Na segunda parte do artigo "Micro Transmissor de FM" (*) havíamos feito considerações sobre a tensão de alimentação, analisado seu funcionamento e dado a relação do material usado de modo a permitir que o leitor interessado o providenciasse com bastante antecedência. Nesta terceira parte, finalmente, passaremos a parte prática do projeto, instalado os componentes na placa de circuito impresso, e colocando em funcionamento o circuito completo. Com relação à placa de circuito impresso, como se trata da parte de execução mais difícil em todo o projeto temos uma surpresa para nossos leitores. Para êxito completo da montagem, sugerimos que nossos leitores sigam à risca todas as instruções que daremos pois como se trata de circuito bastante crítico, qualquer deslize por parte do montador pode por o projeto a perder e o reaproveitamento da placa para uma nova tentativa é quase impossível.

(*) A primeira parte deste artigo é o ART2801. A segunda parte é o ART2803.

Obs. O artigo é de 1977. A descrição é feita com os materiais da época. O trimmer, por exemplo, pode ser moderno plástico e o microfone pode ser uma cápsula piezoelétrica em lugar da original de cristal.

 

De posse do material necessário à montagem, e tendo escolhido a configuração final: (figura 1)

 

Figura 1
Figura 1

 

a) caixinha simples com 1,5 ou 3 volts

b) caixinha maior com 6 ou 9 volts

c) montagem oculta em objeto ou livro

d) como oscilador fonográfico ou retransmissor

 

O leitor pode pensar na execução, reunindo o ferramental necessário e o material. Antes, porém, leia com atenção as instruções que se seguem, assim como algumas observações importantes sobre os resultados obtidos.

 

A PLACA DE CIRCUITO IMPRESSO

De posse da placa de circuito impresso, seguindo nossas instruções, o leitor habilidoso não terá o que errar na construção de seu micro-transmissor.

Uma breve descrição da placa poderá ser importante para os que nunca trabalharam com uma antes e, ao mesmo, tempo alertar os que já tem experiência para determinados pontos críticos de seu manuseio e utilização.

Conforme podemos observar, a placa possui duas faces, sendo uma lisa, contendo apenas furos e outra com a impressão em cobre de determinadas linhas. Pois bem, essas linhas impressas são os ”fios" de ligação entre os componentes obedecendo já, uma disposição pré-determinada correspondente ao circuito. (figura 2)

 

Figura 2
Figura 2

 

A espiral de cobre, por exemplo, é a bobina L1 e de suas características depende a frequência de operação do micro transmissor. O máximo de cuidado deve ser tomado para não se danificar essa bobina interrompendo as ligações ou colocando-as em curto por um possível escorrimento da solda..

Os componentes são todos montados do lado sem impressão da placa, tendo seus terminais dobrados e enfiados pelos furos correspondentes de modo que saiam do lado cobreado. Deste lado, eles são soldados conforme mostra a figura 3, e o excesso do terminal pode ser cortado com um alicate.

 

Figura 3
Figura 3

 

Nas soldagens evite o uso de pasta de soldar, pois sendo ácida, pode posteriormente atacar o cobre. Use um soldador de ponta bastante fina, para que a solda não se espalhe pelas ligações adjacentes causando curto-circuitos que prejudicariam o funcionamento do aparelho. Solda de boa qualidade, fina, ajuda bastante nesta tarefa. (figura 4)

 

Figura 4
Figura 4

 

Para a soldagem, a nossa recomendação é a seguinte:

Aqueça bem o soldador durante uns 5 minutos pelo menos e estanhe sua ponta, ou seja, esfregue um pedaço de solda de modo que ao derreter-se ela envolva a ponta do ferro mantendo-a “molhada" de solda (figura 5).

 

Figura 5
Figura 5

 

Para soldar, encoste a ponta do ferro no terminal do componente e no, local cobreado onde deve ser feita a soldagem, e a solda deve ser encostada a seguir no terminal a se soldar e não na ponta do ferro. Ao derreter, a solda envolve o terminal e escorre pelo cobre, formando entre ambos uma junção metálica. Retire o ferro de soldar e sem mexer no conjunto espere a solda endurecer. (figura 6).

 

Figura 6
Figura 6

 

A operação de soldagem deve ser rápida, pois o calor correndo pelos terminais pode afetar os componentes e ao mesmo tempo pode desprender o cobre da placa que lhe serve de base, estragando a placa.

A furação da plaquinha para colocação dos componentes é feita em função da lista que fornecemos na parte 2. Entretanto, pode ocorrer que os componentes adquiridos tenham dimensões um pouco diferentes das previstas, caso em que a dobra de seus terminais deve ser feita de acordo com a furação que lhe é destinada.

No caso dos resistores por exemplo, se forem usados os de 1/8 W, quase todos poderão ser montados deitados, com seus terminais dobrados em ângulo reto. Entretanto, o leitor também pode usar resistores um pouco mais (se não os encontrar) como, por exemplo, os de 1/4 W caso em que deverá montá-los em pé (figura 7).

 

Figura 7
Figura 7

 

 

A MONTAGEM E O CIRCUITO

Na figura 8 temos o diagrama completo do micro-transmissor, e na figura 9 a placa de circuito impresso vista por baixo e por cima com a disposição dos componentes. O leitor deve guiar-se por estas figuras em todas as operações necessárias à construção do transmissor.

 

Figura 8
Figura 8

 

 

 

Figura 9
Figura 9

 

 

RECOMENDAÇÓES:

As operações de soldagem devem ser rápidas, e os componentes colocados nas posições indicadas pelos desenhos.

 

SEQUÊNCIA DE SOLDAGENS

A) SOLDAGEM DO JUMPER:

Preparação: o jumper consiste num pedaço de fio rígido de ligação que faz a conexão entre o terminal central da bobina e o terminal adjacente ao terminal de antena. (ligações 1 e 2 no desenho).

Para fazer este jumper pegue um pedaço de fio rígido de uns 3 cm e descasque suas pontas de modo a deixar apenas uns 0,7 ou 0,8 cm de capa. Dobre as pontas desse fio e encaixe-as pelo lado liso da placa nos orifícios correspondentes de modo que as pontas saiam do lado cobreado.

Pelo lado cobreado então a soldagem das ligações 1 e 2:

Jumper: ponto de solda 1 -> ponto de solda 2

 

B) SOLDAGEM DO TRANSISTOR Q2 (BF 494)

Para a soldagem destes componente apenas recomendamos rapidez e observação de sua posição. Colocado pelo lado de cima, com os terminais ligeiramente abertos, a parte chata deve ficar voltada para a borda da placa. O transistor deve ser colocado na sua posição e apertado ligeiramente, mas sem encostar seu corpo plástico na placa; este deve ficar afastado da placa pelo menos uns 3 mm (figura 10).

 

Figura 10
Figura 10

 

Pelo lado cobreado proceda as conexões 3, 4 e 5.

Transistor Q2: ponto de solda 3, 4 e 5

Os excessos dos terminais do transistor são cortados rente a placa após sua soldagem.

 

C) SDLDAGEM DE C4

O capacitor de mica ou cerâmica de 5,6 pF não tem nada de especial. Na verdade, capacitores com valores entre 2,2 e 10 pF poderão funcionar perfeitamente nesta função. Colocado na sua posição pode ser feita sua soldagem do lado cobreado e cortados os excessos dos terminais.

Capacitor C4: ponto de solda 6 e 7

 

D) SDLDAGEM DE R4

Se este resistor for de 1/8 W como recomendado- na lista de material você poderá montá-lo na posição deitada, mas se for um pouco maior, deve montá-lo em pé. Dobre seus terminais e encaixe-os nos orifícios correspondentes e proceda à soldagem. Corte os excessos dos terminais após esta operação. Este resistor pode ser identificado pelas cores dos seus anéis: Amarelo, violeta e preto.

Resistor R4: ponto de solda 8 e 9

 

E) SOLDAGEM DE C5

Para este componente não existe nenhuma observação especial a ser feita quanto a soldagem. Ele pode ser identificado pelas cores amarelo, violeta e vermelho, a partir de sua parte superior. As demais cores são indicativas de tolerância e tensão, não precisando ser observadas. O capacitor deve ser montado com seu corpo encostando na placa. Corte os excessos dos terminais após a soldagem.

Capacitor C4: ponto de solda 10 e 11

 

F) SOLDAGEM DE R3

Este componente pode ser montado como R4, em pé ou deitado, conforme seu tamanho. Sua identificação é feita pelas cores de seus anéis a saber: amarelo, violeta e vermelho.

Após a soldagem, os excessos dos terminais devem ser cortados:

Resistor R3: ponto de solda 12 e 13

 

G) SOLDAGEM DE, R5.

Proceda do mesmo modo que em R3, para a soldagem deste componente. Em pé ou deitado, a posição é escolhida em função de seu tamanho. Sua identificação é feita pelos seus anéis cujas cores são: laranja, laranja e vermelho. Corte os excessos dos terminais após a soldagem.

Resistor R5: ponto de solda 14 e 15

 

 

H) SOLDAGEM DE C2

Este capacitor de poliéster é igual a C5 sendo, portanto, das mesmas cores: amarelo, violeta e vermelho; Sua montagem é feita do mesmo modo nos orifícios correspondentes. Após a soldagem corte os excessos de seus terminais.

Capacitor C2: ponto de solda 16 e 17

 

l) TRANSISTOR Q1 (BC548 ou equivalente)

Observe a posição em que este componente deve ser colocado pelo desenho. A parte achatada deve ficar voltada para o lado de Q2. Os terminais devem ser ligeiramente ajeitados e o transistor não deve ser muito apertado contra a placa. Deixe uma distância de uns 3 mm como no caso de 02. Após a soldagem, corte os excessos dos terminais.

Transistor Q1: ponto de solda 18, 19 e 20

 

J) SOLDAGEM DE C1

A posição de C1 na placa é mostrada na figura, de modo que o leitor não terá dificuldades para sua colocação. Os orifícios são projetados para a colocação de capacitores de disco de cerâmica, que, permitem um ótimo grau de miniaturização. Corte os excessos dos terminais após a soldagem.

Capacitor C1: ponto de solda 21 e 22

 

K) SOLDAGEM DE R1

Esse resistor pode ser montado em pé, que é a melhor posição em vista do espaço disponível para a colocação dos terminais. Sua identificação é feita por seus anéis: marrom, preto, laranja. Após sua soldagem os excessos dos terminais devem ser cortados.

Resistor R1: ponto de solda 23 e 24

 

L) SOLDAGEM DE R2

Esse resistor pode ser montado em pé ou deitado. Sua identificação é feita pelos anéis: vermelho, vermelho, verde. Após a soldagem, corte os excessos dos terminais.

Resistor R2: ponto de solda 25 e 26

 

M) SODLDAGEM DE C3

Para a fixação do trimmer alguns cuidados especiais deverão ser observados. O primeiro se refere a necessidade de fazermos um prolongamento de seus terminais o que consiste em dois pedaços de fio rigido soldados Conforme mostra a figura 11.

 

Figura 11
Figura 11

 

Esse prolongamento, é necessário, em vista do parafuso de ajuste na sua parte inferior encostando na placa e no jumper, não permitir que os terminais passem para o lado cobreado da placa e possam ser soldados.

Uma vez colocados os prolongamentos o trimmer deve ser colocado exatamente na posição indicada pela figura, com a armadura móvel ou a placa que se move com o parafuso para o lado de baixo. Se for feita inversão, teremos problemas de instabilidade de frequência.

Corte os excessos dos prolonga mentos após a soldagem.

Trimmer C3: ponto de solda 27 e 28

 

N) ANTENA

A antena consiste num pedaço de fio rígido de no máximo 12 cm de comprimento que tem um dos seus extremos descascado e dobrado de modo a se encaixar no orifício correspondente. Para outro tipo de instalação pode ser feito uma ligação à antena por meio de um pedaço de fio que no máximo deverá ter uns 10 cm de comprimento.

 

O) MICROFONE ou CÁPSULA FONOGRÁFICA

a) Se o microfone usado for uma cápsula de fone de ouvido de cristal você deve começar por retirar os parafusos da parte posterior do fone e dessoldar as conexões do fio de ligação, demorando o mínimo possível nesta operação. A seguir, solde dois pedaços de fio rígido descascado nesses terminais e dobre suas pontas de modo a se encaixar nos terminais da placa X e Y. (figura 12)

 

Figura 12
Figura 12

 

Uma vez soldados por baixo, os fios sustentarão o fone que será usado como microfone.

b) Se for usada uma cápsula grande de microfone de cristal, o fio usado poderá ser o mesmo, devendo-se apenas observar que o terminal isolado da cápsula deve ser conectado ao ponto Y da placa e o terminal de carcaça ao ponto X da placa.

c) Se for usada uma cápsula fonográfica como fonte de sinal, sua ligação deve ser feita com fio blindado, devendo o condutor central ser ligado ao ponto Y e o condutor externo (blindagem) ao terminal X.

d) Se a fonte de sinal for um gravador, ou ainda um amplificador o sinal pode ser retirado da saída de fone ou do alto-falante por meio de um capacitor ligado em série.

 

P) INTERRUPTOR E SUPORTE DE PILHAS

Se bem que a colocação de um interruptor não seja obrigatória, sua instalação é bastante simples. 0 interruptor é colocado entre o terminal (+) da placa e o fio que vai ao polo positivo do suporte de pilhas.

O fio do negativo do suporte de pilhas vai ligado diretamente ao terminal (-) da placa.

 

AJUSTE E USOS

Completada a montagem confira todas as ligações, verificando principalmente se não existem corrimentos de solda que ponham em curto-circuito as ligações entre os diversos componentes da placa, principalmente as espiras de L1.

Se. tudo estiver em ordem, coloque as pilhas no suporte e ligue nas proximidades (uns 30 cm) seu receptor de FM com o volume quase todo no máximo porém fora de estação, num local livre entre 100 e 108 MHz.

Em seguida com uma chave de fenda, gire vagarosamente para a esquerda o parafuso do trimmer de modo que sua placa se afaste do seu ponto mais próximo da placa inferior. (figura 13).

 

Figura 13
Figura 13

 

O leitor deverá notar alguns ruídos diferentes do receptor como, por exemplo, a sintonia de estações ou chiados (batimentos) até que em determinado momento haverá um intenso apito provocado por realimentação acústica (microfonia). Neste ponto você deve parar de girar o trimmer diminuir o volume do receptor, e batendo com os dedos no microfone ajustar a sintonia do receptor para melhor recepção.

Este é o ponto de funcionamento. Marque bem a frequência do receptor em que o sinal passará a ser captado.

Como o circuito é de certo modo critico, algumas observações devem ser feitas com relação ao seu uso:

a) Ajustes temporários do trimmer podem ser necessários, de modo a compensar modificações de características dos componentes, como o esgotamento de pilhas, mudanças de temperatura etc.

b) Quando em operação não aproxime a mão da antena, ou de qualquer ponto do circuito, pois seu sinal pode ter a frequência alterada por influência da capacitância de sua mão. Se você o usar sem caixa, segure-o pela borda da plaquinha ou pelo corpo plástico do microfone. (figura 14).

 

Figura 14
Figura 14

 

c) Para fixação em caixa de metal ou plástico, cuidado com o contacto do parafuso de fixação com o lado cobreado da placa. Use uma arruela de fibra para isolar.

d) No caso do uso de microfone de cristal grande, a aproximação excessiva da mão pode causar instabilidade. Fale a uns 5 cm do microfone no mínimo e evite encostar suas mãos na cápsula quando em funcionamento.

e) O balanço excessivo do aparelho pode causar pequenas variações de frequência, conforme a montagem feita. Evite-os.

f) O aparelho não deve ser colocado no interior de compartimentos metálicos, nem sua antena deve ficar em contacto com peças metálicas.

g) No caso do uso de uma fonte de alimentação 9 volts, recomenda-se a utilização do aparelho em caráter intermitente e a substituição do resistor R4 de 47 Ω por um de 220 Ω. Sem essa substituição, o transistor pode aquecer-se em excesso a ponto de se queimar. O uso intermitente significa que você deve manter o aparelho ligado apenas alguns momentos de cada vez, quando falar.

Com tensões menores não há qualquer problema de uso. Com duas pilhas, por exemplo, ele poder permanecer em funcionamento contínuo durante horas seguidas.

 

ESPIONAGEM ELETRONICA

Na instalação do aparelho oculto é bastante importante que o som possa chegar facilmente até o microfone e que os sinais irradiados não tenham dificuldades em chegar ao aparelho receptor.

Dentro de um livro, conforme sugerimos, ou numa caixa pequena, devem existir furos para a passagem do som. Se o som for muito agudo (estridente),isso pode ser compensado pela ligação de um capacitor de pequeno valor em paralelo com o microfone.

A antena do transmissor pode ficar tanto na vertical como na horizontal, sendo apenas recomendado que não fique próxima de objetos metálicos.

Para o caso de uso em escuta clandestina, a alimentação ideal é a feita por duas pilhas (3 volts), caso em que obtém bom alcance e boa durabilidade para as próprias pilhas.

Na figura 15 a foto do protótipo da época.

.

Figura 15 – Microtransmissor montado
Figura 15 – Microtransmissor montado

 

 

Publicado originalmente em 1977, Alterado em 2016