Este projeto tem um valor especial para mim, pois foi uma das minhas primeiras montagens. Trata-se de um excelente transmissor de AM cujo alcance ultrapassa os 100 metros, com qualidade de som e utilizando componentes que até podem ser aproveitados de rádios antigos.

Na época em que montei este transmissor, quando a eletrônica era ainda um “mistério” para a maioria das pessoas, o fato de se falar num microfone e ter sua voz reproduzida num rádio era algo “mágico”.

De fato, o impacto na minha escola, onde eu ainda estava no ginásio foi tanto, que o professor de ciências desejou que eu me inscrevesse no concurso muito importante da época chamado “Cientistas de Amanhã”.

Se bem que o projeto nada tenha de inovador, ele é interessante por aproveitar válvulas usadas em rádios AM, e ser de fácil montagem.

O único ponto negativo, e que exige certo cuidado, é que as válvulas têm os filamentos em série e a retificação é direta sem transformador, o que significa que o circuito é “vivo”, podendo causar choque em que tocar nele.

A única alteração que fizemos neste artigo foi trocara válvula retificadora de então 35W4 por um diodo 1N4004 que é mais barato e fácil de obter.

Os demais componentes se mantém segundo a versão original.

 

O circuito

Um tipo de rádio a válvula bastante popular nas décadas e 50, 60 e até mesmo parte de 70, era o chamado “rabo quente” em que havia uma série de válvulas como a 35W4, 12BE6, 12BA6, 12AV6, e 50C5 que tinham seus filamentos em série e não usava transformador.

Na figura 1 mostramos que se somarmos as tensões dos filamentos das válvulas obtínhamos menos que os 110 V da rede de energia, precisando de um resistor adicional.

 

   Figura 1 – Os filamentos em série
Figura 1 – Os filamentos em série

 

Em lugar de se usar um resistor comum em série, o que se fazia era utilizar um cabo de força resistivo, ou seja, com fio de nicromo em lugar de fio comum.

Desta forma, ele proporcionava a queda de tensão necessária para que todos os filamentos das válvulas recebessem a tensão necessária ao seu funcionamento.

No entanto, por ser resistivo, o cabo de força operava levemente aquecido, daí o nome “rabo quente” dado popularmente a estes receptores.

No nosso caso, o que vamos fazer é utilizar duas válvulas daquela série e um resistor real em série com os filamentos para que o funcionamento seja normal.

Apenas lembramos que os sinais emitidos por este receptor devem ser restritos, não devendo ser utilizada antena externa.

 

Como Funciona

Usamos duas válvulas, a 12AV6 e a 50C5.

A primeira consiste num triodo pré-amplificador de áudio que nos rádios da época era usada como detectora e pré-amplificadora.

No nosso circuito, ela será usada como amplificadora para os sinais do microfone e também como moduladora.

A segunda, do tipo 50C5 consiste num pentodo de potência ou saída de áudio, que nos receptores originais, alimentava o alto-falante.

No nosso circuito, esta válvula terá sua configuração alterada de modo que ela funcione como osciladora.

Ela será então ligada como um oscilador Hartley onde a frequência depende da bobina e do ajuste de um capacitor variável duplo obtido de um antigo rádio AM valvulado.

Na figura 2 mostramos este capacitor observando-se os pontos em que a ligação de suas seções é normalmente feita.

 

   Figura 2 – Ligação do capacitor variável
Figura 2 – Ligação do capacitor variável

 

A alta tensão que alimenta o circuito, nos rádios antigos vinha de uma 35W4 usada como retificadora.

No nosso circuito usamos um diodo e para a filtragem um duplo capacitor de alta tensão, já que neste circuito a tensão retificada alcança os 150 V.

 

Montagem

Para a montagem utilizamos um chassi de metal, por exemplo, de alumínio aproveitado de rádioantigo ou feito artesanalmente.

