Algumas invenções foram muito importantes para o mundo da tecnologia. É claro que se considerarmos que todas as invenções são importantes, pois existe um entrelaçamento dos seus efeitos, não poderiam ter destaques. No entanto, as que descrevemos neste artigo consideramos de vital importância para o desenvolvimento da eletrônica.

Este artigo faz parte do meu livro “Viagem pelo Mundo da Tecnologia” onde, além de destacarmos as grandes invenções e suas influências em nossos dias, comentamos as invenções atuais e o estado da tecnologia que usamos e o que pode vir no futuro.

 

O Século XX

Entramos no mundo da tecnologia do século XX já com algumas invenções importantes sendo plenamente usadas e a cada ano, aperfeiçoamentos eram anunciados, novas aplicações e a descoberta de dispositivos novos que revolucionariam tudo que havia antes.

O rádio, recém-inventado era ainda precário. As primeiras transmissões usavam estações enormes que tinham como geradores de sinais motores e enormes bobinas centelhadoras.

Hertz havia descoberto que podemos gerar ondas de rádio a partir de faíscas elétricas e pesquisadores como Marconi, Landel de Moura no Brasil, começaram a fazer experimentos transmitindo sinais pelo ar.

Logo esses sinais, que antes só eram usados para sinais telegráficos, começaram a ser usados para se transmitir a voz e outros sons.

Surgiram então as estações de radiodifusão ou “broadcasting” com enormes transmissores e antenas em torres.

Heavside havia descoberto que as ondas curtas podem viajar de um continente a outro vencendo a curvatura da terra, pois seriam refletivas por camadas ionizadas na alta atmosfera da terra.

 

Figura 1 – reflexão das ondas na ionosfera
Figura 1 – reflexão das ondas na ionosfera

 

O rádio tomou conta da terra, mas os receptores era ainda precários.

Um rádio comum na época tinha uma enorme antena que consistia num fio esticado, normalmente no telhado da casa.

Da antena ia um fio para um circuito formado por uma bobina e um capacitor para sintonizar a estação desejada. Depois vinha um detector, que era o ponto crítico do aparelho.

A finalidade era separar das “ondas” de alta frequência o sinal de som que deveria ser ouvido.

Naquela época as mais estranhas ideias de como “detectar” ondas de rádio apareceram. Achava-se que a qualidade da recepção seria tanto maior quanto melhor fosse o detector. Temos um livro que trata somente de processos de detecção daquela época.

Hoje sabemos que para detectar um sinal basta ter um diodo, ou seja, um componente ou qualquer coisa que conduza a corrente num único sentido. Naquela época este conhecimento era precário e muitos iam mais por tentativas e erros.

Assim baseado na ideia ainda de que havia eletricidade natural e animal, foi apresentado um detector de rádio que usava a famosa “perna de rã”. Uma ideia certamente não muito prática que não seria certamente aceita pelos que protegem a natureza. Todas as vezes que quiséssemos ouvir rádio teríamos de matar uma pobre rã.

 

Figura 2 - O detector fisiológico de Lefreuvre (entre 1910 e1925)
Figura 2 - O detector fisiológico de Lefreuvre (entre 1910 e1925)

 

Tivemos muitas ideias de detectores usando substâncias químicas e arranjos de metal como o famoso coesor de Branly que consistia num pequeno tubo de vidro cheia de limalha de metal.

Mas, certamente o mais popular era o detector de cristal, que usava um cristal de galena (um óxido de chumbo natural) que deu origem aos famosos rádios de galena mas anos 10 e 20 do século passado.

 

Figura 3 - Detector de galena ou cirtal de zinco de 1917
Figura 3 - Detector de galena ou cirtal de zinco de 1917

 

O importante é que os sinais que apareceviam no detector eram correntes elétricas que correspondiam aos sons transmitidos.

Se aplicadas a um fone de ouvido, por exemplo, era possível então ouvir o som original transmitido. Tínhamos então um “radio completo”, um rádio de galena que até hoje ensino a montar e muitos também o fazem como a “primeira montagem eletrônica”, pois são muito simples.

