O projeto que focalizamos saiu na Revista Saber Eletrônica 62 de setembro de 1977. Era uma configuração simples de um localizador de metais, aparelho em alta época com a propaganda feita em torno de tesouros descobertos em praias e outros locais. A busca pelas versões montadas aumentou, mas eram caras. A possibilidade de montar uma versão simples nos levou a esse projeto que fez muito sucesso.

 


 

 

A capa da revista já levava aos leitores a perspectiva de encontrarem em alguma praia deserta um tesouro enterrado.

Mas, é claro que com um circuito simples não podíamos oferecer muito e isso ficava claro no próprio artigo. Tivemos alguns problemas com isso.

É comum que os leitores entusiasmados com um projeto desse tipo não leiam o artigo totalmente e já partam para a montagem, esperando que o aparelho detecte uma moeda a muitos metros de profundidade.

Não é o que ocorre nem mesmo com os tipos comerciais que são encontrados à venda. Há limitação pelo princípio de funcionamento que ficava claro no artigo e que é aproveitado em projetos semelhantes que publicamos depois.

E, é óbvio que havia os que desejavam aumentar o alcance trocando simplesmente um ou outro componente, como se isso fosse possível.

Mas a ideia era básica. Uma bobina fixa e uma exploradora oscilavam na mesma frequência (ajustada por trimmers). Quando a bobina exploradora entrava no raio de influência de um objeto metálico, sua indutância se alterava e com isso a frequência em que ela oscilava.

O resultado era um sinal de batimento que aparecia no alto-falante como um apito. Mais agudo o apito maior ou mais próximo o objeto detectado.

A montagem exigia habilidade, principalmente em relação à bobina exploradora, assim não foram poucos os que reclamavam que “não funcionava”.

Era um problema que sempre tivemos: quando alguma coisa não funcionava éramos nós os culpados. Projeto errado, não funciona, quero de volta o dinheiro que gastei nos componentes.

É claro que sempre podíamos dar algumas dicas, mas ficava claro quando tínhamos a possibilidade de acessar a montagem que a culpa não era nossa.

Como sempre, componentes mal soldados, espalhamentos de solda, transistores invertidos ou trocados, resistores e capacitores errados ou de tipos impróprios. Era muito comum que se usassem capacitores não cerâmicos onde deveriam ser cerâmicos. Isso ocorre nos circuitos de RF.

Mas, é claro, às vezes tínhamos a nossa dose de culpa.

A equipe de desenhista da editora não era formada por técnicos, mas sim profissionais do desenho, ou desenhistas copistas. Entregávamos o nosso rascunho no papel e eles faziam o esquema.

Ocorria então que eles erravam, mudando valores de componentes ou confundindo ligações. Nós conferíamos, mas mesmo nós pela pressa, sobrecarga de trabalho às vezes deixávamos passar algum erro que só era descoberto depois, quando alguém reclamava.

Daí corríamos com a correção para sair na edição seguinte, mas em alguns casos já era tarde. Quando alguém nos escrevia ou telefonava já estávamos com a correção em mãos para ajudar.

Para minimizar este problema adotamos um procedimento simples. Era mais fácil revisar o desenho de um diagrama do que uma placa ou uma montagem em ponte de terminais.

Assim, quando alguém reclamava, nossa primeira recomendação era: confira a placa ou ponte pelo diagrama. Na maioria dos casos funcionava.

Um detalhe importante do artigo e de ouros da época estava justamente nas ilustrações.

A editora também tinha uma linha de revistas de quadrinhos aproveitando os mesmos desenhistas. Eram, portanto, especialistas nesse tipo de ilustração e eu também gostava.

Nos artigos tínhamos então muitas ilustrações com figurinhas de cartoon que atraiam os mais jovens, mas eram um pesadelo para o departamento de marketing da editora.

Os vendedores de publicidade tinham dificuldades em vender anúncios para indústrias e empresas de engenharia que alegavam que a revista era para crianças ou estudantes amadores e não era uma revista de “engenharia” se bem que mesclássemos os artigos.

Mas mesmo assim, como a revista vendia bem em bancas, não havia dificuldades para a sobrevivência da empresa e os anúncios não eram tão importantes.

Se tornaram importantes no final da vida da revista quando as vendas em banca caíram muito.

 

Outras curiosidades

Um pedido muito interessante que recebíamos relacionado com essa montagem, além de aumentar o alcance era o de se ter um indicador seletivo de metal.

Os leitores queriam um circuito que não apenas acusasse a presença do metal, mas indicasse de que tipo era. Ouro, prata, cobre, etc.

Evidentemente, mesmo que possível um dia, pois ainda não encontramos um, certamente complicaria muito sua montagem.