Espantados, mas se sentindo esquisitos, alguns companheiros de plenário correram para socorrer o Deputado. Alguns pensaram inicialmente que ele estaria sendo influenciado pelos artigos sobre seu comportamento e que haviam sido publicados recentemente.
Quase ao mesmo tempo, entretanto, outro parlamentar saia do sério, graças aos efeitos das oscilações.
Belarmino Sobradecampanha arregalou os olhos e dobrando os braços em "V" de modo a imitar as asas de um pombo, começou a imitar a "dança de conquista amorosa" dos pombos, arrulhando de uma forma muito convincente as palavras que tanto incomodavam os presentes:

- Corrupto! Corrupto! Corrupto!...

Tentaram socorrer o indivíduo, mas quando o seguraram, ele começou a cantar como um galo:

- Ninguém me tira daqui!

Os seguintes a serem afetados foram João Nuncaviessecheque e José Nãoseiquefazendaéessa que saíram correndo dando voltas e guinchando pelo plenário. Tentaram segurar os parlamentares mas as coisas estavam fora de controle.
Os efeitos se propagaram rapidamente para os outros presentes, e agora numa espécie de reação em cadeia: ânsias de vômitos, tonturas e mal-estares e uma vontade incontrolável de ir ao banheiro!
O pânico se estabeleceu quando se verificou que a quantidade de banheiros disponíveis não atendia a todos os interessados.
No entanto, o resultado final muito mais preocupante: em dado momento, vários parlamentares começaram a discursar ao mesmo tempo, revelando muitas manobras escusas que fizeram durante seus mandatos e que, certamente, deveriam ser mantidas em segredo.
Estavam como que hipnotizados e não sabiam o que diziam. O pior, entretanto (ou melhor), é que o sofisticado sistema de som do plenário, com microfones espalhados por todos os locais estava ligado a um sistema que gravava tudo!

No porão os experimentos continuavam normalmente com o professor Ventura controlando o equipamento e Beto e Cleto observando que o ritmo das corridas dos ratos de um lado para outro aumentava de modo frenético.

- Realmente funciona aqui em baixo! - comentou Beto.

O professor Ventura concordou:

- Sim, mas seria interessante dar uma olhada lá em cima, para ver o que acontece com os pombos.

Cleto imediatamente tomou a iniciativa de fazer a verificação.
Foi ao completar o primeiro lance das escadas que passavam pelo andar do plenário que Cleto observou a "calamidade".

- Gulp! Chiiii!

Cleto, imediatamente percebeu que a origem de tudo era o equipamento. Engoliu em seco e voltou correndo para o local em que estava o professor Ventura.

- Desligue! Desligue! Está afetando as pessoas no plenário.

O equipamento foi desligado, mas o "estrago" já estava feito. Preocupado com as consequências, o Prof. Ventura, Beto e Cleto não sabiam o que fazer. Resolveram esperar, prontos para "passar uma temporada na cadeia..."

- Estamos "fritos"! - comentou baixinho Cleto, ficando perto do professor, que esperava funcionar como uma espécie de proteção.

Mas, a punição não aconteceu!...

-  Até que foi interessante! - comentou um dos deputados, ao conversar com o Prof. Ventura, depois de tudo.

- Descobrimos que existem outros "colegas" que precisam ter uma "conversinha" muito séria com nossa Comissão Parlamentar de Inquérito. No auge dos efeitos do aparelho do Prof. Ventura, eles acabaram dizendo coisas muito suspeitas, que já estávamos desconfiados, mas não tínhamos como fazer uma acusação formal para dar início a um processo. As gravações feitas vão ajudar muito... - completou um outro deputado, preocupado com a crise de credibilidade que a sua "profissão" estava passando.

- Vamos além! Achamos que o equipamento do Prof. Ventura até deveria ficar instalado e ser ativado de tempos em tempos como uma espécie de "purificador" da casa, revelando eventuais fontes de "maracutaias" de alguns dos nossos colegas.... - opinava agora mais um deputado, muito interessado em manter "limpa" a casa, de todos os tipos de ratos, evidentemente....

É claro que o equipamento foi removido, mas o assunto permaneceu "em alta" durante muito tempo, abrindo os olhos de muitos parlamentares que passaram a desconfiar de que, na realidade, o equipamento continuaria "secretamente" ativo. Isso exigiria deles mais atenção no que falassem e principalmente no que fizessem...

O professor, Beto e Cleto voltaram logo para Brederópolis mas prometeram não divulgar o que ocorreu, tanto para o bem dos parlamentares como para seu próprio bem....

 



(*) Essa estória foi escrita originalmente em 1994/1995 quando um "escândalo" no congresso nacional culminou com a cassação de diversos deputados corruptos, que alguns jornais passaram a chamar de "ratos". Os termos "não se que cheque é esse" e "não sei que fazenda é essa" foram justamente usados por deputados cassados quando interrogados na seção, tentando se justificar de propriedades e valores recebidos, "não declarados". No entanto, parece que nossos parlamentares continuam os mesmos, e a estória se mantém mais atual do que nunca... Tanto que poderíamos facilmente incluir personagens como o Marcos Dinheironacueca e até mesmo o galo, que poderia ser perfeitamente maranhense... Que bom seria instalar lá no congresso um aparelho como o descrito nesta estória e deixá-lo permanentemente ligado...