Mas, esses rádios eram ainda precários, o som obtido no fone dependia totalmente da energia da estação captada pela antena, que deveria ser a mais longa possível e a estação potente. Não havia amplificação do sinal, o que só foi conseguido depois com a chegada das válvulas.

No meu site o leitor pode encontrar diversos projetos de rádios desse tipo que enquanto existirem as estações AM ainda funcionarão.

 

Landell de Moura

A idéia do rádio não pode ser atribuida a uma única pessoa, se bem que se apregoe no mundo que seu inventor foi Marconi. Na realidade, muitos trabalham na criação de sistemas capazes de usar ondas de rádio na transmissão de mensagens depois que Hertz anunciou sua descoberta.

Lembramos que Hertz foi o que primeiro produziu ondas de rádio num laboratório, fazendo o que seria a primeira transmissão usando estes recursos, baseado nas teorias de Maxwell anteriormente divulgadas.

No Brasil tivemos o nosso cientista que na época desenvolveu técnicas de radiotransmissão, que usou na prática antes mesmo de Marconi. Trata-se do Padre Roberto Landel de Moura.

Landell de Moura enviou sinais de rádio entre pontos diferentes da cidade de São Paulo, antes de Marconi e também teria transmitido a voz e imagens na mesma época sem o devido reconhecimento.

 

 

Figura 4 - Roberto Landell de Moura – Inventor do rádio
Figura 4 - Roberto Landell de Moura – Inventor do rádio

 

 

Somente agora suas descobertas estão sendo revistas com a atribuição do devido valor que possuem.

 

O Padre Landell de Moura é hoje o patrono dos radioamadores do Brasil. Existem detalhes interessantes sobre a vida dele em sites da Internet e em São Bernardo do Campo em São Paulo, existe um museu em sua homenagem, onde réplicas dos seus inventos são expostas.

 

Muito se perdeu sobre seu trabalho quando seu laboratório foi incendiado por pessoas que, não entendendo o valor seu trabalho que estava muito à frente de seu tempo, achavam que ele “tinha parte com o diabo”.

 

Na foto a patente de Landell de Moura nos Estados Unidos, dando-lhe o mérito da criação do telefone sem fio.

 

 

Figura 5 - Patente do telefone sem fio nos Estados Unidos – Novembro de 1904
Figura 5 - Patente do telefone sem fio nos Estados Unidos – Novembro de 1904

 

Luiz Netto, um pesquisador da vida do Padre Landell de Moura certa vez me contou uma estória de um fato interessante que teria ocorrido com o padre na época em que ainda rezava missas em Mogi das Cruzes em São Paulo. Essa estória teria sido contada por um senhor que em sua juventude ajudava o padre em suas missas como “coroinha”.

Conta o entrevistado que naquela época o Padre levava para as missas uma estranha caixa que colocava sobre o altar.

Na homilia, quando o “sermão” era proferido o padre para de vez em quando com sua palavra e dirigindo-se até a caixa se aproximava e falava alguma coisa.

Isso ocorria durante toda a pregação com o padre fazendo interrupções e falando perto da caixa.

Os fiéis, amedrontados e com muito receio, numa época em que nem havia energia elétrica no local, nunca tiveram coragem de perguntar a Landell o que havia no interior da caixa.

Somente depois da morte de Landell é que, analisando os seus papéis descobriram que aquela caixa era um gravador. Ele o havia inventado antes de Edison e já os usava para gravar seus sermões!

 

Tesla e Suas Ideias Avançadas

Nikola Testa, um sérvio nascido em 1856 foi para os Estados Unidos onde realizou a maior parte dos seus experimentos, sendo possuidor de muitas patentes. No campo da tecnologia, principalmente relacionadas com altas tensões.

Tesla tinha uma personalidade excêntrica ficando famoso por algumas de suas experiências com alta tensão. Dizem que “fabricava” raios em casa e os “soltava” nos vizinhos que reclamassem. Muitos se mudaram apavorados por causa disso.

