Nos primeiros anos da televisão não havia a suspeita de que, por trás daquela maravilha também existissem perigos imediatos para os usuários. Somente depois de algum tempo é que a descoberta de que os cinescópios além da imagem agradável também geravam boas doses de raios X é que a saúde do telespectador passou a ser olhada por um ângulo diferente. Uma severa legislação fixou então níveis seguros para a emissão de radiação por parte dos cinescópios e o problema foi esquecido. No entanto, com a difusão do computador, e com ele dos monitores de vídeo, o problema volta a ser observado de uma forma mais intensa: será que a utilização constante de um computador oferece perigo pelas radiações que emite? Neste artigo vamos abordar esse problema com alguns pormenores que, sem dúvida, vão deixar o leitor usuário do PC muito mais tranqüilo.

Obs.: Este artigo é de 1995, época em que os monitores de vídeo ainda eram dos tipos com cinescópio, o que não ocorre em nossos dias.

Os monitores de vídeo, exatamente como os televisores, utilizam tubos de raios catódicos ou cinescópios cujo princípio de funcionamento certamente todos os leitores conhecem: feixes de elétrons são produzidos por canhões eletrônicos e acelerados de encontro a uma tela recoberta com fósforo. O impacto dos elétrons faz com que o fósforo emita luz e assim seria produzida a imagem.

 

Funcionamento de um cinescópio monocromático.
Funcionamento de um cinescópio monocromático.

 

Ocorre, entretanto, que o impacto dos elétrons contra o anteparo que é a tela do cinescópio não gera apenas luz, mas outras formas de radiação.

Uma delas é a formada por ondas eletromagnéticas de comprimento menor que o da radiação ultravioleta, mas ainda maior do que o da radiação gama ou cósmica, conforme mostra o espectro da figura 2.

 

Raio X, Ultravioletas e outras radiações no espectro eletromagnético.
Raio X, Ultravioletas e outras radiações no espectro eletromagnético.

 

Essa radiação, que foi descoberta por Röentgen em novembro de 1895, tinha características bastante misteriosas que não foram bem compreendida na época, daí sua denominação: raios-X.

Os raios X são muito penetrantes, pois seu curto comprimento de onda permite que ele "passe" por entre os átomos de materiais sólidos, sendo bloqueados apenas por substâncias mais densas.

No entanto, como toda forma de energia ionizante (ondas eletromagnéticas) de maior intensidade, os raios X possuem efeitos destrutivos quando atuam sobre substâncias vivas.

Usados largamente para as famosas radiografias, os raios X logo se revelaram perigosos quando aplicados em intensidade ou com regularidade muito grande.

 

Os raios X são produzidos pelo impacto de elétrons por tensões muito altas.
Os raios X são produzidos pelo impacto de elétrons por tensões muito altas.

 

A cada aplicação esses raios podiam alterar o DNA de uma célula causando sua destruição ou modificações imprevisíveis de seu comportamento, o que levava inclusive aos casos extremos de afetar seriamente a medula com a indução à leucemia.

Hoje sabemos que os raios X podem ajudar, pois as radiografias ainda são usadas, mas a sua aplicação é limitada e as potências devem ser as menores possíveis, pois seus efeitos cumulativos são perigosos: uma célula destruída hoje não pode ser recuperada amanhã.

Na verdade, a probabilidade de uma célula importante de nosso corpo ser afetada por radiação é muito pequena mas não é nula: se trabalharmos muitas horas por dia diante de uma fonte em potencial de raios X pode não nos acontecer nada durante em anos, mas certamente a probabilidade de que ocorra é muito maior do que para uma pessoa que não trabalhe nas mesmas condições. Vale à pena arriscar?

Se na medicina os raios X são necessários, mas devem ser usados controladamente, no nosso dia a dia sua presença não pode ser considerada amistosa.

Muito pelo contrário: não devemos conviver com este tipo de radiação, o que significa que nenhum equipamento de uso doméstico deve emitir este tipo de radiação.

Ao contrário do que pode parecer, entretanto, a produção de raios X por aparelhos eletrônicos não é tão incomum, o que nos leva a necessidade de uma vigilância constante.

No caso dos televisores, existe uma regulamentação feita nos Estados Unidos pela FDA (Food and Drug Association) que define o nível máximo dos raios X que podem ser emitidos por um televisor.

 

Radio máxima admitida para um monitor de vídeo.
Radio máxima admitida para um monitor de vídeo.

 

Esse limite é de 0,5 milirroentgen por hora a uma distância de 5 cm da tela. Naquele país, dispositivos que tenham um grau de emissão maior que esse não podem ser vendidos.

Para os monitores de vídeo de computadores as medidas de emissão de raios X são feitas sob condições extremas, ou seja, aquelas que dificilmente ocorrem em condições normais como, por exemplo com o controle de brilho todo aberto, ou simulando uma falha que produza o feixe eletrônico mais intenso possível.

