Fantasmas? Espíritos? Seres Extraterrenos? Sons do passado? Qual seria a verdadeira origem dos sons que vagam nas misteriosas correntes induzidas na terra? Se você gosta de realizar experiências "além da imaginação", damos neste artigo a oportunidade de penetração num campo tanto misterioso como fantástico.
Obs. Esta versão do artigo é de 1982, mas ainda atual (2016) , pois pode ser implementada com facilidade pelas tecnologias que usa e trata de um assunto explorado em outros artigos desta seção.
Trata-se de um aparelho para você ouvir e gravar os sons misteriosos que são transportados pelas correntes induzidas na terra, alguns dos quais podem dar origem a mil-e-uma especulações. O sensível aparelho que descrevemos permitirá que o próprio leitor ouça estes sons e até mesmo faça sua gravação.
Algumas reportagens e mesmo livros têm abordado o interessante assunto da captação de vozes estranhas e sons misteriosos, a partir de rádios fora de sintonia, gravadores adaptados e muitos outros aparelhos eletrônicos comuns.
Os autores procuram dar as mais diversas interpretações para os sons captados, falando em espíritos, fantasmas, seres ,extraterrenos e até mesmo em gravações "do passado".
Os sons realmente existem, isto é, podem manifestar-se em diversas condições, como procuraremos explicar neste artigo, se bem que nem sempre estejamos de acordo com as explicações que são dadas para suas origens.
Os sensíveis circuitos eletrônicos de rádios, gravadores, amplificadores, etc., podem captar ruídos e mesmo sons que de outro modo não poderiam ser detectados, e por sua própria natureza podem reforçar estes sons ou deformá-los a ponto de nos causar a percepção ressaltada, modificada ou mesmo distorcida.
As origens destes sons podem ser as mais diversas como, por exemplo, estações de rádio, de comunicações, interferências diversas de equipamentos eletrônicos e inclusive aquelas que não têm explicações plausíveis.
Ouvir estes sons, inclusive os misteriosos, é o que propomos ao leitor neste artigo, abrindo um novo e interessante campo de pesquisas.
O aparelho que descrevemos nada mais é do que um sensível amplificador, que é adaptado para captar um tipo especial de sinal: aquele que é induzido na terra e que pode trazer mil-e-uma informações diferentes, das mais diversas origens.
Ouvir os sons da terra, tão misteriosos quanto interessantes; ouvir vozes ou ruídos estranhos; ouvir vozes do passado ou seres extraterrenos, como querem alguns, é o que propomos ao leitor com este interessante aparelho. Totalmente portátil 'e alimentado a pilhas, pode ser levado à locais livres de interferências e acoplado a gravadores comuns.
COMO FUNCIONA
O solo com seus sais minerais dissolvidos em sua unidade e muitas outras substâncias é um excelente condutor de eletricidade. Assim é que as empresas distribuidoras de energia o aproveitam como um segundo condutor, no sentido de economizar fios, conforme sugere a figura 1.
Estas empresas ligam então um dos condutores de energia à própria terra, que conduz tão bem a eletricidade quanto outro condutor, senão melhor.
Além de conduzir a energia elétrica das usinas e empresas distribuidoras, o solo também é percorrido por outros tipos de corrente. São as correntes provenientes de descargas elétricas, induzidas por campos magnéticos, como o da própria terra, e também muitas correntes que são descarregadas por diversos tipos de aparelhos elétricos (figura 2).
Estações transmissoras de rádio, por exemplo, ligam um dos polos de suas antenas à terra, já que esta pode conduzir as ondas tão bem quanto o próprio ar ou vácuo; fábricas e oficinas ligam motores e outras máquinas à terra, tanto para desviar para ela as correntes perigosas que possam representar perigo para os seus operadores, como para desviar as interferências que possam causar em aparelhos de rádio próximos.
Enfim, se pudermos fazer uma análise do que encontramos na terra, veremos uma infinidade de tipos de correntes de diversas frequências e origens, circulando nos mais diversos sentidos.
