Escrito por: Newton C. Braga

Este artigo é parte do livro Instalações Elétricas Sem Mistérios, publicado em 2005 (última edição). Nele abordamos os perigos dos choques elétricos e alguns procedimentos de segurança. Outros artigos no site tratam de normas de segurança ao se trabalhar com eletricidade.

Leia mais:

* Energia elétrica (EL002)

* As tensões da rede de energia (EL003)

Choque elétrico

 

O corpo humano pode conduzir a corrente elétrica.  No entanto, como nosso sistema nervoso também opera com correntes elétricas, qualquer corrente que "venha de fora" consiste numa forte interferência que pode causar sérios problemas ao nosso organismo.

Dependendo da intensidade da corrente que circular pelo nosso organismo, diversos efeitos podem ocorrer.

Se a corrente for muito fraca, provavelmente nada ocorre pois o sistema nervoso não será estimulado o suficiente para nos comunicar alguma coisa e as própria células de nosso corpo não sofrerão influência alguma.

Contudo, se a corrente for um pouco mais forte, o sistema nervoso poderá ser estimulado e teremos algum tipo de sensação como, por exemplo, um "formigamento".

Se a corrente for mais forte ainda, o estímulo proporcionará a sensação desagradável do choque e até a dor.

Finalmente, numa intensidade muito grande, além de poder paralisar órgãos importantes como o coração, poderá ainda danificar as células, "queimando-as", pois correntes intensas quando encontram certa resistência à sua passagem, geram calor. A tabela abaixo nos mostra as diversas faixas de correntes e os efeitos que causam sobre o organismo humano.

 

EFEITOS DA CORRENTE NO ORGANISMO HUMANO

100 µA a 1 mA - limiar da sensação

1 mA a 5 mA - formigamento

5 mA a 10 mA - sensação desagradável

10 mA a 20 mA - pânico, sensação muito desagradável

20 mA a 30 mA - paralisia muscular

30 mA a 50 mA - a respiração é afetada

50 mA a 100 mA - dificuldade extrema em respirar, ocorre a fibrilação ventricular

100 mA a 200 mA - morte

200 mA - queimaduras severas

 

Obs: 1 µA (um microampère = 1 milionésimo de ampère)

1 mA (um miliampère = 1 milésimo de ampère)

 

Uma crença que deve ser examinada com muito cuidado, já que muitas pessoas aceitam-na como definitiva, é a de que usando sapatos de borracha não se leva choque, e portanto pode-se mexer à vontade em instalações elétricas. Nada mais errado!

A eletricidade é perigosa e mesmo usando sapatos de borracha o choque ainda pode ocorrer, será importante analisarmos o assunto mais profundamente.

Conforme vimos, uma corrente elétrica só pode circular entre dois pontos, ou seja, é preciso haver um ponto com potencial mais alto e um ponto de retorno ou potencial mais baixo.

A terra é um ponto de retorno, pois conforme vimos, as empresas de energia a usam para ligar o pólo neutro. Isso significa que, se a pessoa estiver isolada da terra (usando um sapato com sola de borracha ou estando sobre um tapete de borracha ou outro material isolante) um primeiro percurso para a corrente é eliminado, veja a figura 1.

 

Isso quer dizer que, se uma pessoa, nestas condições, tocar num ponto de uma instalação elétrica que não seja o neutro, e portanto houver um potencial alto (110 V ou 220 V), a corrente não terá como circular e não haverá choque.

Estando isolado da terra e tocando num único ponto de uma instalação elétrica não há choque. No entanto, o fato de usar sapatos de borracha não o livra do perigo de choque.

Todavia, se a pessoa tocar ao mesmo tempo num outro ponto que ofereça percurso para a corrente, quer seja por estar no circuito para isso, quer seja por estar ligado à terra, o choque ocorre, independentemente da pessoa estar ou não com sapatos de sola de borracha, observe a figura 2.

 

É por este motivo que uma norma de segurança no trabalho com eletricidade é a de sempre se tocar apenas num ponto do circuito em que se está trabalhando, caso exista o perigo de ele estar ligado. Nunca segurar dois fios, um em cada mão! Nunca apoiar uma mão em local em contato com a terra, enquanto se trabalha com a outra!

 

ELETRICISTAS DE "MÃOS GROSSAS"

Um fato interessante que pode ter sido notado é que as pessoas podem sentir choques de maneiras diferentes.

Quem já não viu eletricistas calejados que seguram nas pontas de fios para saber se a tensão é 110 V ou 220 V?

Para os menos experientes - que não façam a experiência - dizem que se sair fumaça por uma orelha é porque a tensão é de 110 V e se sair pelas duas, a tensão é 220 V.

Ocorre que, não é o fato da tensão ser 110 V ou 220 V que vai provocar a morte pelo choque, mas sim a intensidade da corrente que circula pela pessoa, de acordo com a tabela que demos anteriormente.

Assim, 220 V é mais perigoso do que 110 V no sentido de que, para um mesmo circuito (que tenha determinada resistência), os 220 V podem forçar a circulação de uma corrente mais intensa!

A intensidade da corrente que vai circular pelo corpo de uma pessoa vai depender justamente de como essa pessoa pode conduzir a eletricidade e existem diferenças de indivíduo para indivíduo. Diversos são os fatores que vão influir nesta "capacidade" que a pessoa tem de conduzir a corrente elétrica como:

 

a) espessura da pele

Uma pele mais grossa é mais isolante que uma pele fina. Por esse motivo, os eletricistas "calejados" que possuem a pele dos dedos bem mais grossas (e sujas!) quase não sentem choques, pois a intensidade da corrente que pode passar por ela é muito pequena.

 

b) umidade

Uma pele úmida se torna excelente condutora de eletricidade, principalmente se estiver molhada de suor que, pela presença de sal, é mais condutora ainda.

Isso torna o choque nas condições de um banho, extremamente perigoso, pois as correntes podem ser dezenas de vezes maiores do que em condições normais.

 

c) presença de cortes

Um corte coloca a parte "molhada" de nosso corpo que é formada pelo fluido sanguíneo e outros fluidos internos em contato direto com a eletricidade. Esta parte é um excelente condutor de corrente, aumentando em muito a sua intensidade em caso de choque.

d) exposição a partes sensíveis

Um choque nos dedos, onde a pele é mais grossa, certamente será devido a uma corrente de

muito menor intensidade do que se ele ocorrer numa parte mais sensível com pele mais fina ou úmida. Segurar um fio na boca pode ser terrivelmente perigoso, para um técnico desavisado.

Existem normas de segurança para o trabalho em instalações elétricas com o mínimo de perigo de choques, mas o melhor mesmo é DESLIGAR TUDO antes de mexer em qualquer ponto da instalação!

 


Observação importante:

Quando este artigo foi escrito ainda não estavam em vigor as normas NBR5410 que estabeleceram diversas mudanças para a maneira como as instalações elétricas devem ser feita e também para o formato das tomadas de força, com a adoção do terceiro pino. Artigo sobre estas normas deverá estar disponível no site. Os conceitos dados valem para instalações elétricas antigas, como ainda são encontradas em muitos locais de nosso país. Para instalações novas, os leitores devem consultar as normas vigentes.