Escrito por: Newton C. Braga

Os efeitos que estímulos elétricos controlados podem ter sobre o organismo humano são realmente fantásticos. Na verdade, se levarmos em conta que nosso sistema nervoso também opera por meio de estímulos elétricos, é justo pensarmos que qualquer influência externa semelhante possa interferir no seu funcionamento. Cabe à medicina, associada a eletrônica, pesquisar no sentido de encontrar os tipos de estímulos que possam ser benéficos, e usá-los. Isso realmente tem acontecido com o desenvolvimento de diversos equipamentos que hoje são de uso comum em hospitais, consultórios médicos e até em residências. Um exemplo importante de de aplicação para estímulos controlados está na técnica de eliminação da dor, indução ao relaxamento e ao sono com a ajuda de recursos eletrônicos. Nesse artigo, focalizaremos uma técnica de estimulação eletrônica bastante usada atualmente cujos resultados têm se mostrado realmente fantásticos.


Nosso sistema nervoso opera através de estímulos elétricos. Impulsos, que têm intensidades variando entre 5 e 50 mV, percorrem nossos nervos levando informações captadas pelos nossos órgãos sensoriais, ou geradas no nosso organismo, para o cérebro. O cérebro responde com novos impulsos que visam efetuar algum tipo de ação, contraindo músculos, por exemplo.

Se algo vai mal com nosso organismo, os estímulos são de alarme e isso é interpretado pelo cérebro como dor.  É justo, portanto, que qualquer estímulo elétrico, que venha de fora, tenha uma forte ação sobre o nosso sistema nervoso, causando-nos sensações de todos os tipos. Temos uma amostra disso quando levamos choques.


Figura 1 – As correntes elétricas excitam as células nervosas, causando o choque.

Na verdade, o que denominamos choque elétrico é a manifestação desagradável da eletricidade em nosso organismo, quando a intensidade da corrente ou dos estímulos nervosos se torna excessiva, e até mesmo perigosa, sendo interpretada dessa forma pelo nosso cérebro. No entanto, o que se descobriu é que o choque, na sua forma desagradável, não é a única ação que a eletricidade aplicada ao organismo humano pode ter. As correntes elétricas, que são forçadas a circular pelo organismo humano, não têm somente a propriedade de estimular os nervos, causando sensações estranhas, desagradáveis ou mesmo agradáveis, mas também podem causar outros tipos de efeitos. Os pesquisadores descobriram diversos efeitos que podem ajudar em muitos tipos de terapias. Em outro artigo de nossa autoria, mostramos de que modo estímulos, de freqüências e intensidades controladas, foram usados para tornar permeáveis as membranas de células cancerosas de modo a facilitar a penetração de medicamentos, que de outra forma tinham sua ação bloqueada. Um aparelho eletrônico era usado simultaneamente com a aplicação da droga, aumentando em milhares de vezes seu efeito.

Figura 2 – Estímulos elétricos podem facilitar a penetração de medicamentos numa célula aumentando sua eficácia.


No entanto, pulsos elétricos controlados também podem ter efeitos importantes sobre o sistema nervoso como, por exemplo, controlando a dor. A técnica de se controlar a dor com esses recursos é denominada TENS, ou Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation ou ainda, em português, Estimulação Elétrica Transcutânea dos Nervos.

Os equipamentos de TENS nada mais são do geradores de pulsos elétricos controlados, para aplicação sobre a pele e que, penetrando no organismo e atuando sobre o sistema nervoso, podem ser empregados em diversas terapias, com destaque para a eliminação de dores crônicas, além de relaxamento e até mesmo indução ao sono.

A ELETRICIDADE E A DOR

Nosso corpo é percorrido por uma verdadeira rede de comunicações, que recebe e envia impulsos elétricos, informando uma central sobre tudo o que se passa nele. Essa rede é o sistema nervoso e o cérebro é a central de comutação e processamento. Mas, o mais importante para os leitores de uma revista técnica de eletrônica, é saber que os nervos operam com impulsos elétricos. Quando algo vai mal em alguma parte de nosso corpo é dado um sinal de alarme, e este sinal consiste em estímulos de determinado tipo que, percorrendo o sistema nervoso, chega ao cérebro. Esses impulsos são processados e interpretados como dor. Se as dores são produzidas dessa forma, e a transmissão é feita ao cérebro por meio de impulsos elétricos, está claro que a estimulação externa com impulsos apropriados, e da mesma natureza, pode interferir nesse sistema e, portanto, na sensação obtida, a ponto de em alguns casos até haver sua eliminação.

