Este artigo faz parte do livro Instalações Elétricas Sem Mistérios, de 2005. Veja no final do texto algumas observações sobre outros artigos e sobre as novas normas para instalações elétricas domiciliares.

Você constata alguma anormalidade no fornecimento de energia em sua casa, no entanto, na casa da vizinhança está tudo normal. Como proceder?

 

PRIMEIRO CASO: Na sua casa não há energia, nada funciona, mas nas casas vizinhas está tudo normal, uma série de pequenos procedimentos podem ajudá-lo a detectar o problema e até solucioná-lo. O problema pode estar num simples fusível queimado que facilmente será trocado. O primeiro procedimento será:

 

a)Verificar os fusíveis principais. O melhor procedimento e também o mais seguro é o que faz uso de uma lâmpada de prova. Ligando a lâmpada antes do fusível em teste e o neutro, deverá acender se a energia estiver chegando até este ponto, conforme indica a figura 1.

 

Verificando se há energia na entrada da instalação.
Verificando se há energia na entrada da instalação.

 

No entanto, se o fusível estiver aberto, ligando a lâmpada depois do fusível, ela não acende. Se acender, o problema pode estar em outro ponto da casa. Se houver uma caixa de disjuntores, este será o próximo ponto da verificação.

Se não chegar energia até a chave de entrada, ou seja, a lâmpada não acender, quando a ligamos antes dos fusíveis, o problema pode estar nos fios de entrada de sua casa. Neste caso a empresa distribuidora de energia deverá ser acionada.

Teste os dois fusíveis da chave principal e depois, segundo o mesmo procedimento, teste os fusíveis das chaves de distribuição.

O outra forma de se testar os fusíveis é fazendo sua troca por outros em bom estado. No entanto, para isso desligue a chave geral, e com cuidado proceda a troca. Se o fusível retirado estiver muito quente é sinal de que pode ter sido queimado por uma sobrecarga ou outro motivo. Veja a figura 2.

 

Um fusível aquecido pode ser sinal de sobrecarga.
Um fusível aquecido pode ser sinal de sobrecarga.

 

Colocando o fusível novo, ligue a chave. Se ele voltar a queimar, não insista! Existe algum curto-circuito na sua instalação que deve ser removido antes de colocar novamente o novo fusível.

Os leitores que possuírem um multímetro podem testar os fusíveis com facilidade, observe figura 3.

 

Testando um fusível com o multímetro.
Testando um fusível com o multímetro.

 

Basta colocar o instrumento numa escala baixa de resistências e depois tocar nos terminais do fusível, que deve estar fora do circuito. Se a agulha do instrumento se movimentar, indicando baixa resistência, o fusível está bom.

Caso contrário, se a agulha não mexer, é porque o fusível está aberto.

Observação: visualmente, nem sempre o exame de um fusível pode ser conclusivo. Pode ocorrer, no caso dos fusíveis de rosca, que o elemento apenas se desprenda do ponto de contato, dando a impressão de que ele está bom, quando na verdade, está interrompido, veja figura 4.

 

Observando se um fusível antigo tipo cartucho se encontra queimado.
Observando se um fusível antigo tipo cartucho se encontra queimado.

 

Se os fusíveis estiverem bons e na caixa de entrada houver energia, devemos passar à caixa de distribuição.

 

b) Verificação dos disjuntores

Conforme vimos, os disjuntores são chaves que desligam automaticamente em caso de sobrecarga e ficam numa caixa em algum ponto depois da chave de entrada.

Ocorre em alguns casos, que a simples observação da posição de suas alavancas não é suficiente para saber se estão ou não desarmados.

Assim, será interessante verificar se existe um disjuntor geral nesta segunda caixa e desligá-lo e ligá-lo novamente.

Se ele voltar a desarmar é porque depois desse ponto da instalação existe algum problema de curto ou sobrecarga que deve ser verificado.

Se mesmo com o disjuntor rearmado, não houver energia na rede, será interessante verificar com a lâmpada de prova se até este ponto a energia está chegando, o que é feito da maneira indicada na figura 5.

 

Verificando a presença de energia no disjuntor.
Verificando a presença de energia no disjuntor.