O que minimiza bastante a ocorrência de raios X do lado externo de televisores e monitores de vídeo é a presença de chumbo nos vidros usados nos cinescópios, que funciona como verdadeira blindagem.

De qualquer maneira, se existem uma legislação bastante severa a este respeito nos Estados Unidos, é bom estar atento em nosso país, onde muitos equipamentos não passam por qualquer tipo de avaliação técnicas antes de chegar ao consumidor.

Será que os monitores importados que são vendidos no nosso país estão dentro das mesmas especificações exigidas pela lei americana?

Mas não é só a emissão de raios X que deve preocupar os usuários de computadores, se bem que, conforme vimos seus níveis podem ser muito baixos nos equipamentos normais, para se tornar fonte de preocupações.

 

RÁIOS ULTRAVIOLETA E MICRO-ONDAS

Juntamente com a luz visível, o impacto dos elétrons contra o fósforo também produz radiação dentro da faixa dos raios ultravioleta.

Se bem que a maior parte dos comprimentos de onda menores, acima de 3 500 Angstrons, seja absorvida pelo vidro e portanto não chega a escapar do cinescópio ainda assim existe um certo nível de emissão com que se preocupar.

O que se sabe é que os monitores emitem ultravioleta num nível que corresponde a aproximadamente 5% da radiação visível. É um nível bastante baixo, se considerarmos que as lâmpadas fluorescentes comuns têm um nível de emissão de ultravioleta da ordem de 20%.

 

Emissão de uma lâmpada fluorescente comum.
Emissão de uma lâmpada fluorescente comum.

 

A principal vantagem que temos, entretanto, em relação a este tipo de emissão é que os raios ultravioleta, diferentemente dos raios X, não são tão penetrantes e por isso não ultrapassam muito a nossa pele. No entanto, sabemos que seus efeitos são cumulativos, e o excesso de exposição a esta radiação causa câncer de pele.

Desta forma, pelos níveis de emissão, tanto televisores como monitores de vídeo não devem causar qualquer preocupação em relação à radiação ultravioleta.

Para as microondas também podemos fazer afirmações tranquilizadores.

As microondas não consistem em radiação ionizante capaz de afetar as células vivas. O efeito usado nos fornos de microondas é a agitação das moléculas gerando calor, ou seja, o aquecimento dielétrico.

 

Princípio de operação do forno de microondas.
Princípio de operação do forno de microondas.

 

Assim, os alimentos cozinham nos fornos de microondas pela enorme potência (centenas de watts) que são emitidos e absorvidos numa câmara especial.

Níveis menores de microondas como os emitidos por um monitor de computador ou um televisor não conseguem produzir calor a ponto de causar qualquer dano a um ser vivo, mesmo conseguindo penetrar nos tecidos.

É importante observar que os computadores não geram microondas apenas pelos seus monitores. As harmônicas das frequências de operação dos circuitos atingem esta faixa e uma pequena parcela (muito pequena) do espectro de microondas é preenchida com radiação nesta faixa de altas frequências.

 

CAMPOS DE BAIXA FREQUÊNCIA

Uma forma de radiação algo preocupante que é emitida pelos computadores (e na verdade todos os aparelhos elétricos e eletrônicos) é a que se situa no espectro de frequências muito baixas (VLF e ELF) entre 30 Hz e 300 kHz e que pode causar problemas de saúde, muitos dos quais ainda controvertidos.

O que ocorre é que campos de baixas frequências como os provocados por linhas de transmissão, transformadores, bobinas de deflexão de cinescópios parecem ter alguma influência sobre o tecido vivo. Em outro artigo deste site falamos da preocupação de diversos países com a relação entre determinados tipos de câncer e os campos gerados por linhas de transmissão de energia.

Ao que parece as células têm uma tendência natural de ressoar em frequências baixas como as produzidas por diversos eletrodomésticos (incluindo-se os televisores e monitores de vídeo) podendo ser alteradas ou destruídas, com consequências muito perigosas.

No entanto, as pesquisas ainda não são completas se bem que alertas já tenham sido lançados no sentido de se determinar estatisticamente se existe ou não uma incidência maior de determinadas doenças entre os operadores de computadores...

 

CONCLUSÃO

O perigo está em toda parte. Não podemos dizer se o que os canhões do seu monitor de computador emite pára na tela e não vai além atingido o operador...

De qualquer forma cautela e principalmente atenção devem ser dadas a este ponto. Verifique se seu monitor de vídeo ou seu televisor importado possuem as especificações de segurança quanto a emissão de raios X e outras radiações que são adotadas no primeiro mundo. O baixo custo com que algumas marcas chegam ao nosso país pode ser muito suspeito, principalmente se não soubermos por que talvez elas não estão sendo aceitas em países do primeiro mundo...