Você é do tipo ”pescador" que fixa a vara de pescar na beira do rio e depois não quer nem saber se existe ou não peixe nas proximidades, preferindo tirar sua longa e repousante "soneca" debaixo de uma árvore? Se este é o seu caso, certamente você tem o problema de se justificar em casa ou perante os amigos porque tantos peixes escapam, levando sua isca.
A versão original deste artigo é do meu livro Brincadeiras e Experiências com eletrônica Vol 11, mas o circuito é atual, podendo ser facilmente montado com componentes modernos.
Mas, não se preocupe, pois temos a solução eletrônica para pescadores folgados: um alarme eletrônico que lhe avisará quando o peixe estiver "beliscando" sua isca, dando tempo para que você o fisgue no momento exato!
Existem muitos "pescadores" de fim de semana que se deslocam às vezes dezenas de quilômetros até a beira de um rio ou represa e depois de armarem suas varas com um anzol e uma apetitosa isca, simplesmente a fixam no chão, esquecendo completamente o motivo pelo qual estão ali: pescar!
Completada a ”trabalhosa" operação em questão, o "pescador" procura uma boa sombra e depois de alguns “goles" adormece completamente. Resultado: o peixe vem, leva a isca e só depois de muito tempo é que o pescador se apercebe disso. (figura 1)
Evidentemente, estamos tratando o texto com uma certa dose de humor, sempre associada ao fato de que a ideia de pescador sempre está associada à ingestão de alguns aperitivos. Não queremos fazer apologia à bebida, recomendando que deve-se apenas levar em conta isso como piada.
No final do dia o resultado não pode ser pior: apenas alguns lambaris e acarás miúdos que não tiveram a sorte de escapar do anzol.
O bom pescador sabe que o segredo da captura do peixe está na fisgada, que deve ser dada no momento certo. A leve movimentação da vara, no momento em que o peixe está “beliscando” a isca, indica exatamente quando o pescador deve dar o puxão final.
Mas, como saber que o peixe está beliscando, se a vara está longe, fixada na beira do rio, e o pescador dormindo ou descansando numa sombra? E, o que dizer dos pescadores que fixam uma ou duas varas, nas proximidades, ficando com uma segunda ou terceira na mão?
Para estes só existe uma solução: um alarme. O alarme que descrevemos neste artigo, avisa o pescador quando os leves puxões do beliscar de um peixe estão ocorrendo. Um apito continuo e audível é emitido neste instante.
É claro que o sistema é ideal para pequenos peixes como lambaris, tilápias, etc., porque neste caso não será preciso fixar firmemente a vara. Com peixes maiores corre-se o risco desta ser arrastada, em caso de uma fisgada ”para valer".
O aparelho é muito simples e de fácil montagem; Inclusive, "bolamos" um tipo de montagem que faz as vezes de um excelente cavalete, para ser fixado na beira do rio e segurar a vara de pescar.
COMO FUNCIONA
Para se obter o som de alerta no instante em que o peixe começar a beliscar o anzol, tudo que precisamos é de um bom oscilador de áudio. Este oscilador, cujo diagrama básico é mostrado na figura 2, leva 2 transistores e produz um som audível num pequeno alto--falante, quando acionado.
A frequência deste som, ou seja, se ele é agudo ou grave, é determinada pelo capacitor C e pelo ajuste de um trimpot.
Para que o oscilador não fique permanentemente ligado, o sistema de acionamento leva um sensor e um capacitor. Assim, quando momentaneamente o sensor vibra com o puxão do peixe, uma certa corrente passa e carrega um capacitor eletrolítico que funciona como reservatório de energia.
Este capacitor descarrega-se depois de modo mais lento no oscilador, produzindo um som de maior duração. Assim, mesmo que o puxão seja muito breve, o oscilador dispara por alguns segundos, o suficiente para que o pescador perceba.
A alimentação do circuito é feita com apenas duas pilhas pequenas, que terão grande durabilidade no caso. Se o leitor precisar de maior volume, pode alimentar o mesmo circuito com 6 V, ou seja, 4 pilhas, sem qualquer modificação nos componentes usados ou na configuração.
OS COMPONENTES
A parte eletrônica da montagem não oferece qualquer dificuldade, mesmo para os principiantes. Neste caso, entretanto, temos uma parte de montagem ”mecânica" em que um pouco de habilidade no trato das ferramentas será exigida.
O fato é que a montagem numa caixa que já serve de suporte para a vara e com uma estaca para fixação na beira do rio, exige certos cuidados para que tudo saia certo.
A figura 3 mostra como deve ser feita a montagem, com a colocação da vara e o posicionamento da linha.
33Figura 3
No caso de varas sem molinete pode-se utilizar um pequeno gancho para acionamento do sensor.
A caixa usada deve ter aproximadamente 10 x 7 x 7 cm, conforme mostra a figura 4.
O furo de 1,5 em é para a passagem do sensor, enquanto que na face oposta a esta, devem ser feitos pequenos furos para a saída do som.
Na figura 5 temos pormenores da instalação do suporte para a vara, que é feito com um ”U" de metal, ou mesmo de madeira, e a estaca que pode ser um pedaço de cabo de vassoura.
