Algumas invenções foram muito importantes para o mundo da tecnologia. É claro que se considerarmos que todas as invenções são importantes, pois existe um entrelaçamento dos seus efeitos, não poderiam ter destaques. No entanto, as que descrevemos neste artigo consideramos de vital importância para o desenvolvimento da eletrônica.
Chega a Válvula
No começo do século passado tivemos a invenção da lâmpada incandescente por Edison. Outras invenções de Edson ficaram famosas e de algumas delas trataremos mais adiante.
Num bulbo de vidro um fino filamento de tungstênio era percorrido por uma corrente e então se aquecia ao ponto de emitir luz. Edson fez várias tentativas antes, mas o filamento se queimava rapidamente ao ser aquecido até que ele descobriu que bastava retirar o ar (faz o vácuo) para que, não havendo ar, não havia combustão e o filamento permanecia aquecido por muito tempo, enquanto houvesse corrente.
A lâmpada incandescente durou o século todo praticamente como fonte mais econômica de luz, sendo usada na iluminação de quase tudo. No final do século passado, juntamente com as lâmpadas fluorescentes passou a ser substituída pelas lâmpadas de LEDs e devem desaparecer em pouco tempo.
Ainda são usadas em algumas aplicações em que as lâmpadas de LEDs não podem. Iluminação num forno de cozinho, por exemplo, onde uma lâmpada de LEDs não suportaria a temperatura.
Algum tempo depois da descoberta de Edison, um pesquisador chamado Fleming descobriu que se fosse colocada uma placa adicional dentro da lâmpada fluía uma corrente do filamento para ela através do vácuo. No entanto, a corrente fluía do filamento para a placa e nunca ao contrário. O dispositivo chamado “diodo de Fleming” podia conduzir a corrente num único sentido e funcionava como detector. Mas, ele não ampliava os sinais, apenas detectava.
O avanço maior ocorreu quando Lee DeForest, um americano descobriu que, se entre o filamento e a placa fosse colocada uma grade de metal, era possível controlar a corrente entre o filamento e a placa com um pequeno “sinal” elétrico aplicado a essa grade.
E o que é mais importante: um pequeno sinal podia controlar uma corrente maior, ou seja, o dispositivo assim criado “amplificava” os sinais. Uma revolução na eletrônica ocorreu então.
A válvula triodo, como foi chamada por ter três eletrodos, podia ampliar os sinais do detector de um rádio e assim obter som suficiente para alimentar um alto-falante que então havia sido inventado para isso.
Na verdade, podia mais. Ela podia ser usada para gerar sinais de rádio e amplificar sinais de outras fontes como, por exemplo, um fonocaptor ou pick-up de toca-discos, que era uma das invenções de Edison que se tornaram populares.
Os rádios se tornaram sensíveis, podendo até captar as estações de ondas curtas de outros países, e entrava nos lares o toca-discos ou “fonógrafo” como eram chamados na época.
Os discos de vinil, então usados nos gramofones se tornaram a maior fonte de entretenimento da época, junto com o rádio, e hoje tendem a voltar, é lógico com aperfeiçoamentos.
O rádio e a eletrola se tornaram nos anos 30 aos anos 50 os aparelhos mais importantes da casa. As pessoas se reuniam a sua volta para ouvir música ou para ouvir os programas.
As “radionovelas” se tornaram muito populares no Brasil naquela época, onde o horário de ficar perto do rádio era sagrado.
Os rádios valvulados, assim como outros aparelhos da época, eram grandes e consumiam muita energia.
Para funcionar uma válvula precisa ser aquecida e opera com alta tensão uma boa quantidade de eletricidade é usada exigindo alimentação pela tomada.
Existiam rádios valvulados especiais que funcionavam com baterias, mas as baterias eram muito caras e duravam poucos. O rádio “portátil” valvulado era usado só em ocasiões especiais.
É claro que a tecnologia sempre leva as pessoas imaginarem as coisas mais estranhas baseadas em soluções que ela realmente pode dar ou pensam que pode dar.
