Analisar o problema de um televisor com o multímetro exige o conhecimento do princípio de funcionamento de cada etapa. Somente desta forma o técnico pode saber que tensão encontrar e como proceder sua medida. Embora o multímetro só possa realizar a medida de tensões contínuas e alternadas de baixas freqüências, sem indicar realmente as tensões correspondentes a sinais de altas freqüências, sua utilização apropriada num televisor permite a localização de problemas com certa facilidade. Neste artigo falamos um pouco do uso do multímetro na reparação de televisores.

Obs. Este artigo é de 1989, servindo como referência para a reparação de televisores da época e anteriores.

A maioria dos diagramas de televisores traz indicadas as tensões contínuas que devem ser medidas nos principais pontos quando o aparelho se encontra em funcionamento normal.

Desta forma, de posse de um simples multímetro, podemos facilmente conferir essas tensões e, com isso, chegar a componentes que apresentam problemas.

No entanto, é preciso levar em conta que a medida de uma tensão anormal nem sempre significa que é o componente ligado àquele ponto que é o causador de um defeito.

Num televisor, como em qualquer outro aparelho eletrônico, os componentes funcionam num equilíbrio dinâmico, de modo que uma falha em um pode refletir na alteração de tensões em diversos pontos.

Diante de um televisor inoperante, ou que tenha alguma função inoperante, o primeiro passo a ser dado pelo técnico consiste na verificação de sua fonte de alimentação.

Conforme mostra a figura 1, os televisores possuem fontes múltiplas que fornecem diferentes tensões para diferentes etapas.

 

   Figura 1 – Fonte múltipla de televisor
Figura 1 – Fonte múltipla de televisor

 

Se toda fonte não opera, devemos começar sua análise a partir da entrada, verificando se diodos, capacitores ou fusíveis não apresentam problemas.

O multímetro deve, neste caso, ser utilizado na escala apropriada de tensões contínuas (DC Volts) e sua ponta negativa ligada à referência de 0 V.

Um capacitor eletrolítico em curto, por exemplo, pode fazer com que o fusível de proteção ou o diodo queima.

Veja que, encontrando capacitores em curto, é sempre importante verificar se outros componentes também não foram afetados por isso.

Do mesmo modo, o curto-circuito de um diodo pode afetar os capacitores e causar a queima do fusível de proteção.

Para o caso de termos tensões em alguns setores, é preciso verificar cada saída de tensão e os componentes associados.

Veja que, um curto numa etapa alimentada por um setor de uma fonte pode causar uma queda apreciável de sua tensão e até mesmo a própria queima de seus componentes, como sugere a figura 2.

 

   Figura 2 – Alterações de tensão
Figura 2 – Alterações de tensão

 

Uma vez verificada a situação de uma fonte, se ela se encontrar em bom estado, devemos passar à análise das etapas suspeitas.

A escolha da etapa depende da manifestação do defeito.

Um defeito na etapa de sincronismo afeta a estabilidade da imagem, mas não o brilho da tela e nem o som (é claro que existe a possibilidade do defeito refletir-se na fonte, e esta servir para a alimentação de outras etapas, mas isso será comprovado no primeiro teste).

As tensões indicadas nos diagramas dos fabricantes normalmente são contínuas, em condições de ausência de sinal, ou seja, sem que o televisor esteja sintonizando alguma estação.

Nos televisores valvulados, trabalhamos com as escalas mais altas de tensões e medimos seus valores nos catodos, grades e placas.

Num televisor transistorizado, medimos a tensão no coletor, emissor e base; e num que tenha circuitos integrados, nos pinos dos integrados, como mostra a figura 3.

 

  Figura 3 – Etapas de televisores
Figura 3 – Etapas de televisores

 

Na verdade, nos televisores com válvulas e transistores, a simples medida da tensão de catodo e de emissor (quando ele não está ligado à terra) já serve para uma avaliação imediata de estado.

Uma tensão muito alta no emissor ou catodo indica algum elemento em curto, enquanto que uma tensão anormalmente baixa indica algum componente aberto.

Podemos partir de imediato para a busca de resistores abertos ou capacitores em curto nesta mesma etapa.

Não é necessário retirar um resistor do circuito para se fazer uma avaliação de seu estado.

