Com o advento de novas formas de iluminação ambiente e o aumento do rendimento dessas fontes, elevando o nível de poluição visual, o ritmo circadiano das pessoas (e animais) pode ser alterado gerando uma nova forma de preocupação com o meio ambiente. Veja nesse artigo como esta nova forma de poluição está nos ameaçando.
Temos um relógio biológico que determina o funcionamento de nosso organismo segundo o ciclo do dia e da noite. Durante o dia estamos despertos e ativos para realizar as atividades normais e à noite, o organismo relaxa nos levando a um estado de sonolência preparando-nos para o repouso.
Este ciclo do dia e da noite sincroniza nosso relógio biológico determinando o que se denomina ritmo circadiano.
O bem estar das pessoas e até mesmo sua saúde estão influenciados por esse ritmo. Nosso organismo precisa acompanhar este ritmo para que tenhamos uma vida normal.
No entanto, com a tecnologia estamos alterando este ritmo e com isso alterações importantes começam a ser notadas nas pessoas que são diretamente afetadas pela não observância desse ritmo.
Se bem que possamos citar como exemplo as pessoas que trocam o dia pela noite em suas atividades profissionais, existem outros fatores que devem ser levados em conta e que até precisam ser considerados pelas autoridades que cuidam da nossa saúde.
A Luz é Importante
Segundo estudos realizados em diversas universidades, a responsabilidade pela percepção das mudanças entre o dia e a noite está nas células de nossos olhos que reconhecem a luz azul.
Esses estudos mostram também que a temperatura da luz acima de 5000º K suprime a produção de melatonina (MLT) que é o hormônio produzido durante a noite e que regula o ritmo circadiano no organismo.
Segundo se afirma também a exposição a uma radiação que corresponda a essa temperatura faz com que a redução da melatonina (MLT) torne o organismo sensível ao câncer de mama, cólon-retal e próstata.
Quando a temperatura da luz cai abaixo dos 2000º K a redução dos perigos é ainda maior.
Temperatura da Luz – O que significa
O emissor ideal de luz é um corpo negro que ao ser aquecido produz radiação que se espalha pelo espectro magnético.
Assim, se considerarmos um corpo negro, à medida que ele é aquecido, o espectro emissor vai se deslocando com picos que cada vez mais tendem aos menores comprimentos de onda e portanto a predominância da cor que vemos esta emissão.
Um corpo mais frio emite uma luz com predominância do vermelho, tendendo ao azul ao medida que a temperatura se eleva.
Tudo isso pode ser visualizado num gráfico que devemos a Stefan-Boltzman e que é mostrado na figura 1.
Observe que, quanto mais “quente” estiver o corpo, maior é o nível de radiação na faixa dos menores comprimentos de onda, que justamente correspondem à cor azul.
Voltando ao Nosso Ritmo Circadiano
O principal sensor que nos informa sobre as mudanças entre o dia e a noite, sincronizando nosso relógio biológico é um sensor de luz que se baseia justamente nos comprimentos de onda da cor azul.
Ao que parece isso se deve ao fato de que a presença da luz azul está diretamente relacionada com o dia, pois à medida que o sol se põe, por exemplo, a intensidade da luz azul é a que decresce mais rapidamente.
No crepúsculo o céu vai se tornando gradativamente amarelo e depois vermelho, cortando inicialmente as radiações de menor comprimento de onda, ou seja, começando pelo azul.
Com a iluminação artificial disponível, os efeitos da alteração do ritmo circadiano não se tornaram importantes pelo simples motivo de que a iluminação de velas e depois de lâmpadas incandescentes é pobre nas radiações de menor comprimento de onda, conforme mostra a curva de emissão da figura 2. Nela também temos a curva de emissão dos LEDs brancos.
Assim, a iluminação de velas, lampiões e lâmpadas incandescentes, faz com que nossos sensores não associem sua luz ao dia, e a sonolência da noite se mantém.
Este tipo de iluminação não ajuda a nos manter despertos, justamente pela falta do azul.
No entanto, estamos passando por uma transição, em que a lâmpada econômica (gás) e a lâmpada fluorescente já contem uma componente razoável de azul, interferindo no ritmo circadiano e agora a mais perigosa que a lâmpada de LEDs.
