Os radio receptores super-heteródinos valvulados estiveram em moda durantes muitos anos, entre 1930 e 1960 aproximadamente, sendo o aparelho principal da maioria dois lares. Naquela época o principal objetivo de todo técnico eletrônico era saber como funcionavam tais receptores pois eles consistiam em 90% do seu trabalho de reparação de oficina. Ainda hoje vemos estes rádios nas mãos de colecionadores, que os recuperam e os apresentam nas suas caixas originais que eram verdadeiras obras de arte como ilustramos neste artigo. Nossa finalidade neste artigo é lembrar aos antigos técnicos como funcionavam aqueles rádios e aos novos ensinar um pouco da mais tradicional eletrônica das válvulas.


Tomamos como ponto de partida para nosso artigo um rádio tradicional de 5 válvulas do tipo “rabo-quente” , exemplo dos milhões que existiram no meio do século passado e cujo diagrama e mostrado na figura 1.



Este tipo de receptor chamava-se “rabo quente”  por que, para alimentar os filamentos das válvulas ligados em série, era preciso ter uma redução de tensão, o que seria conseguido com a ligação de um resistor em série. Pois bem, este resistor era o próprio fio de nicromo do cabo de força. Assim, quando o radio funcionava este fio aquecia levemente, dissipando calor, o que levou ao nome que se popularizou entre os técnicos.

Analisemos então o funcionamento de nosso receptor que, no exemplo foi projetado apenas para receber ondas médias. Se bem que as ondas curtas eram populares e os receptores para elas simplesmente tinham jogos adicionais de bobinas, o FM não existia.

O receptor indicado utiliza uma antena de quadro, ou seja, na parte traseira do rádio, normalmente de madeira, era enrolado uma bobina em forma de quadro, calculada para sintonizar a faixa de onda médias.



Como Funciona:
Os sinais captados pela antena de quadro e sintonizados através de um capacitor variável de duas seções são levados à uma das grades da válvula misturadora - conversora V1. Esta válvula tem uma função dupla, pois ela também tem por função oscilar produzindo uma frequência que depende da estação sintonizada. Assim, a bobina osciladora ligada esta válvula e à outra seção do variável formam um circuito que sempre vai produzir uma frequência cuja diferença em relação a frequência da estação sintonizada seja de 455 kHz.

Assim, não importa qual seja a frequência da estação, o oscilador sempre produz um sinal cuja diferença resulte em 455 kHz. Por que isso? A idéia é que combinando os sinais das estações desta forma, obtendo-se sempre 455 kHz, podemos usar um circuito de frequência fixa para fazer a amplificador daqui para frente. Isso chama-se heterodinagem e a frequência diferença, 455 kHz é denominada Frequência Intermediária ou FI.

Assim, conforme podemos ver pelo diagrama no anodo da válvula ligamos um transformador sintonizado em 455 kHz, o transformador de FI, onde os sinais de qualquer estação, agora convertidos para esta frequência, podem passar para a etapa seguinte.

A etapa seguinte é a primeira amplificadora de FI, tendo por elemento principal a válvula V2. Esta válvula amplifica então estes sinais e os joga no segundo transformador de FI de onde eles passam para uma etapa seguinte.

A etapa seguinte tem função dupla. Ela serve como detetora e ao mesmo tempo pré-amplificadora de áudio. É utilizada uma válvula triodo com dois dinodos (pequenos eletrodos auxiliares); Aplicando o sinal de FI, que é um sinal modulado de 455 kHz, a válvula detecta estes sinais, separando a componente de alta frequência (455 kHz) do sinal de áudio, que desejamos reproduzir.

 O sinal de alta frequência é desviado para a terra, mas o sinal de áudio é aplicado à grade da válvula recebendo então uma amplificação. Este é o ponto do rádio em que deixamos de ter sinais de altas frequências e passamos a ter apenas sinais de áudio de baixas frequências.

No anodo da válvula V3 está ligado o potenciômetro de controle de volume que nos permite determinar quanto de áudio passa para a válvula seguinte que é a de saída (V4).

Para amplificação de potência de áudio normalmente eram utilizadas válvulas pentodo de potência como a 50L6. Esta válvula fornece uma potência de aproximadamente 2 W de saída o que é mais do que suficiente para um pequeno rádio de mesa, como este.

No entanto, observe que o alto-falante não pode ser ligado diretamente à válvula, pois o alto-falante é de baixa impedâncias e as válvulas são dispositivos de altas impedâncias de saída. Para casar as impedâncias é então utilizado um pequeno transformador de saída onde é ligado o alto-falante.

Elementos adicionais das etapas são os resistores de polarização e os capacitores de acoplamento e desacoplamento.

Os receptores transistorizados seguem o mesmo esquema de funcionamento com a única diferença que, em lugar de cada válvula é utilizado um transistor.

Para completar a alimentação de corrente contínua para este circuito vem de uma fonte especial. O circuito deve funcionar com uma tensão da ordem de 150 V contínuos, o que é obtido retificando-se e filtrando-se a tensão da rede. Esta função é feita pela válvula V5, uma 35Z5, retificadora de meia onda. Na entrada aplicamos a corrente alternada diretamente da rede e na  saída obtemos corrente contínua que é filtrada por um grande eletrolítico duplo.
Observe que este rádio não é isolado da rede, representando pois, perigo de choque para qualquer pessoa que tocar em suas partes;

Para os técnicos a maior parte do trabalho depois da reparação consistia em se fazer o ajuste, levando os circuitos a operar na frequência correta. Observe a quantidade de trimmers que tinham de ser ajustado cuidadosamente para se obter o funcionamento do circuito. Na nossa seção de idéias práticas temos o procedimento para este ajuste.

Veja mais - Ajuste de rádios AM