É claro que, além das correntes cujas origens analisamos, existem outras que não são bem explicadas e que algumas vezes podem ser ouvidas na forma de sons estranhos ou ruídos, e em alguns casos até vozes!
Para podermos ”captar" estas correntes, tudo que temos de fazer é espetar no solo dois eletrodos de metal (duas varetas ou placas) de tal modo que, pelo sentido de circulação da corrente induzida no solo, entre elas se manifeste uma diferença de potencial. A figura 3 dá uma ideia das posições destas placas, para que haja captação dos sinais.
A diferença de potencial encontrada entre as placas, que corresponde ao sinal, tem as mesmas características deste sinal, ou seja, intensidade, frequência, fase, etc. Para que possamos perceber estas correntes, precisamos “traduzi-las" em termos de nossos sentidos.
Uma maneira de fazer isso consiste em amplificar estas correntes com a ajuda de um bom amplificador, conforme mostra a figura 4, e aplicá-las a um fone ou alto-falante. As correntes cujas frequências estiverem entre 16 Hz e 20 000 Hz (vibrações por segundo) e que correspondem aos sons audíveis, se tornarão sons e poderemos ouvi-las.
Mesmo que as correntes existentes tenham frequências maiores, se estas forem ”moduladas" poderemos trabalha-las de modo a extrair a informação audível que possuam. É o caso de sinais de rádios de frequências muito mais altas (100 000 Hz ou mais), que são modulados e portanto podem transportar a voz, música e outros sons.
Para extrair a modulação, tudo que precisamos é de um diodo detector, conforme mostra a figura 5.
Em suma, quer seja usando um amplificador simples ou um amplificador com um detector, podemos ”ouvir" sinais de todos os tipos, existentes na terra, sendo então esta a base de nosso projeto.
Usamos então um sensível amplificador integrado, que pode ampliar milhares de vezes as correntes captadas pelos eletrodos e aplicá-las a um alto-falante ou fone.
Na entrada deste amplificador teremos tanto a ligação direta dos eletrodos, para ouvir sinais de baixas frequências, como também de um diodo, para ouvir os sinais de altas frequências.
O aparelho é alimentado por duas ou quatro pilhas pequenas e também pode ser acoplado a um gravador portátil comum.
Sua montagem é relativamente simples não oferecendo dificuldades ao amador. Todos os componentes são comuns podendo ser encontrados em casas especializadas, a custo bastante acessível.
MATERIAL
O material utilizado em toda montagem influi bastante na aparência do aparelho e também no seu desempenho. Assim, sugerimos para a caixa a utilização de um sistema a tiracolo conforme mostra a figura 6, facilitando seu uso em pesquisas de campo.
A caixa pode ser de plástico, metal ou qualquer outro material, nas dimensões de aproximadamente 15 x 10 x 6 cm.
Os componentes eletrônicos podem ser conseguidos sem muita dificuldade. O leitor deve começar pela placa de circuito impresso, que deve ser confeccionada com cuidado. Para isso é preciso ter os recursos mínimos, que são a caneta de circuito impresso, a placa virgem, a solução corrosiva e finalmente a furadeira manual ou elétrica, com broca entre 0,8 e 1 mm.
O circuito integrado é um TBA820S, que consiste num amplificador completo. Só deve ser usado este integrado. Para maior segurança na montagem, quando o leitor adquirir o integrado pode também pedir um suporte DIL de 14 pinos para ele. A utilização do suporte facilita a troca do integrado em caso de problemas e ainda evita que o calor o afete durante a montagem.
O diodo D1 retificador de uso geral, pode ser de qualquer tipo de germânio como o 1N34, 1N60, etc.
Para o alto-falante pode-se utilizar uma unidade de 8 Ω x 5 cm, como as encontradas em rádios portáteis, ou se o leitor quiser- maior fidelidade de reprodução, um alto-falante maior de 8 Ω x 10 cm. Neste caso, a caixa deve ser um pouco maior para poder alojá-lo.
O potenciômetro P1 serve de controle de sensibilidade ou volume para o amplificador. Este potenciômetro tem incorporado o interruptor geral 31, que liga e desliga o aparelho. Seu valor normal é de 100 k, mas valores próximos também poderão ser usados, como 47k ou mesmo 220k.
