Montagens usando componentes antigos possuem um valor histórico e também did tico. A montagem que descrevemos se enquadra nesta cateogoria sendo altamente recomendada aos leitores que desejam reviver os velhos tempos do rádio ou mesmo para escolas que desejam ter este projeto em seu museu, em demonstrações ou ainda para ensinar de que modo funcionam as velhas tecnologias.


Os receptores de rádio regenerativos antecederam os super-heteródinos modernos, e de outras técnicas mais avançadas, com que estamos acostumados, nas primeiras versões em lugar dos circuitos integrados e dos transistores eram usadas válvulas. Estes receptores, dos anos 20 aos anos 40 usavam como base válvulas triodo, sendo capazes de receber bem sinais de estações muito distantes quando operando na faixa de ondas curtas. No entanto, a sua amplificação era pobre pois as válvulas usadas eram poucas e havia a dificuldade do fornecimento de energia: estes receptores usavam enormes baterias de 90 a 300 volts em alguns casos! Haviam detalhes interessantes a serem considerados em tais receptores: eles precisavam de dois ajustes, a sintonia e a regeneração, que consistia em o circuito ao máximo rendimento com o sinal captado. Se o leitor deseja ter um receptor de tecnologia antiga para demonstração, como curiosidade ou para fazer parte de um museu e possui uma válvula triodo como a 6C4, 6AV6, 6BU6, 6SD4 ou outra que pode ser encontrada num rádio, amplificador ou televisor antigo, eis a oportunidade de partir para um projeto interessante.

 


COMO FUNCIONA
Nos receptores regenerativos o sinal captado pela antena é levado ao circuito de sintonia formado por uma bobina e um capacitor variável (L3 e CV). O número de espiras desta bobina vai determinar a faixa de freqüências que o receptor pode sintonizar. O sinal escolhido é levado à grade da válvula triodo que é o seu elemento de entrada (equivalente à base do transistor). O resistor R1 polariza a base o capacitor C1 dá passagem aos sinais. Após a detecção, onde o sinal de áudio é separado da portadora de alta freqüência, esse sinal de áudio é levado, não diretamente a um fone de ouvido, mas sim de volta, por indução, à bobina L3 via L2. O sinal amplificado é então retirado da placa, que é o equivalente ao coletor do transistor. A quantidade de sinal que é jogado de volta à entrada do circuito por este processo depende do ajuste de P1. Se o sinal de realimentação (que é jogado de volta) for muito forte, ele pode causar uma forte oscilação, ou seja, o circuito "apita" e nada se ouve. Neste caso, devemos então regular esta realimentação atuando em P1 de modo que, o que volta a L3 não seja suficiente para produzir oscilações.

Para que isso? O que ocorre é que o sinal jogado de volta a L3 vai novamente para a grade da válvula e com isso recebe nova amplificação. Desta forma, a válvula amplifica o mesmo sinal duas vezes, funcionando como duas, antes de entregá-lo ao fone de ouvido para a reprodução. O fone que deve ser usado neste circuito precisa ter alta impedância. Se o leitor não dispuser de um fone antigo deste tipo existem duas opções:


a)Podemos usar um fone de baixa impedância colocando um transformador para casamento de impedância, conforme mostra a figura 1.

 


Figura 1 – Usando um transformador para acoplar um fone de baixa impedância.

O transformador pode ser até mesmo um transformador de 110 V de primário com 6 V x 200 a 300 mA de secundário ou ainda um transformador de saída aproveitado de algum antigo rádio de válvulas.
Neste caso, até mesmo um pequeno alto-falante pode ser usado como fone de ouvido.

b) Podemos usar um fone de cristal ou cerâmico (cápsula piezoelétrica) acrescentando o resistor R2 ao circuito.
Uma característica importante deste projeto é que a alimentação da válvula deve ser feita com uma tensão entre 120 e 300 volts a qual deve ser obtida de um transformador.

As válvulas precisam de duas tensões para funcionar: os tipos que começam com a numeração "6" precisam de 6 volts para aquecimento do filamento e além disso é preciso de uma tensão de placa denominada +B. O uso do transformador isola o setor de alta tensão da rede de energia evitando choques, mas mesmo assim ‚ preciso ter cuidados no manejo do aparelho quando ligado.

 


MONTAGEM
Na figura 2 temos o diagrama completo do receptor.

 


Figura 2 – Diagrama completo do receptor. Outras válvulas triodo podem ser utilizadas.

Para mais informações sobre outros triodos, consulte nossos manuais de válvulas cujo download está disponível na nossa seção de válvulas. Você eventualmente pode encontrar um triodo em bom estado (e um transformador) em algum rádio antigo fora de uso.
Os aparelhos valvulados devem ser montados em chassis metálico que até podem ser fabricados com uma chapa de lata ou mesmo uma lata de óleo devidamente aberta, cortada e dobrada com o formato  mostrado na figura 3.

