Os NTCs são componentes de extrema utilidade em projetos que envolvem o controle de temperaturas ou ainda sua medida numa faixa mais estreita. Diversos tipos são disponíveis no comércio, atendendo uma ampla faixa de usos. No entanto, para usar estes componentes é preciso conhecer alguns aspectos importantes de suas características que serão abordados neste artigo.

NTC é a abreviação de Negative-Temperature Coeficient, utilizada para designar materiais que diferentemente dos metais comuns e de outros materiais, quando usados em componentes, estes componentes, quando aquecidos tem sua resistência diminuída. A figura 1 mostra o que ocorre,

 

Figura 1 – Características dos NTCs
Figura 1 – Características dos NTCs

 

Os NTCs comuns são elementos de uma família maior, a dos Termistores que também inclui os PTCs, ou seja, Positive Temperature Coeficient, que são componentes cuja resistência aumenta com a temperatura.

Estes componentes já foram abordados em outros artigos nossos. Os NTCs comuns são fabricados de uma mistura de semicondutores policristalinos, como o cromo (Cr), manganês (Mn), ferro (Fe), Cobalto (Co) e níquel (Ni).

O processo de fabricação dos NTCs é semelhante ao de fabricação das cerâmicas.

Depois de uma mistura intensiva e do acréscimo de um agregante plástico, a massa é moldada na forma desejada, por extrusão para obter tarugos ou por pressão para se obter discos e aquecida a uma temperatura suficientemente alta, para sinterizar os óxidos constituintes.

Depois, os contatos são colocados queimando-se os elementos e utilizando-se pasta de prata.

Muitos tipos de encapsulamentos são utilizados conforme sugere a figura 2, dependendo da aplicação final do, componente.

 

Figura 2 - Encapsulamentos
Figura 2 - Encapsulamentos

 

Os tipos miniatura, de menor capacidade térmica e maior prontidão são usados na medida de temperatura (NTCs termoelétricos), enquanto que os maiores são usados no controle de dispositivos diversos, por exemplo em alarmes e termostatos.

 

CARACTERÍSTICAS

Para se utilizar um NTC numa aplicação, devemos levar em conta suas características.

Tipos comuns são apresentados com resistências nominais que variam entre fração de ohm e 1 Megohm.

Esta é a primeira característica a ser observada num NTC, a sua resistência que é expressa para uma determinada temperatura, normalmente 25°C.

Para sabermos como varia a resistência de um determinado tipo, temos duas possibilidades:

a) Dar a resistência numa segunda temperatura, normalmente 85°C de modo a podermos estabelecer um gráfico que expresse a variação e, portanto, nos permita determinar a resistências em qualquer outro ponto, por extrapolação ou interpolação, conforme o caso, (figura 3).

 

Figura 3 – Gráfico das características de um NTC
Figura 3 – Gráfico das características de um NTC

 

 

Lembramos que os NTCs são indicados para operar numa faixa tipicamente entre -40 e+125°C.

b) Dar a fórmula ou expressão matemática que permita calcular com boa precisão a resistência numa determinada temperatura.

Esta fórmula é:

R1 / R2 = e(B/T1 – B/T2)

 

B = [ Ln * ( R1 / R2 ) / (1/T1 – 1/T2) ]

 

Onde:

R1 = Resistência inicial

R2 = Resistência final

T1 = Temperatura inicial

T2 = Temperatura final

B = Constante do NTC

 

Na maioria dos folhetos de informações sobre as características de um termistor o valor de B é dado, o que facilita a determinação da resistência em qualquer temperatura.

Um outro ponto importante a ser considerado no cálculo de um circuito com NTC é que o calor gerado pelo próprio componente, pode afetar seu funcionamento A.

O que ocorre é que sendo uma resistência, a circulação de corrente gera calor e este calor afeta sua própria resistência num processo de realimentação.

Esta característica é justamente aproveitada em certas aplicações para compensar a corrente num circuito, conforme veremos, mas se vamos usar o componente no controle de um circuito ele deve sentir a corrente no circuito e não em si mesmo!

Na figura 4 temos uma curva em que mostramos a tensão em função da corrente num NTC.

 

Figura 4 – Curva tensão em função da corrente de um NTC
Figura 4 – Curva tensão em função da corrente de um NTC | Clique na imagem para ampliar |

 

 

Para pequenos valores de corrente, observamos que a curva se mantém direta (reta), seguindo uma linha isorresistiva, o que significa na realidade uma linha isotérmica o que nos leva a concluir que a potência transformada em calor é pequena demais para afetar a temperatura do componente.

