Se bem que a maioria dos televisores modernos, assim como muitos outros equipamentos que trabalham com sinais de vídeo, possam reconhecer quer seja automaticamente, quer seja por programação externa, os sinais PAL-M e NTSC isso não é uma regra. Pode perfeitamente ocorrer que, aquele televisor portátil comprado numa viagem ao exterior, ou de modelo mais antigo, não tenha recursos para reproduzir os sinais em cores no padrão PAL-M. O que fazer? A solução está num processo denominado transcodificação que é o assunto desse artigo.

Em muitas lojas do exterior, que atendem turistas brasileiros, os equipamentos já estão preparados para trabalhar com sinais PAL-M. É o que ocorre nas lojas das zonas francas do Paraguai e de alguns outros países como, por exemplo, em Miami e Nova Iorque.

No entanto, se o aparelho for comprado em outro local, e em uma país em que o sistema seja o NTSC, o usuário terá a má surpresa de ver imagens em branco e preto, onde deveriam ser em cores.

Isso vai ocorrer com videogames, televisores, videocassetes, câmaras de vídeo e muitos outros aparelhos semelhantes.

Para esses aparelhos, a solução para o problema está na utilização de um circuito transcodificador.

O profissional da eletrônica deve estar preparado para adaptar este circuito em aparelhos comuns, fazendo desta tarefa uma fonte de renda. Existem até mesmo "kits" prontos, que podem ser adquiridos em casas especializadas e que se destinam a esta adaptação.

 

A Transcodificação

Conforme os profissionais de vídeo sabem, as diferenças básicas entre os sistemas NTSC e PAL-M estão nas frequências dos sinais de crominância e na alternância de fase.

Podemos colocar as principais diferenças numa tabela (tabela I):

 

 

NTSC PAL-M

VXO

3,579545 MHz 3,575611 MHz
APC 4,208905 MHz 4,208937 MHz

Rotação de fase Campo A

+ 90 graus 0

Rotação de fase Campo B

- 90 graus - 90 graus

Comb Filter

1 H 2 H

Burst

180 graus 135/225 graus

Chave PAL

Não existe Existe

 

Para fazer a transcodificação temos, então, de usar um circuito que faça a transformação de todos os sinais que estão envolvidos no que mostra a tabela.

A figura 1 mostra esse circuito na forma de um diagrama de blocos.

 

Diagrama de blocos do transcodificador.
Diagrama de blocos do transcodificador.

 

Vamos analisar como o processo funciona.

Nesse circuito, o sinal de croma NTSC passa por um bloco cuja função é fazer sua demodulação, ou seja, separar a informação de croma deixando-a sem a portadora.

Posteriormente, esse sinal vai ser aplicado a um modulador cuja finalidade é restabelecer a portadora, mas agora com fase e frequ6encias alteradas segundo o que exige o PAL-M.

Na saída do modulador temos a recuperação do sinal PAL-M necessária a excitação dos televisores que operam com esse sistema.

O profissional que vai fazer a adaptação de um transcodificador num equipamento, terá de mexer em alguns circuitos importantes.

Assim, será interessante que o profissional que vai fazer esse tipo de trabalho seja experiente, ou pelo menos que tenha a possibilidade de praticar a partir de um kit usando um aparelho próprio.

 

A adaptação

O primeiro passo no processo consiste na troca do cristal do VXO que deve ter a freqüência de 3,575611 MHz. Se esse cristal se negar a oscilar, pode ser necessário colocar um capacitor de 15 pF em série. Alguns cristais já possuem esse cristal ligado internamente ao invólucro.

O segundo passo consiste na alteração do "comb filter" (filtro pente). Para essa alteração existem duas possibilidades:

A primeira consiste em se desativar a linha do filtro. Nesse caso, se o aparelho for um videocassete, as reproduções com tempos de 4 e 6 horas terão a qualidade da imagem afetada.

A segunda possibilidade consiste em se substituir a linha de retardo por uma com o dobro do tempo de varredura horizontal, ou seja 2H. Feita a substituição, os ajustes de fase devem ser refeitos.

No processo de alteração de fase do AFC deve ser acrescentado um circuito de chaveamento externo para selecionar os circuitos.

Para os sinais NTSC a configuração original é mantida com o campo A em 90 graus e o campo B em -90 graus. Para sinais PAL-M, o pulso HSP deve ser invertido de modo que tenhamos o campo A em zero e o campo B em -90 graus.

Na figura 2 mostramos um circuito simplificado que pode ser usado para fazer a inversão do pulso de chaveamento das cabeças, para o caso de um videocassete e que pode ser usado para a transcodificação.

 

Circuito de chaveamento.
Circuito de chaveamento.

 

É interessante notar que muitos circuitos integrados encontrados em gravadores de videocassete, que são os aparelhos que mais necessitam de transcodificação, são dotados de pinos de programação que permitem fazer essa inversão.

O próximo passo na transcodificação consiste em se cancelar o sinal do killer, o que pode feito facilmente com a ligação de um resistor de 100 k ? no seu pino de controle. Para essa finalidade, o profissional deve possuir o diagrama do aparelho para poder identificar esse ponto de controle.

A fase final no processo, consiste na inversão de fase do sinal de croma.

Os circuitos mais comuns fazem uso de um flip-flop que, inicialmente, divide a freqüência do sinal por 2 de modo a se obter o sinal para a chave PAL de 7,8 kHz.

Esse sinal é depois injetado no circuito de chaveamento para a inversão de fase das linhas pares, que caracteriza o sistema.

Na figura 3 mostramos um circuito típico de transcodificação que faz uso de componentes bastante conhecidos de nossos leitores.

 

Circuito típico do transcodificador.
Circuito típico do transcodificador.

 

Veja que esse circuito precisa de um sinal retangular para operar, já que se trata de circuito digital. Eventualmente, se esse tipo de sinal não existir no aparelho em que está sendo feita a transcodificação deve ser prevista uma etapa adicional como a mostrada na figura 4.

 

Etapa adicional.
Etapa adicional.

 

 

Funcionamento:

Os pulsos aplicados no circuito integrado 4013, que consiste em flip-flops do tipo D têm sua freqüência dividida por 2. Esses pulsos são usados para controlar as quatro chaves analógicas - digitais de um circuito integrado CMOS 4066.

Essas chaves abrem e fecham alternadamente de modo a dar passagem dos sinais aos dois circuitos de controle dos sinais que têm por base transistores comuns NPN de uso geral.

Desta forma, qual dos dois circuitos conduz (o que é controlado pelas chave) vai determinar a fase do sinal.

Veja então que no circuito da parte superior, o sinal é retirado do emissor do transistor e portando aparece com a mesma fase da base. Já, no circuito inferior, o sinal é retirado do coletor, o que faz com que sua fase seja invertida em relação ao sinal aplicado à base.

 

Conclusão

A transcodificação não é um procedimento comum em nossos dias, dada a quase universalização dos sinais e o uso de chips que até fazem o reconhecimento automático dos sistemas que estão sendo usados.

No entanto, nada impede que um dia o profissional se defronte com o problema de fazer isso e o conhecimento dos procedimentos é absolutamente necessário.