Este artigo foi publicado na época das comemorações dos 60 anos do dia D em 1945, que culminou com as ações que puseram fim à Segunda Grande Guerra. Tem um grande valor histórico por retratar a tecnologia da época.

 

O período do domínio nazista na Alemanha certamente é uma época que deve ser esquecida pelos crimes que foram cometidos e pelos sofrimentos passados por muitas pessoas.

No entanto, existem aspectos históricos que não devem ser esquecidos, principalmente os que levaram ao desenvolvimento de tecnologias que até hoje utilizamos como, por exemplo, a dos fornos de microondas.

Na Alemanha nazista, o rádio também teve uma história bastante interessante que deve ser conhecida pelos nossos leitores

Todo o poder que o governo nazista tinha sobre seu povo devia-se a uma máquina de propaganda fantástica que tinha a capacidade de convencer a todos de que tudo que se fazia era certo.

Isso incluía não só a impossibilidade do cidadão comum saber o que se passava fora das fronteiras nazistas, como também a utilização de meios que cancelavam quaisquer tipos de informações externas que pudessem afetar os objetivos daquele governo.

Assim, Hitler se empenhou em criar coisas que fossem específicas para uso do povo alemão, como o “carro do povo” que deu origem ao conhecido Volkswagen, e da mesma forma tratou de desenvolver receptores de rádio que pudessem levar a todos os lares alemães a sua propaganda, sem conseguirem entretanto, sintonizar com facilidade sinais que viessem de fora.

E ele fez isso de uma forma muito bem feita. Tudo começou em 1933 quando Hitler se tornou Chanceler da Alemanha e iniciou um trabalho de radiodifusão de propaganda organizado pelo Ministro do Interior Frick e um membro da AS chamado Hadamowsky.

Frick foi posteriormente julgado e condenado no tribunal de Nuremberg pelos crimes de guerra, tendo sido enforcado.

Assim, em abril de 1933, engenheiros do Heinrich Hertz Institute, sob o comando do professor Leithäuser, mapearam toda a Alemanha, analisando as intensidades de campo em cada local, chegando à conclusão que bastava um receptor muito simples para se ter a cobertura de todo o território com estações localizadas, e esses receptores teriam dificuldades em receber qualquer sinal que viesse de fora.

Surgiu, então, o conceito de um receptor popular (volksempfänger em alemão) que poderia ser fabricado em massa e distribuído para toda a população.

Tudo isso foi acompanhado de severas leis que proibiam todos de sintonizarem qualquer emissora estrangeira. As punições para esses casos iam de 5 anos de prisão à pena de morte.

O receptor, bastante simples, pois usava uma configuração regenerativa e apenas três válvulas, recebeu o nome de VR301, cuja propaganda é mostrada na figura 1.

 


 

 

 Evidentemente, como qualquer receptor da época, o VE301 era totalmente baseado em válvulas, com um circuito relativamente simples que lhe garantia a sensibilidade necessária para receber as estações locais em ondas médias e longas, mas com pouca sensibilidade para receber estações mais afastadas, pelos motivos que já explicamos anteriormente.

O VE301 foi apresentado ao povo alemão na Radio Fair em Berlim em agosto de 1933, tendo sido criado por Otto Griesing. O emblema nazista, uma águia, foi criado por Walter Maria Kersting, sendo colocado em todos os receptores.

O VE301 era produzido em diversos formatos e modelos, mas com o mesmo circuito interno, que é ilustrado na figura 2. Observe as válvulas RGN354 (retificadora de meia onda), a REN904 (triodo amplificado) e a RES1064 (pentodo de saída).

Conforme podemos ver, temos uma fonte de alimentação com uma válvula retificadora de meia onda, alimentada diretamente pela rede de energia. Nesse diagrama, o circuito é alimentado por duas tensões, com retificação direta, mas haviam circuitos para várias tensões com transformador dotado de primário com derivações.

 

O VE301
O VE301

 

Na internet encontramos diversos circuitos que, em muitos casos, são adaptações que possibilitam seu funcionamento com as tensões das redes atuais de energia.

Duas válvulas pentodo eram empregadas na parte “ativa” do circuito.

A primeira formava uma etapa regenerativa que recebia os sinais do circuito de sintonia, formado por um conjunto de bobinas que podia ser selecionado conforme a faixa recebida.

Na figura 3, as válvulas RGN354 e RES1064 usadas no receptor. Detalhe curioso é a presença de apenas 3 pinos na válvula retificadora de meia onda.

Dois capacitores variáveis eram usados nessa etapa. Um para fazer a sintonia propriamente dita, e outro para ajustar a regeneração de modo a se obter o maior ganho.

 


 

 

 O sinal detectado por essa etapa passava através de um transformador de acoplamento à etapa seguinte, onde uma segunda válvula fazia a amplificação de áudio entregando o sinal a um alto-falante.

Naquela época eram usados alto-falantes “de campo” com bobinas de alta impedância, o que permitia sua conexão direta ao anodo da válvula, sem a necessidade de um transformador de saída.

Esses alto-falantes, em lugar do ímã permanente, tinham uma bobina que gerava o campo magnético para a bobina móvel que, então, era excitada pelos sinais ou diretamente ou a partir de um transformador.

Na figura 4 temos um receptor desse tipo aberto.

 

O VE301 aberto
O VE301 aberto

 

 Na figura 5 exibimos outro cartaz de propagando do receptor, que apenas no ano da pré-produção vendeu 100.000 unidades.

 

Cartaz anunciando o rádio
Cartaz anunciando o rádio

 

 Finalmente, vemos na figura 6 um receptor de colecionador, restaurado e mostrado na internet. Observamos que o emblema nazista desses receptores foi retirado por motivos óbvios, uma vez que em certos países sua presença é proibida.

  

Receptor restaurado
Receptor restaurado