Em setembro de 2001 entrevistei uma das personalidades mais interessantes da eletrônica na época, Bob Pease, então engenheiro da National Semiconductor. Bob Pease marcou pela sua irreverência na eletrônica atrelada a um profundo conhecimento que sua formação no MIT lhe deu. Bobe Pease morreu em 11 de junho de 2011 aos 70 anos. Nesta homenagem mostramos a nossa entrevista.
Talvez muitos dos nossos leitores nunca tenham ouvido falar desta interessante personalidade do mundo da eletrônica.
Dirigindo um "fusca 70" quando vai para o seu trabalho na National Semiconductor, este homem de mais de 60 anos é o "guru" de uma enorme quantidade de profissionais do mundo que trabalham com eletrônica analógica.
De fato, Robert A. Pease ou Bob Pease, como assina em seus artigos técnicos, é um defensor da eletrônica analógica que ele diz ser muito mais importante que a digital e mais do que isso, uma das maiories autoridades no assunto no mundo, senão a maior.
Formado pelo MIT, ele é um "Cientista Eletrônico" (como assina em seus trabalhos) e tem centenas de artigos publicados além de livros tanto sobre eletrônica analógica como sobre temas aparentemente sem relação alguma, como um volume que trata de "Como Dirigir sem Acidentes".
Bob Pease diz que "Analógico é uma arte que não se ensina nas escolas. É uma arte que você deve aprender no trabalho... Ela requer um ponto de vista artístico!"
Ele vai além. "Na eletrônica digital temos um número limitado de técnicas e poucos tipos de arquiteturas. Na eletrônica analógica temos que conhecer todos os truques e técnicas que todas pessoas usaram antes de você de modo a chegar a um projeto que funcione. Você tem de ter na sua cabeça todas as possibilidades de projeto usadas. Se você tem 30 projetistas diferentes, você tem 30 maneiras diferentes de resolver um problema!"
Bob faz parte do "staff " de cientistas da National Semiconductor justamente na divisão de eletrônica analógica, viajando pelo mundo para participar de seminários sobre o assunto.
No final de setembro de 2001 tivemos um encontro com Bob Pease que veio a São Paulo justamente para o Seminário de Componentes Analógicos da National Semiconductor, denominado "A revolução Analógica".
Neste seminário uma nova linha de componentes analógicos foi apresentada e como não poderia deixar de ocorrer, a palavra de Bob foi um dos pontos de destaque do evento.
Em uma rápida entrevista Bob Pease, falou um pouco de sua vida, de suas atividades e porque, para ele, analógico é mais importante do que digital...
Como começou sua carreira?
Bob Pease começou fazendo projetos em 1960 para clientes diversos. Os projetos eram sempre em eletrônica analógica como conversores de frequências, amplificadores, etc. Nesta época também passou a escrever artigos em revistas, documentação técnica, data sheets para empresas e documentação técnica em geral.
Também projetou diversos tipos amplificadores com sucesso com especial enfoque para o uso de amplificadores operacionais.
Um dos desafios que ele relata neste trabalho foi de que nem sempre era simples conseguir o que os clientes queriam com projetos simples usando eletrônica analógica.
Como convencer os clientes de que a solução analógica seria melhor do que a digital em certas aplicações?
Bob Pease cita como exemplo os rádios comuns. É muito mais simples e barato fazê-los analógicos do que digitais se precisamos de algo barato e funcional. Assim, existem aplicações em que os circuitos analógicos são mais vantajosos do que os digitais e por isso ainda devem ser preferidos.
Perguntamos se ele acredita que no futuro a eletrônica digital pode substituir a eletrônica analógica completamente.
Ele foi incisivo neste ponto e disse não. Melhores amplificadores, melhores rádios ainda exigem a eletrônica analógica por que nossa audição e nossos órgãos de sentido são analógicos.
Nossa próxima questão foi se ao ensinar eletrônica, por onde é melhor começar analógico ou digital?
Deve-se começar pelo analógico, pois os "zeros" e os "uns" da eletronica digital não fazem muito sentido para quem deseja aprender. Mesmo por que, ele afirma que é na eletrônica analógica que encontramos os desafios de entender o funcionamento dos circuitos o que não ocorre com a eletrônica digital.
Quantos livros você já publicou? - perguntamos a Bob Pease.
Diversos, mas os principais são o livro "Troubleshooting Analog Circuits", um best seller da eletrônica and "How to Drive into Accidents and How Not to". Ele tem livros editados em inglês, frances e até russo.
E em português, nada?
Bob Pease acredita que o mercado para livros em português é pequeno e porque nenhum editor ainda se propôs a fazer a tradução de seus trabalhos.
Nos Estados Unidos os seus livros vendem em média 30 000 exemplares, e todos os anos novos engenheiros se formam comprando novas edições.
Para quem quer saber mais sobre Bob Pease, sugerimos uma visita no site em sua homenagem.