 

Havendo energia antes do disjuntor e, se mesmo com ele rearmado não houver energia depois e ele também não desarmar, podemos suspeitar de um problema com o próprio disjuntor (que não está armando). Deve ser feita sua substituição por um de mesma corrente.

 

SEGUNDO CASO: Apenas um setor de sua casa recebe alimentação. Ou as tomadas têm energia e as lâmpadas não acendem, ou ainda as lâmpadas acendem, mas os eletrodomésticos não funcionam.

Neste caso, podemos suspeitar que os fusíveis da chave correspondente a este setor ou os disjuntores abriram.

Os procedimentos são os seguintes:

 

a) Verificação dos fusíveis

Com a lâmpada de prova verificamos se existe tensão até a chave do setor que está apresentando problemas.

Em seguida, verificamos se existe tensão depois do fusível. Se isso não ocorrer (a lâmpada permanece apagada), verifique a figura 6, os fusíveis devem ser testados. (Veja no item anterior como fazer este teste)

 

Verificando a presença de energia numa chave antiga com fusíveis.
Verificando a presença de energia numa chave antiga com fusíveis.

 

Para trocar os fusíveis, abra a chave correspondente de modo a interromper a corrente e coloque sempre unidades com a mesma especificação de corrente.

Se ao religar a chave, o fusível queimar novamente, é porque existe algum problema no setor correspondente da rede de distribuição de energia.

Não tente nova troca, antes de verificar a causa da queima dos fusíveis.

Se os fusíveis estiverem bons e a energia passar deste ponto, mas ainda assim o setor da instalação correspondente não for alimentado, devem ser verificados os disjuntores da caixa seguinte (se houver).

O procedimento é o mesmo visto no caso da falha geral, mas com os disjuntores do setor que não recebe energia.

 

 

OS FUSÍVEIS E DISJUNTORES ABREM CONSTANTEMENTE

A queima de fusíveis numa instalação ou a abertura constante de disjuntores indica que alguma coisa de anormal está ocorrendo e a corrente está acima do valor suportado.

Devemos considerar os seguintes casos para a queima constante de fusíveis ou a abertura de disjuntores.

 

PRIMEIRO CASO: Os fusíveis queimam em determinado instante e, feita a substituição voltam a queimar. Não é possível restabelecer a energia.

Para o caso dos disjuntores, eles abrem e mesmo depois que os rearmamos, voltam a abrir, indicando que há uma forte corrente na instalação.

Este caso indica que ocorreu um problema momentâneo, ou seja, algo ligado à instalação ou a própria instalação apresenta um curto-circuito.

 

a) procedimento inicial.

O primeiro passo para a localização do defeito é desligar de todas as tomadas os aparelhos alimentados pelo setor que apresenta problemas.

Se, rearmando o disjuntor que abre ou trocando o fusível, o problema não se manifestar, ficará caracterizado que se trata de um curto num dos aparelhos que estava ligado ao setor. O aparelho deve ser identificado e enviado para reparo.

(*) Temos em artigos da seção de instrumentação artigos que ensinam a verificar se aparelhos eletrodomésticos ou eletrônicos estão em curto.

Se mesmo assim, o fusível volta a queimar ou o disjuntor abrir, o problema está na instalação.

As tomadas de energia e os fios do setor afetado devem ser analisados.

 

b) segundo passo.

O exame visual do setor da instalação que apresenta um curto nem sempre é simples, pois existem partes (dentro dos condutos) que estão fora do alcance deste tipo de inspeção.

O mais simples é começar pela inspeção de tomadas de energia que podem estar danificadas causando curtos. Veja no item correspondente como fazer este exame.

Depois, podemos examinar os fios da instalação visíveis verificando se não existem pontos descascados que encostem em outros fios ou em partes metálicas da estrutura da casa, conforme figura 7.

 

 Curto-circuito num duto de metal.
Curto-circuito num duto de metal.

 

Finalmente, testamos os fios que passam pelos condutos, verificando se têm mobilidade, puxando-os levemente. Se houve um curto, os fios podem "soldar" ou ficar presos no conduto, o que será constatado por esta prova. Se não for possível detectar nenhuma anormalidade com este procedimento, tente desligar o setor suspeito e verifique se o setor volta a funcionar.