Tesla trabalhou em sistemas de alta potência e corrente alternada, sendo autor da ideia de que a energia elétrica poderia ser transmitida sem fio.

Chegou a construir uma enorme torre cuja finalidade seria a transmissão de energia por campos elétricos de alta tensão. Não chegou a colocar em prática suas ideias neste sentido.

 

Figura 6  -O emissor de energia de Tesla
Figura 6 -O emissor de energia de Tesla

 

 

Por suas ideias excêntricas e avançadas para a época, sua personalidade forte, caiu no ostracismo só sendo reconhecido posteriormente.

Tesla pode ser considerado um dos precursores da robótica e do controle remoto tendo demonstrado uma prática um barco usando controle remoto com ondas produzidas por seus equipamentos.

A bobina de Tesla é hoje um dos muitos projetos interessantes ainda usados em demonstrações que envolvam alta tensão. Em nosso site temos diversos artigos que ensinam a montar a bobina de Tesla.

 

Ouvindo pelos dentes

É interessante observar que mesmo já se separando da biologia do que seria a “eletrônica”, ainda alguns experimentos envolviam “soluções vivas”.

Mas, mesmo esquecendo as soluções vivas com o aparecimento de soluções melhores para detectar e receber os sinais de rádio, um fato curioso mostra como nós humanos estamos ligados a eletrônica de uma forma muito mais íntima do que muitos possam pensar.

Desta forma, um detector possível é o que se forma na junção metálica de uma prótese dentária. Metais diferentes, ou metais com certas propriedades elétricas que formem junções com o tecido vivo podem detectar sinais de rádio.

Em 1994 publicamos uma estória com nossos heróis, Prof. Ventura Beto e Cleto, envolvendo um caso real que ocorreu nos Estados Unidos onde uma prótese dentária se “transformou” num rádio assustando o paciente que passou a “ouvir coisas” dentro de sua cabeça.

 

Figura 7 - Professor Ventura, Beto e Cleto em “O Denteródino”
Figura 7 - Professor Ventura, Beto e Cleto em “O Denteródino”

 

 

O que ocorre é que o nervo auditivo passa perto dos nervos que dão a sensibilidade aos dentes, havendo certa “comunicação” entre eles. Assim, uma junção semicondutora formada entre o dente e a prótese tem a capacidade de detectar sinais de rádio fortes, como um rádio de galena, e detectar esses sinais excitando diretamente o nervo auditivo.

Assim, relata-se que um paciente, após realizar a prótese, indo sua casa, começou a ouvir estranhas vozes e sons que pareciam vir diretamente de sua cabeça.

Assustado, chegou a procurar ajuda psiquiátrica e até achar que havia sido “abduzido” por russos (era época da guerra fria) que teriam implantado nele algum tipo de equipamento de espionagem no pobre sujeito.

Uma análise mais profunda do problema revelou então o que realmente havia ocorrido. O sujeito morava perto das antenas da potente estação de rádio AM local que então induziam no seu dente sinais suficientemente fortes para excitar a junção semicondutora e os nervos, dando assim a sensação sonora.

A ideia de se usar os dentes para receber sinais já foi explorada atualmente de forma interessante.

Uma empresa japonesa, por exemplo, anunciou um celular implantável no dente que seria ativado por comando de voz, e teria o microfone embutido. O fone seria uma conexão direta com o nervo auditivo feita por contato.

Desejando fazer uma chamada, bastaria falar a senha que o telefone seria ativado e então dizer o número. Feita a conexão bastaria falar, pois o ouvir seria diretamente no cérebro.

Seria interessante ver as pessoas na rua falando sozinhas, dando a impressão se serem malucas, quando na verdade estariam conversando em seus celulares implantáveis.

Um fato cômico de tudo isso é que dizem que o problema maior estaria em como fazer a recarga bateria. A solução encontrada não foi bem aceita. Os mais em humorados dizem que seria preciso sentar no carregador, o que certamente não seria muito cômodo.