendo então a descarga do capacitor.
A corrente de descarga pelo primário do transformador induz em seu secundário um pulso de tensão muito alto o qual aplicado a lâmpada de xenônio provoca o seu disparo.
Com o disparo da lâmpada de xenônio descarrega-se também o capacitor eletrolítico C1 de alto valor.
A velocidade com que os pulsos de carga e descarga de C2 e, portanto, os pulsos de disparo são produzidos depende da resistência apresentada por R2 e R3 e pelo valor de C2. Como C2 e fixo, variamos a frequência do circuito em R3 que é um potenciômetro.
Com os valores usados para R2 e R3 temos uma variação de frequência na relação de 10 para 1 o que corresponde a produção de até 5 pulsos por segundo na maior frequência e de 1 pulso a cada 2 segundos na menor frequência. Observamos que o leitor pode alterar o valor de R3 para mais se quiser uma frequência menor.
MONTAGEM
O leitor pode realizar a montagem em ponte de terminais, mas a montagem em placa de circuito impresso permite maior facilidade para instalação definitiva na caixa.
Para a confecção da placa o leitor deve dispor dos recursos normais ou seja, letras e símbolos autoadesivos ou caneta especial, furadeira banheira e percloreto.
O circuito completo para as versões de 110 e 220 V é mostrado na figura 8.
Observe que na versão de 220 V basta omitir o transformador que não será necessário.
Para o caso de se usar o dobrador ou triplicador de tensão, eliminando-se assim a necessidade do transformador, modificações devem ser feitas na placa de circuito impresso.
A montagem em ponte de terminais é mostrada na figura 9.
Observe que a fixação da ponte em uma caixa deve ser feita com cuidado para que nenhuma ligação encoste na mesma, principalmente se for metálica.
A montagem em placa de circuito impresso é mostrada na figura 10.
Na escolha dos componentes e na sua instalação devem ser observados os seguintes cuidados:
1. 0 transformador de entrada T1 é do tipo com primário para 110 V e 220 V o qual será usado como autotransformador. Isso significa que praticamente qualquer transformador com primário para 110 e 220 V e secundário de 6, 9 ou 12 V, com corrente acima de 600 mA pode ser utilizado já que o secundário permanecerá desligado.
Quando os pontos de ligação (0, 110 e 220 V) não estiverem marcados no próprio corpo do transformador a identificação é feita pelas cores dos fios:
0 - preto 110 - marrom 220-vermelho o transformador será fixado na própria placa de circuito impresso por meio de dois parafusos com porca. Se a montagem for feita na ponte de terminais, o transformador deve ser fixado na caixa.
2. Os diodos D1 e D2 são do tipo 1N4004, 1N4007 ou BY127. Na utilização de qualquer um dos citados acima deve ser observada sua polaridade. Para os dois primeiros o catodo corresponde ao anel pintado no corpo do componente, e no terceiro caso a posição é dada pelo símbolo pintado no próprio componente.
3. O resistor R1 deve ter uma dissipação de pelo menos 7 W. É usado no caso um resistor de fio que operará em temperatura relativamente elevada, principalmente se o ritmo das pulsações for maior. Este componente não tem polaridade para ser ligado, devendo-se apenas tomar a precaução de fazer sua montagem afastada da placa 1 ou 2 mm para facilitar a ventilação. O valor deste resistor depende de certo modo do valor do capacitor C1 devendo ter aproximadamente 470 ohms se o capacitor for de 16uF e aproximadamente 270 ohms se o capacitor for de 50 uF. Seu valor deve ser obtido experimentalmente se o leitor pretender modificar o regime de pulsos da lâmpada.
4. O capacitor C1 pode ser de 16 uF a 50 uF para uma tensão de pelo menos 450 V. Este componente tem polaridade certa para ser ligado já que houver sua inversão o mesmo sofrer dano e isso de forma algo violenta.
5. Os resistores R2 e R4 são de 1/4 ou 1/8 W com tolerância de 10% ou 20%. Os seus valores são dados pelos anéis coloridos. Não os troque, pois o aparelho pode não funcionar. Estes componentes não tem posição certa para ligação em relação a polaridade, mas evite o excesso de calor na soldagem que pode danificá-los.
6. O potenciômetro R3 e de 1 M, mas o leitor pode também usar potenciômetros maiores (2, 2 ou 4,7 M), se quiser maiores intervalos entre as piscadas das lâmpadas. Podem ser usados potenciômetros, lineares ou log com chave, a qual será usada para ligar e desligar o aparelho. Na ligação deste componente faça com que a frequência das piscadas aumente quando girarmos o eixo para a esquerda.
7. O SCR é do tipo C106, MCR106, IR106 ou TIC106 para 200 V. Este componente não precisa ser montado em irradiador de calor, mas a sua posição é importante. A tensão de 200 V especificada para este componente é suficiente já que o mesmo Operará com um valor bem menor. Na sua soldagem evite o excesso de calor.
8. A lâmpada neon usada no circuito de disparo pode ser de qualquer tipo. Deve apenas ser evitado o tipo de rosca que já possui uma resistência interna em série com a mesma que impediria seu funcionamento normal neste circuito. A lâmpada neon não tem polaridade certa para ser ligada.
9. O capacitor C2 pode ser de poliéster metalizado ou de outro tipo, devendo apenas ser evitado o uso de capacitor eletrolítico que não serve. A tensão de isolamento deste capacitor pode ser de 250 V ou mais, não sendo o mesmo crítico. Não há polaridade para a ligação deste componente também.
