Não somente celulares e fornos de micro-ondas consistem numa ameaça para a nossa saúde, dada a radiação que emitem. Mais do que isso, os próprios fios elétricos, que estão em toda parte, criam campos magnéticos cujos efeitos só agora preocupam pesquisadores do mundo inteiro. Associados á doenças como o câncer e até mesmo o Mal de Alzheimer os campos de baixa freqüência consistem numa ameaça tão grande como a radiação dos celulares para a nossa saúde.  A polêmica sobre o perigo dessas radiações se arrasta há muitos anos mas finalmente organizações mundiais estão tomando consciência da dimensão do perigo.

 

 

   Este artigo foi publicado originalmente na revista Novitá de Guarulhos – SP em outubro de 2007 – O assunto bastante polêmico, estava sendo debatido na ocasião como agora, por diversas entidades. Em especial naquele município, preocupava-nos a proximidade de habitações de diversas linhas de transmissão de energia de alta tensão.


 

 

   Vivemos cercados por equipamentos de alta tecnologia, com os quais estamos acostumados e nem sequer pensamos em nos desfazer deles. No entanto, ao lado do conforto e facilidades que eles nos trazem, algo preocupante também os acompanha: o perigo das radiações que produzem. A quantidade de equipamentos elétricos e eletrônicos que emitem ondas ou produzem campos magnéticos de baixas freqüências tem aumentado de uma forma muito intensa nos últimos anos. Em nossa casa e no nosso trabalho estamos imersos num verdadeiro mar de radiações produzidas pelos mais diversos tipos de aparelhos comuns. Uma preocupação maior com a saúde já é constatada quando se discute os problemas causados pelos equipamentos que emitem ondas de altas freqüências como os telefones celulares, fornos de micro-ondas e muitos outros. Mas não são somente eles a causa de problemas e de nossas preocupações. Não nos damos conta disso, mas os fios das instalações elétricas de nossa casa, da rede de energia das ruas e das redes de alta tensão também produzem radiação. Em torno desses fios existem os chamados campos de baixas freqüências ou ELF EMF (Extra Low frequency – Electro-Magnetic Field) que também consistem numa ameaça para nossa saúde. A polêmica sobre o perigo desses campos vem de longe. Já há 20 anos atrás, em artigos que publicamos na Revista Saber Eletrônica e também em palestras, alertamos para os estudos feitos em diversos países que associaram o campo magnético dos fios de alta tensão à leucemia, principalmente em crianças. Diversas organizações desde então realizaram estudos no sentido de estabelecer que tipo de perigo as radiações produzidas tanto por fios de alta tensão e eletrodomésticos, os campos de baixa freqüência, como as produzidas por aparelhos de comunicação como telefones celulares, denominadas campos de alta freqüência, podem trazer. Os resultados permitiram estabelecer algumas normas de segurança para os usuários e mesmo para os fabricantes para os aparelhos, mas posteriormente verificou-se que a abordagem do problema estava completamente errada.

 