O sensor é feito com dois arames (pedaços de fio grosso de cobre, sem capa) dobrados e uma ponte de terminais, conforme mostra a figura 6.
Finalmente, na figura 7 temos o posicionamento do sensor no interior da caixa. Observe que ao mínimo movimento do gancho, o arame comprido deve fazer contacto com a argola.
Em condições de “espera" ele ficará sem encostar na argola. A sensibilidade do alarme dependerá da força necessária para vergar o arame e fazê-lo encostar na argola.
A estaca que serve de base tem uma plataforma em que se encaixa a caixa do aparelho. Esta separação dos dois é importante para permitir que se bata na estaca para sua fixação.
Os componentes eletrônicos usados na montagem podem ser obtidos com facilidade.
Os transistores são de uso comum. O NPN pode ser um BC547, BC548, BC237 ou BC238. O PNP pode ser um BC557, BC558, BC307 ou BC308.
O pequeno alto-falante de 8 Ω x 5 cm pode ser aproveitado de algum rádio portátil abandonado.
R1 e R2 são resistores comuns de 1/8 W e o capacitor C1 pode ser tanto de poliéster metalizado como cerâmico. C2 é um eletrolítico com uma tensão de trabalho igual ou maior que 6 V.
O trimpot pode ter valores entre 470 k e 1 M, não sendo crítico.
Até mesmo um potenciômetro comum pode ser usado, caso em que se tem a escolha do som externamente.
A bateria pode ser formada tanto por duas pilhas pequenas (3 V) como por 4 (6 V), dependendo do volume do som desejado.
Demais componentes são acessórios, como o interruptor simples, os fios, a barra de terminais para a fixação dos componentes menores, etc.
MONTAGEM
O circuito completo do Alerta aparece então na figura 8, onde os componentes com seus valores são representados por seus símbolos.
Na figura 9 temos a versão em ponte de terminais, ou seja, a disposição ”espalhada" das peças já interligadas. Veja que os comprimentos dos fios de interligação devem ser previstos de acordo com a disposição das peças na caixa.
A figura 7, que mostra a colocação do sensor, dá também uma ideia de como devem ficar os demais componentes. A ponte de terminais que não aparece, junto com o suporte das pilhas, é presa numa das laterais.
A versão em placa de circuito impresso é possível, mas o reduzido número de componentes empregados não traz vantagens na sua escolha.
Para que o leitor tenha bom êxito na sua montagem, os seguintes cuidados devem ser tomados:
a) Ao soldar os transistores observe em primeiro lugar que Q1e Q2 são de tipos diferentes, não sendo admitida a troca. Em seguida, veja a sua posição, com o lado achatado voltado para cima. Seja rápido na soldagem de seus terminais para que o calor não os afete.
b) Para soldar o trimpot abra um pouco os seus terminais para que fiquem na posição própria para soldagem.
c) Os resistores devem ter seus terminais cortados para ficarem em posição de soldagem. Veja seus valores pelas faixas coloridas.
d) Os capacitores também devem ter seus terminais cortados para melhor montagem. Veja a polaridade do capacitor eletrolítico. Este capacitor pode ser aumentado ou diminuído, se o leitor desejar um toque mais longo ou mais curto.
e) As interligações entre os componentes da ponte e externos são feitas com fio flexível de capa plástica. Observe a polaridade do suporte das pilhas. O polo positivo do suporte, normalmente, corresponde ao fio vermelho.
Terminada a montagem, antes de fixar tudo na caixa, faça um teste de funcionamento.
PROVA E USO
Para provar o aparelho basta colocar as pilhas no suporte.
Acione S1 para estabelecer a alimentação e encoste momentaneamente o arame do sensor na argola. Ajuste ao mesmo tempo o trimpot para haver emissão de som.
Tocando com o arame na argola e, ao mesmo tempo, ajustando P1, pode-se obter o som desejado.
Para usar o aparelho basta fixá-lo na beira do rio ou lago, conforme se sugere na figura 3, prender a vara de modo que peixes maiores não possam arrastá-la e passar a linha pela argola, mas sem deixá-la fazer pressão (solta) de modo que o arame não encoste na argola.
Ligando o interruptor S1, ao mínimo beliscão na isca o alarme tocará por alguns segundos.
Observamos que este alarme é ideal para o caso de pequenos peixes como lambaris e semelhantes, cujo puxão pode ser quase imperceptível em alguns casos.
Q1 - BC548 - ou equivalente - transistor NPN
Q2 - BC558 - ou equivalente - transistor PNP
FTE - alto-falante de 8 Ω x 5 cm
P1 - trimpot de 1 M
R1 – 47 k x 1/8 W - resistor (amarelo, violeta, laranja)
R2 - 1k5 x 1/8 W - resistor (marrom, verde, vermelho)
C1 - 22 nF - capacitor cerâmico ou de poliéster
C3 - 100 µF x 12 V - capacitor eletrolítico
S - interruptor simples
B1 – 3 V - 2 pilhas pequenas (ou 6 V - 4 pilhas pequenas)
Diversos: sensor (ver texto), caixa para montagem, pontes de terminais, fios, solda, suporte para pilhas, fio rígido 12 ou 14 (1 metro), etc.
Artigo originalmente publicado em 1986