O professor preparou então cuidadosamente um novo projeto de "espanta ratos e pombos" por meio de ultrassons evitando oscilações "prebostantes" que tinham ocorrido com seu projeto original. Para os leitores que não sabem o que são essas oscilações sugerimos a leitura da estória do Computador Disentérico ou Oscilador Disentérico, dessa mesma série.
Enviada uma planta dos subsolos do Prédio do Congresso, por solicitação do Professor Ventura, foi feito um estudo prévio para instalação de um equipamento.
O professor explicou como funcionaria a "coisa":

- Um potente amplificador de 500 watts será instalado nesse ponto. A partir deles teremos diversas linhas de distribuição que alimentarão tweeters piezoelétricos colocados nos diversos pontos do porão. Uma linha adicional leva os sinais para os tweeters instalados no terraço do prédio. Esses tweeters reproduzem bem os sons acima do limite de nossa audição podendo chegar até os 25 000 Hz sem problemas, e esta freqüência, segundo vi, perturba muito os ratos, e até mesmo os pombos.

- Já li isso em algum lugar! - comentou Cleto.

- De fato! Nos Estados Unidos é comum encontrarmos anúncios de "repelentes ultrassônicos", que são instalados em silos e outros locais em que se guardam alimentos, com a finalidade de se evitar a aproximação de roedores. Estes animais podem ouvir freqüências mais altas do que nós e se perturbam quando elas aparecem com intensidades muito grandes!

Beto tinha uma dúvida relacionada com problemas anteriores:

- Mas, e no caso das pessoas? Sabemos que elas podem sentir leves mal-estares? Lembre-se que no caso que tivemos na praça foi muito mais que isso! No caso do Congresso não poderia haver perigo?

O professor acalmou Beto:

- De fato! Já foram registrados alguns mal-estares em pessoas que ficam num ambiente com esse aparelho ligado, se bem que não percebam o som e por isso não saibam dizer qual a origem da "coisa". Por esse motivo, os que vendem tais "espantalhos" recomendam que eles não sejam instalados em locais em que as pessoas fiquem frequentemente ou em que existam animais domésticos. No Congresso ele vai ser colocado nos porões e no terraço e, nesses locais, a entrada de pessoas é eventual. Na verdade, ele poderia ser acionado apenas nos momentos certos!

- Ah! É bom tomar cuidado! - Beto, preocupado, alertou o Professor Ventura.

O circuito usado não tinha segredos: um microprocessador com um programa especial gerando sinais numa frequência entre 20 kHz e 25 kHz e aplicando seu sinal na entrada de um amplificador de alta potência. O Professor Ventura teve o cuidado de calcular muito bem as impedâncias dos tweeters usados como carga, fazendo uma distribuição planejada dos pontos de emissão.
Pronto o programa e montado um bom amplificador, o Professor Ventura viajou para a Capital Federal.
No Congresso, o Professor Ventura foi recebido por um alto funcionário que o levou até um local onde poderia trabalhar e a partir dali solicitar o que precisasse e instalar o equipamento. O Deputado Genival também veio recebê-lo.

- Estamos trabalhando todos esses dias em projetos de menor importância, de modo que o Senhor pode trabalhar à vontade. Se precisar de qualquer coisa vai me encontrar no prédio! - informou o Deputado.
O professor agradeceu, perguntando:

- Menor importância? Não vai atrapalhar mesmo?

- Não, estamos "apenas" discutindo reformas na Constituição! Na semana que vem sim, o negócio vai ser mais importante!

- Sim? - quis saber o Professor.

- Vamos discutir nossos salários!...

O professor, Beto e Cleto se olharam e não disseram nada. Mas, o que pensaram não pode ser publicado!
Nos dias seguintes, o Professor fez a instalação do equipamento ajudado por Beto e Cleto. O porão era espaçoso e ocupava quase que toda a extensão do prédio, inclusive o espaço diretamente sob o plenário. Das laterais saiam grossos dutos de metal que serviam de distribuição do sistema de ar condicionado. Algumas "bocas" de distribuição davam também para o porão mantendo, dessa forma, sua temperatura agradável.
Por toda a extensão eram distribuídos armários onde enorme quantidade de documentos se acumulava.
- Um dia tudo isso vai ocupar meia dúzia de unidades ópticas de armazenamento para leitura em computador, e a "papelada" acaba! - comentava Beto.

- Meu caro, se fizermos uma "filtragem" no que há de útil nisso tudo, garanto quem nem meia dúzia de disquetes serão necessários! Talvez um ou dois bytes de um computador sejam suficientes... - complementou Cleto com um ar bastante crítico.
Beto tinha uma opinião pior:

- Do jeito que esses "caras" são burocráticos, é bem provável que antes de destruir toda esta papelada, mandem tirar uma "cópia impressa"!

- E em 5 vias!... - completou Cleto.

- Gostaria que o que acabasse é quem as produz! - concluiu sarcasticamente o Professor Ventura.

Em algumas das pilhas de documentos era possível ver o sinal da ação dos ratos, com papel roído, e até mesmo sua sujeira. Por mais de uma vez Beto, Cleto e o Professor viram os pequenos roedores correndo de um canto a outro.