 


Figura 3 – O chassi deve ser de metal e as ligações mantidas curtas para que não ocorram instabilidades de funcionamento.

A vantagem deste material é que se rasparmos a tinta de revestimento interno, ela "aceita" a solda comum com facilidade. Muito cuidado, entretanto, deve ser tomado com as arestas que podem cortar a pele facilmente..Será interessante proteger estas arestas com fita isolante ou mesmo fazer uma espécie de cantoneira com massa epoxi ou outro material. O soquete da válvula pode ser retirado do próprio aparelho de onde ela for aproveitada, e se for um rádio podemos ir além e também aproveitar o capacitor variável. Normalmente, os rádios usam variáveis de duas seções, mas neste caso, só ligaremos uma conforme mostra a mesma figura 3. O capacitor eletrolítico da fonte não é crítico devendo ter de 8+8 uF a 32+32 uF com tensão de pelo menos 450 V.
Televisores, mesmo os modernos, usam estes capacitores duplos. Se o leitor for aproveitar este componente de algum aparelho fora de uso deve testá-lo antes. As bobinas devem ser enroladas conforme mostra a figura 4.


Figura 4 – A bobina é a parte crítica da montagem. Eventualmente deve-se trocar as ligações de uma ou duas delas para se obter a regeneração.

As bobinas são para a faixa de ondas médias. Para a faixa de ondas curtas, a forma e espessura do fio que pode ser o 26 ou mais fino são mantidas. O que muda são as espiras dadas pela tabela abaixo:

Faixa (MHz)       L1   L2    L3
3 a 7 MHz          4      3     40   espiras
7 a 11 MHz        3      2     25   espiras
11 a 20 MHz       3      2     18   espiras


PROVA E USO
Para provar o aparelho ligue-o e aguarde pelo menos dois minutos para que a válvula se aqueça (ela trabalha quente mesmo!).  Depois coloque o fone no ouvido e se houver um apito, reduza o ajuste de sensibilidade (P1) até que ele pare. Ajuste então CV até captar alguma estação. Volte então a P1 e vá ajustando juntamente com a sintonia até obter a melhor recepção. Para a faixa de ondas curtas será preciso uma boa antena externa e ligação à terra feitas conforme mostra a figura 5.

Figura 5 – A antena deve ser isolada nas pontas, longa e ficar o mais longe quanto seja possível de linhas de transmissão, construções ou outras fontes de interferências.

Para ondas médias a antena pode ser mais curta e até mesmo interna.
Lembramos que a melhor recepção ocorre à noite quando a propagação para as ondas curtas permite que os sinais viajem milhares de quilômetros. Na faixa de 7 a 20 MHz será possível captar grandes emissoras internacionais como a BBC de Londres, ORTF de Paris, DW da Alemanha e muitas outras. Se, ao ajustar P1, não ocorrer o apito em determinado ponto e o rendimento do receptor parecer baixo, inverta as ligações de L2. Na figura 6 temos a pinagem de algumas válvulas triodo que podem ser usadas neste projeto.

Figura 6 – Pinagem de algumas válvulas – para outros tipos veja nos manuais que dispomos para download na seção de válvulas.

Temos ainda disponível neste site um manual de equivalências de válvulas de nomenclatura americana e européia, caso o leitor queira utilizar uma válvula diferente das indicadas. O manual de válvulas européias também está disponível.


 

LISTA DE MATERIAL

 


Válvulas:
V1 - 6C4 ou equivalente - ver texto

Semicondutores:
D1, D2 - 1N4007 ou equivalentes - diodos retificadores

Resistores: (1/8W, 5%)
R1 - 2,2 M ohms - vermelho, vermelho, verde
R2 - 10 k ohms - marrom, preto, laranja - ver texto
R3 - 2,2 k ohms - vermelho, vermelho, vermelho
P1 - 10 k ohms - potenciômetro

Capacitores:
C1 - 47 pF - cerâmico
C2, C3 - 8+8 uF a 32+32 uF x 450 V - eletrolítico duplo
CV - capacitor variável de rádio antigo valvulado - ver texto

Diversos:
T1 - Transformador com primário de acordo com a rede local e secundário de 125 + 125 V com corrente a partir de 30 mA e enrolamento adicional de filamento de 6,3 V
S1 - Interruptor simples
L1, L2, L3 - Bobinas - ver texto
Fone - Fone de ouvido de alta impedância (2 k ohms ou mais) - ver texto
Chassi de metal, soquete para a válvula, cabo de força, jaque para o fone (opcional), ponte de terminais, botões de plástico, para o variável e potenciômetro, antena, fio a terra, fios esmaltados, forma para a bobina, etc.