Temos dois tipos de capacitores nesta montagem. Os denominados pequeno" por seus valores e que são despolarizados, os quais no esquema e na lista são expressos em nF (nanofarads) e pF (picofarads) e os ”grandes" que são polarizados, os quais são expressos em “F (microfarads).
Os despolarizados podem ser tanto cerâmicos como de poliéster metalizado, enquanto que os grandes são eletrolíticos para uma tensão de trabalho de pelo menos 6 V.
Os resistores são todos de 1/8 W, com os valores indicados na lista.
Resistores de maior tamanho, ou seja, 1/4 ou mesmo ½ W podem ser usados na falta dos originais, desde que mantidos os valores em Ω.
A bateria que alimenta o circuito é formada por 4 pilhas pequenas, para as quais deve haver um suporte apropriado.
Temos finalmente 3 jaques, sendo dois de entrada para os sinais da terra e um de saída para eventual ligação de um fone de ouvido.
O jaque de saída é do tipo “circuito fechado" com 3 terminais. Este jaque permite que na hora que o fone seja ligado, o alto-falante desligue automaticamente. É o mesmo tipo encontrado em rádios portáteis, para ligação do fone de ouvido.
Fones de ouvido de baixa impedância, como os encontrados em rádios portáteis e gravadores, ou ainda de alta-fidelidade acolchoados, podem ser usados.
Complementa o material os fios, a solda, o botão para o potenciômetro e um cabo com plugue de acordo com os jaques J1 e J2, para ligação aos eletrodos enterrados.
Os eletrodos consistem simplesmente em barras de metal de pelo menos 40 cm de comprimento, com pontas afiadas para serem enterradas. Em cada barra deve existir um fio encapado de pelo menos 10 m para conexão do amplificador. A figura 7 mostra como fazer estas barras e como ligar os fios, garantindo bom contacto.
Como um circuito integrado é utilizado, e a disposição dos seus terminais não favorece a montagem em ponte, optamos pela montagem em placa de circuito impresso. Conforme já alertamos na obtenção do material, o leitor deve ter os recursos para a elaboração desta placa. Na figura 8 damos o desenho de placa de circuito impresso em tamanho natural, tanto do lado dos componentes, como do lado cobreado.
O diagrama completo do aparelho é mostrado na figura 9, onde os componentes são representados pelos seus símbolos. O leitor deve procurar "interpretar" este diagrama, familiarizando-se com os símbolos usados.
A sequência de operações para se obter uma montagem perfeita é a seguinte:
a) Comece soldando o circuito integrado ou seu suporte. Encaixe os pinos de modo que saiam pelo lado cobreado. A seguir, solde um por um, tomando cuidado para que não ocorra espalhamento de solda que possa “grudar" nos pinos adjacentes. Se isso acontecer, limpe o excesso de solda com a própria ponta do soldador e um palito.
Se soldar diretamente o circuito integrado, observe sua posição que é dada pela marca que identifica o pino 1.
b) Solde o diodo D1 observando sua polaridade ou a disposição de seus elementos internos, se for transparente. Seja rápido na soldagem deste componente. Os jaques, o potenciômetro, o alto-falante e o suporte das pilhas devem ser fixados na caixa.
c) Solde os resistores. Os valores destes componentes são dados pelas faixas coloridas. Veja a lista de material.
d) Solde os capacitores. Observe que os eletrolíticos tem posição certa para colocação, ou seja, devemos observar o lado marcado com e H no seu invólucro. Os demais capacitores não são polarizados, mas devem ser soldados rapidamente, pois são sensíveis ao calor.
Veja os seus valores de acordo com a lista de material.
Os capacitores C1 e CE podem vir com marcações tais como 104 ou .1 ou ainda 0,1 µF.
e) Faça-a ligação do potenciômetro usando pedaços de fios comuns de capa plástica. Estes fios devem ser curtos e diretos. Veja a ordem de ligação dos fios para que o controle não atue "ao contrário".
f) Faça a ligação do suporte de pilhas e S1. Veja a polaridade do fio que vai do suporte ao interruptor, que é positivo. Este fio é o vermelho.
g) Faça a ligação dos jaques de entrada e saída. Veja na figura 8 como deve ser feita a conexão do jaque J3 que leva 3 fios.