   A Abordagem Correta do problema

   Partiu-se do princípio de que as ondas aquecem o tecido vivo e que é o calor que elas geram que representa a maior ameaça á saúde. No entanto, há mais por traz de tudo isso. Posteriormente descobriu-se que existem outros efeitos muito perigosos que as ondas e que podem causar. E eles se manifestam mesmo quando as ondas são muito fracas. Basta estar na sua presença! Por exemplo, as ondas podem fazer com que sejam induzidas correntes elétricas nos tecidos vivos as quais provocam reações químicas e alterações fisiológicas inclusive de cunho genético! Mais que isso, os campos magnéticos em torno dos fios elétricos de alta-tensão, e mesmo de transformadores, fazem com que íons de determinadas substâncias de nosso corpo tendam a vibrar de forma mais intensa, devido à ressonância. Íons de cálcio e potássio têm freqüências próprias de vibração bem próximas dos 60 Hz da rede de energia o que é um perigo. Vibrando intensamente eles destroem as moléculas em que estão presentes, podendo causar alterações fisiológicas ou mesmo a morte das células! Na Europa já houve até uma tentativa de se mudar a freqüência da rede de energia para 120 Hz, afastando-a assim da ressonância desses íons, mas isso implicaria em uma mudança não só de toda a rede como de todos os eletrodomésticos que dependem de freqüência para funcionar, tais como geladeiras, máquinas de lavar e tudo mais que use motores... Isso seria inviável a curto prazo e o projeto foi deixado de lado (apesar do perigo para a saúde das pessoas). Os estudos ainda associaram os campos dos fios de alta tensão à diversas outras doenças como tumores no cérebro, câncer de mama, stress, alterações fisiológicas do aparelho auditivo e até mesmo Alzheimer e Parkinson! Tal foi a repercussão desses estudos que imediatamente normas passaram a reger a presença de humanos perto de fontes potenciais desses campos, produzidos pelos fios elétricos que transportam energia, principalmente as linhas de alta tensão. Enquanto na Europa e Estados Unidos é proibido construir residências a menos de 100 metros das linhas de alta tensão, causa-nos horror ver perto da Rodovia Fernão Dias, na nossa própria Guarulhos, divisa com São Paulo, casas construídas sob as linhas de alta tensão, algumas quase tocando nos fios que passam a menos de 5 metros delas! Certa vez, em palestra que demos, no final fui procurado por uma pessoa que disse que eu tinha salvo sua vida. A pessoa me contou que trabalhava numa mesa no segundo andar de um prédio, e do outro lado da parede, a menos de 2 metros de distância, havia um transformador num poste. O forte campo magnético desse transformador certamente estava fazendo um lento trabalho de destruição no organismo dessa pessoa que só iria descobrir isso muitos anos depois, tarde demais para se fazer qualquer coisa. Evidentemente, nenhum estudo no sentido de se fazer um levantamento estatístico dos casos de leucemia e outras doenças que possam estar associadas a campos de baixa freqüência nos moradores dessas casas foi sequer pensado, quanto mais feito! É preciso alertar nossas autoridades.

 

  Um Grupo de Estudos Sério

  Na Europa, visando estabelecer novas normas quanto ao perigo dos campos de baixa freqüência e também de radiação de celulares e outros, foi formado um grupo de estudo denominado BioInitiative Working Group, que vai fazer um estudo profundo de todos esses problemas, estabelecendo novas normas de segurança que devem ser adotadas no mundo inteiro. Esse grupo envolve organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Health Protection Agency (Inglaterra), International Agency for Cancer Research (IARC) e  muitas outras. Os resultados de alguns estudos, já nos deixam preocupados, e normas devem vir em pouco tempo, talvez até blindando as instalações elétricas de nossas casas! Enquanto isso, cabe a cada um de nós ficar prevenido. Não se exponha à equipamentos ou instalações que emitam qualquer tipo de radiação elétrica ou magnética de forma prolongada. Numa próxima oportunidade vamos falar também dos celulares.

 

Explicações:

Quando uma corrente elétrica percorre um fio, em sua volta aparece um campo magnético que se espalha pelo espaço. Esse campo é tanto mais intenso quando mais forte for a corrente. No caso dos fios da rede de energia esse campo “ vibra”  numa freqüência de 60 Hertz (60 vezes por segundo) gerando assim uma “onda”  de baixa freqüência, daí serem chamados de campos de extra baixa freqüência ou ELF. Por outro lado, as correntes produzidas nas antenas dos celulares e aparelhos de comunicação são muito mais rápidas. Nos celulares são mais de 800 MHz ( vibram 800 milhões de vezes por segundo)sendo por isso seus campos responsáveis por ondas de rádio freqüências ou RF.

 

(*) Newton C. Braga é diretor técnico das Revistas Saber Eletrônica e Eletrônica Total, colabora com as revistas Mecatrônica Fácil e Mecatrônica Atual, tem mais de 100 livros publicados no Brasil e Exterior e é professor de Mecatrônica do Colégio Mater Amabilis.