Escrito por: Newton C. Braga

Tenho uma infinidade de publicações antigas em minha biblioteca, algumas até do início do século passado. Folheando algumas delas, fiquei imaginando como nós do século XXI conversaríamos com um profissional da eletrônica época. Pode parecer simples, mas descobri que não. Seria como se falássemos línguas diferentes. Assim, nesse artigo, o primeiro da série imaginei uma visita no tempo a um técnico dos anos 40 do século passado e as dificuldades que teríamos para nos entender. Aproveito para fazer um desafio: quantos dos termos técnicos usados na época o leitor conhece.

Embarcando no meu “DeLorean” (*) virtual, visitei “seu” Antenor, um profissional da eletrônica de 1945 que mantinha uma oficina e fazia projetos interessantes. Levei meu dicionário (Almanaque) gravado no meu celular, pois sabia que precisaria dele.

Encontrei o Antenor na bancada, trabalhando num novo projeto:

- Puxa! É um receptor de rádio valvulado de várias faixas de onda! Está quebrado.

- Sim, na etapa de FI tem um problema. Esse receptor de ondas curtas tem uma grande seletividade e não está funcionando. É um “estenodo(1) e o problema está justamente na etapa de FI.

- ?

Consultei rapidamente no meu celular o que é um estenodo e assim pudemos continuar a conversa. Você sabe o que é um estenodo: (Mais detalhes no Glossário – final da página)

- Sim, deve ser o cristal. Achei inicialmente que era no decodificador.

O Antenor observou então, usando um novo termo estranho para mim.

- Não este receptor é comum para AM e não para “estereocasting(2).

- ?

- Mas, vocês já têm esse tipo de transmissão?

- Sim, mas ainda em fase experimental.

- Pelo que vi, trata-se de um rádio muito bom, tem válvulas diferentes. São as melhores desta época?

- Esta marca de rádio sempre usa as melhores válvulas. Estas, por exemplo, têm filamento toriado(3).

- ?

Continuamos a conversa:

- Sim, com esse tipo de válvula podemos ter melhor desempenho.

- É mais preciso refazer os ajustes das bobinas. Veja só, acho que preciso trocar essa. O núcleo de “bof(4) está quebrado.

- Bof?

- Perfeitamente, esse material é bem frágil.

- Por isso é bom usar um pouco de “collidion(5). Pegue o frasco para mim no armário aí do lado.

- ?

- Temos de tomar cuidado, pois os fios de “litz(6) são delicados.

Completei minha visita ao seu Antenor, agradeci e embarquei de volta para o nosso tempo. Combinamos que eu voltaria em breve.

 

 

Significado dos termos usados:

(1) Estenodo – ALM1380

Receptor super-heteródino que usa um filtro de FI com cristal para se obter o máximo de seletividade. Na figura um circuito de rádio antigo com um cristal na etapa amplificadora de FI.

 

(2) Estereocasting – ALM1381

Transmissão de rádio estereofônica. dois canais de som num mesmo canal de radiodifusão. Do termo inglês difusão estéreo.

 

(3) Toriado – ALM1400

Tório é um metal que possui propriedades importantes na fabricação de catodos. Um filamento toriado, usado como catodo de válvulas tem sua taxa de emissão de elétrons melhorada. O processo de toriação consiste em se agregar uma pequena quantidade de tório ao tungstênio de que é o feito o filamento.

 

(4) Bof - ALM1515

Abreviação para ferrite de óxido de bário (Barium Oxide Ferrite), material ferroso usado em núcleo de bobinas.

 

(5) Collidion – ALM1574

Solução viscosa a base de piroxilina e um solvente como a acetona, álcool ou éter, usada com agente fixador para bobinas e outros componentes eletrônicos.

 

(6) Fio Litz – ALM1807

Fio usado em bobinas formado por um feixe de condutores de cobre com um isolamento feito com fios de seda ou outro tipo de isolamento mais moderno. Feito com um feixe de condutores, o efeito pelicular é reduzido, o que torna este tipo de fio especialmente indicado para aplicações em bobinas de altas frequências, como transformadores de FI etc.