No entanto, para correntes maiores, a temperatura aumenta e pelo Efeito Joule (P = Vx l), ocorrem alterações.

O equilíbrio é atingido quando a potência dissipada pelo NTC está em equilíbrio com a potência aplicada a ele.

Pode ser observado que, como a potência dissipada depende do meio ambiente, o equilíbrio também depende dele e com isso a característica V x l.

A curva mostrada na figura 4 foi obtida numa temperatura ambiente constante, depois de haver sido encontrado o estado de equilíbrio.

Um outro ponto importante a ser considerado num projeto é a velocidade de resposta.

O NTC demora um certo tempo, que depende de suas dimensões, formato e material, para alcançar o equilíbrio térmico e, portanto, para fornecer um sinal para o circuito.

Para os projetos que exigem prontidão como, por exemplo, termômetros, o NTC deve ser de pequenas dimensões, para que o equilíbrio térmico seja alcançado muito rapidamente.

Damos a seguir alguns circuitos básicos da aplicação dos NTCs baseados no Data Handbook de Varistores, Termistores e outros componentes da Philips Components de 1989.

 

APLICAÇÕES

Na figura 5 damos um circuito em ponte, para utilização de NTCs termométricos na medida de temperatura.

 

   Figura 5 – Circuito em ponte
Figura 5 – Circuito em ponte

 

 

Este circuito é indicado para termômetros médicos, e também industriais, onde se necessita de precisão.

Para medida de temperatura em automóveis, temos o circuito diferencial mostrado na figura 6.

 

 Figura 6 – Circuito para medidas automotivas
Figura 6 – Circuito para medidas automotivas

 

O indicador é do tipo diferencial e o sistema pode ser usado para medir a temperatura da água.

O sistema mostrado na figura 7 é para o acionamento de um relé numa determinada temperatura.

 

Figura 7 – Um termostato
Figura 7 – Um termostato

 

 

O ajuste é feito no resistor variável e a configuração em ponte garante uma melhor precisão.

O controle de nível de um líquido num reservatório pode ser feito em função de temperatura, utilizando-se um NTC, conforme mostra a figura 8.

 

Figura 8 – Controle de temperaturas em meios líquidos
Figura 8 – Controle de temperaturas em meios líquidos

 

 

O contato com o líquido eleva a temperatura do NTC, o que provoca um aumento de corrente na bobina do relé, e com isso o seu acionamento.

A velocidade de escoamento de fluídos ou gases pode ser medida em função da temperatura em função de um NTC, que é aquecido por elemento apropriado, conforme mostra a aplicação da figura 9.

 

   Figura 9 – Medindo a velocidade de escoamento de um líquido
Figura 9 – Medindo a velocidade de escoamento de um líquido

 

 

A diferença de temperatura entre T1 e T2 permite calcular a velocidade do fluído ou líquido.

O circuito da figura 10 é uma ponte sensora de temperatura, com circuito amplificador.

 

   Figura 10 – Ponte sensora com amplificador
Figura 10 – Ponte sensora com amplificador

 

 

Nesta aplicação o amplificador funciona como amplificador diferencial e o ganho é controlado pelo resistor de realimentação R.

A sensibilidade deste circuito é muito alta e a corrente que pode ser prevista no sensor muito baixa.

Na figura 11 temos um sensor de temperatura, onde o amplificador operacional atua como um disparador de Schmitt, de modo a fornecer uma transição muito rápida na saída, quando a temperatura programada for atingida.

 

Figura 11 – Sensor com circuitos disparador
Figura 11 – Sensor com circuitos disparador

 

 

Observa-se urna histerese, o que significa que, a transição positiva não ocorre na mesma temperatura em que a negativa.

Um termostato transistorizado simples tem sua configuração básica mostrada na figura 12.

 

  Figura 12 – Termostato transistorizado simples
Figura 12 – Termostato transistorizado simples

 

Os valores dos componentes dependem da sensibilidade do relé e da resistência do NTC na temperatura em que se desejar o disparo.

Na figura 13 temos um circuito de oscilador controlado pela temperatura, usando como base um circuito integrado 555.

 

   Figura 13 – Oscilador controlado por temperatura
Figura 13 – Oscilador controlado por temperatura

 

 

Este circuito pode ser usado como base para um conversor temperatura/freqüência, para medidas remotas de temperatura, já que na transmissão não existem alterações da grandeza que interessa.

Os valores dos componentes dependem da faixa de freqüência a ser varrida, lembrando que os limites mínimos para cada um: os resistores inclusive o NTC não podem ter valores inferiores a 1 k ohms e o capacitor não pode ser menor que 100 pF.

