Diferentemente dos resistores de filme carbono, que sempre utilizam códigos de cores em anéis, os valores nominais dos capacitores são expressos geralmente por outro tipo de marcação. O que são todas aquelas letras e números encontrados em grande parte dos capacitores disponíveis comercialmente e que sempre geram dúvidas de leitura? Como saber se o valor utilizado é o desejado sem ter um instrumento que possa medi-lo? É o que veremos neste artigo.

 

Marcações básicas

Diversamente do que acontece com resistores, cada fabricante de capacitor adota uma marcação específica para indicar seu valor nominal, de acordo com suas características. Isto acaba gerando uma grande confusão, principalmente no estudante de Eletrônica e/ou hobbista, que não está acostumado com a codificação utilizada. A única exceção é a grande maioria dos capacitores eletrolíticos (polarizados), cuja marcação geralmente apresenta todo o valor nominal e é mostrada de maneira clara e de fácil leitura. Alguns capacitores de poliéster, mais antigos, ainda usam a marcação de valor nominal através do código de cores, com anéis. Mas isso é cada vez mais raro.

A unidade de medida de capacitância (farads) por vezes é mostrada em submúltiplos diferentes em cada capacitor, sendo apresentada em µF, nF, kpF ou pF. O problema é que não está escrito no corpo do capacitor qual é o submúltiplo utilizado! A simples troca de um capacitor queimado por outro equivalente poderá gerar transtornos, se o valor da capacitância não for observado. Para fazer a leitura de capacitores, primeiramente precisamos saber quais são as informações mais comuns que são apresentadas em seu invólucro:

Capacitância: É a capacidade de armazenamento de cargas que o capacitor possui. Sua unidade de medida é o farad, mas o fabricante pode expressar essa unidade em diversos submúltiplos: µF, nF, kpF ou pF. Por exemplo: os capacitores cerâmicos quando trazem números inteiros (150; 220; etc.), têm a unidade de medida em pF. Quando usam números decimais (0,47; 0,1; etc.), a unidade de medida é em µF.

Tensão de trabalho: Valor máximo de tensão que pode ser aplicada às placas do capacitor sem provocar o rompimento do dielétrico. Geralmente expresso em volts ou quilovolts.

Tolerância: Devido ao processo de fabricação, o valor nominal pode variar dentro de um limite negativo e positivo, geralmente expresso em porcentagem. Assim, um capacitor de 10 µF com ±10% de tolerância pode apresentar valores reais de 11 µF ou 9 µF.

Como não é comum o uso de código de cores em capacitores (somente em modelos mais antigos) estas informações são apresentadas como letras e números. Outro motivo para isto é que a área de um invólucro é pequena, então não é possível escrever toda a informação (10 µF ±10% 250 V), utilizando-se apenas letras que informam este valor (101 KB), muito mais compacto.

 


 

 

As tabelas 1 e 2 mostram uma codificação usada por diversos fabricantes. Note que elas têm equivalência com a que se usa no código de cores de resistores. Só que, no lugar de cores, utilizam-se números para indicar cada caractere. Esta tabela serve para capacitores com 5 caracteres, onde os três primeiros são referentes ao valor da capacitância, o quarto refere-se à tolerância e o quinto à tensão de trabalho.

 


 

 

 

Outras informações

Além das informações básicas (capacitância, tolerância, tensão de trabalho), uma outra que costuma ser fornecida é a variação do valor da capacitância em função da temperatura de trabalho do capacitor, conhecida como coeficiente de temperatura. Isto é importante para diversas aplicações comerciais, onde o ambiente em que o capacitor ficará montado passe por grandes variações de temperatura, e por consequência, sofra grandes alterações de capacitância.

Talvez estas informações não sejam muito importantes para o hobbista ou para o estudante de Eletrônica, pois suas aplicações não requerem tanta precisão. Porém, muitas vezes encontramos estes capacitores à venda nos centros comerciais de eletrônica e a sua leitura se torna difícil se não soubermos o que significam aqueles códigos extras que aparecem.

Isto ocorre principalmente com alguns capacitores cerâmicos, que apresentam valores de alta capacitância em um volume físico reduzido (devido à alta constante dielétrica). É aqui que começa a confusão, pois cada fabricante apresenta estas informações de modo diferente.

O coeficiente de temperatura costuma ser expresso em "%" ou "ppm/°C" (partes por milhão por °C) e declara as características de alta estabilidade de capacitância à variação de temperatura.

Outra informação que costuma ser apresentada é a faixa de temperatura de trabalho em que o capacitor foi projetado para atuar, com os valores máximo e mínimo de temperatura a que ele pode ser exposto.

Estas duas informações (coeficiente de temperatura e faixa de temperatura de trabalho) são mostradas através de um conjunto de três outros caracteres (X7R, Y5F Z5U, etc.), além daqueles que indicam as características básicas, definindo a faixa de variação máxima da capacitância dentro dos limites de variação máximos e mínimos de temperatura. Estes capacitores são recomendados para aplicações de acoplamento e desacoplamento de sinais, supressão de transientes em baixas tensões etc. A tabela 3 apresenta alguns dos caracteres mais empregados comercialmente. Outros fabricantes preferem adotar a medida de partes por milhão por °C (ppm/°C). Esta indicação é feita a partir de conjuntos de caracteres alfanuméricos (NPO, N330 e P100), definindo a faixa de variação da capacitância por graus Celsius. Geralmente estes capacitores têm o coeficiente de temperatura linear e com alta estabilidade de capacitância, além de perdas mínimas. São recomendados para aplicações em circuitos ressonantes, circuitos de filtragem, compensação de temperatura, acoplamento e filtragem em circuitos de RF, etc. A tabela 4 apresenta alguns destes códigos.

 


 

 

 

 


 

 

 

Alguns capacitores de poliéster metalizado usam um código de cores, similar ao utilizado para os resistores, como exibe a tabela 5.

 


 

 

 

Exemplos

Mostramos na página ao lado uma coletânea de capacitores, separados por tipo, com suas respectivas marcações nominais e a forma de leitura, com base nas tabelas anteriormente fornecidas.

 

Conclusão

Veja que nos exemplos referidos foram mostrados alguns capacitores que não constam nas tabelas apresentadas no artigo. E isso sempre acontecerá, porque existe um grande número de capacitores que utilizam marcações específicas de um fabricante, e que acabam não seguindo os padrões aqui apresentados.

A melhor dica que se pode dar neste caso é que se faça uma consulta aos sites de busca na Internet e nos sites dos fabricantes. Neles serão encontrados os manuais do fabricante (datasheets), onde as informações utilizadas na marcação são explicadas.

A mesma regra se aplica a outros componentes como indutores e resistores, sejam discretos ou em SMD.

*Alessandro F. Cunha é engenheiro elétrico, trabalha em Telecomunicações desde 1994 e é professor da rede SENAI.