Se, desligando um par de fios que desce por um conduto, o setor da instalação voltar ao normal (o fusível não queima mais e o disjuntor não abre), estará caracterizado que em algum ponto deste conduto ou nos dispositivos que ele alimenta existe um curto-circuito.

 

SEGUNDO CASO: Os fusíveis abrem sempre em condições de elevado consumo, quando por exemplo, são ligados dois chuveiros na mesma residência, ou ainda quando o chuveiro é usado à noite no momento em que todas as lâmpadas estão acesas e o televisor ligado.

Neste caso, podemos perceber que a instalação não está dimensio­nada para o consumo de energia que tem.

A simples troca de fusíveis que abrem (ou disjuntores) por outros de maior corrente não é a solução indicada. Devem ser trocados também os fios da instalação por outros de maior diâmetro, que suportem o novo consumo de energia.

Em outras palavras, a instalação deve ser refeita para suportar a nova condição de maior consumo. Este fato é comum em instalações antigas, feitas em épocas quando existiam menos eletrodomésticos e portanto, os consumos eram muito menores.

 

TROCANDO FUSÍVEIS

Pode parecer muito simples fazer a troca de um fusível, mas existem certos vícios que podem causar sérios problemas para uma instalação.

Um deles, e o mais perigoso, é o de colocar um pedaço de metal ou mesmo papel alumínio dentro do fusível queimado quando não houver outro em bom estado disponível. Observe a figura 8.

 

Nunca tente recuperar um fusível queimado.
Nunca tente recuperar um fusível queimado.

 

Evidentemente, esta "nova configuração" não protege a instalação e se o problema persistir, o fusível não vai abrir com a corrente esperada. O resultado é que a instalação, diante de uma corrente maior do que pode suportar e não interrompida, vai se queimar totalmente!

Existe até o perigo de incêndio na instalação ou no próprio aparelho que se encontra em curto.

Outro problema consiste em colocar no lugar do fusível original "qualquer um", sem observar o valor. A própria troca de fusíveis de uma chave para outra, sem critério, pode trazer os mesmos defeitos do caso anterior e mais alguns.

Se o fusível for maior que o original, ele não abre com a corrente perigosa para a instalação, e esta pode "queimar".

Se o fusível for menor, mesmo que o problema tenha sido eliminado, o limite de corrente da instalação se reduz, e em funcionamento normal com aparelhos que ela suportaria, pode ocorrer nova queima.

A troca do fusível deve ser feita sempre com a chave desligada. Isso é importante, pois se o problema ainda persistir, o novo fusível pode queimar no instante em que ele fizer o contato com o circuito, com o instalador segurando-o. O "estouro" que ocorre pode assustar ou mesmo ferir o instalador.

Para os tipos "de cartucho", um pedaço de tecido pode ajudar exigindo menos força para a retirada, principalmente se eles estiverem muito duros, conforme sugere a figura 9.

 

Como extrair um fusível de maneira segura.
Como extrair um fusível de maneira segura.

 

Se o fusível quebrar na operarão de retirada, tanto para os tipos de rosca como de cartucho deve ser usado um alicate para remover suas partes, com muito cuidado para não tocar nos pedaços que ainda se encontrem energizados. Na figura 10 mostramos como deve ser feita esta operação.

 

Retirando os pedaços de um fusível danificado.
Retirando os pedaços de um fusível danificado.

 

Obs.: se a chave ou o suporte em que se encontra o fusível estiver muito oxidado, uma limpeza pode ser feita antes de colocar este componente. Mas, se houver sinais de corrosão profunda, o que pode ocorrer se o local foi atingido por muita umidade ou chuva, o melhor procedimento é a troca da chave.

 

 

Observação importante:

Quando este artigo foi escrito ainda não estavam em vigor as normas NBR5410 que estabeleceram diversas mudanças para a maneira como as instalações elétricas devem ser feita e também para o formato das tomadas de força, com a adoção do terceiro pino. Artigo sobre estas normas deverá estar disponível no site. Os conceitos dados valem para instalações elétricas antigas, como ainda são encontradas em muitos locais de nosso país. Para instalações novas, os leitores devem consultar as normas vigentes