Terminada a montagem e conferidas as ligações, encaixe a placa no interior da caixa, fixando-a com a ajuda de parafusos e separadores.
Estes separadores podem ser feitos com pedaços de tubos de canetas esferográficas.
Depois é só experimentar o aparelho.
PROVA
Para provar o aparelho, encaixe na entrada J1 o plugue com dois pedaços de fio com garras jacaré nas pontas (figura 10).
Depois de ligar o aparelho, acionando S1 no potenciômetro, e abrindo o volume, toque com os dedos na garra vermelha de entrada. O alto-falante deve emitir um ronco grave ou zumbido.
Se nada acontecer, confira a montagem e verifique o estado das pilhas.
Ocorrendo tudo conforme o esperado, é só pensar em usar o aparelho em suas pesquisas.
Prepare os eletrodos para isso.
O QUE VOCÉ VAI OUVIR
Preferivelmente os eletrodos devem ser ligados em campo aberto, afastados um do outro pelo menos 15 m, e longe de postes, linhas de transmissão ou instalações elétricas (figura 11).
Feita a ligação do aparelho, em primeiro lugar tente a entrada J1, sem o diodo. Se nada ouvir de anormal, experimente a entrada J2.
O zumbido grave que é ouvido, semelhante ao que aconteceu na prova, vem da indução de 6oHz da corrente elétrica da rede de energia. Se ele for muito forte, procure um local isolado, longe de linhas de transmissão que podem estar interferindo.
Os sons que podem ser ouvidos no alto-falante ou fone terão provavelmente as seguintes origens:
a) Estações de rádio próximas (alguns quilômetros).
b) Estações de comunicações de baixa frequência (10 kHz à 200 kHz), como as de aeroportos ou serviços de navegação (vozes ou sinais telegráficos).
c) Descargas elétricas atmosféricas (estalidos, zumbidos ou chiados de diversas naturezas).
d) Aparelhos diversos de som ou outros tipos (sons ou música), a pequenas distâncias.
e) Máquinas industriais (até alguns quilômetros).
f) Sons de origens desconhecidas (diversos tipos, como chiados,vozes, ruídos, etc.) - estes interessando em especial ao pesquisador!
Para gravar os sons, basta ligar a sa ida J3 ao gravador.
Na figura 12 mostramos um controle de tom opcional.
No livro Brincadeiras e Experiências com Eletrônica (volume 2) descrevemos um interessante transmissor-receptor telegráfico, em que os sinais eram enviados pela terra. Este aparelho pode funcionar como um sensível receptor para aquele sistema, aumentando em muito seu alcance, que pode chegar até a alguns quilômetros. O transmissor consiste num oscilador ligado à terra, e o receptor um fone, conforme mostra a figura 13.
CI-1 - TBA820S i circuito integrado (amplificador de áudio)
D1 - 1N34, 1N60 ou qualquer diodo de germânio
P1 – 100 k com chave - potenciômetro
R1 – 180 R x 1/8 W - resistor (marrom, cinza, marrom)
R2 – 56 R x 1/8 W - resistor (verde, azul, preto)
C1, C6 - 100 nF - capacitores cerâmicos
C2, C4, C8 - 100 µF x 6 V - capacitores eletrolíticos
C3 - 47 µF x 6 V - capacitor eletrolítico
C5 - 100 pF - capacitor cerâmico
J1, J2 - jaques miniatura simples
J3 - jaque para fone de ouvido tipo “circuito fechado"
FTE - alto-falante de 8 Ω x 5 cm
B1 - 4 pilhas – 6 V
Diversos: caixa para montagem, placa de circuito impresso, suporte para 4 pilhas pequenas, fios, solda, fone de ouvido de baixa impedância, botão para o potenciômetro, etc.
Projeto original publicado em 1982