10. Um componente algo crítico nesta montagem é o transformador de pulso. Este transformador utilizado no disparo de lâmpadas de xenônio pode em geral ser comprado nas mesmas lojas que vendem as lâmpadas. Trata-se de um pequeno transformador enrolado num núcleo de ferrite em que o primário consta de algumas espiras de fio esmaltado mais grosso e o secundário de alta tensão de muitas espiras de fio fino. A identificação dos enrolamentos pode ser feita de dois modos: pelo vendedor que já saberá informar quais os terminais correspondentes ao primário (1 e 2 no diagrama) e quais os terminais que correspondem ao secundário (3 e 4), ou então experimentalmente com o ohmímetro (multímetro na escala menor de resistência). A resistência do primário é praticamente nula enquanto que a resistência do secundário é da ordem de algumas dezenas de ohms. Observe que normalmente o terminal de terra dos dois enrolamentos por serem ligados juntos podem estar no mesmo terminal da bobina. Na figura 11 temos o aspecto e a disposição dos terminais para a bobina usada no protótipo.
Para os leitores que quiserem enrolar esta bobina suas características são: primário - 20 espiras de fio esmaltado 30; secundário - 500 à 1000 espiras de fio esmaltado 42 ou 44.
11. A lâmpada de xenônio pode ser do tipo mais comum que dispara com tensões da ordem de 1 kV e que precisa entre seus terminais para o flash de tensões entre 200 e 500 V.
12. A montagem da lâmpada deve ser feita de tal modo que o pulso luminoso possa ser facilmente dirigido para a direção desejada, O leitor pode no caso usar um refletor. O refletor recomendado para esta luz estroboscópica pode ser aproveitado de um farol de automóvel ou lanterna. Na adaptação deste dispositivo deve-se tomar cuidado para não haver contacto elétrico dos terminais da lâmpada com o mesmo, o que causaria curto-circuito. A lâmpada pode ser montada tanto em posição paralela ou perpendicular ao eixo do refletor.
13. Deve-se evitar que a lâmpada seja instalada longe do aparelho, e se isso não poder ser feito, na ligação do fio de alta tensão do terminal 3 do transformador de pulso deve-se tomar todas as precauções contra choques acidentais.
Terminada a montagem, confira todas as ligações. Se tudo estiver em ordem, você poderá fazer uma prova inicial de funcionamento do aparelho, da seguinte maneira.
PROVA E USO
Se a sua rede for de 110 V você ligará o cabo de alimentação entre os pontos 0 e 110 V do circuito, ou seja ligará o fio de entrada nos fios preto e marrom, do transformador.
Se a sua rede for de 220 V você não precisará usar o transformador podendo então se quiser, retirá-lo do circuito. Deverá então ligar o cabo de alimentação entre os pontos 0 e 220 V do circuito. Se o aparelho for usado nas duas redes você pode acrescentar uma chave para fazer comutação dos pontos 110 e 220 V.
Feita a conexão do cabo, ligue-o à tomada. A lâmpada deve imediatamente piscar em velocidade que dependerá da posição do potenciômetro R3. Verifique se este componente dá o ajuste desejado para as frequências das pulsações.
Se você quiser aumentar o intervalo das piscadas para além daquele que o potenciômetro alcança bastará trocá-lo por um de maior valor, 2,2 ou 4,7 M, por exemplo.
Se o circuito der estalidos audíveis mas a lâmpada xenônio não piscar é sinal que provavelmente você ligou o transformador de pulsos invertido. Faça uma verificação.
(Versão com transformador)
SCR - ClO6,MCR106, IR106,TlC106
TIC126M, ou equivalente (diodo cotrolado de silício para 200V.
D1, D2 - 1N4004, 1N4007, MR4004, BY127; ou equivalente - diodo retificador.
T1 - Transformador com primário para 110 e 220V - ver texto.
T2 - Transformador de pulso – ver texto.
R1 - 1k ohms x 7W - resistor de fio.
R2 – 100 k ohms x l/4W – resistor (marrom, preto, amarelo).
R3 - Potenciômetro de 1M ohm com chave.
R4 – 10 k ohms x 1/4W – resistor (marrom, verde, laranja).
C1 - 16 a 50 uF x 450V – capacitor eletrolítico.
C2 - 0,1 a 2,2 uF x 250V.
NE1 - Lâmpada neon comum (NE-2H ou equivalente).
LX1 - Lâmpada de xenônio (ver texto).
Diversos - cabo de alimentação, fios, placa de circuito impresso, solda, refletor para a lâmpada, caixa para o aparelho, knob para o
potenciômetro, etc.
(Versão com dobrador)
SCR - C106, MCR106, IR106, TIC106, TIC126M, ou equivalente (diodo controlado de silício para 200V.
D1, D2, D3 - 1N4004,1N4007,MR4004, BY127, ou equivalente.
T1 - Transformador de pulso.
R1 – 10 Ohms x 7 W- resistor de fio.
R2 - 100 k ohms x ¼ W
R3 - 1M ohm x ¼ W - resistor (marrom, preto, verde).
R4 - 10M ohms x ¼ W – resistor (marrom, preto, azul).
R5 - 10M ohms x ¼ W – resistor (marrom, preto, azul).
R6 - 15k ohms x 1/4W – resistor (marrom, verde, laranja).
C1 - 33 uF x 350V.
C2 - 33 uF x 350V.
C3 - 0.1 a 2,2 uF x 250V.
NE1 - Lâmpada neon comum (NE-2H ou equivalente).
LX1 - Lâmpada de xenônio.
S1, S2, S3, S4 - Chaves de tecla
Diversos - fios, placa de circuito impresso, cabo de força, caixa de PVC, alça, parafusos para fixação, etc.