Algumas invenções foram muito importantes para o mundo da tecnologia. É claro que se considerarmos que todas as invenções são importantes, pois existe um entrelaçamento dos seus efeitos, não poderiam ter destaques. No entanto, as que descrevemos neste artigo consideramos de vital importância para o desenvolvimento da eletrônica.
Surgem o Makers e as Revistas Técnicas
O que hoje chamamos de makers ou fazedores, naquela época eram os fanáticos por eletrônica que possuíam em suas casas, geralmente na garagem, oficinas cheias de ferramentas e instrumentos onde montavam coisas da eletrônica, que era a tecnologia do momento.
Muitas empresas surgiram para vender “kits” na década de 20, que eram conjunto de componentes a partir dos quais era possível montar rádios, amplificadores, intercomunicadoras, alarmes, e outros aparelhos que passaram a fazer parte da vida de muitas pessoas.
Quem não se lembra da “oficina do vovô” que ainda pode ser o ponto de partida dos novos montadores (vamos explicar como entrar no mundo da tecnologia usando como base coisas antigas, para aprender e para usar no final deste livro).
Para ser um maker ou “hobista” bastava saber soldar e, é claro, conhecer as técnicas básicas de interpretação dos diagramas e ferramentas básicas.
Uma categoria especial de maker daquela época eram os radioamadores, uma nova espécie de adeptos da tecnologia da comunicação, criando uma rede que, podemos dizer, era uma espécie de precursora da Internet.
Com seus aparelhos de rádio, comprados prontos ou montados, eles se comunicavam, num “chat” mundial, pois com frequência, dependendo de condições favoráveis da propagação das ondas era possível falar com outros qualquer lugar do mundo.
Os radioamadores ainda existem hoje, mas diminuem aos poucos, pois tecnologia da internet facilmente substitui a que usam.
O rádio e a eletrola começaram a deixar de ser os únicos aparelhos eletrônicos na vida das pessoas. Mas, ainda havia um ponto a ser observado: esses aparelhos eram parte das casas das pessoas e não das próprias pessoas. Havia um distanciamento que começo a desaparecer nos anos seguintes.
No momento em que a eletrônica e a eletricidade deixaram de ser um mistério surgiram nesta publicações especializadas e lojas que de componentes, para atender um novo mercado.
Chegaram os “makers” que em oficinas em suas garagens ou mesmo dentro de suas casas montavam “coisas” do mundo da tecnologia.
Revistas como Popular Electronics, Radio Electronics, Wireless World, Electrical Experimenterr surgiram para divulgar projetos e anunciar as novidades do mundo da eletrônica. No Brasil, apareceram revistas como a Antenna, Revista radiotécnica de nosso amigo Fanzeres, e Revista Monitor.
Na capa da Revista Electrical Experimenter - ciência e invenção, temos um curioso registrador de ondas cerebrais, mostrando que já se pensava em coisas ligadas à interação da eletrônica com organismo humano naquela época.
O mundo dos montadores e dos técnicos que estudavam por correspondência e que abriam oficinas para reparar os milhões de valvulados se ampliou.
Mas, a vida do amador da eletrônica, o “hobista” como então eram chamados não era muito fácil principalmente em países como o nosso. Os componentes eram caros, e não havia tudo, muito tinha de ser feito “na raça”.
Para montar um aparelho valvulado, por exemplo, você tinha de fazer o chassi de metal, dobrando e furando chapas de metal, parafusando as partes e só então soldando as partes. Era trabalhoso.
A tecnologia da época deixou, entretanto, algumas coisas que até então são discutidas e muitos acham que são insubstituíveis.
Hugo Gernsbak
Se existem personalidades do passado que contribuíram para a divulgação da tecnologia, uma que não pode ser esquecida é Hugo Gernsback.
Considerado o "Pai da Ficção Científica" ele também fundou uma das principais revistas de eletrônica quando não se falava ainda de eletrônica (veja item anterior) e foi autor de mais de 80 invenções patenteadas na época, coisas que só se tornaram viáveis muito tempo depois mostrando toda a capacidade deste visionário.
