Escrito por: A. Fânzeres

O que vamos relatar não desmerece em nada os radioamadores brasileiros, mas sucede que nosso vasto arquivo, organizado desde 1937, quando iniciamos nossa atividade literária em rádio-eletricidade, sofreu terrível perda e foram dispersadas ou desaparecidas cerca de quarenta gavetas tipo arquivo, contendo centenas e centenas de documentos técnicos, inclusive fatos históricos.

 

O artigo é da década de 70.

 

Por sorte nossa, uma mínima parte de nossas anotações estava ainda em outro local e isto, associado à nossa memória que continua a ser boa, permite-nos trazer para os leitores de Rádio e Eletrônica algumas contribuições daqueles tempos épicos de experiências, construções técnicas audaciosas — algumas contrariando as normas dos fabricantes — e que depois resultavam em sucesso extraordinário. Esses sucessos dos radioamadores eram logo abocanhados pela indústria (como foi o caso das ondas curtas, das muito curtas...). E por falar em ondas muito curtas, gostaríamos de relatar alguns episódios ligados às experiências na banda dos 56 MHz, lá pelos idos de 1933.

Os aviões De Havilland Dragon-Moth foram equipados com transmissores e receptores para 56 MHz. Um dos aviões estava contratado pelo jornal Daily Herald e o outro pela revista técnica Popular Wireless. O equipamento do De Havilland contratado pelo Daily Herald pertencia a Douglas Walter e no outro avião o equipamento era de George Jessop. O avião possuía uma cabine ampla, para 6 passageiros, e vários assentos foram retirados para poder acomodar os equipamentos. Os circuitos transmissores utilizavam válvulas Osram P2 no estágio final, que eram moduladas por dois PT2 em paralelo.

A fonte de alimentação era de baterias, 200 volts, com um tipo especial de Hellesen. As antenas eram de 1/2 onda e a potência era de 5 watts. Os receptores eram super-regenerativos com três válvulas. Naquela época, os contactos na faixa de 56 MHz eram realizados em distâncias de até 150 km, com potências que não excediam 5 watts.

O entusiasmo dos ingleses para a faixa de 56 MHz teria efeitos colaterais. Com a II Guerra Mundial, vários dos equipamentos de 56 MHz que haviam ficado QRT devido ao conflito, foram requisitados pelas seções especializadas das forças armadas e muito ajudaram no estabelecimento de comunicações entre a Inglaterra e os movimentos de resistência nos países ocupados pelos alemães.

Uma pioneira naquela ocasião foi Constance Hall (G8LY), que além de fazer vários contactos a longa distância em 56 MHz, possuía métodos de determinar a direção e a distância de cada estágio recebido. E seu transmissor tinha potência inferior a 10 watts!

Foram radioamadores, dotados do espírito e garra que marca os pioneiros, os líderes que ajudaram a construir a esplêndida saga das realizações daqueles que, após Maxim, tornaram-se estudiosos da rádio-eletricidade sem fins lucrativos.

Precisamos dar uma boa "sacudida" por aqui. É preciso que surjam os experimentadores, que construam, que experimentem e não sejam apenas usuários de equipamentos manufaturados...