Escrito por: Newton C. Braga

Um dos primeiros artigos que escrevi sobre astronomia foi publicado num periódico chamado Eletrônica em Foco (que existe até hoje) por volta de 1968. Perdi o original, mas me lembro perfeitamente do que escrevi e agora procuro reproduzir, pois era realmente um tema inédito na época.

Foi em torno de 1966 que escrevi este artigo que causou um cero furor entre meus colegas. Tanto que meu amigo Sérgio Mantovani, que na época era diretor do grêmio da escola em que eu estudava, ao ver o artigo logo “confiscou” meu exemplar e o colocou no Jornal Mural da escola, o Colégio Nossa Senhora da Penha em São Paulo. Até os professores se surpreenderam, pois era “apenas” um jovem estudante.

O estardalhaço maior ocorreu alguns anos depois quando Arhur Clarke publicou uma obra sua, que seria um best seller, justamente chamada “O Vento Solar” (1972)

. Pois bem, vai aqui o tema daquele artigo que agora procuro lembrar e levar aos leitores, pois justamente volta ao foco de muitas publicações nos nossos dias.

 

Edição em português de 1972
Edição em português de 1972

 

Eu explorava no artigo as ideias de Einstein de que a luz, mesmo sendo uma forma de energia, é formada por partículas que possuem massa. Assim, o impacto da luz num objeto exerce sobre ele uma pressão.

Isso era comprovado por um pequeno dispositivo, que começava a aparecer nos laboratório de física, o radiômetro de Crookes que nada mais era do que uma pequena hélice que girava com a pressão da luz (figura 1).

 

Figura 1 – O radiômetro de Crookes
Figura 1 – O radiômetro de Crookes

 

A hélice do pequeno torniquete era formada por placas claras de um lado e escuras do outro. A luz incidindo nessas placas funcionava exatamente como o vento incidindo num cata-vento, exercendo pressão e fazendo-o o conjunto girar. Quando mais forte a luz, maior a pressão e mais rápido girava a hélice. No sol, o movimento era rápido, mostrando a “força” que podia ser obtida.

É claro que a força é muito pequena, tanto que a hélice era montada num bulbo de vidro sem ar, pois a resistência do ar impediria seu movimento.

A ideia que me ocorreu então era de que a luz do sol poderia ser usada ser usada exatamente como o vento impulsionando veleiros. Uma nave espacial dotada de uma vela de grandes dimensões, e no espaço isso não seria problema, poderia ser impulsionada pela luz do sol, navegando rumo aos planetas distantes, sem necessidade de energia. No artigo eu explorava essa ideia, e Arthur Clarke.

E realmente, nos nossos dias a ideia já é aplicada com naves dotadas de vela para serem impulsionadas pela pressão da luz soldar, conforme mostra a figura 2.

 

Figura 2 – Um “veleiro” espacial
Figura 2 – Um “veleiro” espacial

 

É claro que a pressão da luz é muito pequena, da ordem de poucas gramas por metro quadrado, mas no espaço não existe resistência.

Assim, no vácuo, uma vez aberta a vela, a nave estaria sujeita a uma força constante que a aceleraria indefinidamente fazendo com que ela ganhasse sempre velocidade até atingir valores muito altos.

É claro que à medida que se afastasse do sol a intensidade da luz e portanto da força iria diminuindo, mas dentro do nosso sistema solar a propulsão seria interessante e uma vez adquirido o impulso a nave poderia sair do sistema solar.

Para que o leitor tenha uma ideia da ordem de grandeza dessa pressão, considerado que a terra recebe ao meio dia uma potencia luminosa de 1370 W por metro quadrado a pressão é da ordem de apenas 7 uN por metro quadrado.

Um painel de 1 000 metros quadrados teria uma pressão de apenas umas poucas gramas.

Enfim, é possível sim usar a pressão da luz já que um enorme painel poderia ser desenrolado no espaço quando a nave fosse colocada em órbita e então a pressão se encarregaria de acelerá-lo a ponto de fugir da atração da terra e partir para sua viagem ao rumo escolhido.

 

Publicado originalmente em 1968 atualizado em 2019