No dia 10 de abril (1985), a Philips do Brasil, em conjunto com a Rede Globo, apresentou, em São Paulo, a primeira transmissão experimental de TV em estéreo no país. Na ocasião, diversos televisores Philíps Trendset 20 Stereo Espacial foram distribuídos pela empresa aos Shoping Centers de São Paulo e nos gabinetes de algumas autoridades.

Obs. Preparamos este artigo que tratou do lançamento da TV estéreo (analógica) no Brasil em 1985. Estivemos presentes ao lançamento naquela data.

Desde a primeira transmissão em cores, em 1972, que a televisão brasileira não passava por mudança tecnológica tão significativa. A transmissão e recepção de TV em estéreo é uma conquista alcançada por poucos países de grande desenvolvimento, como Japão, Estados Unidos e Alemanha.

Estivemos presentes ao lançamento do novo televisor e inauguração do sistema experimental e leva aos seus leitores, neste artigo, alguns aspectos técnicos do sistema estéreo de emissão de TV.

 

OS SISTEMAS

Na figura 1 temos a representação de um sinal de TV, onde podemos ver que a imagem e o som são emitidos em faixas separadas.

 

   Figura 1 – Sinal de TV analógica
Figura 1 – Sinal de TV analógica

 

A largura da faixa da portadora de áudio nos sugere que facilmente poderia ser feita a transmissão de sinais estereofônicos, pelo menos usando o mesmo sistema da radiodifusão FM.

Por que não televisão estéreo?

Na verdade, a televisão, nos últimos tempos, apenas se preocupou com a imagem, o que nos levou a aparelhos de excelente qualidade de imagem, mas com reprodução sonora que deixa muito a desejar.

Se levarmos em conta que boa parte dos programas de TV são musicais, (portanto muito mais para ouvir do que ver!), justifica-se plenamente a elaboração de sistemas estereofônicos para TV.

Existem três sistemas de emissão estereofônica para televisão.

O primeiro é o japonês, que consiste simplesmente em se fazer com a portadora de som de TV o mesmo que fazemos com as emissões de FM comuns.

O sinal é multiplexado e depois demodulado por um circuito especial no receptor.

O outro sistema é o usado na Alemanha Ocidental, que emprega duas portadoras separadas de som, em lugar de uma só, cada uma para um canal de áudio (direito e esquerdo).

Finalmente, temos o terceiro, que provavelmente será o aprovado pelas autoridades brasileiras e que foi o empregado na demonstração do sistema pela Philips/Rede Globo, que é o sistema americano.

 

O SISTEMA AMERICANO

Deste sistema, em lugar de apenas dois canais, aproveita-se muito melhor a largura disponível de faixa, existente nos canais de TV, com a emissão de 5 canais de informação.

Assim, além de dois programas (ambos estereofônicos) separados, temos um canal profissional (não público) para transmissão de informações codificadas como, por exemplo, para terminais de vídeo-texto, microprocessadores, telemetria, etc.

Isso permite que estações, como a NBC de Nova Iorque, usem seu segundo canal de áudio (SAP) para emissão paralela em espanhol.

Pelo simples apertar de uma tecla você pode escolher se ouve seu programa predileto em inglês ou espanhol.

Uma aplicação prática no Brasil poderia ser a transmissão simultânea de um filme com o som original e a versão, à escolha do telespectador!

Mas, como funciona a “coisa"?

A escolha do sistema não é tão simples, apesar da largura da faixa disponível em cada canal.

Na figura 2 temos a representação da distribuição dos sinais no espectro eletromagnético, correspondente ao sinal de áudio de um televisor estéreo.

 

   Figura 2 – Espectro do sinal estéreo
Figura 2 – Espectro do sinal estéreo

 

Conforme podemos ver, o sinal principal corresponde à soma L + R (direito + esquerdo), pois assim os televisores não estereofônicos captando esta emissão teriam a soma dos sons.

Se fizermos diferente, como por exemplo transmitindo L – R (diferença), o possuidor de um televisor comum captaria apenas um canal (o esquerdo) e seu programa de áudio ficaria “cortado".

Do mesmo modo que num receptor comum, temos também um sinal piloto que indica que a recepção é estereofônica.

No receptor estereofônico são captados tanto o sinal L + R e o sinal L - R junto com o sinal piloto, havendo então um processamento destes conforme as seguintes equações:

(L+R)+(L-R) 2L+R-R=2L

(L+R)-(L-R)=L+R-L+R=2R.

Recupera-se, portanto, os sinais esquerdo (L) e direito (R) para a reprodução estereofônica.

O segundo canal de áudio (SAP) opera do mesmo modo, podendo ser sintonizado por meio de tecla especial nos televisores estereofônicos.

Um fator importante, que deve ser observado no sistema de modulação, é que ela é feita de tal modo que o sinal de áudio sofre uma compressão na transmissão para ser descomprimido na recepção, o que leva a uma redução do nível de ruído.

 

NO BRASIL

Conforme salientamos, no Brasil as emissões são ainda experimentais, pois não temos (até o momento desta edição) a regulamentação do sistema (que possivelmente será o americano).

A Philips, com seu Trendset 20 Stereo Espacial, possibilita que o leitor agora já tenha o seu receptor estéreo, para instalar o decodificador no momento em que as emissões forem regulamentadas.

Entretanto, enquanto isso, o dono de um Trendset 20 não terá um televisor a cores comum, pois isso não justificaria o investimento.

O Trendset é um aparelho sofisticado, com controle remoto completíssimo, contando com funções como controle de tonalidade, busca automática de sintonia, etc., e ainda, na sua parte traseira podemos ver recursos que não existem em outros aparelhos.

Destes recursos destacamos a saída para caixas acústicas separadas, a entrada e saída de sinais de vídeo para o vídeo-cassete e para a câmara, quando então o televisor se torna um monitor, e a entrada para usar o próprio amplificador de12 W RMS, do televisor em conjunto com um equipamento externo.

Finalmente, destacamos os recursos do som espacial, ou simulador de estéreo, que possibilita obter, mesmo com estações ainda monofônicas, um efeito a altura da qualidade de áudio do equipamento, com a sensação de volume (som envolvente) que caracteriza o som estereofônico verdadeiro.