Escrito por: Newton C. Braga

Todos devem estar lembrados das notícias alarmantes que corriam pela internet quando os telefones celulares se tornaram populares, alardeando que eles poderiam causar danos às pessoas pela radiação que emitiam. Até hoje, ainda existem dúvidas sobre o fato de sua radiação ser ou não prejudicial. Mas, o que talvez muitos não se lembrem ou mesmo não saibam, houve época em que as TV eram perigosas, e não eram fake-news. Neste artigo lembramos o assunto.

Com a chegada da TV aos lares de milhões nos desde 1940, já havia uma certa preocupação com a eventual fuga de radiação, na forma de raios X, a partir dos circuitos de alta tensão dos televisores branco e preto.

De fato, a alta tensão, acelerando elétrons, causava a emissão de uma quantidade detectável de raios X que poderiam apresentar perigos.

O problema se tornou mais evidente quando os primeiros televisores em cores apareceram, em torno de 1967. Com maiores telas e necessitando a excitação de 3 canhões (3 feixes de elétrons) nos tubos de raios catódicos, a emissão de raios X se tornou perigosa.

E, isso era agravado pelo costume das pessoas de se sentarem bem perto dos televisores para assistir seus programas prediletos, conforme mostra a figura 1,

 

Figura 1 – Costume antigo de ver os programes bem de perto.
Figura 1 – Costume antigo de ver os programes bem de perto.

 

 

Os alertas para a possibilidade dos raios X emitidos serem perigosos se tornaram maiores. Segundo se noticiou na época, os níveis constatados afetaram mais de 112 000 aparelhos da General Electric vendidos a partir de 1967.

Diante do alerta, uma regulamentação federal foi proposta nos Estados Unidos 1968, a qual se tornou o 1968 Radiation Control for Health and Safety Act, ou Ato de Controle e Regulamentação de Segurança e Saúde realizado pelo National Center for Radiolocal Health (NCRH) e o Public Health Service em 1968.

A primeira recomendação é que, por segurança, o telespectador deveria ficar a pelo menos 6 pés de distância do aparelho (2 metros, aproximadamente).

Numa época em que os reflexos dos efeitos das bombas atômicas ainda estavam na mente das pessoas, o perigo apresentado pelos televisores passou a ser levado muito a sério.

O FDA, órgão que cuida da saúde pública nos Estados Unidos, passou a regulamentar as emissões de produtos eletrônicos. Os tubos dos televisores deveriam ter sistemas de proteção capazes de evitar a emissão e até revisões das distâncias seguras.

Hoje a FDA também é responsável por qualquer tipo de emissão de radiação de aparelhos eletroeletrônicos como celulares, fornos de microondas, televisores e muito ouros.

O foco maior em nossos dias tem sido os celulares com preocupações como o distanciamento do corpo humano.

Também são levados em consideração os eventuais efeitos de radiação não ionizante como, por exemplo, a composição azul da luz de LEDs, celulares e televisores que podem ter efeitos sobre o ritmo circadiano, assunto de que já tratamos em diversos artigos neste site.

Evidentemente, a não ser pela composição da cor da luz emitida, os televisores atuais não emitem raios X, pois seu princípio de funcionamento, como nossos leitores bem sabem, não está na produção de feixes de raios catódicos que podem incidir em anteparos e gerar emissão dessa radiação.

 

Como são produzidos os raios X nos televisores

Na figura 2 temos uma curva de distribuição da produção de raios X num aparelho de TV obtida num artigo de uma Radio Electronics de 1970.

 

Figura 2 – Emissão de radiação num televisor antigo
Figura 2 – Emissão de radiação num televisor antigo

 

As curvas de emissão de uma válvula de saída horizontal 6BK4 são mostradas na figura 3.

 

Figura 3 – Emissão numa válvula 6BK4
Figura 3 – Emissão numa válvula 6BK4

 

 

Os raios X são produzidos quando o feixe de elétrons incide num anteparo. A energia do impacto dos elétrons é então responsável pela produção de radiação. O comprimento de onda da radiação produzida depende justamente da energia disponível nesse impacto.

Assim, com tensões mais elevadas, o impacto faz com que os fótons produzidos tenham mais energia e menor comprimento de onda. Com energia suficiente, seu comprimento se reduz a ponto de caírem na faixa dos raios X.

As válvulas de raio X, conforme mostra a figura 4, fazem exatamente isso. Com tensões que podem superar os 100 V os elétrons são acelerados, batendo num anteparo onde liberam sua energia na forma de raios X.

 

Figura 4 - Válvula de raios X
Figura 4 - Válvula de raios X | Clique na imagem para ampliar |

 

 

Além das válvulas isso ocorre também com próprio cinescópio (tubo de raios catódicos, conforme mostra a figura 5.

 

Figura 5 – Produção de raios X pelo cinescópio
Figura 5 – Produção de raios X pelo cinescópio

 

 

O impacto dos elétrons com a tela faz com que raios X sejam produzidos. Nas gerações de televisores depois de 1970, anteparos foram agregados para reduzir essa emissão.

Enfim, se você está pretendendo restaurar um velho televisor, tudo bem. Mas tenha cuidado ao usá-lo muito de perto.

Finalmente, lembramos que os efeitos dos raios X são cumulativos. Eles destroem células de nosso corpo que, dependendo de quais, o organismo não as repõe. Estarão perdidas para sempre e isso pode levar a sérias consequências para nossa saúde.

É por esse motivo, que seu uso deve ser limitado. Antigamente, com equipamentos muito potentes, recomendava-se que não mais que uma chapa por ano fosse feita. Hoje com equipamentos mais sensíveis que possibilitam o menor uso de radiação, pode-se tirar várias chapas por ano, sem problemas.