Todo praticante de eletrônica, seja amador ou profissional, deve possuir um multímetro. Evidentemente, a necessidade deste instrumento não está somente apoiada nas medidas básicas de resistência, tensão e corrente. Muito mais que isso, o multímetro, quando usado em todas as suas possibilidades, pode significar uma ajuda importantíssima para todos. Veja neste artigo como aproveitar seu multímetro em testes incomuns de grande valia.

Obs. Este artigo de 1985 é um dos muitos artigos que temos sobre o uso do multímetro. Além disso, temos diversos livros sobre o assunto como o Segredo no Uso do Multímetro e Como Testar Componentes, além do Conserte Tudo que tratam amplamente do assunto.

 

Os multímetros comuns medem tensões, correntes e resistências, em várias escalas.

Os leitores iniciantes, ou que não estejam bem formados em instrumentação, podem pensar inicialmente que este aparelho serve somente para verificar se num circuito circula corrente, se numa fonte a tensão está correta e provar resistores.

Entretanto, não é só isso. Na verdade, o multímetro é um dos instrumentos mais completos que existe.

Se corretamente usado, ele serve para provas na maioria dos circuitos e componentes eletrônicos, com excelente grau de confiabilidade. (figura 1)

 

Figura 1 – Multímetros analógicos comuns
Figura 1 – Multímetros analógicos comuns

 

Veja neste artigo como se utiliza o multímetro na prova de componentes de forma incomum, e também na verificação de características de circuitos e seu funcionamento.

 

O Multímetro

Os multímetros analógicos comuns possuem normalmente duas ou três escalas de tensões contínuas, duas ou três escalas de tensões alternadas, duas ou três escalas de correntes e também algumas escalas de resistências.

A escolha da escala que vai ser usada é feita pela movimentação de Uma chave rotativa ou então pela colocação, em furos apropriados, dos terminais das pontas de prova.

O importante é que as escalas de resistências podem ser usadas para determinação dos estados de diversos componentes.

De fato, os componentes eletrônicos devem apresentar certas resistências quando em bom estado.

Quando conhecermos estas características de resistência, podemos perfeitamente fazer a prova dos componentes.

Igualmente, certos circuitos devem produzir tensões com determinadas características. Se soubermos quais são estas características, poderemos perfeitamente utilizar o multímetro para sua comprovação.

Vejamos então como fazer tudo isso:

 

1. Farejando RF

Uma primeira aplicação importante do multímetro é na verificação do funcionamento de pequenos transmissores e osciladores de altas frequências.

Se ligarmos o multímetro na escala mais baixa de tensão alternante (VCA), o diodo que existe no seu circuito interno funciona como detector.

Deste modo, a aproximação da ponta de prova do circuito oscilador, conforme mostra a figura 2, permite acusar a presença de rádio frequência (RF).

 

Figura 2 – Detectando RF
Figura 2 – Detectando RF

 

A outra ponta de prova deve ficar aberta ou ligada à terra, formando assim uma “antena".

Para frequências muito altas (acima de 10 MHz) o diodo usado internamente pode não detectar muito bem o sinal. Neste caso, podemos fazer um circuito externo para esta finalidade, conforme a figura 3.

 

Figura 3 – Usando um circuito detector
Figura 3 – Usando um circuito detector

 

O díodo usado pode ser o 1N34 ou 1N60.

O multímetro será colocado na escala mais baixa de tensões contínuas (VDC).

Com esta configuração podemos detectar a oscilação de pequenos transmissores de rádio controle ou FM, simplesmente aproximando a ponta de prova de suas antenas.

 

2. Verificação de fugas em eletrolíticos

Um capacitor é um componente em que existem armaduras que devem ser separadas por um isolante. O ideal seria que o isolante fosse perfeito, mas isso não é possível na prática.

Assim, na realidade, os capacitores apresentam uma resistência à passagem da corrente, que para efeitos práticos deve ser a menor possível.

Esta resistência é denominada “de fuga" ou simplesmente “fuga" e nos capacitores que usam isolantes, como o poliéster, a mica ou cerâmica, atinge valores muito altos, da ordem de centenas de megΩ ou mesmo milhares de megΩ. (figura 4)

 

Figura 4 – Fugas em capacitores
Figura 4 – Fugas em capacitores

 

Entretanto, nos casos dos capacitores eletrolíticos, pelo fato do dielétrico (isolante) ter uma grande superfície e pequena espessura (para se obter maiores capacitâncias), esta resistência pode ser bem menor, a ponto de influir no funcionamento do circuito em que o componente é usado.

É por este motivo que, em aplicações em que grandes capacitâncias e resistências devam ser usadas, existe a limitação de valor para os componentes usados.

Num timer com o 555, por exemplo, a resistência de fuga do capacitor eletrolítico pode chegar à mesma ordem da resistência em série, de modo que o ponto de disparo não seja atingido nunca. (figura 5)

 

Figura 5 – Oscilador 555
Figura 5 – Oscilador 555

 

Recomenda-se, neste caso, que o capacitor usado não seja maior que 1 000 µF e em alguns casos até menos.

É claro que existem capacitores com pequenas fugas e outros com fugas maiores num lote do mesmo valor. Com o multímetro podemos medir as fugas dos eletrolíticos de diversos modos.

Um método consiste na medida direta da resistência na escala mais alta de resistências (x1k ou x10 k) - figura 6.

 

Figura 6 – Teste de capacitores
Figura 6 – Teste de capacitores

 

Deve-se esperar até que o capacitor se carregue e a agulha pare de movimentar-se. A leitura pode então ser feita.

Outro modo é mostrado na figura 7.

 

Figura 7 – Teste de corrente de fuga
Figura 7 – Teste de corrente de fuga

 

Utiliza-se uma fonte de tensão contínua de pelo menos 100 V, medindo-se a corrente (esta prova serve apenas para os capacitores com a tensão de pelo menos 100 V).

Um eletrolítico em boas condições de uso deve ter uma fuga não menor que 10 µA (até 10 µF).

Capacitores de valores mais altos admitem valores menores de resistências medidas.

 

3. Como provar transistores unijunção

Os transistores unijunção possuem características diferentes dos transistores comuns. (figura 8)

 

Figura 8 – Transistor unijunção
Figura 8 – Transistor unijunção

 

Podemos prová-los, usando para esta finalidade um multímetro comum. O multímetro dará indicações sobre o estado da base do componente (ligação entre B1 e B2) e também sobre a junção entre o emissor (E) e as duas bases.

Ligando o multímetro na escala de resistência apropriada, entre a base B1 e B2, qualquer que seja a polaridade das pontas de prova, deve ser medida uma resistência entre 4,7 e 9,1k (para o 2N2646).

Ligando a ponta de prova vermelha no emissor (E) e a preta em B1 ou 82, deve ser lida uma resistência baixa (entre 5 e 10 k) e invertendo as pontas de prova, uma resistência muito alta (acima de 10 M).

Esta prova é válida somente para os multímetros que tenham o polo positivo da bateria interna ligado à ponta de prova vermelha.