As pesquisas mostraram que impulsos de baixas frequências, entre 40 e 350 por minuto, aplicados no local da dor, produzem um efeito relaxante que acaba por romper o ciclo vicioso tensão – espasmo - dor. Equipamentos de eletroestimulação,  têm sido amplamente usados em consultórios dentários, há muitos anos, com resultados positivos.

No entanto, avanços nos estudos mostraram que, se a baixa frequência dos estímulos for modulada com uma outra frequência mais alta, da ordem de 100 Hz, ocorrem efeitos mio-relaxantes e analgésicos mais rápidos, e a sensação desagradável provocada por pulsos isolados é eliminada.
O equipamento, que é conectado ao paciente através de eletrodos aderentes com um gel especial, que facilita a transferência dos estímulos elétricos, provoca um relaxamento muscular, o que traz grandes benefícios.

É importante notar que muitas dores de cabeça crônicas e mesmo dores de ouvido são dores irradiadas. Um tensionamento da musculatura mastigatória feito de forma irregular, por uma deficiência de oclusão por exemplo, pode levar o paciente se sentir dores de cabeça e de ouvido de forma constante, e que não são nem localizadas por exames convencionais e nem cortadas pela terapia tradicional. O tratamento dentário, acompanhado da estimulação do músculo que, pelo ciclo vicioso tensão – espasmo - dor, causa dores, levando-o a um relaxamento, pode ter efeitos surpreendentes. A ação dos estímulos, no caso de músculos tensos, que podem causar dores profundas, tem uma explicação bastante simples de ser entendida:  Os músculos são formados por células em forma de fusos, que se contraem no sentido de seu comprimento quando são estimuladas, conforme mostra a figura 3.

Figura 3 – A contração das células é responsável pela ação dos músculos.


Assim, a cada estímulo nervoso, com a contração o comprimento total da fibra muscular se reduz, e com isso o músculo pode exercer uma força mecânica, por exemplo, movimentando uma mandíbula. No entanto, o que temos é a realização de força mecânica por um tempo finito, o que, fisicamente, implica em trabalho e portanto na conversão de energia.Essa energia vem da queima de gorduras, o que significa que toxinas, ou seja, substâncias tóxicas resultantes do metabolismo, são produzidas no processo devendo ser eliminadas.  Quando fazemos um exercício pesado, a produção de toxinas pode ser maior que a velocidade com que são eliminadas, e quando isso ocorre, o seu acúmulo no tecido muscular causa a dor.

Um estado de "stress" acentuado, ou mesmo de tensão nervosa, pode impedir que um músculo se relaxe depois de um processo de uso e, com isso, as toxinas produzidas passam a ser eliminadas com dificuldade. O resultado disso também é a dor. Da mesma forma, um problema de oclusão dentária pode manter os músculos de uma mandíbula tensos, a ponto de dificultar a eliminação de toxinas e causando dores. Muitas pessoas, nessas condições, podem sentir fortes dores crônicas que são irradiadas aparecendo como dores de cabeça ou dores de ouvido. Essas dores são devidas tanto à presença das toxinas não eliminadas nas fibras musculares pela dificuldade de seu relaxamento, como pela sua própria tensão que estimula de forma intensa os nervos.A aplicação de estímulos ritmados, como os propostos por muitos pesquisadores, provoca uma contração e distensão ritmada que força a eliminação das toxinas pelo exercício, e com isso restabelece a condição normal das fibras: descontraídas e sem toxinas. Evidentemente, além da sensação agradável obtida, que pode até levar o paciente ao sono, há o relaxamento e a eliminação da dor.

Em suma, estímulos elétricos controlados aplicados desta forma podem descontrair músculos tensos e com isso levar o paciente a um alivio da dor, eliminação de toxinas prejudiciais, relaxamento, etc.



AS INDICAÇÕES

A possibilidade de se dispor de um eletroestimulador portátil, que possa ser usado em qualquer parte, que não tenha contra-indicações ou necessite de receita médica, é muito atraente, sem dúvida, para muitos leitores que sofrem de problemas crônicos de dor. No entanto, deve ser lembrado que a dor é causada por diversas situações desfavoráveis em que o organismo se encontra. Isso significa que qualquer mecanismo que possa eliminar a dor é importante, desde que as causas não sejam esquecidas. Assim, os equipamento deste tipo devem ser usados com cautela e inteligência, já que a causa da dor, que se pretende eliminar, deve ser identificada por um profissional. Dentre as possíveis aplicações para a eletroestimulação destacamos as seguintes:

   a) Em odontoestomatologia
O equipamento pode ser usado no relaxamento da musculadura mastigatória e facial.
 Podemos empregá-lo no diagnóstico e tratamento de disfunções ATM (Articulação Têmporo-Mandibular), neuropatias e mialgias da musculatura mastigatória.
Tratamento de processos inflamatórios e álgicos, agudos e crônicos.
Profilaxia e prevenção de dores e edemas pós-operatórios.
Relaxamento do paciente no pré e trans-operatório, potencializando o efeito anestésico e analgésico, aumentando limiar de percepção e reação à dor.
Tratamento de trismus, espasmos e contraturas da musculatura superficial e profunda da face.
Aceleração de processos cicatriciais.