Hugo Gernsback é considerado o pai da ficção científica tendo sido o editor da primeira revista de eletrônica do mundo. Esta revista, chamada de Modern Electrics apareceu em 1908. Em 1925 Hugo fundou uma estação de rádio e depois diversas outras revistas que se tornaram muito conhecidas até os dias de hoje, como a Radio Craft que se tornou depois a Radio Electronics (fechada na época em que escrevo este artigo).
Além das revistas técnicas de eletrônica Hugo também editou revistas de ficção científica como Amazing Histories, Wonder Stories e outras.
Hugo Gernsback tinha um relacionamento muito estreito com cientistas da época como, por exemplo, Lee DeForest que foi o inventor da válvula triodo a partir da qual a eletrônica pode avançar de uma forma muito rápida rumo aos aparelhos que hoje conhecemos.
Hugo deixou milhares de artigos sobre eletrônica, ficção científica e invenções envolvendo eletrônica que deixaram o mundo perplexo diante da sua capacidade de visão do futuro.
Dentre as invenções destacam-se a televisão solar, aparelhos para evitar ruídos ambientes, novos materiais como o plástico, um drone submarino, etc.
Uma das mais interessantes patentes de Hugo Gernsback é o osophone, um aparelho que aproveitava o fato dos nervos auditivos poderem ser excitados a partir dos dentes. A ideia era permitir que os surdos ouvissem através dos dentes usando o osophone! Mais adiante descrevemos e essa ideia em pormenores transposta para telefonia celular de nossos tempos.
Hugo Gernback nasceu no Luxemburgo em 1884 e morreu nos Estados Unidos em 1967. O "Hugo Gernsback Award" é até hoje oferecido anualmente aos autores dos melhores contos de ficção científica.
Hugo Gernsback também foi o criador das famosas histórias de "primeiro de abril" publicadas na revista Radio Electronics. Sob o pseudônimo de Mohamed Ulysses Fipps ele descrevia projetos muito interessantes com fundamentos técnicos impecáveis que, no entanto não levavam a nada ou não funcionavam, pois eram realmente uma "pegada" de primeiro de abril. Coisas como amplificador de ganho zero e nível zero de ruído (em que o sinal de entrada, ao se analisar o diagrama, era levado diretamente para a saída sem passar por circuito algum e coisas semelhantes. Nosso amigo autor nacional Aldo Vilela é um dos seguidores do Primeiro de Abril de Gernsback tendo publicado diversas estórias de primeiro abril "eletrônico" em revistas da década de 70 e 80.
Uma curiosidade que mostra a inventividade de Gernsback é o projeto de um “drone” submarino publicado na revista Electrical Experimenter de 1917. Trata-se de um torpedo submarino dirigido por sinais através de um cabo que se desenrolava à medida que ele navegava rumo ao alvo.
A Alta Fidelidade
Nessa época surgiram amplificadores de som de qualidade fantástica denominados Hi-Fi ou High Fidelity.
Usando pesados transformadores “ultralineares”, alguns com mais de 5 kg, e válvulas de qualidade esses amplificadores produziam som de qualidade que até hoje, muitos adeptos que ainda usam tais aparelhos, dizem que não pode ser comparada a dos transistores e circuitos integrados atuais.
Esses adeptos do som de válvula ainda preferem seus amplificadores valvulados, e existem até empresas que vendem aparelhos de qualidade fabulosa a preços igualmente “fabulosos”.
Por exemplo, existe uma empresa inglesa que fabrica suas válvulas com eletrodos internos revestidos de outro para evitar um efeito que afeta a qualidade do som denominado “emissão secundária” e que custam uma fortuna.
Um simples amplificador desta empresa com apenas uns 10 W de saída chega a custar 10 000 libras (quase 50 000 reais!).
Para os que estudam eletrônica mais profundamente, realmente ao se analisar as características das válvulas e dos modernos transistores, podemos perceber que elas possuam vantagens neste tipo de aplicação.
Hoje, os makers contam com placas de desenvolvimento e microcontroladores capazes de fazer muita coisa, usando shields prontos, breakout boards e na maioria dos casos, complementados por circuitos montados em placas de circuito impresso ou mesmo matrizes de contato.
Projetos avançados usando wireless, e que podem ser embutidos nas coisas ou em roupas levam a nova modalidade de aplicações, na internet das coisas (IoT) e nos vestíveis.