O diagrama de blocos da figura 14 mostra uma aplicação em que temos uma ponte sensora de temperatura com offset de 0°C e um conversor analógico/digital. Neste circuito temos uma variação linear de tensão no ponto A com a temperatura.

 

  Figura 14 – Ponte sensora
Figura 14 – Ponte sensora

 

 

A tensão no ponto B é iguala do ponto A na temperatura de 0°C.

Na figura 15 temos as formas de onda do circuito.

 

    Figura 15 – Formas de onda do circuito da figura 14
Figura 15 – Formas de onda do circuito da figura 14

 

 

O circuito da figura 16 mostra o uso de um NTC na proteção de diodos de silício em circuitos de fontes de alimentação.

 

   Figura 16 – Circuito de proteção de diodos
Figura 16 – Circuito de proteção de diodos

 

 

Circuitos de tempo para relés podem ser conseguidos em função da inércia dos NTCs.

Na figura 17 temos um circuito deste tipo.

 

   Figura 17 – Circuito de tempo
Figura 17 – Circuito de tempo

 

 

Ao ser estabelecida a alimentação a corrente aquece lentamente o NTC que diminui sua resistência até o ponto em que a corrente se torne suficiente para acionar o relé.

Uma parada obrigatória temporizada para trens elétricos de brinquedo (ferromodelismo), usando um NTC é mostrada no circuito do figura 18.

 

   Figura 18 – Circuito de parada para ferromodelismo
Figura 18 – Circuito de parada para ferromodelismo

 

 

Quando o trem atinge o ponto de interrupção da linha de alimentação, o motor será ligado em série com o NTC.

Nestas condições ele se aquece, e inicialmente com uma resistência muito alta para impedir o movimento, atinge o ponto em que ocorra nova partida.

Na aplicação da figura 19 temos a compensação de ganho de um circuito, por meio de realimentação térmica, obtida com a ajuda de um NTC.

 

   Figura 19 – Compensação térmica de ganho
Figura 19 – Compensação térmica de ganho

 

 

A compensação para a influência de temperatura ambiente num circuito amplificador de alta frequência pode ser conseguida com o circuito da figura 20.

 

   Figura 20 – Compensação em circuito da alta frequência
Figura 20 – Compensação em circuito da alta frequência

 

 

Nos televisores podemos ter uma estabilização com a temperatura num circuito de controle automático de ganho (AGC) com base num NTC. Na figura 21 mostramos como isso pode ser feito.

 

Figura 21 – Estabilização térmica de um CAG usando um NTC
Figura 21 – Estabilização térmica de um CAG usando um NTC

 

 

Uma compensação para saídas de circuito de deflexão de bobinas em televisores, em função da temperatura, pode ser feita com a configuração básica mostrada na figura 22.

 

   Figura 22 – Compensação de circuitos de deflexão
Figura 22 – Compensação de circuitos de deflexão

 

Uma aplicação bastante conhecida, e usada nas etapas de saída de amplificadores de áudio com transformadores (push-pull), é mostrada na figura 23.

 

Figura 23 – Estabilização de etapas de saída de áudio
Figura 23 – Estabilização de etapas de saída de áudio

 

 

Neste circuito a compensação da polarização dos transistores e, portanto, a corrente de repouso é feita com a ajuda do NTC. Nas etapas de saída sem transformador, também podemos ter uma compensação de temperatura, também podemos ter uma compensação de temperatura, usando o circuito da figura 24.

 

 

   Figura 24 - Compensação em etapas sem transformador
Figura 24 - Compensação em etapas sem transformador

 

Finalmente temos um circuito completo de um termostato, para controle de temperatura num meio qualquer, (uma sala, por exemplo), usando como sensor um NTC. O circuito é mostrado na figura 25.

 

   Figura 25 – Controle térmico com Triac
Figura 25 – Controle térmico com Triac

 

O Triac depende da carga que se deseja controlar o ajuste da temperatura é feito em Rp.

R6 e Rp devem ter valores que permitem ajustar a tensão na entrada (-), do 741 a um valor equivalente à metade da tensão de alimentação com a temperatura de disparo. Isso corresponde no circuito indicado a 5 V.

Rh determinará a velocidade de ação do circuito e Rg depende da corrente necessária ao disparo do Triac. Cd é dimensionado para uma fonte sem transformador, sendo da ordem de 1 uF.

 

OBSERVAÇÃO

Os circuitos mostrados para os aplicativos assim como demais informações sobre NTCs foram obtidas dos manuais da Philips Components da época em que o artigo foi escrito (1992).