Na figura 3 mostramos o diagrama completo do transmissor.

 

   Figura 3 – Diagrama do transmissor
Figura 3 – Diagrama do transmissor

 

Na figura 4 damos a disposição dos componentes no chassi de metal.

 

   Figura 4 – disposição dos componentes no chassi
Figura 4 – disposição dos componentes no chassi

 

Observe que um dos fios da alimentação vai ligado ao chassi que então serve de terra para o circuito.

Esse fato exige que o aparelho seja instalado em caixa de plástico ou madeira, para isolar o chassi, pois qualquer toque acidental pode causar choques perigosos.

Esse fato também exige que o microfone seja fechado em caixinha isolada, pois sua malha estará em contato com o chassi.

Na figura 5 mostramos como testar um capacitor duplo que pode ser aproveitado de equipamento valvulado antigo.

 

  Figura 5 – Testando o capacitor de filtro
Figura 5 – Testando o capacitor de filtro

 

Na realidade, este tipo de componente se deteriora com facilidade, dando-se preferência a um novo duplo ou mesmo dois capacitores separados.

Se, no teste a lâmpada acender, o capacitor está inutilizado, não devendo ser utilizado.

Se, no projeto, ocorrerem roncos em demasia, isso significa que este capacitor está esgotado, não filtrando a tensão contínua de forma apropriada.

O capacitor variável é duplo, aproveitado de um antigo rádio AM, de suas seções.

Na figura 6 mostramos como deve ser feita sua ligação ao transmissor.

 

   Figura 6 – O capacitor variável
Figura 6 – O capacitor variável

 

Sua conexão é feita como mostra a figura 7.

 

   Figura 7 – Ligação do capacitor variável
Figura 7 – Ligação do capacitor variável

 

Um pequeno alto-falante pode ser utilizado como microfone, mas para isso precisamos de um transformador de saída que pode ser obtido de antigos rádios valvulados.

Na figura 8 mostramos como fazer sua ligação.

 

   Figura 8 – Usando um alto-falante como microfone
Figura 8 – Usando um alto-falante como microfone

 

 

Prova e Uso

Ligue nas proximidades um rádio AM sintonizado numa frequência livre da faixa de ondas médias.

Ligue o transmissor e espera de 3 a 4 minutos para que as válvulas se aqueçam.

Atue sobre o variável (que deve ter um botão plástico, pois um toque direto pode causar choques) até captar o sinal mais forte.

Como antena você pode deixar um pedaço de fio de 2 a 10 metros de comprimento.

Captado o sinal, fale diante do microfone.

A reprodução deve ser limpa.

Se ocorrerem roncos, inverta a posição da tomada.

Se os roncos continuarem, verifique o estado do capacitor C1, pois ele pode estar esgotado, e ainda a blindagem do fio do microfone.

V1 – 12AV6 – válvula triodo

V2 – 50C5 – válvula pentodo

D1 – 1N4004 – diodo de silício

L1 – 50 + 50 espiras de fio 28 num tubo de PVC ou papelão de 2,5 cm sem núcleo

CV – capacitor variável – ver texto

F1 – 1 A – fusível

S1 – interruptor simples

C1 – 8+8 a 32+32 µF x 150 V ou mais – capacitor eletrolítico duplo

C2 - 100 nF x 500 V – capacitor cerâmico

C3, C4 – 100 nF – capacitor cerâmico

C5 – 47 µF x 50 V ou mais – capacitor eletrolítico

R1 – 330 Ω x 10 W – resistor de fio

R2 – 1 k Ω x 5 W – resistor de fio

R3 - 220 k Ω x 1/8 W – resistor – vermelho, vermelho, amarelo

R4 – 330 Ω x 1/8 W – resistor – laranja, laranja, marrom

Diversos:

Cabo de força, chassi, botão para o variável, jaque para o microfone, suporte para o fusível, soquetes de 7 pinos para as válvulas, fios, etc.