Os dimmers ou graduadores de potência são circuitos de grande utilidade no controle de velocidade de ferramentas (furadeiras, lixadeiras, serras), eletrodomésticos (liquidificadores, pequenos motores) e até do brilho de lâmpadas incandescentes. O dimmer que apresentamos, apesar de sua simplicidade, pode controlar cargas de até 4 A (440 W na rede de 110 V e o dobro na rede de 220V) com grande eficiência, pois opera com onda completa.
A eletrônica oferece recursos inigualáveis para o controle de potência sem o desperdício de energia que seria normal no uso de um simples reostato.
Os dispositivos de estado sólido, tais como SCRs e Triacs, são os mais usados nestes casos e podem operar com faixa muito grande de potência.
Tipos baratos e facilmente encontrados no nosso mercado, como os SCRS da série 106 (TIC106, MCR106, IR106 e outros) podem controlar correntes de até 4 A com facilidade tanto na rede de 110 V como na de 220 V.
Utilizando um destes SCRS e ainda um outro elemento de estado sólido importante da eletrônica, o transistor unijunção, sugerimos a montagem deste dimmer que regulará a velocidade de sua furadeira elétrica, de seus motores de eletrodomésticos e até mesmo de uma lâmpada comum incandescente, com níveis que variam linearmente de 0 a 100% da potência aplicada, aproximadamente.
Este dimmer não poderá funcionar, entretanto com lâmpadas fluorescentes e nem com motores do tipo derivação.
Cargas resistivas e motores universais poderão operar sem problemas.
Características
Corrente máxima: 4 A
Tensões de entrada: 110/220 V CA
Faixa de controle: 0 a 97% (aprox.)
Tipo de controle: onde completa
O CIRCUITO
O tipo mais simples de controle que podemos elaborar para uma carga é o que faz uso de um reostato, ou seja, um resistor variável ligado em série, conforme mostra a figura 1.
Neste tipo de controle, a resistência em série com a carga limita sua corrente e, ao mesmo tempo, faz cair a tensão aplicada, pois passamos a ter um divisor de tensão.
O resultado deste tipo de controle não é dos melhores, pois não obtemos somente uma variação não linear de tensão aplicada, principalmente no caso de cargas não resistivas, mas também uma dissipação de uma potência tão elevada quanto a da própria carga controlada.
Reostatos de fio de grande dissipação devem então ser usados, o que, além de significar um custo elevado para o controle, também implica em gasto de energia que se converte desnecessariamente em calor (figura 2).
A eletrônica oferece soluções melhores para o controle de potência, e uma delas vem através dos tiristores (SCRS - diodos Controlados de silício e triacs).
O que se faz é um controle de potência por fase em que o SCR funciona como uma chave, que pode ser ligada em qualquer ponto do semiciclo da alimentação alternada, determinando assim que proporção da energia fornecida pode passar para a carga.
Se a Carga receber a senóide completa, ou seja, todo o ciclo de alimentação, sua potência será máxima.
No entanto, se ligarmos a alimentação deixando passar parte da senóide, quanto maior for o retardamento em relação ao início de cada semiciclo, menor será a potência aplicada, conforme sugere a figura 3.
Desta forma, bastará que ajustemos o disparo do SCR para diversos ângulos dentro de cada semiciclo, retardando-o, através de circuitos especiais, numa faixa que corresponda justamente de 0 a 1/120 de segundo, ou seja, o período de meio ciclo ou um semiciclo.
Se o retardamento for 0, teremos a potência total; se retardamos 90 graus ou 1/240 de segundo, teremos 50% da potência, e se o retardo for de 180 graus ou 1/120 de segundo, teremos a potência mínima ou zero, conforme vemos na figura 4.
Os pulsos que provocam o disparo do SCR devem ser agudos e precisos, o que se consegue com a ajuda de um outro semicondutor, o transistor unijunção.
Na figura 5 temos um circuito básico de um transistor unijunção como oscilador de relaxação.
A relação de transferência (n) determina a proporção da tensão entre as bases B1 e 82 em que o transistor comuta.
Para um transistor com relação de transferência de 0,6, por exemplo, isso significa que, quando, na rede RC, a tensão for igual a 0,6 da tensão de alimentação entre B1 e B2 mais 0,6 V (para vencer a barreira de potencial da junção única) teremos o disparo.
Nestas condições, o transistor passa a apresentar uma resistência muito baixa e o capacitor pode se descarregar através da base B1, produzindo um pulso agudo, que dispara o SCR.
Utilizando um capacitor fixo e um resistor variável, podemos ajustar o tempo que o capacitor demora para se carregar e atingir o ponto de disparo do transistor para a produção do pulso desejado.
Este ajuste deve então estar entre 0, para a potência máxima, e 1/120 de segundo, para a potência mínima.
Como a relação de transferência ou relação intrínseca do transistor usado, o 2N2646, varia tipicamente entre 0,45 e 0,8 é preciso eventualmente ajustar o valor do capacitor para que a faixa desejada de retardos seja alcançada.
Valores de capacitores entre 100 e 470 nF estão dentro do previsto e o valor médio de 220nF é por onde você deve começar as experiências.
Como o circuito de disparo opera com baixa tensão, o resistor R2 se encarrega de fazer a redução.
