Uma roda com raios de elástico gira, próximo de uma lâmpada incandescente. E ver para crer... e aprender mais princípios de física e química.
Léo Ferraz
No âmbito do ensino de ciências exatas, a curiosidade deve ser despertada: uma enorme motivação para que os princípios de física, química e biologia sejam absorvidos. Dentro do espírito dessa máxima, temos sempre procurado desenvolver projetos que estimulam a imaginação, tomando a ciência mais como uma aventura do que um mero aprendizado obrigatório, onde os resultados excedam às expectativas. Vejamos então o motor elástico.
COMO FUNCIONA
O segredo está numa propriedade química da borracha (um elastômetro de cadeia longa) e nas forças que agem na roda (forças de origem elástica, seu peso e reação de apoio). Quando se estica uma borracha, rapidamente, ela esquenta. O trabalho das forças foi utilizado, parte na deformação da borracha, parte na variação de sua energia interna. A borracha é substância macromolecular, amorfa quando não tensionada, com grande número de ligações entre as moléculas. A entropia da substância decresce quando ela é esticada (como mostra a termodinâmica), por isso, sua elasticidade é de natureza cinética. Esse arranjo peculiar, a nível de molécula, dá à borracha um comportamento anômalo; ela encolhe quando aquecida, aumentando com isso a sua constante elástica.
Isso significa na prática que, para sustentar um determinado peso ela se deforma menos quando aquecida, que quando fria. Apresentamos na figura 1 uma experiência básica, para elucidar tudo isso.
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Prenda uma das extremidades de um elástico a um suporte e, na outra extremidade um porta-pesos com massa total de 300 g.
Anote a deformação do elástico na régua que defronta o ponteiro. A seguir aproxime do elástico, o bulbo de uma lâmpada incandescente de 100 ou 150 W acesa. Repare que o ponteiro que indica a deformação sobe, deixando patente que, para equilibrar um peso quando quente, a deformação é menor; a constante elástica da borracha aumenta com o aquecimento. Se as duas extremidades estiverem presas, impedindo-a de encolher, as forças de tração nos apoios aumentam.
Isso é que permite explicar a rotação da roda, vejamos: com todos os elásticos à mesma temperatura (a ambiente), as forças no aro da roda são radiais, centrípetas e todas de mesma intensidade. Essa distribuição de forças no aro tem resultante nula e momento resultante nulo, em relação ao eixo.
Desse modo, com a roda bem balanceada, o centro da massa da roda, ponto de aplicação de seu peso, coincide com o centro de suspensão; o momento do peso em relação ao eixo é nulo e a roda não pode girar, conforme mostra a figura 2a.
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Como a lâmpada aquece um, dois ou três "raios" mais intensamente, a tendência deles é encolher. Como estão presos pelas extremidades, as forças de tração no aro aumentam. Isso faz com que esse setor do aro se aproxime mais do centro, o que traz como consequência, um deslocamento do centro da massa da roda para o lado oposto, em relação ao eixo. Nessa nova situação, indicada na figura 2b, o momento do peso da roda em relação ao eixo não é mais nulo... a roda gira, tendendo a levar o centro de massa abaixo do centro de suspensão.
Entretanto, novos elásticos defrontam agora a lâmpada, enquanto os anteriores esfriam e tudo reinicia. Como a roda tem poucos raios (só 16 elásticos), podem ocorrer momentos em que o movimento cessa, para logo em seguida reiniciar.
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MONTAGEM
Os bastidores para bordados, muito conhecidos em costuras, são aros de madeira, em que um encaixa direitinho dentro do outro formando um piar. As bordadeiras colocam o tecido esticado entre eles, formando algo parecido a um estreito tamborim. Eles são facilmente encontrados em lojas de armarinho; obtenha um par que tenha diâmetro externo aproximadamente 32 cm, figura 3a.
O puxador gavetas (armários, guarda-roupas, etc), pode ser de borracha ou de madeira (esférico), com diâmetro de uns 3,5 cm. Em lojas especializadas em marcenaria encontram-se esses puxadores com facilidade, (figura 3b). Os pitões de latão são desses bem pequenos e abertos, em forma de ganchos, (figura 3c) O suporte de latão (que servirá de mancal para nosso motor), pode ser confeccionado com uma lâmina de 1,5 rnm de espessura, 1 cm de largura e 40 cm de comprimento, dobrada e furada com broca de 3 mm (figura 3d).
Um toco de madeira de 12 x 10 x 5 cm, bem lixado e envernizado servirá de base para nosso motor, (figura 3e). Para fixar o soquete da lâmpada na haste suporte, use um pequeno L de alumínio ou latão. Reserve uma lâmpada incandescente de 100 W, bulbo transparente, (figura 3f).
Inicie a montagem, dividindo, geometricamente, o par bastidor em 16 partes iguais, faça um furinho (com broca de 1 mm) na metade da largura do par, em cada uma das marcas divisórias e, em cada furinho rosqueie um picão. O conjunto ficará como ilustra na figura 3g. Fure o puxador de borracha (ou madeira), acompanhando o furo original, preencha esse interior com um tarugo de madeira cilíndrico e passe pelo centro um eixo de aço de diâmetro 2 mm e comprimento 6 cm. A volta dessa esfera, dividida em 16 partes, faça furinhos de 1 mm e rosqueie os 16pitões restantes. Veja como fica, na figura 3h.
Enganche os elásticos nos pitões do par de bastidores e nos da esfera central, em perfeita correspondência, conforme mostra a figura 3i.
A lâmina deve ter 5 furos de 3 mm; 2 para passar o eixo da roda, 2 para parafusar na base de madeira e 1 na lateral do suporte (a uns 8 em da base), para fixar a lâmina em L que sustenta o soquete da lâmpada. Esta estrutura fica conforme mostra a figura 3j.
Finalmente coloque a roda em seus mancais, rosqueie a lâmpada em seu soquete (ajuste o aperto de modo que o bulbo da lâmpada fique a 1 ou 1,5 cm do elástico), ligue o cordão de força na tomada e aprecie sua roda a girar lentamente (figura-4).
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Uma dica final: ao montar a roda, ela deve ficar bem centrada, não apresentando qualquer preferência em ficar numa posição privilegiada. Se ao tirá-la de uma posição de equilíbrio, ela tender a voltar para aquela posição novamente, é porque está desbalanceada. Para ajustar isso não é fácil. Anote o pitão que tende a ficar em baixo; nele passe uma volta a mais do elástico, para aumentar a tração e, com isso, levantar o centro de massa. Repita isso para os outros que teimarem em ficar por baixo.