No gráfico da figura 2 mostra a quantidade de melatonina que é suprimida quando nos expomos aos diversos tipos de fontes de luz;
Mas o que nos preocupa é que a iluminação noturna das cidades está crescendo a um ritmo incontrolável assim como o uso de lâmpadas de LEDs comuns.
Por exemplo, um mapa da iluminação das cidades feito por um pesquisador e mostrado na figura 3 mostra que em alguns locais do mundo, a luz urbana é tanta que não se consegue ver o céu noturno.
Esse mesmo pesquisador mostra que somente em poucas regiões do mundo se consegue ver a Via Láctea à noite e na maioria das cidades somente as estrelas de maior brilho e planetas como Júpiter, Venus e Marte podem ser vistos à noite, conforme mostra a figura 4. Nesse mapa temos a visibilidade do céu numa cidade, nos subúrbios, indo até a região de céu mais escuro nas zonas rurais afastadas.
Tudo isso poderia apenas significaria que à noite nessas cidades seria mais clara com mais luz, sem nos afetar se a iluminação não tivesse uma componente azul perigosa que está aumentando.
Nos tempos em que iluminação era apenas com lâmpadas incandescentes comuns isso realmente ocorria e não havia perigo.
No entanto, muitas cidades estão trocando a iluminação pública e de painéis publicitários por LEDs lâmpadas de LEDs.
Estivemos em Nova Iorque recentemente (junto de 2016) e constatamos pessoalmente o que ocorre. Na figura 5 temos uma foto de Times Square à noite.
As ruas de Nova Iorque passaram também a ter iluminação de LEDs e as luzes da região central (Timer Square e Broadway) são extremamente fortes. Tivemos problemas no nosso hotel na sétima avenida que, mesmo com a cortina fechadas ainda recebia muita luz durante à noite.
Como esta luz tem uma forte componente azul, os efeitos sobre o ritmo circadiano aparecem. Não se sente sono à noite em nova Iorque!
Ao que parece a letra da canção New York, New York imortalizada por Frank Sinatra em que ele diz que a “cidade nunca dorme” realmente parece mais do que nunca está se tornando uma realidade, agora com a iluminação de LEDs.
Mas, não é apenas o ritmo circadiano que é afetado pela presença de componente azul da luz.
Já foi constatado pelos pesquisadores que a mudança do ritmo, induzida pela presença da luz azul e momentos indevidos pode até causar doenças, havendo pesquisadores que até estão associando isso a determinados tipos de câncer, conforme já dissemos no início deste artigo.
O problema pode ser mais grave do que imaginamos. A beleza da iluminação noturna de uma cidade ou mesmo de um ambiente em que frequentemos precisa ser analisado com mais cuidado.
Atenção Para a Saúde
Conforme constatamos, a presença da componente azul na iluminação noturna deve ser analisada com cuidado tanto por nós como pelas autoridades.
Por exemplo, deve-se considerar que a iluminação ambiente de residências em ambientes em que se deseja manter o ritmo circadiano normal, sem afetar nosso bem-estar e até expor a problemas mais graves, deve ter a componente azul reduzida.
Talvez a insônia de algumas pessoas seja devida a presença dessa componente. Algo que deve ser estudado.
Assim, lâmpadas com componentes azuis menores devem ser consideradas. Algumas lâmpadas de LEDs já oferecem esta possibilidade. São aquelas em que a “temperatura” da luz menor.
São as lâmpadas de OLEDs (LEDs orgânicos) cuja temperatura da luz emitida é a mesma de uma vela, ou seja, em torno de 1 900º C não inibindo a produção da melatonina. Na figura 6 a estrutura de um OLED.
Uma luz levemente “amarelada” no quarto, com menor componente azul é mais saudável do que a luz brilhante branca que tem uma componente azul mais intensa.
Da mesma forma, deve ser considerado este fator na iluminação de lugares públicos, por exemplo, nas ruas.
Algo para ser analisado pelas autoridades ao determinar o tipo de lâmpada que deve ser usada em determinadas aplicações e até mesmo colocar rótulos de alerta nas lâmpadas, indicando seu uso apropriado.
É claro que estudos mais profundos devem ser realizados e com isso verificar até que ponto a poluição da luz nos afeta.
Para saber mais: