Escrito por: Newton C. Braga

Apresentamos um transmissor de pequena potência experimental para a faixa de AM, que pode servir para diversas finalidades. Pode ser usado em demonstrações (feiras de ciências e aulas prá ticas), mostrando de que modo operam as estações telegráficas; pode servir para treinamento de Código Morse pelos candidatos aos exames de radioamador; pode servir para comunicações a curta distância, utilizando-se como receptor um rádio portátil comum Trata-se enfim de uma montagem experimental muito interessante, pelo seu aspecto didático.

Os transmissores mais simples de rádio são os de onda contínua (CW = continuous wave) que emitem simplesmente a componente de alta frequência que geram numa etapa osciladora, sem qualquer tipo de informação.

Como não há interesse prático numa emissão de rádio que não transporta informações (pelo menos em princípio), a saída para este tipo de aparelho, para ser usado na prática, consiste em se fazer interrupções codificadas do sinal emitido. (figura 1).

 

Figura 1 – Codificando o sinal
Figura 1 – Codificando o sinal

 

Deste modo, a emissão passa a ser feita na forma de sinais de curta e longa duração que correspondem aos pontos e traços.

Um código de pontos e traços é adotado universalmente, sendo denominado Código Morse, conforme damos a seguir:

 


 

 

No transmissor que propomos, o controle da emissão é feito por meio de uma chave (manipulador), a qual pressionada por um período curto dá o ponto e por um período mais longo o traço (a duração do traço deve ser três vezes a do ponto, para facilitar a identificação).

O alcance do aparelho é da ordem de 5 a 10 metros apenas, sendo os sinais recebidos num radinho de AM comum.

Passe nos ao circuito e à montagem.

 

COMO FUNC!ONA

O nosso transmissor não emite uma onda contínua (CW) pura, pois se assim fosse, ao ser captada por um radinho, não haveria som, mas sim somente uma espécie de “sopro" no alto-falante, não muito fácil de ser decifrado.

Para que haja um som modulamos com um tom de áudio a onda contínua e assim obtemos um “apito” no alto-falante. Um apito curto será então um ponto e um mais longo um traço. (figura 2)

 

Figura 2 - Modulação
Figura 2 - Modulação

 

O diagrama de blocos de nosso transmissor alimentado por 4 pilhas é mostrado na figura 3.

 

Figura 3 – Diagrama de blocos
Figura 3 – Diagrama de blocos

 

A primeira etapa é o oscilador de áudio que leva por base um transistor unijunção.

Nesta configuração, bastante comum, o capacitor C1 carrega-se através do resistor R1 e de P1 até ser atingido o ponto de comutação do transmissor, quando então ele liga, produzindo um pulso e a descarga do capacitor.

Com a descarga ele desliga e um novo ciclo se inicia. Dependendo do valor de C1 e do ajuste de P1 temos uma velocidade diferente para este ciclo de descarga e, portanto, uma tonalidade diferente para o tom de áudio. Um manipulador em série com este circuito permite controlar as oscilações. (figura 4)

 

Figura 4 – O oscilador modulador
Figura 4 – O oscilador modulador

 

O sinal desta etapa passa para a seguinte que é a de modulação que leva um transistor comum BCS48 como base.

Ele amplifica o sinal e o aplica ao bloco seguinte

O bloco seguinte é o transmissor propriamente dito, que consiste num oscilador Hartley modificado, o qual opera numa frequência livre da faixa de ondas médias. (figura 5)

 

Figura 5 – O oscilador de alta frequência
Figura 5 – O oscilador de alta frequência

 

Esta frequência é determinada pelas características da bobina L1 e peio ajuste que se faz em Cv, que é o capacitor de sintonia.

O transmissor utiliza um transistor de média potência para se ter um sinal de razoável intensidade, já que, quanto menor a frequência, mais potência precisamos para um mesmo alcance.

A alimentação vem de 4 pilhas pequenas ou médias, ou ainda de uma fonte de 6 V que deve fornecer pelo menos 250 mA de corrente.

 

MONTAGEM

Todos os componentes utilizados são comuns, apenas sendo a bobina de tipo não comercial que será enrolada num bastão de ferrite pelo próprio leitor.

Esta bobina consiste em aproximadamente 80 voltas de fio comum ou esmaltado de espessura entre 22 e 28 AWG (qualquer um serve) num bastão de 0,8 a 1 cm de diâmetro com 10 a 20 cm de comprimento. (figura 6)

 

Figura 6 – A bobina
Figura 6 – A bobina

 

Depois de enrolar 50 voltas, faça uma derivação e enrole mais 30.

Sugerimos como "chassi" uma ponte de terminais que será fixada com os demais componentes numa base de madeira. (figura 7)

 

Figura 7 – A montagem em ponte de terminais
Figura 7 – A montagem em ponte de terminais

 

O manipulador será improvisado com uma lâmina de metal na própria base de madeira, conforme mostra a figura 7.

Na figura 8 damos o diagrama completo do aparelho.

 

   Figura 8 – Diagrama do transmissor
Figura 8 – Diagrama do transmissor

 

Se o leitor é estudante ou principiante procure sempre realizar a montagem observando simultaneamente o diagrama e o desenho em ponte.

Na montagem tome cuidado com as posições dos transistores; os valores dos resistores dados pelos códigos de cores; os valores dos capacitores cerâmicos dados por diversos códigos.

O capacitor variável usado pode ser de qualquer tipo para ondas médias.

Ligue os terminais extremos juntos para obter maior capacidade no máximo e com isso maior faixa de atuação.

 

PROVA E USO

Coloque pilhas novas no suporte, observando sua polaridade. Depois, ligue nas proximidades, em torno de 1 000 kHz, um radinho de ondas médias (AM) em meio volume, num ponto em que não hajam estações operando.

Ligue o interruptor geral S1 e aperte o manipulador.

Sintonizando Cv você deve captar o sinal do transmissor. Ajuste P1 para o som desejado.

Eventualmente você poderá captar mais de um sinal do transmissor. Afaste o radinho e escolha o mais forte.

A antena usada para o transmissor é simplesmente um pedaço de fio de 1 a 2 metros ou então do tipo telescópico.

Para usar, é preciso em primeiro lugar ter calma, pois a memorização do código e de seu uso exige tempo.

De preferência fique numa sala e coloque o receptor com um amigo, em outra. Comece transmitindo letras e números apenas para memorizar o código e isso em ritmo lento. Depois passe às palavras e às mensagens completas.

Somente depois que for adquirindo prática, tanto na emissão como na recepção, é que o leitor deve aumentar a velocidade de transmissão das mensagens.

 

Q1 - 2N2646 - transistor unijunção

Q2 - BC548 ou equivalente - transistor NPN

Q3 - TIP31 ou equivalente - transistor NPN

BJ - 6 V - 4 pilhas pequenas ou médias

P1 – 100 k - potenciômetro

CV - capacitor variável (ver texto)

L1 - bobina de antena (ver texto)

M - manipulador

S1 - interruptor simples

R1 – 10 k x 1/8 W - resistor (marrom, preto, laranja)

R2 – 560 R x 1/8 W - resistor (verde, azul, marrom)

R3 – 100 R x 1/8 W - resistor (marrom, preto, marrom)

R4 - 330 k x 1/8 W - resistor (laranja, laranja, amarelo)

R5 - 15 k x 1/8 W - resistor (marrom, verde, laranja)

R6 - 8k2 x 1/8 W - resistor (cinza, vermelho, laranja)

C1 - 33 nF (333) - capacitor cerâmico

C2, C3 - 1n5 (152) - capacitores cerâmicos

C4 - 100 nF (104) - capacitor cerâmico

C5 - 220 pF - capacitor cerâmico

Diversos: ponte de terminais, base de madeira, bastão de ferrite, suporte para 4 pilhas, fios, solda, antena telescópica, etc.