A ponte de diodos é responsável pela retificação de onda completa, de modo a podermos controlar com um SCR (que é um diodo) os dois semiciclos da alimentação (figura 6).
Os diodos desta ponte dependem muito da corrente de carga.
Para cargas de até 2 A podemos usar tipos como o 1N4004 ou BY127, se a rede for de 110V, ou então 1N4007 ou BY127, se a rede for de 220V.
Observe que, como na ponte temos a condução do diodo apenas em metade do tempo do ciclo, ou seja, num semiciclo, diodos de correntes máximas de 1 A podem perfeitamente retificar uma corrente máxima total de 2 A.
Para correntes mais intensas, até 4 A, sugerimos a utilização de diodos de pelo menos 2 A.
MONTAGEM
Na figura 7 temos o diagrama completo do controle.
Na figura 8 temos a montagem feita em placa universal do tipo com disposição de matriz de contatos. .
O SCR pode ser do tipo TIC106-B, se a rede for de 110 V, e se a rede for de 220 V deve ser usado o TIC106-D.
Em todos os casos o SCR deve ser montado num radiador de calor.
R2 e R3 são resistores de 2 e 1 W respectivamente, já que tendem a se aquecer um pouco em funcionamento C1 e R1 formam uma rede de amortecimento da comutaçã0, evitando a produção de interferência mais forte principalmente com cargas indutivas, mas, em alguns casos, pode ser necessário um filtro externo para atenuar este problema.
C1 é um capacitor de poliéster com pelo menos 200 V de tensão de trabalho.
Para C2 podemos usar os tipos cerâmicos ou de poliéster a partir de 50 V.
O potenciômetro P1 é linear de 100 k.
Não recomendamos conjugar a chave S1 a este componente, dada a corrente elevada que normalmente não é prevista para os interruptores que são montados com potenciômetros.
Os diodos são 1N4004 ou BY127 para a rede de110 V e1N4007 ou BY127 para a rede de 220 V, no caso de 2 A de carga. Para cargas até 4 A use diodos de 2 A x 200 V na rede de 110V e 2A x 400 V na rede de 220 V.
O fusível de proteção é muito importante para a garantia da rede elétrica e do próprio circuito, em caso de curto de algum diodo da ponte, principalmente.
Fios grossos devem ser usados na conexão a X1, que é uma tomada onde vai ser ligado o aparelho controlado.
Sugerimos para instalação do dimmer uma caixa, como mostra a figura 9.
O acesso externo ao suporte de fusível é importante para facilitar sua troca.
PROVA E USO
A prova pode ser feita com a ligação de uma lâmpada comum de 40 a 100 W em X1.
Se no mínimo do ajuste de P1 a lâmpada não apagar, é sinal que você deve aumentar um pouco o valor de C2, de modo a compensar as características do transistor unijunção.
Se, pelo contrário, você precisar girar um pouco o potenciômetro antes de notar que a lâmpada começa a brilhar (existe uma faixa morta) e, no máximo, a lâmpada não atingir todo o brilho, é sinal que você precisa diminuir C2.
Se entre os dois comportamentos ainda assim você não conseguir a faixa desejada de ajuste, altere R4, mas sempre aumentando-o até no máximo 22 k.
Comprovado o funcionamento é só usar o aparelho, respeitando suas Iimitações de corrente.
INTERFERÊNCIAS
A comutação rápida de SCRS causa pulsos da corrente que são ricos em harmônicas, que se estendem até a faixa das freqüências de rádio.
Desta forma, os controles de potência com triacs e SCRS causam interferências em rádios e até em televisores.
Estas interferências podem se propagar tanto pelo espaço, na forma de ondas eletromagnética, como pelos próprios fios da rede de alimentação
Para evitar a propagação pelo espaço devemos montar o controle em caixa blindada e devidamente aterrada, como mostra a figura 10.
Para evitar a propagação pela rede podemos usar o filtro mostrado na figura 11.
Este filtro pode ser ligado tanto na entrada deste controle como na entrada do aparelho interferido.
As bobinas são formadas por 50 a 100 voltas de fio comum num bastão de ferrite de 10 a 15 cm de comprimento e os capacitores são de poliéster com uma tensão de trabalho acima de 450 V.
SCR - TIC106-B (110 V) ou TIC106-D (220V) - diodo controlado de silício
Q1 - 2N2646 - transistor unijunção
D1 a D4 - 1N4004 ou BY127 (110 V) ou 1N4007 ou BY127 (220V) - diodos retificadores
P1 – 100 k - potenciômetro simples linear
S1 - interruptor simples
F1 - 5A - fusível
R1 – 330 ohms x ½ W - resistor (laranja, laranja, marrom)
R2 – 27 k (110 V) ou 47 k (220 V) - resistor de fio ou carbono
R3 - 470 - resistor (amarelo, violeta, preto)
R4 - 4k7 x ½ W - resistor (amarelo, violeta, vermelho)
C1 – 100 nF - capacitor de poliéster
C2 – 220 nF - capacitor de poliéster ou cerâmica
Diversos: radiador de calor para o SCR, placa de circuito impresso, caixa para montagem, suporte para o fusível, tomada, cabo de alimentação, fios, solda etc.