Muitos pesquisadores da época, por exemplo, acreditavam que as ondas de rádio seriam uma maneira de se fazer contatos com os mortos e até mesmo ser usados por comunicações “cérebro a cérebro”.
Diversos experimentos e até mesmo teorias foram elaboradas com a finalidade de se desenvolver equipamentos. Até hoje existem pesquisadores que trabalham com esta possibilidade no que seria a ITC (Instrumental Transcommunication – Transcomunicação Instrumental).
É interessante notar, e sempre nos batemos nesse assunto, muito do que no passado era considerado “paranormal” e, portanto, não aceito pela ciência convencional, como o tempo descobriu-se que tem fundamento científico e que merece estudos.
Falaremos desse assunto ao tratarmos do presente e do futuro.
A válvula se aperfeiçoou com a criação de tipos com mais de uma grade e novas técnicas possibilitaram o aparecimento de novos aparelhos. Também surgiram novos tipos de receptores.
Assim, do tipo mais simples chamado “de amplificação direta” que simplesmente aumentava a intensidade do sinal detectado aplicando a fones ou alto-falante, surgiram os regenerativos, super-regenerativos, neutrodinos e finalmente super-heteródinos que é a tecnologia ainda usada.
Também surgiu nesta época a técnica de transmissão em FM ou Frequência Modulada, criada por Armstrong (1933), um engenheiro americano que percebeu que um tipo de modulação diferente da usada nas rádios comuns que era a amplitude modulada (AM) poderia resultar e melhor qualidade de som e maior imunidade às interferências.
O FM passou então a ser usado na transmissão de música de qualidade a até hoje persiste (não sabemos por quanto tempo, por conta dos avanços da modulação digital).
Os Jornalistas da Época
A multiplicação das estações de rádio deu oportunidade não só para os técnicos, como também para uma categoria de profissionais que logo revelou muitos talentos.
Os radialistas que, com suas vozes características, apresentavam programas que eram grande sucesso na época. Foi Nicolau Tuma que em 1933 inventou o termo “radialista” para designar os profissionais do rádio.
Um caso que ficou famoso é o de Orson Welles que apresentava nas rádios americanas uma série denominada “Guerra dos Mundos”. Ele era tão convincente em sua narração que, descrevendo em detalhes a descida de discos voadores tripulados por marcianos em Nova York causou tal pânico que as autoridades tiveram de intervir.
Pessoas saindo nas ruas gritando, pessoas fugindo ou se escondendo foi apenas uma parte do que sucedeu. Posteriormente, o episódio se transformou em filme.
Orson Welles também foi ator de cinema com filmes famosos como o Cidadão Kane de 1941.
O Brasil entrou na era do rádio no dia 7 de setembro de 1922 quando foi instalada no Corcovado uma estação para transmitir o discurso do presidente Epitácio Pessoa.
O transmissor Westinghouse tinha 500 W de potência, e somente em 1923 que as transmissões começaram oficialmente com a Rádio Roquete Pinto entrando em funcionamento.
Vieram depois muitas outras estações, como a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Radio Record de São Paulo e outras que espalhadas pelo Brasil, tinham suas programações próprias possibilitando assim a difusão do uso do rádio.
Uma curiosidade dessa época é que as transmissões eram inicialmente em ondas médias e somente algumas emissoras começaram a adotar as ondas curtas que possibilitavam a audição de seus programas em regiões remotas.
No entanto, por questões de propagação havia um fato interessante que ocorria. No interior de São Paulo, por exemplo, e no Nordeste era mais fácil captar as estações do Rio de Janeiro do que de suas capitais.
Assim, como os primeiros programas de sucesso foram as narrações esportivas, justifica-se que ainda hoje, os times do Rio de Janeiro tenham tantos torcedores nesses locais.
Muitos nomes que depois se tornaram famosos com a TV como Chico Anísio, Abelardo Barbosa (Chacrinha), começaram no rádio.