Basta desligar o televisor da alimentação e fazer a medida.

Num circuito, a resistência equivalente a uma associação, em que o resistor se encontra em paralelo, é sempre menor ou, no máximo, igual à resistência apresentada por este resistor (figura 4).

 

   Figura 4 – Medida de resistência
Figura 4 – Medida de resistência

 

Assim, se tentarmos medir com o multímetro o valor de um resistor num circuito e encontrarmos um valor maior do que aquele que esperamos para este resistor podemos concluir que certamente ele está aberto ou alterado para mais (os resistores não se alteram para menos, nem entram em curto).(Existem exceções)

No entanto, se a medida resultar num valor menor do que a resistência esperada, o teste não é conclusivo e, em caso de dúvida, seria preciso soltar um dos terminais do componente para comprovação de estado.

Os testes de capacitores também podem ser feitos com o multímetro.

Um capacitor em curto altera sensivelmente as tensões de polarização de uma etapa, conforme mostra a figura 5.

 

   Figura 5 – Alteração por capacitor em curto
Figura 5 – Alteração por capacitor em curto

 

A medida de resistência de um capacitor nestas condições indica um vaIor nulo ou próximo disso.

No entanto, se o capacitor estiver aberto, o multímetro não pode indicar nada.

Para os casos de suspeita de capacitor aberto, um procedimento simples consiste em se ligar o televisor no circuito e colocar um capacitor de mesmo valor em paralelo como vemos na figura 6.

 

Figura 6 – Utilizando capacitor externo
Figura 6 – Utilizando capacitor externo

 

Uma caixa de substituição de capacitores, em que podemos selecionar valores por meio de chaves, consiste, pois, num instrumento de trabalho bastante eficiente para casos como este, a não ser que o técnico disponha sempre de uma “caixa” com os próprios componentes, soldados “de improviso“, para realização do teste (figura 7).

 

Figura 7 – Década de capacitores
Figura 7 – Década de capacitores

 

Veja que a existência de um capacitor em curto normalmente indica que algum resistor deve ter recebido toda corrente circulante.

Assim, procure sempre “nas vizinhanças“ algum resistor aberto ou alterado (com sinais de queima) antes de fazer a troca e ligar novamente o aparelho.

Nos circuitos transistorizados, é preciso levar em conta que as junções dos transistores se comportam como diodos.

Assim, quando medimos um resistor de polarização dependendo da posição como é feita a conexão das pontas de prova, podemos fazer uma polarização direta ou inversa da junção que se encontra em paralelo, como sugere a figura 8.

 

Figura 8 – Teste de junções
Figura 8 – Teste de junções

 

Se a junção for polarizada no sentido direto, certamente teremos uma indicação de resistência muito baixa, bem menor do que a representada pelo próprio valor do resistor.

Neste caso, devemos inverter as pontas de prova para nova medida.

Se a indicação for ainda de baixa resistência, então o resistor não está aberto, embora esta prova não seja conclusiva; mas se a indicação for de resistência maior do que o valor do resistor, então certamente ele estará alterado ou aberto.

Se todos os componentes em torno de uma válvula ou transistor estiverem bons, mas mesmo assim as tensões forem anormais, devemos suspeitar da própria válvula cu transistor.

Medindo a tensão de coletor de um transistor ou placa de uma válvula, devemos encontrar um valor próximo da tensão de + B.

Um valor muito baixo ou num indica interrupções no circuito de coletor ou placa, que podem ser devidas a enrolamentos de bobinas, transformadores ou de resistores abertos, conforme vemos na figura 9.

 

  Figura 9 – Medindo tensões
Figura 9 – Medindo tensões

 

 

CONCLUSÃO

O multímetro quando usado adequadamente, pode constituir-se numa ferramenta de grande eficiência para a localização de falhas num televisor tanto tipos antigos que utilizam válvulas, como os intermediários que usam somente transistores e até os mais modernos que empregam grande quantidade de circuitos integrados.

Para os leitores que desejam iniciar se na reparação é fundamental conhecer todas as possibilidades de uso do multímetro.

Se você ainda não domina este instrumento, sugerimos a leitura dos livros “O Segredo no Uso do Multímetro", “Como Testar Componentes” e “Conserte Tudo” de Newton C. Braga.