   b) Em reabilitação oral e aplicações em prótese, ele pode ser usado para:
Relaxar e desprogramar a musculatura mastigatória e facial.
Moldar o recorte muscular em prótese total e parcial (moldagem mio-dinâmica).
Detectar trauma oclusal
Ajustar contactos prematuros (coronaplastia)
Determinar o espaço livre interoclusal
Obter registros maxilo-mandibulares
Reposicionar a mandíbula em sua trajetória neuro-muscular fisiológica
Normalizar o equilíbrio do sistema neutro-muscular
Obter a trajetória miocêntrica da mandíbula
Obter a Oclusão Miocêntrica, através da desprogramação da memória proprioperceptiva.


   c) Em cirurgia e Medicina Geral, o eletroestimulador pode ser usado nos seguintes casos:
No pré, trans e pós operatório
Relaxamento neuro-psico-muscular
Para obter efeitos analgésicos e antinflamatórios em pós-operatórios.
Para analgesia geral
Na eliminação do stress e da ansiedade


   d) Em Ortopedia, Fisioterapia e Medicina Esportiva:
Preenche com vantagens todas as aplicações de TENS


   e) Em Psicoterapia e Psicologia:
Indução ao relaxamento físico e mental mais fácil e rápido


   f) Outras áreas de aplicação:
Estética facial
Fonoaudiologia
Reabilitação neuro-muscular
Indução ao sono artificial ou fisiológico
Eliminação da tensão e fadiga
Tratamento de cefaléias tensionais
Reativação de funções neuro-musculares
                       



VERSÕES PORTÁTEIS

Uma característica importante dos aparelhos de eletroestimulação (TENS) é que, para suas versões portáteis, não existem contraindicações (*) e que ele pode portanto ser usado sem receita médica.


(*) Na verdade a única contra - indicação está no caso de pacientes que usam marca- passos não blindados e que podem ter este dispositivo afetado pelos pulsos gerados pelo estimulador. É claro que, como alertamos no artigo, que a dor é uma espécie de alarme que nosso corpo lança quando algo vai mal, cortar a dor, sem verificar sua causa, é como desligar um alarme de incêndio num prédio pegando fogo esperando, com isso, que o fogo se apague.



Eletroestimulador (TENS) de uso portátil.


Se, conhecida a causa da dor e feito o devido tratamento (consulte um profissional - dentista, médico, etc.), o uso do aparelho pode significar tanto uma ajuda neste tratamento como também um alívio para o desconforto que ela causa. Estes aparelhos, normalmente, são alimentado por uma bateria de 9 V comum ou pilhas pequenas, com boa autonomia. Os impulsos elétricos são aplicados ao paciente por eletrodos adesivos, impregnados de um gel especial que facilita a condução elétrica. O aparelho é fornecido com em certa quantidade de eletrodos, mas esses eletrodos podem ser adquiridos separadamente em qualquer quantidade conforme as necessidades do tratamento. O circuito eletrônico típico é formado por dois osciladores que possuem ajustes de frequência feitos por meio de potenciômetros comuns. A faixa de intensidade dos pulsos gerados é determinada pelas pesquisas, de modo a se obter os efeitos desejados, assim como sua frequência.



Utilização de um eletroestimulador portátil.


É levado em conta, na determinação da intensidade e frequência dos pulsos, tanto o local da aplicação, a terapia que se visa ou o efeito, como também o fato de que a condutividade da pele por onde têm de passar os estímulos não é a mesma para cada pessoa. Assim, como cada situação exige um ajuste próprio, que é feito pelo usuário, o acesso aos controles é importante para se obter os efeitos desejados.
A utilização não tem limites quanto ao tempo, havendo casos de pessoas que o utilizam como relaxante de modo a induzir ao sono, e dormem com o aparelho ligado. 


Manutenção de Equipamentos Médicos
Muitos dos nossos leitores gostariam de entender mais de muitos equipamentos médicos, como o TENS para poderem prestar serviços de reparação aos consultórios de sua localidade. Fica claro, nesse caso, que a reparação de um Estimulador TENS é relativamente simples, pois são circuitos formados por osciladores de baixa freqüência, temporizadores e fontes cujos sinais podem ser observados em qualquer osciloscópio e as tensões medidas com simples multímetros. Na maioria dos casos, os próprios componentes são de uso comum, não oferecendo dificuldades aos profissionais de reparação.