Comodidades tecnológicas que sejam usadas de forma indevida sempre causam problemas. Isso já ocorreu por diversas vezes como o caso da exposição da radiação eletromagnética em excesso, radiação ultravioleta, campos magnéticos e outras. Neste artigo abordamos um problema que tem sido relatado e que é associado ao uso do telefone celular.

Problemas de visão têm sido relatados por pessoas que fazem o uso excessivo do telefone celular, o que não é incomum em nossos dias.

Um desses problemas que está se tornando preocupante é a incapacidade de se focalizar os olhos em objetos distantes e que ocorre pela focalização excessiva de imagens próximas no celular. Trata-se da perda de visão estereoscópica ou visão binocular que explicamos melhor. (veja artigo MEC114)

 

Visão estereoscópica

Quando se pesquisa a melhor forma de se visualizar ou detectar com precisão objetos distantes diversas tecnologias podem ser usadas. Os radiotelescópios, por exemplo, se baseiam no princípio da interferometria para localizar e posicionar com precisão fontes distantes no espaço. A ideia básica é ilustrada na figura 1.

 

Figura 1 – Usando a interferência para determinar a posição
Figura 1 – Usando a interferência para determinar a posição

 

 

Se uma fonte de sinal for captada por duas antenas separadas por uma certa distância e ligadas a um mesmo receptor, dependendo da sua posição os seus sinais podem ou não estar em fase. É fácil observar que os sinais estarão em fase se a fonte estiver justamente na linha mediatriz definida pelas estações.

 

Ora, pelo princípio da interferência, as intensidades dos sinais se somam se eles estiverem em fase e se subtraem se estiverem fora de fase, conforme mostra a figura 2.

 

Figura 2 – A interferência
Figura 2 – A interferência

 

 

Assim, basta um pequeno deslocamento do objeto focalizado da linha mediatriz para que seus sinais já sejam fortemente atenuados. Tanto mais afastadas estiverem as antenas, maior será a capacidade de definição do sistema, ou seja, com mais facilidade ele pode distinguir dois objetos próximos, conforme mostra a figura 3.

 

Figura 3 – Distinguindo objetos
Figura 3 – Distinguindo objetos

 

A radioastronomia usa este princípio ligando a um mesmo receptor, dois radiotelescópios situados em locais muito distantes.

No entanto, este processo funciona bem, com a radioastronomia onde os sinais captados são ondas convertidas em sinais elétricos que podem ser combinados e analisados por circuitos. Com as imagens, o problema é um pouco mais complicado. A capacidade de se definir um objeto distante, avaliando-se sua distância é dada pelo que se denomina visão estereoscópica.

Com um olho apenas, vemos nitidamente as coisas, mas não temos o senso de profundidade ou distância, conforme mostra a figura 4.

 

Figura 4 – Não temos o senso de distância com um olho apenas
Figura 4 – Não temos o senso de distância com um olho apenas

 

Com dois olhos podemos ter a sensação de distância ou profundidade, conforme mostra a figura 5. A pequena diferença de ângulo de focalização dos olhos nos permite avaliar a distância em que se encontra o objeto.

 

Figura 5 – A visão estereoscópica
Figura 5 – A visão estereoscópica

 

É por este motivo que temos dois olhos e que, quando tampamos um fica extremamente difícil avaliarmos a distância em que se encontra um objeto (o cérebro pode usar outros recursos para isso, como a ideia de tamanho real do objeto, mas nem sempre isso é possível).

 

Perda da Visão Estereoscópica ou Binocular

Nossos olhos são comandados por músculos que ajustam a imagem que é enviada ao nosso cérebro de modo que ela fique nítida. Conforme mostra a figura 5, o ângulo de ajuste para uma imagem nítida depende da distância.

Como qualquer outro músculo de nosso corpo, a falta de uso provoca sua atrofia. Se ficarmos muito tempo sentados, não conseguimos andar corretamente depois. Os astronautas que ficam muito tempo no espaço sabem disso. Ao voltar tem de fazer um treinamento para que voltem a andar corretamente.

Assim, se ficarmos muito tempo focalizando um objeto próximo, no caso a imagem de um celular, com o tempo perdemos a capacidade de focalizar as imagens distantes, pois os músculos que movimentam nossos olhos enfraquecem.

Esse é o problema que tem sido relatado e que tem uma correção exigindo diversos procedimentos médicos.

Para você que usa o celular constantemente, talvez de maneira excessiva e note que já não consegue ver com nitidez objetos distantes e até tenha dores de cabeça por conta disso, uma boa ideia e programar exercícios.

Que tal deixar de lado o celular por algum tempo todos os dias e procurar um local em que você observar paisagens distantes como, por exemplo, procurar ler uma placa de anúncio num prédio distante, observar os detalhes de uma paisagem, um avião alto que passa, exercitando os olhos.

Uma boa prática que pode evitar que você tenha problemas futuros.

Talvez, nas próximas gerações de celulares que serão 3D, as imagens já serão geradas com senso de profundidade exigindo que seus olhos se adaptem para poder vê-las com nitidez. Aguardamos.